Autor: Guy Gavriel Kay
O que vale a cultura de um povo? Até que ponto, enquanto sociedade, precisamos da história dos nossos antepassados? De a contar e recordar, passá-la aos mais novos, ensiná-la aos estranhos...
Para mim, Tigana é sobre um povo que perde a sua identidade, o seu passado, e sem isso, uma parte de nós dissolve-se. Quer seja num contexto religioso, filosófico ou simplesmente geográfico, o ser humano sempre quis saber se onde veio, quais as suas origens. E tendo como base, quase invisível, esta ausência, o autor cria um mundo que prende por essa originalidade.
Este Tigana (livro um de dois) é uma leitura singular por várias razões, sendo a primeira a forma como o autor escreve e o ritmo que emprega na narrativa. No início fica a sensação que estamos a ler algo que demora muito a introduzir o que é necessário para que a história comece a desenvolver, e de repente um surpreendente acontecimento é despoletado, marcando o livro e elevando o ritmo de acontecimentos para o extremo oposto... e depois, novamente, baixa durante várias páginas, voltando a introduzir outros temas, outras personagens, e novamente, quando menos se espera, um acontecimento desperta-nos e mostra-nos que o autor sabe o que está a fazer. É como se nos quisesse adormecer para nos assustar quando começamos a fechar os olhos...
Outro aspeto interessante é que, apesar de estarmos perante um mundo extenso e cheio de intervenientes, o autor explora muito poucas personagens. Se formos analisar o livro como um todo, apenas 5 ou 6 personagens são realmente exploradas neste livro, mas devo também dizer que o são de forma fantástica. Destas personagens cada leitor terá os seus favoritos e no meu caso, há uma que se destaca: um homem, que não revelarei o nome, e que é a imagem da obsessão e consequente arrependimento de quem desperdiça toda uma vida a criar planos para um objetivo e apenas tarde demais percebe o quantos alguns atos e palavras poderiam ter feito a diferença, principalmente para as pessoas que se ama. É esta mágoa, num momento impressionante do livro que marca esta personagem e, indiscutivelmente, o livro. Quem ler esta obra, perceberá do que falo.
Deixando o enredo e o mundo criado pelo autor para a análise ao 2º livro, devo ainda mencionar o facto de o autor ter criado dois vilões, fugindo a um caminho muito usado de apenas um vilão nas histórias de fantasia. Para além disso, o facto de os dois vilões serem das personagens mais aprofundadas, ajuda a termos uma visão mais global do que acontece e aconteceu neste mundo. Estes momentos em que conhecemos as personagens são o palco onde o autor parece estar melhor, voltando a momentos do passado para nos mostrar o crescimento das personagens e, principalmente, dos seus motivos. Neste aspeto é notório que estamos perante um escritor que sabe o quanto o "porquê" é importante para nos identificarmos com a personagem e sua demanda.
Para já, e visto que estamos perante um livro que é a metade do original, não me irei alongar mais. Tigana é um livro que respira qualidade e que nos surpreende em alguns momentos, no entanto apenas a continuação me poderá dizer se estou perante algo que é realmente bom. Para já, tem tudo para o ser, e a crítica especializada assim o diz. Se gostam de uma obra de fantasia onde a construção do mundo e personagem é importante e não se importam de ter uma leitura com um ritmo mais lento, este parece-me ser uma excelente aposta. Estou muito curioso para ver como tudo acaba.
Luís Pinto
Olá Luís,
ResponderEliminarCompreendo o teu comentário e penso que este ritmo foi necessário para nos aprofundar ao universo, mas tenho a certeza que o próximo volume vai um ritmo totalmente diferente deste (que gostei) e que será um livro que nos vai encher as medidas, assim o espero.
Este é sem duvida um dos meus escritores favoritos de fantasia :)
Abraço e boas leituras
Deste autor só li A Tapeçaria de Fionavar, uma versão inteligente das lendas arturianas (que recomendo). Tenho este Tigana em espera para ler no original, espero que ainda este ano.
ResponderEliminarBoas leituras!
Um texto que me convenceu. Parabéns Luís. Estou com vontade de ler fantasia e este parece-me uma boa aposta. Vou estar atento à opinião ao livro final e se for bom, atiro-me a este mundo.
ResponderEliminarBoas leituras!