Autor: João Cerqueira
Sinopse: Há quase 50 anos, Fidel Castro espantou o mundo com a sua
revolução. Mas será que El Comandante perdeu o rumo? Ter-se-
á transformado no pior inimigo do seu povo?
A Tragédia de Fidel Castro é um livro simultaneamente
divertido e exigente, conduzindo-nos à mente de um dos mais
enigmáticos e polémicos líderes do mundo actual. A sátira e
o humor inteligente — ora discreto ora descarado — prendemnos
e despertam a reflexão. A narrativa foge a quaisquer regras,
propondo-se revelar a intricada mente de Fidel como nenhum
outro livro o fez.
Qualquer um ficará surpreendido com os personagens que irá
encontrar: Cristo, Afonso Henriques, o Grande Inquisidor,
Fátima, Deus e o Diabo... , figuras simbólicas desta tragédia
fantástica onde apenas Fidel Castro é real.
Entre as sátiras de Gil Vicente, Ramalho Ortigão e Fialho
d’Almeida e a fantasia de Ruben A. Leitão, A Tragédia de
Fidel Castro abre uma página nova na literatura portuguesa,
na qual se descobre o nosso próprio país.
Eleito a terceira melhor tradução publicada nos EUA em 2012 pela revista ForewordReviews, vencedor de vários prémios e considerado em vários blogues um dos melhores livros nos últimos anos, seria impossível não ler, mais cedo ou mais tarde, o livro de João Cerqueira que tanto se fala, principalmente além fronteiras.
Em primeiro lugar devo realçar a original e fantástica ideia base deste livro. Cerqueira junta várias personagens reais e divinas numa sátiras que apenas deve ser lida por quem tenha uma mente mais aberta em relação a alguns temas, como a religião ou ideais políticos. Se ler uma sátira sobre estas personagens não for um problema, então esta obra deve ser lida, pois é realmente muito boa, ao ponto de vos dizer que dentro do género é um dos melhores livros que li nos últimos anos.
Para além da originalidade, que marca esta obra pela positiva, o autor consegue juntar mais dois fatores de grande importância para o enredo: as personagens e a narrativa. Começando pelas personagens, Cerqueira faz, ao menos tempo, e nunca de forma inocente, uma ligações entre as suas personagens de ficção e as reais, mas também as afasta noutros momentos, proporcionando ao leitor a oportunidade de distinguir, por exemplo, entre o Afonso Henriques que "conhecemos" e o que aparece neste livro. E tal acontece com a grande maioria das personagens que aparecem neste enredo.
Nesse campo, é Fidel quem recebe uma descrição mais profunda, sendo o catalizador dos melhores momentos deste livro e também da crítica que a obra sugere que o leitor faça. Outras personagens também estão bem criadas, com personalidades bem definidas e com as quais é fácil sorrir ou até identificar-mo-nos em certos momentos. No campo da narrativa está outro ponto alto, e talvez onde a qualidade é mais difícil de alcançar neste género de sátira. Todavia, o livro consegue-o e deixa ao leitor a sensação que existe uma facilidade de Cerqueira em nos fazer rir com alguns momentos inesperados ou diálogos bem conseguidos.
Na narrativa é preciso afirmar que o autor raramente divaga. A sua escrita é quase sempre muito objetiva. O que pretendo dizer com isto é que raramente senti que algum parágrafo não dava nada à história, e com este facto cria-se a sensação que estamos a ler algo sólido e com sentido do início ao fim, sem existir momentos onde pareça que o autor tenha perdido o rumo (algo que facilmente acontece neste género em que o autor se pode perder na tentativa de criar um momento mais marcante/hilariante).
Mas para mim, o mais essencial numa sátira, é que não se limite a fazer rir, mas também que seja inteligente, e este é, para mim, o mais triunfo do autor. A forma como consegue ridicularizar conceitos políticos, sociais, ou religiosos, é, essencialmente, feito de forma inteligente e que nos leva a pensar e a tirar as nossas próprias conclusões. Aliás, após acabar o livro fica a ideia que nunca o autor tenta impor uma ideia, nem mesmo no fim do livro, deixando ao leitor espaço para definir o futuro do enredo.
E é com essa crítica inteligente que o autor consegue todos os prémios que tem ganho nos últimos tempos. Cada leitor irá olhar para esta obra de forma diferente, criando a sua própria crítica, aceitando umas ideias e rejeitando outras, mas acredito que se tiverem uma mente mais aberta a alguns temas, será uma leitura muito divertida. No meu caso, este é um livro que critica, de forma irónica ou cínica, a própria natureza humana e os alicerces da nossa atual sociedade e como essa mesma sociedade nos influencia enquanto seres humanos e enquanto parte importante de um grupo que é muito maior do que nós.
No global, este é um livro bom o suficiente para acreditar que no fim do ano terá sido do melhor que li do género em 2014. Inteligente e focado no seu objetivo, este livro proporciona uma leitura divertida e que ao mesmo tempo nos faz pensar. Uma surpresa muito agradável e que aconselho a todos os que gostem do género. Parabéns ao autor por arriscar com um livro diferente!
Luís Pinto
Não conheço o livro mas a tua opinião já me deu vontade de o procurar. Obrigada por nunca revelares nada da história. vou ver se o arranjo baratinho.
ResponderEliminarBjokas
Um livro que apresenta uma sinopse muito interessante e se existe esse humor inteligente e crítico, ainda melhor. Parabéns ao autor por tudo o que já alcançou e novamente parabéns a ti pela excelente análise.
ResponderEliminarBoas leituras.
Olá Luís,
ResponderEliminarFiquei bastante curioso, parece ser mesmo um livro do meu agrado.
Excelente comentário ;)
Abraço
Olá Luís. Convenceste-me a comprar este livro. Parece ser muito engraçado! bjs!
ResponderEliminarnão tinha conhecimento do sucesso deste livro. claramente a ter em conta e com esta análise ainda mais.
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