Autor: Orson Scott Card
Título original: Ender's Game
Para quem não
conheça este livro, o que em Portugal é normal para este caso (agora não tanto graças ao filme), deixo aqui uma
pequena introdução histórica: Orson Scott Card lança este primeiro livro
da saga Ender em 1985 e de imediato consegue o que muito poucos
conseguiram: vencer com o mesmo livro o Hugo e o Nebula Award, os dois
conceituados prémios da literatura fantástica. No ano seguinte o autor
lançaria o segundo livro da saga e repetiria o feito, tornando-se no
único autor em toda a História a vencer estes dois prémios em anos
seguidos, feito no mínimo notável.
Mas
voltando a Ender's Game, a popularidade dentro dos fãs do género é
enorme, e tal nota-se quando vemos, por exemplo, votações de sites da
internet: o site Sci-Fi Lists coloca-o em primeiro lugar no top dos melhores livros de FC; e a mega votação do site NPR coloca-o em terceiro no top dos melhores livros de fantástico, deixando para trás clássicos como 1984 ou a saga do momento de George R. R. Martin,
Game of Thrones. Procuramos pela internet e este livro aparece sempre
nos tops. Juntamos a isto o facto de ser um dos livros com melhor
classificação do GoodReads e vemos que estamos perante a saga mais
premiada da Ficção-Científica e uma das mais adoradas. Motivos
suficientes para a ler.
Mas este livro é muito mais do que FC.
Scott Card
tem uma escrita simples, rápida, e que tem como objectivo ajudar-nos a
perceber com relativa facilidade a mente prodigiosa da sua personagem
principal. Ender, um rapaz genial, tem a capacidade de criar incríveis
tácticas em batalhas, e até aqui tudo normal em relação a outros livros,
mas Scott Card "mostra-nos" mesmo essas movimentações, essas manobras
geniais, não se limitando a escrever "Ender chegou e ganhou". Juntamos a
isso o facto de o autor nos dar muitas vezes no início de capítulos,
acontecimentos com outras personagens, principalmente aquelas conversas
entre os verdadeiros manipuladores da história, aqueles que a fazem
avançar, oferecendo a esta obra uma intriga sempre presente e um
carácter quase estratégico às suas páginas, pois aos poucos vemos outras
movimentações que não as de Ender.
Sendo
um livro para qualquer idade, a verdade é que será mais fascinante para
um adolescente, pela acção e amizade entre as personagens, mas por
outro lado terá uma maior qualidade para um adulto pelas questões que
levanta. Os treinos das crianças tornam-se por vezes angustiantes, por
serem levadas ao limite, tocando a extrema violência nos seus actos, sem
que o autor as descreva com pormenor, dando a oportunidade a uma
criança de ler este livro e não ficar impressionada, mas também
oferecendo a qualquer adulto uma imagem negra, que nos faz questionar os
actos destas crianças, o seu estado psicológico e o que os levou a tal
situação.
Precisamos
de conhecer e compreender um inimigo para o conseguir derrotar? O tempo
em que somos crianças será realmente a idade da inocência, mas também é a
criança o ser que muda mais rapidamente de estado, amando e odiando a
mesma coisa em poucos minutos de intervalo. Será então uma criança o
comandante perfeito? Quente e frio, fácil de manipular mas com o qual se consegue criar uma verdadeira paixão? Aos poucos o
livro mostra-nos a manipulação, a inveja do ser humano, a ética moral
que nos prende e a violenta loucura que nos solta... mas será a
sobrevivência da espécie desculpa para qualquer acto? A verdade é que
existe sempre algo que consegue destruir a mais forte das determinações,
quer seja por termos perdido alguém que amamos e só desejamos desistir,
ou porque simplesmente deixámos de ser felizes. Roubaram-nos isso.
Este
livro é sobre as motivações das crianças. A capacidade de superação
seguida da tentação de simplesmente encolher os ombros e desistir,
porque afinal a vida não é justa e a criança que "cresce" mais depressa,
também o aprende primeiro. Esta personagem principal é fantástica e
realista, porque ser um génio não retira à pessoa nada de humano. Que
criança, por mais genial que seja, não se sentiu pelo menos uma vez
incompreendida ou inferior? Que criança não desejou pelo menos uma vez
ser especial sem perceber que certamente já o é?
Orson Scott
Card é fantástico. Se não o fosse não teria ganho todos os prémios que
ganhou, não teria feito um Universo tão fácil de se perceber, não teria
criado aquela que é para mim, muito provavelmente, a mais incrível raça
alienígena que já li... se Card não fosse tão bom, não teria inventado,
muito antes de J. K. Rowling, uma escola com equipas, jogos e pontos, e que realmente funciona apesar de não tão detalhado como em Harry Potter.
Um
livro com alguns anos e ainda tão actual, basta lermos e percebermos
como algumas pessoas neste livro manipulam outras em "redes sociais", e
perguntamo-nos se estaremos a caminhar na mesma direcção...
O
final, bem, é simplesmente incrível. Alguns poderão não gostar, mas
para mim é excelente, pois percebemos que todo o livro nos levou nesta
direcção. As questões morais que levanta são muitas e não as irei explorar, para não revelar nada, mas existe sempre algo a pagar pelo que fazemos, pois existe sempre orgulho ou remorso.
Um livro que me deu um verdadeiro prazer, como poucos. A
questão é: se és fã de literatura fantástica, ou se simplesmente és uma
pessoa que adora ler, como é possível ainda não teres lido este livro?
Luís Pinto
Para mais informações consulte o site da Editorial Presença aqui.
Para mais informações sobre o livro O Jogo Final, clique aqui.
Comprei este livro por indicação tua. É fantástico!
ResponderEliminarEu também comprei quando começaste a falar sobre o jogo e adorei e já reli!
ResponderEliminarParabéns pela análise e pela sugestão. Como sempre, muito bem sem revelar nada.
Também comprei este livro graças ao Luís e nem conhecia o autor. Agora ando à espera que lancem o próximo livro porque o final deste é brutal.
ResponderEliminarAbraço e parabéns pelo texto!
Olá Luís,
ResponderEliminarBem não posso ficar indiferente ao teu comentário, provavelmente a minha prenda de natal que irei oferecer a mim próprio, grande comentário ;)
Abraço!