segunda-feira, 25 de novembro de 2013

O TANGO DA VELHA GUARDA


Autor: Arturo Pérez-Reverte

Título original: El tango de la guardia vieja



Sinopse: 1928. No salão deserto e silencioso de um transatlântico que navega pela noite dentro, um casal dança um tango ainda por escrever… Ela é Mecha Inzunza, uma mulher enigmática e melancólica. Ele é Max Costa, um elegante fura-vidas. Rumam a Buenos Aires, onde Armando de Troeye, marido de Mecha e músico afamado, enfrenta um extravagante desafio. Ao abrigo das ruelas lúgubres e ilícitas da cidade, nasce entre Mecha e Max uma história de amor arrebatadora que será precocemente interrompida. Voltarão a encontrar-se apenas duas vezes ao longo das suas vidas.
Em 1937, numa intriga de espionagem na Riviera Francesa, um dos destinos preferidos da alta sociedade europeia. E em Sorrento, 1966, durante uma inquietante partida de xadrez. Aqui, o tempo é já de nostalgia. O jogo dos amantes está perto do fim. A sua paixão acompanhou o esplendor e a decadência da Europa do século XX e transcendeu o tempo e a distância. Sempre presente e sempre impossível.


Tal como a sinopse refere, o enredo passa-se em três momentos distintos: 1928 num cruzeiro, em 1937 durante a guerra civil de Espanha e em 1966, onde a Guerra Fria envolve as personagens principais. O enredo tem ainda como personagens principais Armando, Mecha e Max. Com estes ingredientes, o autor constrói um romance marcante, com muito para ensinar ao leitor e que está ao nível das grandes obras deste autor. 

Numa mistura explosiva entre "tango" e espionagem, o autor dá-nos excelentes personagens, principalmente Mecha, que demonstra uma profundidade e uma personalidade que marcam todo o enredo e que influenciam a própria leitura. Existem ainda outras personagens de grande qualidade, e nota-se que o autor as constrói com calma, dando pequenos detalhes nos mais insignificantes diálogos ou gestos, ajudando à construção de uma imagem vincada por parte do leitor. A isto junta-se o ambiente, que aqui salta por três momentos e o autor altera certos aspetos como uma facilidade tal que imediatamente nos sentimos também a saltar entre épocas, e nunca me senti desligado da história.

Nesse aspeto, é importante referir que Reverte demonstra conhecimentos históricos que ajudam bastante a nossa leitura, ensinando sempre algo ao leitor para uma melhor noção de "onde estamos", mas toda a narrativa é focada no amor. Aliás, o autor descreve sempre, com simplicidade, as diferenças, as evoluções de mentalidade, de cultura, de segurança ou até do próprio ambiente entre pessoas, ao explorar como suas vidas se alteraram durante o salto temporal na narrativa... mas nunca sem ter como tema principal o amor e as marcas que o passado deixa dentro de nós.

Com várias revelações, traições e diálogos fortes num ritmo elevado de narrativa, a forma como Reverte escreve é cheia de vida, de intensidade, quer a explorar pessoas, sentimentos ou locais. E tal capacidade nota-se e agarra o leitor até a um final que deve ser aplaudido e que me surpreendeu em vários aspetos, principalmente porque o autor, novamente, tal com fez noutras obras suas, deixa uma mensagem moral, uma lição que cada leitor deverá interpretar à sua maneira e com ela perceber muito do que se passou neste livro, pois é importante percebermos as decisões de algumas personagens... o que sentiram.

Este é um livro sobre a força do amor. É interessante pensar sobre como um sentimento no nosso cérebro pode durar tantos anos até renascer, cheio de força no mais inesperado momento. Afinal qual é o limite para esse sentimento? Será um limite imposto por nós? Pela sociedade? Pelo nosso instinto de sobrevivência?

Arturo Pérez-Reverte faz parte daquele lote de autores que não faz maus livros. Existe sempre um toque de qualidade e uma noção de detalhe que se notam, quer no enredo, quer nas personagens, e que acabam por oferecer finais marcantes com uma lição moral. Este livro não foge à regra. Não será o melhor livro do autor, mas fará as delícias de todos os seus fãs. Quem gostar do autor ou do género, tem aqui um excelente livro!

Luís Pinto

8 comentários:

  1. Enquanto professor de Português não me canso de o elogiar. A escrita do Luís é fantástica a explicar algo e a convencer as pessoas. O seu blog é realmente fantástico e mesmo sem esta ser uma das suas análises com melhor qualidade, é notório o seu talento.

    Em relação ao livro penso que não há muito mais a dizer sem revelar o enredo. Acabei de o ler esta noite a sua opinião aceita em cheio no que penso do livro. O autor não faz maus livros e as suas personagens são de uma grande profundidade.

    Parabéns

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. O Luís é fantástico não só pelo talento a escrever e pela forma como consegue observar um enredo e explora-lo, mas também porque escolhe bons livros e tem cultura.

      Luís, já sabes, vejo o teu blog desde o início e foram vários os livros que comprei graças às tuas opiniões, o que é estranho tendo em conta que não nos conhecemos mas é esse o poder da internet e das tuas críticas.

      Continua! Parabéns.

      Eliminar

Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.