quinta-feira, 30 de abril de 2015

ANTES QUE MORRAS


Autor: Samantha Hayes

Título original: Before you die





Este é o segundo livro que leio desta autora, sendo que o primeiro (Até que sejas minha) foi um livro que me ficou na memória, porque era bom, perturbador e com uma ideia final surpreendente. Para já um aviso: se quiserem mesmo ler este livro, não leiam a sinopse, pois acho que revela um pormenor que deve ser descoberto durante a leitura.

Tanto no livro anterior, como neste, a autora explora bastante os laços familiares da personagem principal, e qualquer um dos livros pode ser lido de forma independente. A grande diferença é que o anterior livro é fantástico pela ideia que tem do início até ao fim. A autora seguiu essa ideia e construiu o livro à volta desse momentos surpreendente. Aqui é diferente. Este livro tenta ser mais coeso, e acaba por ser menos marcante, sendo as suas qualidades, outras.

Apesar de a ideia base também ser interessante e de ser o grande catalisador do enredo, a verdade é que esta narrativa explora muito mais o que está para lá da investigação, o que torna o livro mais abrangente e menos focado, diminuindo assim o seu ritmo. Com isto, o livro explora várias personagens, sendo uma mistura de altos e baixos, com umas personagens estereotipadas e outras que me surpreenderam. Claro que as personagens mais importantes estão bem conseguidas, sofrendo apenas com alguns diálogos no início que parecem ter pouco peso no enredo, pois no início não percebi para onde a autora estava a caminhar. No entanto, ao chegar ao fim do livro percebo o caminho da autora e o porquê de certos desenvolvimentos, acreditando que terão impacto nos próximos livros.

Em relação ao thriller a autora sabe o que faz, e nota-se que é aqui que está o seu talento, notando-se facilmente que a autora sabe construir uma atmosfera de suspense com uma facilidade muito maior do que a explorar personagens fora desse suspense. E com essa qualidade, o livro começa a ganhar ritmo, começa a sufocar, alternando entre personagens e momentos, tocando nos temas principais, como o adultério, o suicídio e o cyberbulling, temas que estão na moda mas que nem todos os autores sabem explorar da melhor forma. No início parecia que a autora estava apenas a colocar estes temas dentro do enredo sem ter um objetivo definido, mas na última parte do livro vemos o sentido e que a autora jogou connosco e enganou-nos em alguns momentos.

"Antes que morras" é um livro interessante e inteligente em alguns momentos. É verdade que tem partes óbvias e outras em que parece divagar, talvez por ter algumas personagens que percebemos de imediato o que são, mas tudo isto passa ao lado porque este é um thriller com qualidade e com uma atmosfera que nos leva a continuar a ler sem parar. O grande problema deste livro é o anterior livro da autora, que é mesmo muito bom. "Antes que morras" é um bom livro que viverá na sombra do "Até que sejas minha", mas isso não o torna mau, a nossa expectativa é que o pode matar. Se gostam de policiais este é um livro a ter em conta e que vos irá manter acordados até ao fim. Gostei!

Luís Pinto

segunda-feira, 27 de abril de 2015

A SENDA OBSCURA



Autor: Asa Larsson

Título original: Svat Stig



Sinopse: Está escuro no Norte da Suécia e uma tempestade de neve fustiga o lago gelado de Torneträsk. Procurando abrigo do frio mortal, um pescador encontra o cadáver de uma jovem numa cabana. A vítima é Inna Wattrang, uma executiva da empresa mineira Kallis Mining. Anna-Maria Mella, a inspectora da polícia encarregada do caso, precisa da ajuda de um especialista em leis, e conhece o melhor: Rebecka Martinsson. Juntas iniciam uma investigação em duas frentes que parece revelar uma sinistra relação entre o ambiente que rodeia a vítima e o dono da empresa.



No início deste mês li pela primeira vez um livro desta autora (Sacrifício a Moloc) e que gostei. Sendo assim, decidi regressar a esta autora e tentar perceber se me conseguiria levar por mais uma viagem intensa. 

Este livro é mais obscuro e mais forte do que o anterior que li (que por acaso é cronologicamente posterior a este), tal como é mais lento, mais abrangente e mais pessoal. O que notei de imediato foi que este é um enredo mais complexo que facilmente origina um ritmo mais lento, pois a autora não se foca apenas na investigação mas também na vida pessoal das duas personagens principais. Este "desviar" de atenções aumenta o tamanho do livro mas também ajuda a uma melhor compreensão da personagem, sendo algo que me agradou.

A isto a autora junta uma indireta mas poderosa crítica social, com grande foco na capitalismo sueco, e nas recentes mudanças de mentalidade social, e que encaixam perfeitamente na investigação, ficando claro que a autora não se limitou a explorar conceitos, mas que os ligou de forma interessante. E assim, apesar do desenvolvimento da investigação ser lento, estamos em constante avanço em relação ao "ambiente" necessário para conhecermos os motivos do crime.

Um dos aspetos que mais me agradou foi o desenvolver das personagens principais, com grande destaque para a vida para lá da investigação mas que está diretamente ligada a muitas decisões que se tomam na vida profissional. Com tudo isto, o livro deixa de ser apenas um enredo centrado na investigação e torna-se coeso, mas o ritmo sofre com isso.

Os policiais podem ser mais ou menos rápidos. Nuns casos pede-se um ritmo acelerado, sempre intenso. Noutros pede-se uma investigação pausada, com momentos chaves em que a investigação evolui, e este livro tem essa narrativa mais pausada. O facto de ser muito mais complexo, com vários saltos, dificultou-me a leitura no início, pois não percebia onde tudo estava a encaixar, e por tudo isso não foi um livro tão entusiasmante de ler quando comparado com Sacrifício a Moloc, mas a qualidade está aqui, bem presente, de forma complexa, pedindo a nossa atenção.

Não é um livro fantástico, não revoluciona e não tem um impacto enorme no final, mas todo o livro respira qualidade. Poderá não ser o favorito de ninguém, mas os fãs do género gostarão da sua investigação e da forma como as personagens são exploradas. Se gostam de policiais a um ritmo moderado, focados no detalhe, então este é uma boa escolha.

Luís Pinto

sábado, 25 de abril de 2015

Passatempo: Ficção Científica - Vencedor!


PASSATEMPO

Pack Ficção Científica

Em parceria com o blog Vai Buskar!
Pack inclui:
Interstellar - Blu-Ray
Divergente - Blu-Ray
Duna - Livro
Convergente - Livro
 
 
 
 O Ler y Criticar, em parceria com o Blog Vai Buskar! teve o prazer de vos trazer a oportunidade de ganharem este pack com dois filmes e dois livros. Obrigado a todos os que participaram! Tentaremos ter mais packs nas próximas semanas!

O vencedor é:

Rui F. Lopes
 
Parabéns ao vencedor!
 
 
Visitem o blog Vai Buskar! clicando aqui.
 

sexta-feira, 24 de abril de 2015

A FÍSICA DO IMPOSSÍVEL


Autor: Michio Kaku

Titulo original: Physics of the Impossible



Sinopse: Há cem anos, os cientistas teriam afirmado que os lasers, a televisão e a bomba atómica seriam impossíveis. Em A Física do Impossível, o famoso físico Michio Kaku analisa até que ponto as tecnologias que encontramos na ficção científica, e que são hoje em dia consideradas impossíveis, poderão ser comuns no futuro. Do teletransporte à telecinese, Kaku recorre ao mundo da ficção científica para analisar os fundamentos - e os limites - das leis da Física tal como as conhecemos hoje. Dividindo as tecnologias impossíveis em categorias - Classes I, II e III - conforme possam ser alcançáveis nos próximos séculos, nos próximos milénios ou talvez nunca, o autor, numa prosa intelectualmente estimulante, explica-nos:
• Como os foguetões com estatorreactores, as velas propulsionadas por lasers e os motores de antimatéria poderão um dia levar-nos às estrelas mais próximas;
• Como a telepatia e a psicocinese, outrora consideradas pseudociência, poderão um dia ser possíveis com os progressos dos computadores, da supercondutividade e da nanotecnologia;
• Por que razão uma máquina do tempo parece ser consistente com as leis conhecidas da Física, mas seria necessária uma civilização muito avançada para a construir.



A minha crítica a este livro poderia ser apenas a frase: Se gostam do tema, comprem o livro!

A verdade é que gostei bastante desta leitura, não só porque aprecio muito o tema, mas também porque, uma vez mais, Michio Kaku consegue explicar de forma simples e compreensível os problemas mais complexos que podemos imaginar. Kaku sempre teve esta impressionante capacidade de explicar com facilidade e objetividade algo que muitos outros explicariam de forma complexa e que não seria suficiente para a compreensão de pessoas sem grande conhecimentos de física. É esta uma das grandes diferenças!

E por isto, todo este livro é extremamente acessível. É verdade que, porque não existem milagres, ter conhecimentos básicos de física, nas mais variadas áreas ajudará à leitura, mas a simplicidade do livro leva-me a crer que qualquer pessoa pode ler estas páginas e sentir-se entusiasmado com a energia da escrita de Kaku. No meu caso, foi difícil parar de ler... O objetivo do autor é explorar ideias que atualmente parecem impossíveis, mas que talvez não o sejam, e aos poucos vamos avançando para sonhos mais complexos, mais impossíveis. Mas com os nossos atuais conhecimentos, haverá algo que seja realmente impossível daqui a cem ou quinhentos anos? Kaku, conhecido pela sua impressionante capacidade de pensamento teórico, juntando várias ideias, várias noções e muitos conhecimentos de várias áreas, tenta chegar ao conceito que poderá levar à criação de algo que para nós parece impossível. 

Estará a invisibilidade ao nosso alcance? Será possível viajar no tempo? Adivinhar o futuro é permitido pelas leis do nosso universo? Quais as melhores possibilidades de tecnologia para conseguirmos viajar até outros planetas sem termos de fazer uma viagem de vários anos-luz?

Para mim esta leitura foi compulsiva e só me fez gostar ainda mais deste autor. Não há muito mais que possa analisar para lá do que já aqui disse. Voltarei de certeza aos seus livros para explorar outros conceitos, outras possibilidades e sonhos da nossa civilização. Se este tema vos fascina e querem um livro entusiasmante que é simultaneamente rigoroso e acessível, então esta é a escolha!

Luís Pinto

quinta-feira, 23 de abril de 2015

As famosas frases da literatura


No Dia Mundial do Livro decidi fazer um artigo para a Magazine HD com as mais famosas frases de sempre da literatura e deixo aqui o artigo para que possam dar as vossas opiniões e sugestões. Que outras frases devem estar nesta lista?

As famosas frases da literatura


Existem tantos livros, escritos nos últimos milhares de anos, que se torna impossível escolher as mais famosas frases escritas pelas mãos dos mais fantásticos escritores. Mas, sendo hoje o Dia Mundial do Livro, tentarei trazer à memória de todos alguns momentos que marcaram a literatura e todos os que as leram. Claro que muitas frases fantásticas e imortais ficaram de fora, umas por opção, outras por (imperdoável) esquecimento.
Digam-nos quais são as vossas frases favoritas, quer estejam ou não neste top.
A todos, boas leituras no Dia Mundial do Livro!

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“I wish it need not have happened in my time," said Frodo.
"So do I," said Gandalf, "and so do all who live to see such times. But that is not for them to decide. All we have to decide is what to do with the time that is given us.”
― J.R.R. Tolkien, The Fellowship of the Ring

“She wasn’t doing a thing that I could see, except standing there leaning on the balcony railing, holding the universe together.”
—J. D. Salinger, A Girl I Knew

“All hope abandon, ye who enter here.”
― Dante Alighieri, The Divine Comedy

“What are men to rocks and mountains?”
—Jane Austen, Pride and Prejudice

"He stepped down, trying not to look long at her, as if she were the sun, yet he saw her, like the sun, even without looking."
- Leo Tolstoi, "Anna Karenina

“The curves of your lips rewrite history.”
—Oscar Wilde, The Picture of Dorian Gray

“And now that you don’t have to be perfect, you can be good.”
—John Steinbeck, East of Eden

“And in that moment i swear we were infinite.”
—Stephen Chbosky, The perks of being a wallflower


“He who reads much and walks much, goes far and knows much,”
― Miguel de Cervantes, Dom Quixote

“To be, or not to be: that is the question.”
—Shakespear, Hamlet

“A guy needs somebody―to be near him. A guy goes nuts if he ain't got nobody. Don't make no difference who the guy is, long's he's with you. I tell ya, I tell ya a guy gets too lonely an' he gets sick.”
― John Steinbeck, Of Mice and Men

“This planet has - or rather had - a problem, which was this: most of the people living on it were unhappy for pretty much of the time. Many solutions were suggested for this problem, but most of these were largely concerned with the movement of small green pieces of paper, which was odd because on the whole it wasn't the small green pieces of paper that were unhappy.”
― Douglas Adams, The Hitchhiker's Guide to the Galaxy

“We can know only that we know nothing. And that is the highest degree of human wisdom.”
― Leo Tolstoy, War and Peace

““Deserves it! I daresay he does. Many that live deserve death. And some that die deserve life. Can you give it to them? Then do not be too eager to deal out death in judgement. For even the very wise cannot see all ends.””
— J.R.R. Tolkien, The Fellowship of the Ring

“In spite of everything, I still believe people are really good at heart.”
—Anne Frank, The Diary of Anne Frank

“Mine’s Bond – James Bond.”
― Ian Fleming, Casino Royale

“I am not proud, but I am happy; and happiness blinds, I think, more than pride.”
― Alexandre Dumas, The Count of Monte Cristo

“There are darknesses in life and there are lights, and you are one of the lights, the light of all lights.”
—Bram Stroker, Dracula

“...most men and women will grow up to love their servitude and will never dream of revolution.”
― Aldous Huxley, Brave New World

“You shall not pass!”
—J.R.R. Tolkien, The Fellowship of the Ring

“He who controls the past controls the future. He who controls the present controls the past.”
― George Orwell, 1984

“To love another person is to see the face of God.”
― Victor Hugo, Les Misérables

“Behind this mask there is more than just flesh. Beneath this mask there is an idea... and ideas are bulletproof.”
― Alan Moore, V for Vendetta

“If you want to know what a man's like, take a good look at how he treats his inferiors, not his equals.”
― J.K. Rowling, Harry Potter and the Goblet of Fire

“Maybe there is a beast… maybe it's only us.”
― William Golding, Lord of the Flies

“The more identities a man has, the more they express the person they conceal.”
― John le Carré, Tinker, Tailor, Soldier, Spy

“And now here is my secret, a very simple secret: It is only with the heart that one can see rightly; what is essential is invisible to the eye.”
― Antoine de Saint-Exupéry, The Little Prince

“I ate his liver with some fava beans and a nice chianti”
― Thomas Harris, The Silence of the Lambs

“It's only after we've lost everything that we're free to do anything.”
― Chuck Palahniuk, Fight Club

“Full circle. A new terror born in death, a new superstition entering the unassailable fortress of forever. I am legend.”
― Richard Matheson, I Am Legend

“Even the darkest night will end and the sun will rise.”
― Victor Hugo, Les Misérables

“The creatures outside looked from pig to man, and from man to pig, and from pig to man again; but already it was impossible to say which was which.”
― George Orwell, Animal Farm

“A reader lives a thousand lives before he dies, said Jojen. The man who never reads lives only one.”
― George R.R. Martin, A Dance with Dragons

“When you have eliminated all which is impossible, then whatever remains, however improbable, must be the truth.”
― Arthur Conan Doyle, The Case-Book of Sherlock Holmes

“Go then, there are other worlds than these.”
― Stephen King, The Gunslinger

“Just because you’re taught that something’s right and everyone believes it’s right, it don’t make it right.”
― Mark Twain, The Adventures of Huckleberry Finn

"After all, tomorrow is another day."
― Margaret Mitchell, Gone with the Wind

"He loved Big Brother."
― George Orwell, 1984

"When they finally did dare it, at first with stolen glances then candid ones, they had to smile. They were uncommonly proud. For the first time they had done something out of Love."
― Patrick Süskind, Perfume: The Story of a Murderer

“I'll make him an offer he can't refuse.”
― Mario Puzo, The Godfather

“All it comes down to is this: I feel like shit but look great.”
― Bret Easton Ellis, American Psycho

“Let me tell you something my friend. Hope is a dangerous thing. Hope can drive a man insane.”
― Stephen King, Different Seasons (The Shawshank Redemption)

“Everything in life is just for a while.”
― Philip K. Dick, A Scanner Darkly

“Whoever saves one life, saves the world entire.”
― Thomas Keneally, Schindler's Ark ( Schindler's List)

“We live as we dream--alone....”
― Joseph Conrad, Heart of Darkness (Apocalypse Now)

“Even a fool learns something once it hits him.”
― Homer, Iliad 

“Then he made one last effort to search in his heart for the place where his affection had rotted away, and he could not find it.”
― Gabriel Garcí­a Márquez, One Hundred Years of Solitude

“I can't go back to yesterday because I was a different person then.”
― Lewis Carroll, Alice in Wonderland

“The mind is its own place, and in itself can make a heaven of hell, a hell of heaven..”
― John Milton, Paradise Lost

“Dumbledore watched her fly away, and as her silvery glow faded he turned back to Snape, and his eyes were full of tears.
"After all this time?"
"Always," said Snape.”
― J.K. Rowling, Harry Potter and the Deathly Hallows

“I see in the fight club the strongest and smartest men who've ever lived. I see all this potential and I see squandering. God damn it, an entire generation pumping gas, waiting tables, slaves with white collars, advertising has us chasing cars and clothes, working jobs we hate so we can buy shit we don't need. We're the middle children of the history man, no purpose or place, we have no Great war, no Great depression, our great war is a spiritual war, our great depression is our lives, we've been all raised by television to believe that one day we'd all be millionaires and movie gods and rock stars, but we won't and we're slowly learning that fact. and we're very very pissed off.”
― Chuck Palahniuk, Fight Club

quarta-feira, 22 de abril de 2015

SERPA PINTO: O mistério do sexto império


Autor: Pedro Pinto




Sinopse: Naquela madrugada de setembro de 1878, Serpa Pinto ouve primeiro uma aziaga a cortar o silêncio da noite africana. Em segundos vê o seu acampamento rodeado por guerreiros em fúria. Tinha deixado a baía de Luanda há mais de um ano, resistia no centro de África, a meio caminho entre o Atlântico e o Índico. No final do ataque surpresa, com quase tudo perdido, sem homens, sem comida e cercado, talvez fosse altura de desistir. Mas o seu espírito obstinado e intrépido decide avançar até às grandes cataratas do Zambeze, até à contracosta. Sonha que aquele seja um império único, como nunca ninguém viu. Todos aqueles reinos africanos num espaço natural que vai de Luanda a Lourenço Marques, sob domínio do rei de Portugal. Mesmo que isso signifique afrontar os interesses que se movem na sombra. Naquela noite, começa a escrever uma carta para o rei D. Carlos, na qual por três vezes repete as palavras «cilada» e «conspiração»… Mais de cem anos depois, Sebastião, a escrever a biografia de Serpa Pinto, depara-se com este relato. Mas onde está a carta do explorador para o rei? Será que avisou D. Carlos sobre o que se passaria a seguir? A quem interessaria uma conspiração para evitar que Portugal estendesse os seus domínios e fechasse aquele grande espaço central entre Angola e Moçambique?



Sendo um tema totalmente desconhecido para mim, ao ler a sinopse fiquei com vontade de explorar estas páginas e aprender um pouco mais sobre um homem e sobre um tema que me eram desconhecidos. Neste género de livros, em que a base é um facto histórico, para mim o mais importante é o equilíbrio entre uma boa investigação e a forma como é dada ao leitor sem o saturar com uma leitura que se torne demasiado académica.

Pedro Pinto (é o primeiro livro que leio deste autor) consegue um equilíbrio interessante entre estes dois factores. Aos poucos percebemos que o trabalho de investigação está lá e é exposto na narrativa de forma simples e objetiva, permitindo que qualquer leitor, mesmo sem conhecimentos do tema, consiga entrar no enredo. E é a partir dessa base que o livro arranca lentamente mas sem perder esse equilíbrio. Para mim o ponto mais alto do livro, e que aprecio bastante neste género, é o autor saber quando deve parar o desenvolver da narrativa para explicar algo ao leitor e quando voltar à ação antes que o ritmo da leitura se perca devido ao desgaste de recebermos demasiada informação de uma só vez. 

Com um ritmo agradável, o enredo fixa-se em poucas personagens, e em alguns casos gostaria que o autor as explorasse melhor, mas no geral acaba por não se sentir muito essa falta, principalmente porque o autor canaliza bastante a nossa atenção para o ambiente que as rodeia, com descrições muito interessantes dos vários locais que iremos visitar.

Claro que o autor consegue puxar os factos históricos para um caminho que ajuda ao suspense do livro e também a que a história caminhe num determinado sentido que ajuda a prender o leitor, mas nunca senti que fosse algo forçado. De um ponto de vista global, o autor nunca arrisca em criar algo novo, mas também não entra no ridículo de criar algo que todos vemos ser demasiado forçado, e o resultado final é um livro com ação e mistério, mas sem nunca sair de uma base realista que tantas vezes se pede neste género.

Com isto, Pedro Pinto cria um livro que ensina e que entusiasma, apesar de nunca conseguir viciar como outros fazem, não porque lhe falte qualidade mas porque facilmente se nota que o objetivo do autor não é levar-nos a passar rapidamente para a próxima página, mas sim a ler o livro e a ficar a conhecer um pouco mais da nossa História por intermédio de uma narrativa de mistério. No meu caso, era o que procurava, e por isso gostei, e recomendo a quem gostar do género com base na nossa própria História. No final saberão muito mais sobre Serpa Pinto.

Luís Pinto

terça-feira, 21 de abril de 2015

ROMANCE ACIDENTAL


Autor: Martha Woodroof

Título original: Small Blessings




Sinopse: Há muito que Tom Putnam se resignou a uma vida solitária. Os seus dias são passados a dar aulas de Inglês, a moderar as excentricidades dos colegas, e a cuidar de Marjory, a mulher neurótica que o prende num casamento disfuncional. Uma rotina ordenada e apática que corre o risco de ruir com a chegada de Rose Callahan, cuja missão é reavivar a decrépita livraria da universidade. A energia de Rose e a sua indiferença perante a rígida hierarquia académica têm o dom de despertar os espíritos mais adormecidos. A começar pelo próprio Tom, cuja vida está prestes a mudar, ainda que não da forma (romântica) com que secretamente sonha. Numa carta breve, a poetisa com quem teve um desastrado caso amoroso no passado traz-lhe duas notícias. A primeira: Tom tem um filho com dez anos chamado Henry. A segunda: Henry está prestes a chegar. Tom fica nas nuvens. E não desce à Terra mesmo perante o facto (óbvio) de Henry não poder ser seu filho e o desaparecimento (definitivo) de Marjory. A verdade é que a simples presença de Rose é suficiente para lhe encher o coração de amor. Mas este sentimento, sem o qual já não imagina viver, é, ironicamente, o único com que Rose não consegue lidar. E é então que, um dia, Rose desaparece misteriosamente…


Quando comecei a ler este livro, esperava algo suave e calmo, mas enganei-me. Este livro de Woodroof é forte, levanta questões complicadas e é a verdadeira mistura de um enredo que é óbvio nuns momentos e completamente surpreendente noutros.

E foi essa mistura que me deixou entusiasmado. A autora cria um enredo que se torna bastante óbvio na maioria das suas páginas, com a própria narrativa a não tentar esconder o que irá acontecer, e nesses momentos a  leitura é suave e calma, sem nos marcar, mas com qualidade suficiente para nos levar a ler mas sem surpreender. E depois, quando menos esperamos, surpresa, pelo menos para mim. Foram alguns os momentos, em que completamente rodeado pelo óbvio, aparece algo que me deixa surpreendido e a querer saber o que acontecerá de seguida. E é assim, nestes altos e baixo que a leitura avança...

Outro ponto positivo deste livro é o seu realismo. É fácil conhecer estas personagens e identificar o meio em que vivem. A autora explora conceitos com facilidade e leva-nos a compreender estas personagens sem que seja preciso grande esforço. A escrita é direta, sem grandes fintas para enganar o leitor e isso fez-me entrar facilmente neste mundo universitário e também na rotineira vida pessoal de Henry. E com isso achamos que este é apenas mais um livro, dentro do seu estilo, aconselhado a qualquer leitor, mas não é.

A forma como a autora explora aqui alguns temas pode ser suave, mas este é um enredo recheado de questões marcantes, como a morte, a incapacidade de mudar ou a desesperante responsabilidade perante algo inesperado. E foi tudo isso que me fez gostar deste livro, que apesar de não ser fantástico, nem de revolucionar o género, tem a coragem de ser direto e objetivo, dando uma realista imagem do que é a vida e do que nos pode acontecer a cada dia, quer seja bom, ou mau... Pelo meio, a autora explora como as emoções do momentos nos toldam o discernimento e o porquê de raramente conseguirmos ver todo o cenário da nossa vida, mas, principalmente, este é um livro sobre as mudanças que por vezes precisamos, sobre o que nos faz felizes e que nos esquecemos e que deixamos de procurar. Por vezes limitamo-nos a viver e é aí que falhamos.

Não quero revelar nada deste livro. Romance Acidental não é uma obra prima, mas prendeu-me. Não é aconselhado a todos e facilmente cada leitor irá retirar as suas próprias conclusões deste livro. A mim surpreendeu-me, porque foi mais forte do que esperava e porque foi coeso, quer seja nos momentos muito óbvios, mas também naqueles em que fui surpreendido. 

Luís Pinto

segunda-feira, 20 de abril de 2015

A VERDADE E OUTRAS MENTIRAS


Autor: Sascha Arango

Título original: The truth and other lies




Sinopse: A Verdade e Outras Mentiras é um thriller psicológico que reúne inteligência, elegância, comédia negra e um elemento surpresa tão forte que nos hipnotiza desde o primeiro momento. Henry Hayden, um escritor de sucesso com um passado secreto, seduz toda a gente com a sua sensualidade e os seus modos de dandy. Mas a vida de fachada que construiu é subitamente ameaçada quando Betty, a amante, lhe revela que está grávida. Desesperado por salvar o seu casamento e o enorme sucesso literário de que goza, Henry comete um erro fatal e, na ânsia de o consertar, entra num vórtice imparável de mentiras e destruição.



Negro, confuso, viciante. O que mais apreciei neste livro é a constante sensação de que o livro me está a enganar, que não me está a ser contada toda a verdade, que estou a ver o porquê do título do livro a cada página. Onde está a verdade e onde estão as mentiras? 

E é com esta sensação que avanço nestas páginas, percebendo que dificilmente perceberei o livro antes da revelação, porque a própria narrativa me corta as pernas, não me deixando avançar na minha investigação. Henry engana as personagens com as suas mentiras e o seu charme, e o leitor sabe que também está a ser enganado em certa parte. Henry é um personagem que convence desde o início, com o seu charme, o seu discurso inteligente e o seu humor negro que nos faz sorrir. A verdade é que nunca tive a ligação necessária com esta personagem para querer que se safasse, mas é esse o brilhantismo do livro: estamos perante uma história em que não criamos uma ligação afetiva com o personagem principal, mas queremos saber como se vai safar, quais os seus segredos, quais os seus motivos.

Gostei da forma como o autor escreveu este livro. A dúvida está indiretamente instalada em todas as páginas e as revelações aparecem nos momentos certos, sempre envoltas numa atmosfera negra que gostei bastante. Foi mesmo muito difícil parar de ler porque não conseguia ver a saída da personagem de uma impressionante teia de mentiras que o rodeava.

Quando o final chegou, tinha a minha teoria, mas falhei. A verdade é que o autor me surpreendeu com um caminho que não esperava. A revelação, foco principal do fim deste livro, levará, certamente, a que muitos leitores gostem, e outros não. O impacto na leitura é inevitável e dou os parabéns ao autor pela sua decisão, mas a mim não me convenceu totalmente, sendo no entanto um gosto pessoal e que não me faz dizer que o livro acaba de forma má, longe disso. Talvez o que me tenha faltado seja algumas respostas que o autor não deu e que apesar de não serem importantes, gostaria de as saber.

No global este é um livro sobre os instintos que temos para tentar guardar os nossos segredos e sobre o efeito dominó que as nossas mentiras podem alcançar. É, inevitavelmente, um thriller psicológico em que não conseguimos gostar do personagem principal mas que nos prende porque queremos saber como se vai safar ou como irá cair aos pés da vida que inventou para si. Se gostam do género este é um bom livro e que no meu caso apenas não me convenceu totalmente pelo final que teve, mas que acredito que será o ideal para outros leitores.

Luís Pinto

quarta-feira, 15 de abril de 2015

SACRIFÍCIO A MOLOC


Autor: Asa Larsson

Título original: Till offer at Molok




Sinopse: Um grupo de caçadores mata um urso nos bosques perto de Kiruna. Quando abrem a barriga do animal, encontram restos humanos entre as vísceras. Uns meses mais tarde, encontram uma mulher assassinada em sua casa. Agrediram-na brutalmente com uma forquilha e Marcus, o neto de sete anos desapareceu. Rebecka Martinsson, que no princípio foi destacada para a investigação é retirada do caso.
Mas há poucas coisas que causem mais indignação que a violência contra uma criança, e Rebecka fica obcecada com o desaparecimento do menino. Por sua conta e risco começa a indagar o assassino da mulher: a morte parece perseguir esta família, e Rebecka não está disposta a permitir que o seu último membro tenha o mesmo destino.


Considerado pelos seus fãs como o melhor livro da autora, decidi lê-lo principalmente pelos vários prémios que recebeu dentro do género policial. 

Confesso que o livro demorou a conquistar-me. Se por um lado apreciei bastante as descrições que a autora criou de alguns locais da natureza, que me fizeram perceber facilmente que estamos perante um local com características muito particulares e que essas características serão muito importantes no enredo, por outro lado também é verdade que o enredo não me estava a convencer porque não estava a perceber por onde a autora me iria levar de forma convincente.

No entanto, com a continuação da leitura, a autora começa a ligar acontecimentos, com a narrativa a ter duas continuidades temporais diferentes, tudo começa a fazer sentido e as personagens começam a desvendar detalhes que nos levam a criar a nossa própria investigação, algo que acho fundamental ao lermos um policial (tentar adivinhar o culpado).

E aos poucos, enquanto as linhas temporais começam a mostrar as suas ligações, começa-se a perceber a grande qualidade da autora em escrever este enredo, em misturar e em revelar nos momentos certos, com a sincronização ideal entre os pontos narrativos, para que o leitor faça as ligações mas sem nunca perceber o todo que apenas é revelado no fim. 

Dentro das personagens, Rebecka destaca-se, com qualidade e com uma personalidade que facilmente cria ligações com os leitores, porque sentimos uma determinação e necessidade justiça que nos levam a desejar que seja bem sucedida, mesmo com todos os defeitos que possa ir demonstrando e, com ela, continuamos a ler e a procurar a solução de um mistério que no fim me surpreendeu e que me faz querer voltar a ler livros desta autora.

No global, este é um policial inteligente. No início não me cativou totalmente porque não percebi para onde a autora me levava, mas qualquer leitor acabará por ficar preso ao tentar encontrar a ligação entre as duas narrativas. A inteligência e singularidade do enredo é óbvia e no fim percebemos o porquê de ser um livro que tantos fãs adoram e com tantos prémios ganhos. Negro, complexo, surpreendente, este é um policial que sabe usar tudo o que está à sua volta, neste caso, a natureza, uma comunidade onde algo está mal, uma história de família onde se percebe que algo não bate certo... duas narrativas temporais diferentes. 

Se gostam de policiais, este é um livro que se destaca pela forma como está escrito e pela união de duas histórias que no início parecem tão distantes. Recomendado aos fãs do género policial mas também a quem queria entrar neste género.

Luís Pinto

terça-feira, 14 de abril de 2015

Passatempo: A verdade e outras mentiras - Vencedor!


PASSATEMPO

A verdade e outras mentiras

Vencedor!


Em parceria com a Editorial Presença chegou ao fim mais um passatempo, em que desta vez oferecemos um exemplar do novo livro de Sascha Arango, e sobre o qual darei uma opinião assim que possível.

Obrigado a todos os que participaram, e espero que tenham melhor sorte para a próxima! Aproveitem ainda para participar noutros passatempos ativos no blog!

E o vencedor é: 

Marcos Silva

Ao vencedor, parabéns e desejos de boas leituras!

Fiquem atentos, pois teremos mais passatempos em breve!




A Verdade e Outras Mentiras é um thriller psicológico que reúne inteligência, elegância, comédia negra e um elemento surpresa tão forte que nos hipnotiza desde o primeiro momento. Henry Hayden, um escritor de sucesso com um passado secreto, seduz toda a gente com a sua sensualidade e os seus modos de dandy. Mas a vida de fachada que construiu é subitamente ameaçada quando Betty, a amante, lhe revela que está grávida. Desesperado por salvar o seu casamento e o enorme sucesso literário de que goza, Henry comete um erro fatal e, na ânsia de o consertar, entra num vórtice imparável de mentiras e destruição. 


segunda-feira, 13 de abril de 2015

OS MAUS DA HISTÓRIA DE PORTUGAL


Autor: Ricardo Raimundo




Sinopse: A história costuma exaltar os grandes nomes da nação, as figuras que marcaram uma época, os heróis que venceram batalhas e conquistaram novos mundos, os reis que serviram o nosso país com dedicação… Pois, ao longo destas páginas, o que vai encontrar são os maus da nossa história. Os reis cruéis de temperamento violento, os assassinos sem escrúpulos, os homens que a troco de uma vil recompensa não hesitaram em trair o país, as mulheres fatais que enfeitiçaram os homens de poder, levando-os à perdição, os ambiciosos e gananciosos que não olharam a meios para atingir os seus fins, e todo o tipo de gente de má rês… 



Quando vi o título deste livro fiquei bastante curioso pois trata-se de uma abordagem diferente à nossa História tal como a própria sinopse o indica. Ricardo Raimundo, que já nos deu outros livros com perspectivas diferentes sobre a nossa História, volta a fazer um bom trabalho de investigação e a montá-lo ainda melhor por forma a que a nossa vontade de ler se mantenha. 

Este é o grande segredo de um livro de investigação que após nos convencer, com o seu tema, a lê-lo, a seguir tem de nos convencer a continuar até ao fim, e a forma simples e objetiva com que o autor expõe o seu trabalho convenceu-me. Dividindo os seus 35 "maus da fita" em vários setores, foram várias as surpresas que tive nesta leitura, pois confesso que nunca tinha explorado este tema e não sou um grande conhecedor deste lado mais negro de algumas personalidades que a nossa História costuma, e em alguns casos bem, enaltecer.

Posto isto, o trunfo deste livro é a boa mistura entre o bom trabalho de investigação do autor e a originalidade da obra. A tal junta-se uma escrita objetiva e que não arrasta o tema, não dando ao livro um ambiente mais académico ou pesado. No meu caso, a leitura nunca foi um esforço e acredito que tal seja fundamental neste género pois temos sempre de retirar prazer da leitura, para além do óbvio conhecimento que o autor nos oferece.

Não há muito mais que possa analisar para além do que já aqui escrevi, e não quero estar aqui a revelar particularidades que o livro tem e que devem ser surpresa na leitura de cada um. É claro que houve personagens que me cativaram mais, outras menos, e também houve alguns casos em que gostava que o autor tivesse explorado ainda mais tal personalidade. Mas, como disse, no global este é um livro muito interessante e que de certeza irá cativar os leitores que olhem para este livro e se sintam entusiasmados, porque naquilo a que o livro se propõe, corresponde. Se gostam de ler sobre a História de Portugal, seja qual for o foco principal, este é um livro muito interessante.

Luís Pinto

sábado, 11 de abril de 2015

O COMPLEXO DOS ASSASSINOS


Autor: Lindsay Cummings

Título original: The Murder Complex



Sinopse: Meadow Woodson, uma rapariga de 15 anos que foi treinada pelo seu pai para lutar, matar e sobreviver em qualquer situação, reside com a sua família num barco na Florida. O Estado é controlado pelo Complexo Assassino, uma organização que segue e determina a localização de cada cidadão com precisão, provocando o medo e opressão em absoluto.
Mas tudo se complica quando Meadow conhece Zephyr James, que é – embora ele não saiba – um dos assassinos programados do Complexo. Será o seu encontro uma coincidência ou parte de uma apavorante estratégia? E conseguirá Zephyr impedir que Meadow descubra a perigosa verdade sobre a sua família?


A primeira vez que vi a capa deste livro tive a sensação, tal como a grande maioria dos leitores, que este estava a olhar para uma mistura entre Lara Croft e Os Jogos da Fome, mas, felizmente, quando se tem um blog, por vezes lemos coisas que não estamos à espera, quer seja porque um leitor nos pediu para ler o livro ou a editora nos envia o livro, ou porque um amigo nos deu o livro na versão original e percebemos que temos em casa um exemplar em inglês que vai ser lançado no nosso país.

E é assim que alguns livros nos surpreendem e este foi um deles, porque, como sempre, não podemos julgar o livro pela capa. Aliás, este livro tem mais de 1984 do que de Os Jogos da Fome. Claro que não estou a comparar este livro ao imortal 1984 (é o meu livro favorito e para mim não existe outro igual), mas a base do livro não é a sua violência, mas sim a sua distopia.

O mercado editorial está cheio de distopais adolescentes em que num mundo violento jovens tentam sobreviver, e talvez salvar ou alterar toda a forma como uma civilização vive. O problema é que criar uma distopia adolescente é relativamente fácil, pois precisamos apenas de criar um mundo diferente, juntar uma personagem destemida e continuar, a cada página, a mostrar ao leitor que não compreendemos tudo o que sustenta este mundo, e assim, levados pela dúvida, lemos sem parar. O problema é que a maioria destes livros falha ao explicar essa mesma base, dando respostas sem sentido, não explicando o porquê... O difícil está em criar tudo isto mas de forma a fazer sentido... é aqui que este livro acerta em grande parte.

Esta obra tem muitos fatores positivos, como por exemplo o seu ritmo elevado, as personagens cativantes e os diálogos objetivos em alguns momentos, mas o que se destaca, e que torna este enredo muito mais maduro do que esperava, é o mundo criado, com uma sustentação muito superior ao que acontece noutros livros do género. É raro uma obra deste género ter um mundo que o leitor pense "isto é mesmo capaz de acontecer um dia", mas aqui existe a sensação que algumas coisas poderão mesmo acontecer, talvez por se aproximar mais de uma base sustentada nas inovações da ciência, o que pode surgir de certas descobertas e de um controlo cada vez mais notório da população.

Falar deste enredo é algo que quero evitar, pois o leitor deve ter o prazer de ler este livro sabendo o menos possível. Com momentos surpreendentes e revelações constantes, é difícil parar esta leitura. Claro que sendo um primeiro livro, há muito para explicar no próximo, principalmente o final inesperado que aqui acontece e que pode levar a história numa direção diferente da que no início esperava. Gostei das personagens, com especial destaque para Zephyr, mas o que me faz recomendar este livro a quem gostar do género é a maturidade do enredo. É isso que o destaca, com as suas indiretas questões morais e sociais, com a constante, mas nunca notória, sensação de que estamos a olhar para o que o ser humano é numa situação extrema sem existir a sensação de que algo está forçado.

Sendo um primeiro livro, e sem saber como a autora irá acabar o enredo e explicar o que ficou por saber, resta-me esperar, mas raramente uma distopia me deixou tão esperançoso no primeiro livro. Para já, muito interessante e recomendando a quem goste do género. 

Luís Pinto

sexta-feira, 10 de abril de 2015

AS VINHAS DA IRA


Autor: John Steinbeck


Título original: The grapes of wrath



Sinopse: Na década de 1930, as grandes planícies do Texas e do Oklahoma foram assoladas por centenas de tempestades de poeira que causaram um desastre ecológico sem precedentes, agravaram os efeitos da Grande Depressão, deixaram cerca de meio milhão de americanos sem casa e provocaram o êxodo de muitos deles para oeste, rumo à Califórnia, em busca de trabalho. Quando os Joad perdem a quinta de que eram rendeiros no Oklahoma, juntam-se a milhares de outros ao longo das estradas, no sonho de conseguirem uma terra que possam considerar sua. E noite após noite, eles e os seus companheiros de desdita reinventam toda uma sociedade: escolhem-se líderes, redefinem-se códigos implícitos de generosidade, irrompem acessos de violência, de desejo brutal, de raiva assassina. Este romance que é universalmente considerado a obra-prima de John Steinbeck, publicado em 1939 e premiado com o Pulitzer em 1940, é o retrato épico do desapiedado conflito entre os poderosos e aqueles que nada têm, do modo como um homem pode reagir à injustiça, e também da força tranquila e estoica de uma mulher. As Vinhas da Ira é um marco da literatura mundial.


Um dos primeiros livros que critiquei no blog, há quase 4 anos, o livro Ratos e Homens (podem ler a opinião aqui), deste autor, é uma verdadeira obra prima... um livro que adoro e que me marcou. Por isso, seria impossível não voltar a Steinbeck, para ler mais uma das suas imortais obras.

Tal como Ratos e Homens, também As vinhas da Ira marca presença em todos as listas dos melhores livros alguma vez escritos. Ao lê-lo percebo facilmente o porquê...

O trunfo está na força da escrita do autor. Steinbeck entra na mente do leitor como poucos conseguem, chocando ou maravilhando com uma facilidade tal, com uma naturalidade tal, que tudo o que lemos parece real, quase palpável. Tudo neste livro, tal como noutros do autor, parece tão natural, tão verdadeiro, que viajamos para o interior destas páginas, sentimos o que as personagens sentem, sofremos com elas, preocupamo-nos. São poucos, muito poucos, os autores que conseguem criar uma ligação tão forte entre leitor e livro.

Em relação ao enredo, a sinopse consegue fazer o resumo inicial com grande qualidade, e não quero afastar-me dessa informação. Steinbeck cria uma narrativa que explora os problemas sociais que levam ao grande fosso de qualidade de vida que existe entre ricos e pobres, levando a um ambiente pesado que confronta a esperança de quem nada tem mas que luta por algo. Steinbeck é exímio, em todos os seus livros, a explorar a sensação de perda ou de pobreza das personagens. Uns de pobreza de espírito e valores morais, outros de pobreza financeira. 

Neste livro, tal como em toda a sua obra, Steinbeck cria um conjunto memorável de personagens, e é aqui que está o que mais me agrada no autor. É impossível não guardar para sempre na nossa memória alguma personagem deste livro, principalmente uma certa mulher, que várias vezes me surpreendeu com pequenas frases que definem uma personagem e uma vida. A esta mulher junta-se um conjunto de personagens diferentes, reais, onde não sentimos nada forçado e onde cada uma tem a sua importância na vida dos que os rodeiam e do enredo em si. 

Pelo meio, os mais básicos instintos do ser humano, tanto no amor e no sentido de proteção, mas também na esperança de alcançar algo mais, na sensação de injustiça, na dor, na raiva, no instinto de sobrevivência que nos trouxe enquanto espécie ao "local" em que estamos hoje... no impulso de tirar a vida a alguém, no arrependimento. 

Tudo aquilo que possa tentar escrever, sem revelar momentos da história ou aspetos das personagens, não consegue transmitir o quanto este livro é bom. Steinbeck foi um verdadeiro génio, um escritor sem igual, e a sua obra deve ser admirada e estudada, porque o que temos nas suas páginas é o que define o ser humano, para o bem e para o mal... Obrigatório para qualquer leitor!

Luís Pinto

terça-feira, 7 de abril de 2015

DA TERRA À LUA


Autor: Júlio Verne

Título original: From the Earth to the Moon




Sinopse: Após a Guerra da Secessão, a nação americana vive um longo período de paz. Porém, um grupo de peritos em projécteis e balística avesso ao ócio vê-se subitamente sem missões nem objectivos. Urgia encontrar um novo inimigo e territórios inexplorados neste planeta ou noutros mundos desconhecidos.
Elegendo a Lua como a nova fronteira da humanidade, os cientistas concebem uma cápsula tripulada, disparada por um gigantesco canhão a pólvora, destinada a explorar o solo lunar.
Da Terra à Lua é um clássico e uma obra fundamental da ficção científica. Escrita em 1865, cento e quatro anos antes da chegada do Homem à Lua, é tida como uma obra visionária de Júlio Verne.



A mítica obra de Verne ao ser lida hoje tem tanto de fantástica como de estranha tal é a diferença de conhecimento que temos atualmente com o que Verne tinha em 1865. E é nessa mistura de conhecimento que avançamos numa obra que rapidamente percebemos ser visionária. 

Enquanto lemos estas páginas, podemos pensar que muito não faz sentido, mas é ao tentarmos regressar a esta era que percebemos o quanto Verne foi único no seu tempo, um verdadeiro génio, e é por isso que os seus livros ainda hoje são lidos, admirados e aplaudidos. Quantos autores podem gozar desta imortalidade da sua obra?

Com uma escrita que mostra a sua idade, elegante e pausada, Verne leva-nos por uma fantástica viagem que ultrapassou os sonhos do ser humano e o levou a acreditar que um dia seria possível. É a constante evolução do ser humano que sentimos neste livro e sentimos que daqui a cem anos, outros leitores terão a mesma sensação ao lerem os nossos atuais livros de ficção científica. 

Verne demonstra um poder inato, e raro, de conseguir captar a atenção do leitor. A facilidade com que consegui visualizar as suas ideias, por mais estranhas que agora nos possam parecer, é a prova da genialidade de um homem que via à frente do seu tempo. O enredo, intenso e interessante é apenas mais um trunfo num livro que nos dá detalhes em cada página, levando-nos a perceber o quanto o autor conseguiu criar uma imagem coesa e global de uma viagem que era naquela altura tão impensável como é atualmente para nós atravessar um buraco negro... simplesmente não sabemos o que poderá acontecer, mas Verne consegue criar algo que parece extremamente credível para o seu tempo.

Falar mais sobre o génio de Verne é irrelevante. Todos nós sabemos o quanto o autor transformou um género e colocou os seus leitores a sonhar. Se Verne fosse vivo nesta nossa era, e se tivesse a mesma genialidade, que barreiras poderia a sua criatividade quebrar? Um livro obrigatório para os fãs de FC.

Luís Pinto 

segunda-feira, 6 de abril de 2015

ESPIÕES EM PORTUGAL DURANTE A II GUERRA MUNDIAL


Autor: Irene Flunser Pimentel




A espionagem é um dos meus géneros favoritos, já o disse aqui várias vezes, e trata-se de um género em que a realidade consegue ser tão boa quanto a ficção. 

Neste livro regressamos a uma das eras de ouro da espionagem, em que o recrutamento e a traição podia ser feita em qualquer local, por mais banal que fosse. Aqui, a autora foca-se numa realidade que é desconhecida da maioria do público, mas que não é distante do nosso dia a dia.

Durante esta época em que os dois lados da guerra tentavam ter a maior quantidade de informação fiável possível, a espionagm foi o trunfo em muitas vitórias, e o recrutamento era essencial. Portugal, país neutro, teoricamente mais seguro, mas onde muitas pessoas queriam mostrar importância e conhecimentos, foi um centro de espionagem internacional, quer fosse em festas, casinos, bares, hoteis... 

Irene Pimentel tem aqui um trabalho muito interessante, com algus factos inéditos sobre como várias potências mundial olharam e atuaram em Portugal, e também sobre como os nossos serviços de informação se tentaram adaptar a essa realidade, tentando tirar proveito da situação. Pelo meio, várias curiosidades, muitas personalidades conhecidas e um ambiente muito bem conseguido pela autora.

O grande trunfo deste livro é o trabalho de investigação feito. Tendo já lido vários livros dentro do tema, muito do que está aqui escrito não é novidade, mas existem várias revelações e a forma como a narratiava está montada faz a diferença, pois toda a leitura tem uma lógica que nos leva a perceber sem grande esforço, quer seja nos motivos de algo, nos possíveis resultados e no que realmente aconteceu. O resultado final é um livro acessível, apesar de lento em alguns momentos, e que sabe cativar um leitor interessado pelo tema. No meu caso, foi difícil largar este livro, não só pelo que já mencionei, mas também porque se trata de algo que conseguimos visualizar em certos locais do nosso país.

Se gostam do tema este é um livro a ler. Não se trata de uma obra de ficção, mas tambem não é uma literatura puramente académica, sendo o meio termo que poderá agradar a mais leitores. Para mim foi uma leitura muito interessante e que recomendo principalmente porque a autora consegue dar uma imagem global de como a espionagem atuou em Portugal, não se limitando a certos aspetos sem focar outros. Recomendado!

Luís Pinto 

domingo, 5 de abril de 2015

Passatempo - Pack Ficção Científica


PASSATEMPO

Pack Ficção Científica

Em parceria com o blog Vai Buskar!


Pack inclui:
Interstellar - Blu-Ray
Divergente - Blu-Ray
Duna - Livro
Convergente - Livro


 O Ler y Criticar, em parceria com o Blog Vai Buskar! tem o prazer de vos trazer a oportunidade de ganharem este pack com dois filmes e dois livros.




Para se habilitarem a ganhar este pack, basta serem fãs ou seguidores dos dois blogs, preencherem o formulário com os vossos dados e partilharem o passatempo!




Apenas é permitida uma participação por pessoa!

O passatempo termina dia 17 de Abril









sexta-feira, 3 de abril de 2015

Passatempo: Pack Gordon Ramsey - vencedor!

 Passatempo

Pack Gordon Ramsay

Vencedor!

Chegou ao fim mais um passatempo que foi um verdadeiro sucesso. Infelizmente apenas temos um pack para oferecer a um único vencedor mas agradecemos a todos os que participaram.

A todos os que não ganharam, desejamos melhor sorte já nos dois passatempos que iremos ter nos próximos dois dias. Fiquem atentos!


Depois de ter em conta todas as participações, o vencedor é:


Rogério H. Castro Lima

Ao vencedor, muitos parabéns!

quinta-feira, 2 de abril de 2015

Passatempo: A verdade e outras mentiras


PASSATEMPO

A verdade e outras mentiras
de Sascha Arango


O Ler y Criticar e a Editorial Presença têm o prazer de vos oferecer a possibildiade de ganharem um exemplar deste novo livro do já muitas vezes premiado Sascha Arango.


Para se habilitarem a ganhar basta responderem à pergunta e preencherem o formulário.

Apenas é permitida uma participação por pessoa.

O passatempo termina a 12 de Abril


A Verdade e Outras Mentiras é um thriller psicológico que reúne inteligência, elegância, comédia negra e um elemento surpresa tão forte que nos hipnotiza desde o primeiro momento. Henry Hayden, um escritor de sucesso com um passado secreto, seduz toda a gente com a sua sensualidade e os seus modos de dandy. Mas a vida de fachada que construiu é subitamente ameaçada quando Betty, a amante, lhe revela que está grávida. Desesperado por salvar o seu casamento e o enorme sucesso literário de que goza, Henry comete um erro fatal e, na ânsia de o consertar, entra num vórtice imparável de mentiras e destruição.

Sasha Arango nasceu em Berlim, em 1959. É um dos mais conhecidos argumentistas e dramaturgos alemães. Foi distinguido com vários prémios, nomeadamente o prestigiado Grimme Preis, com que foi galardoado duas vezes. A Verdade e Outras Mentiras é o seu romance de estreia, que se tornou de imediato um fenómeno literário na Alemanha, tendo direitos vendidos para mais de vinte e cinco países.



Boa sorte a todos!



quarta-feira, 1 de abril de 2015

COMO FUNCIONA A GOOGLE


Autor: Eric Schmidt & Jonathan Rosenberg

Título original: How Google works



Sinopse: Eric Schmidt, chairman executivo e ex-CEO da Google, e Jonathan Rosenberg, antigo diretor de produtos, apresentam nesta viagem em primeira mão aos bastidores da empresa as técnicas de gestão e as estratégias inovadoras que eles próprios desenvolveram e que permitiram à Google superar os complexos desafios da sua atividade.
Aqui se explica como o avanço da tecnologia transferiu o poder das empresas para os consumidores e se conclui que, para sobreviver, é essencial concentrar esforços na qualidade dos produtos e investir numa nova categoria de profissionais multifacetados: os «criativos inteligentes», que aliam conhecimento técnico, sentido comercial e uma criatividade sem limites.



Sendo esta a minha área profissional, não poderia deixar de ler este livro sobre a gestão da empresa informática que mudou o mundo. A Google é uma das empresas mais poderosas do mundo, totalmente dominante no seu sector e, segundo vários estudos, aquela que mais hipóteses tem de se manter no topo durante muitos anos.

Onde está a base do sucesso? Quais as ideias básicas que sustentam a empresa? Onde falharam? Onde inovaram? Quais os próximos passos e o que podemos aprender com uma empresa que há duas décadas não existia e hoje "domina" o mundo?

Este livro foi exatamente o que esperava dele: um olhar à mentalidade de uma empresa que todos sabem que é um fantástico local para se trabalhar, com grande foco no bem estar do colaborador e onde a criatividade é o grande talento que se procura, mas onde também a pressão é enorme, pois estamos a falar de um gigante tecnológico e financeiro.

Na realidade não existe muito que se possa analisar num livro destes. A narrativa é simples e educativa, capaz de se tornar acessível a qualquer pessoa mesmo sem experiência em gestão ou informática. Todavia, é para as pessoas ligadas a este ramo que este livro se torna essencial, e para mim foi das leituras mais interessantes dos últimos tempos. Os autores exploram conceitos, mostram onde acertaram, onde falharam e o que acham que poderá ser a chave para o futuro da gestão empresarial. Mas, o foco continua a ser o colaborador e as formas necessárias para o motivar a explorar a sua criatividade.

De leitura fácil e rápida, este livro deu-me imenso prazer e no seu género é do melhor que já tive a oportunidade de ler. Se estão curiosos sobre esta empresa ou sobre os seus métodos, e querem aprender formas diferentes de se gerir equipas, este livro é obrigatório!

Luís Pinto