segunda-feira, 28 de maio de 2012

BLADE RUNNER - Perigo Iminente

Autor: Philip K. Dick


Título original: Do Androids dream of electric sheep?


PKD é um dos autores mais importantes da ficção-científica e indiscutivelmente um dos que levou a ficção-científica às massas, muito graças às várias adaptações feitas para o cinema a partir das suas obras.
O seu grande sucesso é o livro O Homem do Castelo Alto, talvez o melhor livro de sempre no seu género, tornando-o num autor reconhecido, mas a popularidade vem com este livro, passado para o cinema com o nome Bale Runner.
 Mais tarde PKD lança livros como este Do Androids dream of electric sheep?, Ubik, A Scanner Darkly, entre muitos outros. As adaptações ao cinema são muitas: Blade Runner, A Scanner Darkly, Total Recall, Relatório Minoritário, Pago para Esquecer, The Adjustment Bureau, e a lista continua...

A primeira coisa a dizer é: esqueçam o filme no caso de o terem visto. Uma das ideias bases do livro é o que move o filme, mas o livro é, sem qualquer dúvidas, muito mais complexo, muito mais profundo. Resumindo: muito melhor do que a muito boa adaptação de Ridley Scott.

Num mundo apocalíptico, em que a maioria dos humanos vive noutros planetas, os que ficaram na Terra estão rodeados por um mundo onde não existem outras formas de vida, ao ponto de um animal ser o mais caro dos sonhos. Ao entrarmos neste mundo percebemos que o título original do livro é a pergunta que remete para todas as outras: Os Andróides sonham com carneiros eléctricos? O nosso personagem principal, Rick Deckard, sonha com um animal verdadeiro, mas a falta de dinheiro obriga-o a ter apenas um carneiro eléctrico: réplica perfeita do animal, mas eléctrico, e mais barato. Mas Rick sonha com outro ser vivo, com o qual se possa ligar. É isso que o difere dos Andróides: a empatia com o que te rodeia. Mas será essa diferença tão importante?

Aquilo que este livro nos pergunta, de forma indirecta, é: O que distingue um humano de um andróide? O que significa ser humano? Um andróide, fisicamente igual, com igual capacidade de processamento que o nosso cérebro, estaria muito longe da nossa capacidade de pensar, sentir e reagir? Será amar algo mais que não se consiga apenas com maior capacidade de processamento?
Estará a base do processamento do nosso cérebro tão longe do processo binário da actual inteligência artificial? Se não.. então os andróides são seres vivos? O que é estar vivo? Sentirá um andróide a necessidade de amar, ou de acreditar em Deus? Se o Andróide tem consciência de que irá morrer enquanto tem consciência que existe; isso não será o suficiente para também ele estar vivo?
Daqui a muitos anos, estas perguntas serão as mais importantes...

Este livro é o exemplo básico de como um livro de ficção-científica consegue tocar em temas complexos, não tendo respostas para muitos. É obrigação do leitor pensar e tentar perceber o que este livro lhe tenta transmitir. Temas como paranóia, crise de identidade, depressão, auto-confiança, estão presentes; mas também o poder da religião, com toda a esperança e cegueira que provoca. E ainda de forma muito indirecta, este livro fala sobre a morte: esta muda tudo. Muda todas as sensações, todas as perspectivas, e um andróide sabe quando vai morrer. Que vida diferente deve ser, ter tal conhecimento.

A escrita usada neste livro pode ser um entrave a alguns leitores, pela sua falta de emotividade. Eu adorei tal facto, pois leva o leitor a ter uma noção do mundo mais próxima da que os Andróides têm, sem a empatia do que os rodeia. É, consequentemente, difícil ter uma ligação com a personagem principal e muito menos encontrar qualquer beleza neste mundo... tudo genial e que encaixa de forma perfeita na história.

O fim será certamente uma mistura de sensações, e acredito que cada leitor a verá de forma diferente. Cada um tirará as suas conclusões, mas todos poderão dizer o mesmo: por mais que faças, tudo se torna insignificante a uma escala suficientemente superior. E o universo é muito grande...


Este livro é obrigatório, por todas as questões que levanta, por tudo o que PDK criou, pela singular religião, pelo mundo, pela forma como as pessoas olham os animais... resumidamente, por tudo. Qualquer pessoa, fã ou não do género, deverá um dia ler este livro, e perguntar-se: faria eu o mesmo que Rick Deckard? Talvez a necessidade de proximidade com algo vivo seja essencial à concretização pessoal e consequente felicidade.
Obrigatório!

9 comentários:

  1. Convencido. Vou comprar. Não há muito a dizer.

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  2. Este filme é dos meus preferidos e adorei o livro. É dos melhores que já li. Ainda bem que falaste neste livro que tanta gente devia ler e não o faz. Acredito que as pessoas tenham respeito pelo que escreves e que leiam este livro, porque vale a pena! Parabéns pela crítica que está óptima.

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  3. Também estou convencida apesar de não fazer o meu género de livros. Está na lista para aquisição futura.

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  4. Uma vez mais excelente opinião. Parabéns!

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  5. Convencido. Continua!

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  6. À muito tempo que oiço maravilhas deste livro e agora vens confirmar isso mesmo. Vou colocar na lista, mas agora só para o ano, na próxima feira do livro.

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  7. Este livro é diferente de todos os que já li de PKD e a principal razão pelo qual isso acontece é o distanciamento (na narrativa) das personagens! Apesar de perceber o ponto de vista de ajuda à percepção de falta de emoção que os Andróides sentem penso que, se houvesse mais proximidade, ajudaria o leitor a criar uma maior empatia com a fantástica personagem que é Deckard!
    Muito bom livro mas não seria de esperar outra coisa de Philip K. Dick!

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    1. Ainda bem que gostaste, Sabicho. É um livro estranho, e mesmo assim, muito bom. PKD tem sempre grandes ideias como base para os livros.

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