segunda-feira, 31 de julho de 2017

A SOMBRA DO VENTO


Autor: Carlos Ruiz Zafón





Sinopse: Edição Especial dos três primeiros livros da série de maior sucesso de Carlos Ruiz Zafón
O Cemitério dos Livros Esquecidos. A Sombra do Vento, O Jogo do Anjo e O Prisioneiro do Céu, com uma nova imagem e um formato inédito, que combina a capa dura, com uma sobrecapa em acetato transparente, a cores. Um autor viciante, que não se consegue parar de ler.





De todos os livros de Zafón, este era o que me faltava comentar no blogue. É também o seu melhor livro. Mas é mais do que isso. É uma obra prima.

Tal como a maioria  das obras primas, pode não agradar a todos, pode não prender de imediato, pode não ser viciante, mas a qualidade de cada linha, as emoções de cada página, tornam-no único.

Zafón tem um talento raro para criar ambientes. A forma como explora tons, cores, sons e cenários para criar o ambiente necessário é algo que poucos autores conseguem atingir. A cada momento sentimos aquela atmosfera, aquele ar sombrio, aquela sensação de que viajámos para outro lugar onde existe uma neblina. É isso que Zafón faz ao nível dos grandes autores que já li: leva-nos facilmente pelo seu mundo, tornando-o nosso, quase palpável. 

Ao fantástico ambiente, Zafón junta personagens única, coerentes, capazes de nos fazer sentir algo. Os seus passados, os seus medos, objetivos, traumas e sonhos... Zafón explora tudo com mestria enquanto nos leva a questionar o que nos define como pessoas, o que queremos passar às gerações futuras, o que desejamos alcançar enquanto estamos vivos. 

Com um enredo inteligente e brilhantemente montado, a viagem é singular, cheia de surpresas e de momentos que não se esquecem, quer seja pelo arriscar do autor, quer pela tensão que nos cria. É como se nós próprios estivéssemos naquela neblina, naquelas ruas de Barcelona.  

Não existe muito mais que possa dizer sem revelar momentos que devem ser absorvidos durante a leitura e não agora. Este não é um livro que agradará a todos, principalmente porque demora a arrancar, demora a tornar-se na obra prima que é. Mas se avançarem na leitura, então o que vos espera é uma viagem de grande qualidade e que, mesmo podendo não ser um dos vossos livros favoritos, dificilmente não o irão admirar como a obra prima que é.

Luís Pinto


sexta-feira, 28 de julho de 2017

A MULHER DO CAMAROTE 10


Autor: Ruth Ware

Título original: The women in cabin 10




Sinopse: Emocionante e compulsivo, este romance evoca o ambiente clássico dos policiais de Agatha Christie: um ritmo que aumenta gradualmente de tensão, a sensação de perigo iminente e um conjunto de suspeitos reunidos num único lugar.
A jornalista Lo Blacklock recebe um convite irrecusável: acompanhar a primeria viagem do cruzeiro de luxo Aurora Borealis. O serviço é exclusivo e a bordo estão vários empresários e pessoas influentes da sociedade. No entanto, a viagem ganha outros contornos para a jornalista. Certa noite, testemunha aquilo que acredita ser um crime no camarote ao lado do seu.
Desesperada, denuncia o ocorrido ao responsável pela embarcação. Ninguém acredita na sua versão, pois todos os passageiros continuam no navio. Blacklock decide investigar o crime por conta própria. Colocando a carreira e a própria vida em risco, ela não vai descansar enquanto não encontrar resposta para o mistério do camarote 10.



A ideia base deste enredo é bastante interessante mas nada fácil de se concretizar durante todo um livro sem parecer demasiado forçada. A questão é se a autora o consegue com mestria ou não. Ruth Ware tem um estilo diferente do normal, conseguindo criar suspense a cada página, sempre com uma sensação de que algo corre mal, algo está a falhar. Este estilo, muito usado há uns anos por uma senhora chamada Agatha com o seu personagem Poirot, é aqui mais soft, mas muito bem utilizado.

Claro que para manter tal trama durante tanto tempo, alguns momentos são forçados para que certas explicações não sejam dadas ou para que se consiga manter um pouco mais o mistério ou a desconfiança de algumas personagens, levando-nos a olhar para todas com várias questões na nossa mente.

O grande trunfo da autora está na inteligência com que monta a história, com certos acontecimentos nos momentos certos, levando o enredo numa rápida espiral até ao fim, sempre com o autor a desconfiar de tudo e de todos. Destaque para duas personagens, que não irem identificar, e que ajudam bastante ao suspense com uma história base bem conseguida e diálogos inteligentes que revelam objetivos que me surpreenderam.

É verdade que na segunda parte do livro a autora comete um ou outro erro que podem ajudar o leitor a perceber como será o final, mas nada que retire o suspense que o livro cria de forma constante. Não é uma obra prima, e provavelmente não agradará a todos os leitores, mas se gostam de thrillers claustrofóbicos e que nos levam a vários cenários coerentes até ao grande final, então este é um bom livro para este verão, e que me faz querer mais livros da autora. Uma agradável surpresa!

Luís Pinto

 

quinta-feira, 27 de julho de 2017

ESTOU A VER-TE


Autor: Clare Mackintosh

Título original: I see you




Sinopse: Todas as manhãs, Zoe Walker faz o mesmo caminho para a estação de metro, espera no mesmo lugar da plataforma e escolhe o seu assento preferido na carruagem, sem nunca suspeitar que alguém a observa.
Durante uma dessas viagens, certo fim de tarde, enquanto lê o jornal local, Zoe vê a sua cara num dos anúncios: uma foto de má qualidade, um número de telefone e a morada de um website: FindTheOne.com (Encontra-a.com).
Nos dias seguintes, as fotografias de outras mulheres começam a aparecer no mesmo anúncio, e Zoe percebe que foram vítimas de crimes extremamente violentos, incluindo homicídio.
Com a ajuda de uma polícia determinada, Zoe procura saber o que está por trás daquele anúncio perverso, uma descoberta que vai transformar a sua paranóia em pânico total. Alguém anda a seguir todos os seus passos. E Zoe tem a certeza de que alguém próximo de si a escolheu como próximo alvo.



Este é o primeiro livro que li desta autora que conseguiu bastante sucesso no seu primeiro livro e que aqui tenta repetir o feito. Com uma escrita descontraída e por vezes quase estranha, por ser tão simples, a autora tenta agarrar-nos de imediato. A base do enredo é inteligente, apesar de algo "insustentada" se o final não fosse o que a autora fez. O final, previsível mas coerente, oferece qualidade ao livro porque de outra forma todo o enredo poderia cair.

Em termos de personagens o livro está dentro do que se pede de um thriller claustrofóbico. Em alguns momentos nota-se que a autora poderia ter arriscado mais, criando personagens mais originais e sem alguns clichés, mas o ritmo do livro acaba por suavizar alguns desses problemas, acabando por não nos dar muito tempo para percebermos que alguns momentos são um pouco forçados.

Claramente focado para um público feminino, não só pelos temas base, mas também pelas personagens em si, este é um livro para quem procura um thriller rápido e intenso. Em nenhum momento é fantástico, mas consegue ser coerente e prende qualquer leitor até ao fim. No fim a sensação que fica é que li um livro viciante e intenso, mas que poderia ter sido algo mais, porque tinha uma base boa o suficiente para tal. No entanto, se gostam deste género e se a sinopse vos agarrou, então de certeza que será uma viciante leitura de verão.  

Luís Pinto

terça-feira, 25 de julho de 2017

LEONARDO & MIGUEL ÂNGELO


Autor: Stephanie Storey

Título original: Oil and Marble




Sinopse: No início do século XVI, Miguel Ângelo Buonarroti e Leonardo da Vinci viviam e trabalhavam em Florença. Quando se conheceram, Leonardo era um homem bem-parecido de 50 anos que se encontrava no auge da fama, enquanto Miguel Ângelo era um desmazelado escultor de 26 anos, desesperado por deixar o seu nome na História.
A rivalidade entre ambos tem início quando, em 1501, Miguel Ângelo consegue que lhe seja atribuída a si, e não ao grande mestre Leonardo, a encomenda para esculpir aquela que viria a ser a escultura mais famosa de todos os tempos: David.
Após perder tão ansiada obra, a vida de Leonardo começa a desmoronar-se. É então que conhece uma mulher por quem fica encantado e cujo retrato aceita pintar. O seu nome é Lisa, e tornar-se-á a sua musa.
Leonardo despreza a falta de sofisticação de Miguel Ângelo mas, ao mesmo tempo, admira-o. Por seu lado, este rejeita a genialidade de Leonardo tanto quanto a venera. Ambos tentam superar-se criando extraordinárias obras-primas. Ambos desejam a glória, mas qual será considerado o maior artista do seu tempo?



Há uns anos li um livro, escrito por um historiador inglês, sobre a grande rivalidade entre estes dois génios. Agora, ao olhar para um romance que utiliza a mesma base, tive curiosidade de ver como alguém poderia criar um enredo interessante sem ficar abaixo na genialidade exigira quando se utilizam estes dois homens como personagens de uma história.

Este é, na minha opinião, o grande desafio da autora: o de recriar estes dois homens sem ficar abaixo do que eles eram social, mental e intelectualmente. Globalmente a autora consegue-o apesar de com algumas falhas. No entanto, alguns diálogos estão bastante bem conseguidos e as suas decisões são coerentes com as personalidades e passados que a autora vai expondo.

O enredo desenvolve-se a um bom ritmo, sempre focado no que aproxima e afasta estas personagens, na forma como viam o mundo e a arte, e também como queriam ser recordados e o legado que queriam deixar. Pelo meio uma suave intriga política e religiosa, mas que nunca se torna no centro das atenções.

Globalmente, gostei das personagens, diálogos e do caminho que a história teve. Surpreendeu-me a forma como a autora conseguiu desenvolver um enredo que numa fase inicial não parecia ter muito para desenvolver de forma coerente. Não é um livro fantástico nem o tenta ser. É sim uma leitura viciante e interessante, focada para quem gostar do tema, principalmente porque a autora explora bastante bem as obras destes dois personagens, ajudando o leitor a sentir-se em casa mesmo se for um tema do qual pouco conheça. Se ficaram interessados depois de ler a sinopse, então têm aqui uma leitura interessante para este verão.

Luís Pinto

segunda-feira, 24 de julho de 2017

OS DESPOJADOS


Autor: Ursula K. Le Guin

Título original: The Dispossessed




Sinopse: Em Anarres, um planeta conhecido pelas extensas áreas desérticas e habitado por uma comunidade proletária, vive Shevek, um físico brilhante que acaba de fazer uma descoberta científica que vai revolucionar a civilização interplanetária. No entanto, Shevek cedo se apercebe do ódio e desconfiança que isolam o seu povo do resto do universo, em especial, do planeta gémeo, Urras.
Em Urras, um planeta de recursos abundantes, impera um sistema capitalista que atrai Shevek, decidido a encontrar mais liberdade e tolerância. Mas a sua inocência começa a desaparecer perante a realidade amarga de estar a ser usado como peão num jogo político letal.
Que esperança e idealismo restam a Shevek, aprisionado entre dois mundos incapazes de ultrapassar as diferenças? E ao desafiar ambos os regimes políticos, conseguirá ele abrir caminho para os ventos da mudança?



Este é um dos mais famosos livros de Ursula K. Le Guin e um dos que mais prémios ganhou. Assim que acabamos o livro é notório que estamos perante uma obra de qualidade superior. Le Guin cria um mundo fantástico, capaz de nos fascinar e de ser, ao mesmo tempo, bastante real e paralelo ao nosso. Com a já sua habitual escrita rica e direta, a autora explora temas fraturantes da sociedade que ela própria cria, mas que são a imagem do mundo real. 

Com isto, a crítica social é bastante forte neste livro, levando-nos a questionar setores da sociedade e as suas bases. Le Guin começa de forma lenta, aprofundando o seu universo, para depois adicionar as personagens que farão a diferença. Duas personagens em particular serão os catalisadores em alguns momentos da história, mas sem nunca parecer forçado ou pouco coerente.

Apesar da história ser bastante interessante e de querer sempre ler mais para perceber onde a autora me estava a levar e como iria finalizar o enredo, a verdade é que o trunfo do livro está na forma como consegue expor a sociedade criada. As questões que levanta são os alicerces que tornam este livro na obra tantas vezes premiadas e que o torna numa obra que o afasta da base da literatura fantástica para ser um leitura que se adapta a qualquer género. Com isto quero dizer que mesmo um leitor que não aprecie fantasia ou ficção científica, tem aqui um enredo que o poderá prender do início ao fim.

O resultado final é um livro capaz de ser crítico e duro em alguns momentos e de deslumbrar noutros. Le Guin leva-nos a questionar o que nos torna diferentes ou iguais e quais os caminhos religiosos e políticos que queremos ou devemos seguir. A humanidade está em constante mudança, mas raramente é uma mudança fácil se for demasiado radical. Este é um livro sobre isso. Não é um livro que todos os leitores possam gostar, mas é totalmente aconselhado a quer ler a sinopse e ficar curioso.

Luís Pinto

sexta-feira, 14 de julho de 2017

O MILÉSIMO ANDAR


Autor: Katharine McGee

Título original: The Thousandth Floor





Sinopse: Uma torre de mil andares. A visão brilhante de um futuro onde tudo é possível se assim o desejarmos. Nova Iorque, cidade de sonhos e inovação daqui a cem anos. Todos querem qualquer coisa… e todos têm algo a perder. O exterior impecável de Leda Cole esconde um vício secreto por uma droga que nunca devia ter experimentado e por um rapaz em quem nunca devia ter tocado. A vida bela e descuidada de Eris Dodd-Radson desmorona-se quando uma traição lhe destrói a família. O trabalho de Rylin Myers num dos andares mais altos mergulha-a num mundo e num romance inimaginável… mas essa vida nova custar-lhe-á a que tinha antes? E a viver acima de todos, no milésimo andar, está Avery Fuller, uma rapariga que parece ter tudo, mas que vive atormentada pela única coisa que nunca poderá ter.



A base deste livro é bastante interessante e foi o que me fez lê-lo. O que a autora criar neste livro é um mundo onde quase tudo, em termos materiais, está ao alcance das pessoas. Numa sociedade que continua a apresentar enormes diferenças entre as várias classes financeiras, a autor explora as diferenças, o que cada pessoa pode alcançar com dinheiro ou posição, mas também o que não pode ser adquirido por compra.

Apesar de o enredo romantizado ser algo previsível, a base da sociedade está bem conseguida, chegado ao ponto de sentir que ficou muito por explorar, muito por explicar, porque a ideia que tudo sustenta, tem muito mais para dar. É verdade que existem mais livros, e tal é fundamental para a autora continuar a explorar conceitos que me parecem interessantes e que encaixam bem nas personagens, mas gostava de ter lido mais neste livro. 

Em termos de personagens a autora cria um grupo interessante, por vezes estereotipado ou previsível, mas capaz de nos agarrar ao enredo, principalmente pela forma inteligente como a autora os explora aos poucos. Nota-se, mais ou menos a meio do livro, que a narrativa perde um pouco o caminho, explorando conceitos e personagens que talvez apenas tenham importância nos livros seguintes, mas talvez seja o esforço da autora em aumentar o seu universo para os próximos livros.

De uma forma geral, a autora tem aqui um livro original na sua base e bastante focado na crítica social e no que a nossa sociedade se está a tornar, ao dar importância a muitas coisas que não são realmente importantes. Gostei da forma como a autora explorou a sua ideia e como a prepara para os próximos livros, sem nunca deixar de tentar chocar nos momentos certos. É, claramente, um livro que será mais apreciado pelo sexo feminino e que ainda tem muito para dar, principalmente graças à crítica social aqui presente, mesmo que indiretamente.Não é fantástico, nem tenta ser. Tenta passar uma mensagem e consegue.

Luís Pinto

quinta-feira, 13 de julho de 2017

PASSATEMPO - A História do mundo para pessoas com pressa - Vencedor!



PASSATEMPO

A História do mundo 
para pessoas com pressa

Vencedor!


Chegou ao fim mais um passatempo em parceria com a Editorial Presença, à qual agradeço mais esta oportunidade.

Desta vez oferecemos um exemplar do livro "a História do mundo para pessoas com pressa", e terei a análise ao livro ainda este mês.

Obrigado a todos os que participaram e que tornaram esta passatempo um sucesso. Aos que não venceram, desejo-vos melhor sorte para a próxima.



Sinopse: Um guia conciso mas abrangente que cobre tudo o que é necessário saber sobre os acontecimentos mais importantes da História do mundo, desde as civilizações antigas até ao final da Segunda Guerra Mundial.
Fazendo uma abordagem a todos os factos e detalhes históricos essenciais, este livro proporciona-nos uma extraordinária viagem através dos tempos, desde o império de Alexandre, o Grande, à dinastia Tang, na China, ao Iluminismo, à Guerra Civil americana, e mais além. 
A História do Mundo para Gente com Pressa é um guia precioso e indispensável sobre a história da Humanidade e que nos permite descobrir como se construiu o mundo moderno.
.
E o vencedor é: 

Ana Maria Fernandes Marques
Parabéns à vencedora!
Novos passatempos em breve! 


quarta-feira, 12 de julho de 2017

O MUNDO CONFUSO DE JONATHAN


Autor: Meg Rosoff

Título original: Jonathan Unleashed





Sinopse: Por mais fácil que a vida fosse quando vivia na casa dos pais, Jonathan Trefoil sabe que tem de crescer. Mas é mesmo difícil:
- O trabalho que arranjou é aborrecido e repetitivo;
- A namorada é autoritária e quer casar-se com alguém como ele, só
que mais rico e com um sentido de humor diferente;
- Pode ser despejado do apartamento que subaluga com apenas
24 horas de pré-aviso.
A vida dele fica ainda mais confusa quando o irmão lhe pede que cuide dos seus cães - Dante e Sissy. Obviamente, Jonathan não tem a menor ideia de como o fazer.
Aos poucos, ele vai entregando as rédeas da sua vida aos novos companheiros. Em rigor, eles parecem deter a chave para os segredos da vida, do universo e de tudo o que existe. E Jonathan só sabe que nada sabe. Ao acompanharem Jonathan no trabalho, ao levarem-no a parques e esplanadas, ao conduzirem-no à clínica veterinária e à Dra. Clare, Dante e Sissy só estão a ajudá-lo a chegar finalmente à idade adulta. Resta saber se o vão conseguir.



Por vezes apetece ler algo mais leve. No entanto, um livro que no início pode parecer leve, alegre, cómico, por vezes torna-se emotivo, e este livro tem um bocadinho de tudo. 

O que mais apreciei neste livro foi a sua inteligente capacidade de ser discreto. A história é suave, divertida e capaz de passar mensagens de forma discreta, quase como se não estivessem lá. Este é um livro sobre relações, sobre as amizades que criamos naquela fase da nossa vida em que deixamos de ser crianças e passamos a adultos, seja qual for a idade em que nos acontece tal transformação. É um livro sobre o choque da responsabilidade, sobre o que esperamos da vida e o que esperam de nós. É um livro sobre o que sentimos, sobre o que precisamos de ter para sobreviver, e o que precisamos de ter para realmente viver.

É, inevitavelmente, a história sobre um rapaz e um cão (neste caso, cães), uma amizade que nada exige. Com uma escrita simples, divertida e cheia de significado, a autora leva-nos por uma história que por vezes surpreende, por vezes parece forçada, mas sempre com algum significado, ao ponto de se perceber que o objetivo da autora não foi criar uma história fantástica em termos de acontecimentos, mas sim uma narrativa que nos fizesse pensar e sentir.

Pelo meio, personagens com as quais facilmente se cria alguma ligação. Foi-me muito fácil criar algumas ligações com este rapaz ou com situações da história, talvez por também ter cães e saber como mudam a nossa vida, as nossas rotinas e até a forma como vemos algumas coisas e lhes damos valor.

Este é um livro diferente, e bastante inteligente. É uma comédia romântica com muito menos clichés do que o normal e com mensagens profundas para pensarmos se assim o desejarmos. É um livro para amantes de animais, mas não só. É um livro para todos os que gostarem deste género ou que também já tenham passado por aquela fase na vida em que estamos perdidos, talvez sem sequer o termos sentido. Se leram a sinopse e ficaram curiosos, então não hesitem.

Luís Pinto



terça-feira, 11 de julho de 2017

A MULHER DESAPARECIDA


Autor: Sara Blaedel

Título original: The lost women





Sinopse: Num bairro familiar e acolhedor nos arredores de Londres, uma mulher foi alvo de um violento assassínio. Um tiro certeiro de uma caçadeira atravessou a janela da cozinha, onde ela se encontrava com o marido e a filha. A morte foi imediata.
Ao iniciar a investigação, a polícia local descobre que a mulher, de nome Sophie Parker, se tratava na verdade de uma cidadã dinamarquesa que se encontrava desaparecida há 18 anos. Louise Rick, chefe do Departamento de Pessoas Desaparecidas, fica responsável pelo caso. É então que novas e surpreendentes revelações desvendam que fora Eik, seu colega e amante, quem declarara o desaparecimento de Sophie.
Assim que é informado da morte de Sophie, Eik desaparece misteriosamente e, passadas 24 horas, é preso em Inglaterra e acusado de ser o responsável pelo crime.



Este é o segundo livro que leio de Sara Blaedel e em vários aspetos consegue ser superior ao anterior. Sinceramente, o que mais gostei neste livro foi a sua base inicial. Apreciei bastante o mistério inicial, com uma história original e que me prendeu, principalmente porque se percebe que a autora nos está a tentar enganar.

É verdade que o livro nunca consegue ser fantástico, mas já lá vamos. O livro começa com um bom ritmo, tal como é pedido neste género que empurra o leitor de imediato para a ação, a autora vai explorando as personagens aos poucos enquanto acelera na narrativa para que o leitor não consiga parar de ler e comece a fazer a sua própria investigação.

Um dos trunfos deste livro está no facto de se perceber que algo está errado. A autora desde cedo oferece os detalhes necessários para que seja possível perceber que o enredo nos está a enganar no caminho que está a percorrer. No entanto, devido ao seu ritmo elevado, por vezes a autora deixa escapar um ou outro detalhe que fazem a diferença e que acredito que a autora não queria dar importância de imediato para aumentar o suspense e tornar a história mais coerente.

Tentando sempre sustentar a sensação de suspense, a autora por vezes força alguns acontecimentos, apesar de bem sustentados pelo que conhecemos das personagens, mas que podem não encaixar totalmente nos acontecimentos em si. Todavia, devido ao ritmo, nunca senti que o livro me desse tempo para questionar algumas coisas, até porque a partir de meio o livro foca a nossa atenção em algo que não irei revelar, mas que é feito de forma bastante indireta e inteligente.

Com um conjunto interessante de personagens e uma história original, a autora tem aqui o seu livro que gostei mais, muito graças ao final, bem pensado, bem executado, e que nos faz pensar sobre o livro durante algum tempo. Não é uma obra prima nem revoluciona, mas irá agradar aos fãs do género com um final inteligente e que me deixa com vontade de ler mais livros da autora.

Luís Pinto

quinta-feira, 6 de julho de 2017

O PORTO DAS ALMAS


Autor: Lars Kepler







Sinopse: Jasmin é uma mulher soldado do exército sueco colocada no Kosovo que vive para o filho, Dante, cujo pai é um camarada de armas, um homem instável que tenta afogar os horrores da guerra em álcool e drogas. No Kosovo, Jasmin fica gravemente ferida e, durante a hospitalização, enquanto se encontra entre a vida e a morte, a sua alma parte para uma misteriosa e sobrelotada cidade portuária, um porto de almas, de onde os que morrem jamais regressarão. Mas Jasmin é forte e consegue escapar.
Dois anos após a sua primeira experiência na cidade dos mortos, um acidente rodoviário obriga Jasmin, desta feita acompanhada pelo filho, a regressar: todavia, só ela é que consegue escapar ao porto das almas. O caso de Dante, que está à espera de uma operação, é muito mais grave, e Jasmin não pode abandoná-lo à mercê da cidade misteriosa: a sua única opção é voltar, uma vez mais, e lutar por quem ama, num jogo terrível de vida e morte no qual é provável que saia derrotada.


Lars Kepler, o famoso autor de thrillers policiais (na realidade Lars Kepler não é apenas um escritor, mas sim um casal) está de volta, mas desta vez fora do seu habitual registo. Deixando para trás as personagens já famosas dos fãs do "autor", Kepler leva-nos a viajar num enredo sobrenatural, onde filosofia, espiritualidade e metafísica estão de mãos dadas.

Sendo um livro sobrenatural sobre um porto de almas, o leitor terá de estar preparado para esta realidade e começar o livro de mente aberta. Quem procure aqui um livro ao estilo que está habituado, terá aqui um livro que poderá não gostar, principalmente se os conceitos base não forem do seu agrado.

Tirando este facto, a verdade é que Lars Kepler tem aqui um livro interessante e que, mesmo podendo não estar ao nível do suspense que nos habituou, consegue ser brutalmente viciante e crítico sobre muito da nossa sociedade, mesmo tendo em conta que esta crítica é bastante indireta. Com uma crítica bastante presente sobre a forma como vemos o mundo e também sobre o mundo que envolve a guerra sempre presente na nossa História, o autor explora o que um conflito armado faz aos soldados, as marcas que deixa. Pelo meio explora a crença ou a descrença dos mesmos, tentando tornar este livro o mais coerente possível. Todavia, este livro, baseado em mortes e guerras, acaba por ser um livro sobre amor e quais os sacrifícios que podermos enfrentar para salvar quem amamos.

No global, este é um livro muito mais emocional do que esperava, porque a relação mãe e filho está bem explorada mesmo que de forma indireta em alguns momentos. O resultado é um livro que apesar de diferente, foi bastante viciante. Certamente não terá o impacto que outros livros do autor tiveram, mas se gostarem do tema sobrenatural, dificilmente conseguirão parar de ler. Venham mais livros deste autor!

Luís Pinto

UMA MULHER DE ARMAS


Autor: Peter Heller

Título original: Celine



Título original: Celine Watkins é uma mulher excêntrica. É aristocrática mas não vive num bairro elegante e sim na base da Ponte de Brooklyn. Tem gostos requintados e considera-se uma artista mas as suas esculturas são, no mínimo, sinistras. Já não é nova e tem um enfisema pulmonar mas recusa hábitos saudáveis. Adora joias com o mesmo ardor com que admira uma bela arma.
Na verdade, a surpreendente Celine é detetive privada e possui dotes que ultrapassam até os do FBI. Motivada por segredos do seu próprio passado, é perita em localizar pessoas desaparecidas e em reunir famílias separadas.
A jovem Gabriela Lamont já não vê o pai há muitos anos. Fotógrafo de profissão, desapareceu algures na paisagem inóspita do parque nacional de Yellowstone. Foi oficialmente dado como morto, mas a história de que terá sido atacado por um urso não convence a filha. Tão-pouco convence Celine, que está fascinada pelo caso.
A cada passo que dá, torna-se cada vez mais claro que alguém quer impedi-la de remexer no passado. Mas Celine não está habituada a renunciar a um mistério, principalmente este, que envolve uma família muito mais peculiar do que parecia… 



Num registo ligeiramente diferente do normalmente usado em policiais, o autor dá-nos a conhecer uma personagem principal original e que tenta fugir a alguns clichés deste género literário. Claro que não é fácil e por vezes o autor aproxima-se bastante do esperado nestes enredos, mas consegue sempre voltar a afastar-se e criar um enredo original.

Com uma escrita bem trabalhada mas sem tornar o ritmo demasiado lento, a narrativa vai criando um choque de mentalidades entre várias personagens, que de alguma forma estão separadas, quer seja pela forma como vêem o mundo ou outras construções culturais. Com esta base, Celine torna-se numa personagem com a qual ganhamos alguma simpatia apesar de ter várias ações que podemos não concordar. 

O seu trunfo está no facto de ser uma personagem coerente, o que ajuda a que não existam muitos momentos forçados. Aos poucos o autor vai aprofundando esta personagem e a sua personalidade é o catalisador da história, porque é com as suas vivências e traumas que vamos percebendo os objetivos e o porquê de continuar a avançar.

O enredo está bem pensado, apesar de não revolucionar o género, conseguindo nunca ser demasiado óbvio. É verdade que antevi algumas das revelações, mas também é verdade que gostei da confirmação da maioria, porque são demonstrações de um autor que quer arriscar.

No entanto, globalmente este é um livro sobre a personagem principal, sendo o mistério policial a base condutora mas que também tem como maior propósito apresentar esta detective. Não sendo uma obra prima do género, a verdade é que foi um livro bastante viciante e que um fã do género irá gostar, principalmente pelas suas personagens, sendo que duas delas são claramente inesquecíveis durante muito tempo.

Se procuram um bom policial para este verão, esta é mais uma boa opção, e fiquei bastante curioso para ver onde o autor irá levar esta personagem.

Luís Pinto

terça-feira, 4 de julho de 2017

SOBREVIVE


Autor: Alexandra Oliva

Título original: The last one





Sinopse: No começo, eram doze
Quando Zoo aceitou participar num programa de televisão, ela julgava que se tratava de um reality show. Sabia que ia ser testada até aos seus limites para bater os outros onze concorrentes em provas de sobrevivência, mas achou que valeria a pena. Depois das câmaras e dos desafios voltaria para casa, para formar uma família.
Mas o jogo parece não ter fim
Conforme os concorrentes vão quebrando, física ou psicologicamente, Zoo começa a questionar-se sobre a crescente dificuldade das provas. Pouco depois, dá por si sozinha. Todos os outros concorrentes desaparecem. As cidades vazias, os cenários grotescos. Porque é que o programa não acaba?
Descobrir a verdade é o princípio
O que estará a acontecer longe do olhar das câmaras? Zoo precisa de descobrir, e, acima de tudo, precisa de encontrar o caminho para casa de forma a retomar uma vida interrompida.



Neste livro Alexandra Oliva mistura vários conceitos de algumas distopias e cria um thriller intenso e que consegue prender o leitor com facilidade. No entanto, a mistura de tantos conceitos, mesmo tendo em conta que alguns são superficiais, não é fácil, levando a que o livro demore algumas páginas a torna-se coerente.

Tal como a maioria das distopias viradas para o público adolescente, também aqui a autora tenta agarrar o leitor com várias dúvidas sobre o mundo onde a história decorre. Deixando várias pistas mas sempre com o objetivo de criar novas perguntas, a autora vai aumentando as pontas soltas, levando o leitor a tentar perceber tudo o que está a acontecer. A isto junta-se a história em si, muito focada no que um ser humano poderá fazer para sobreviver e também nos conceitos de reality shows.

A base do enredo é mesmo isso, a capacidade que temos de sobreviver, quebrando os nossos limites físicos, mentais e morais. E com isto, aos poucos, o enredo foca-se na essência do ser humano, nos extremos que consegue atingir, quer bons, quer maus. O resultado é uma narrativa forte e emocional que apresenta alguns momentos forçados mas que consegue explorar bastante bem o nosso instinto de sobrevivência que a sociedade deste livro consegue despertar.

Com um ritmo em crescendo, o livro torna-se bastante viciante e o fim está bem pensado. No entanto o enredo falha em dar respostas importantes se começarmos a questionar este mundo. Ao focar-se em algumas personagens a autora perde a capacidade de explicar de forma coerente este mundo para sustentar algumas decisões. Não é uma falha grave porque o foco do livro é a sobrevivência de algumas personagens, mas gostava de ter visto uma maior coerência do que sustenta esta narrativa.

Este é um livro bastante viciante e que explora de forma crua e direta a realidade dos reality show que se espalham pelo mundo. Os conceitos atuais de fama e o que fazemos para sermos adorados, famosos ou idolatrados estão aqui explorados com inteligência e arrepiam. É pena o livro não conseguir ser totalmente coerente ou original, mas mesmo assim é um livro bastante viciante para se ler neste verão e que tão cedo não se esquece. Claramente um livro inteligente em muito do que faz.

Luís Pinto

segunda-feira, 3 de julho de 2017

INVERNO NO PRÓXIMO ORIENTE


Autor: Annemarie Schwarzenbach





Sinopse: A 12 de outubro de 1933, na estação de comboios de Genebra, uma elegante mulher de 25 anos subiu para o do Expresso Oriente, que partia para Istambul.
Do outono de 1933 até à primavera do ano seguinte, Annemarie Schwarzenbach, jornalista e fotógrafa, formada em História na Universidade de Zurique, vai acompanhar um grupo de arqueólogos numa expedição de seis meses através da Turquia, Síria, Palestina, Iraque e Pérsia. A viagem será também para Annemarie uma forma de se afastar da Europa, onde era já visível a ascensão do nazismo.
Nesta expedição, que terminará nas margens do mar Cáspio, Annemarie vai contactar com civilizações antigas e com as realidades contemporâneas dos países por onde viajava, e esse contacto com o Oriente causar-lhe-á, nas suas palavras, «uma impressão de intemporalidade, de incerteza e de impotência».



Já se imaginaram a pegar nas vossas coisas e irem viver para uma realidade completamente diferente? Certamente muitos de vocês já o fizeram, e este livro é, na sua essência, isso mesmo: a forma como avançamos para o desconhecido, deixando para trás o que damos como garantido. O choque de culturas, o nascer ou morrer da esperança. O desconhecimentos do que para nós é bom e para outras culturas é mau.

Annemarie tem aqui um livro diferente num olhar cheio de curiosidade e esperança ao deixar para trás uma Europa que começa, lentamente, a caminhar para o seu momento mais negro. Jornalista e fotógrafa, a autora explora novas e antigas culturas, novas e antigas civilizações que por mais diferentes que possam ser, também têm muito a ensinar. 

Com uma escrita que salta entre a curiosa e entusiasmada, e a calma e com um toque de lamento, a autor conduz o leitor por uma viagem que me surpreendeu, quer pelo que me mostrou, quer pelas conclusões que acabei por tirar. Não é, obviamente, um livro para qualquer leitor, mas o seu toque de esperança sempre presente, mesmo perante o pior da humanidade, ajuda-nos a continuar.

Falar sobre isto livro, sem revelar pormenores que se revelam importantes, não é fácil. Esta foi uma leitura diferente e que me surpreendeu em alguns momentos. Um leitor atento encontrará aqui uma exploração única, aliada à crítica social e ao aprofundar do que nos torna humanos e de como crenças e sociedade nos moldam. É um livro que mistura fascínio mas também descrença. É um livro de extremos, tal como tudo aquilo que podemos ver, quando olhamos para os momentos mais negros da nossa História.

Luís Pinto

sábado, 1 de julho de 2017

PASSATEMPO: A História do mundo para pessoas com pressa


PASSATEMPO

A História do mundo para pessoas com pressa



Uma vez mais o Ler y Criticar irá oferecer um livro em parceria com a Editorial Presença, a quem desde já volto a agradecer por todos os passatempos que me disponibiliza.


Para se habilitarem a ganhar basta fazerem o habitual, responder a uma pergunta e preencher o formulário com os vossos dados.

Em breve, opinião sobre este livro!


O passatempo termina dia 11 de julho

Apenas é permitida uma participação por pessoa

Boa sorte a todos!




Sinopse: Um guia conciso mas abrangente que cobre tudo o que é necessário saber sobre os acontecimentos mais importantes da História do mundo, desde as civilizações antigas até ao final da Segunda Guerra Mundial.
Fazendo uma abordagem a todos os factos e detalhes históricos essenciais, este livro proporciona-nos uma extraordinária viagem através dos tempos, desde o império de Alexandre, o Grande, à dinastia Tang, na China, ao Iluminismo, à Guerra Civil americana, e mais além. 
A História do Mundo para Gente com Pressa é um guia precioso e indispensável sobre a história da Humanidade e que nos permite descobrir como se construiu o mundo moderno.