terça-feira, 3 de setembro de 2013

1984


Autor: George Orwell


Todos nós temos um livro que, por um ou outro motivo, nos marcam profundamente. Eu tenho vários e 1984 é um deles. A minha admiração por este livro é tal, que sempre resisti à tentação de falar sobre ele neste blog, e durante mais de dois anos, nada escrevi sobre a obra prima de Orwell. Hoje decidi escrever o que penso, tendo a certeza que as minhas palavras não farão jus à qualidade destas páginas.

O que é a liberdade? Um direito moral ou uma ilusão inatingível?
O que é o controlo de massas? Uma teoria da conspiração forçada ou o futuro que a tecnologia nos irá oferecer e nós aceitaremos com um sorriso?

Em 1984 é-nos apresentado o Big Brother, a identidade que tudo controla, desde o controlo visual, sabendo o que o povo faz, passando pelo controlo da sabedoria, manipulando o conhecimento de tudo e de todos. Esta entidade, que é o governo, controla todos os fatores da população. Entre eles temos a própria história da nação, os fatos exteriores ao país, e claro, o equilíbrio monetário que fará com que o povo continue a trabalhar para que os ricos vivam como querem.

Em termos práticos, sente-se que se trata de um livro escrito em 1948 e publicado em 1949, pois existe uma discrepância entre o que o livro nos tenta oferecer como base sustentável deste mundo e a realidade prática que hoje conhecemos. A verdade é que nunca um mundo se aguentaria nestes termos operacionais, mas a questão essencial do livro não é essa nem deve ser discutida. O que importa aqui perceber é como, de forma quase profética, Orwell nos leva até um mundo onde tanto se parece com o mundo em que vivemos hoje. Tecnologia e controlo...

Televisão, internet, redes sociais, gps... tudo isto detém informação, e com ela, haverá sempre controlo, não porque nos foi imposta, mas porque nós adoramos usar tudo isto.  O povo deste livro, deve sempre lutar contra estas formas de controlo, mas também deve ter noção que nunca ganhará enquanto estiverem "deste lado", e é disso que o livro trata. Nesta obra de Orwell, o controlo da massas passa pela vigilância e televisão, enquanto nos demonstra um mundo com pormenores fantásticos, onde nada é deixado de fora: religião, costumes, história política, controlo de recursos, e obviamente, aqueles que controlam os que também controlam.

Uma das questões mais importantes deste livro passa pela óbvia ligação com a propaganda criada pelo regime nazi, onde devemos ponderar uma questão: uma mentira contada várias vezes, poderá tornar-se uma verdade? E será apenas verdade para quem a cria, ou tornar-se-á global?

As personagens deste livro quase que passam ao lado perante tão grandioso mundo criado por Orwell. Winston, personagem principal, será o homem que lutará contra o sistema. Enquanto personagem, Winston não marca o leitor, mas os acontecimentos do enredo não serão esquecidos. Winston está presente na criação das mentiras (aceita tal facto porque é banal, porque não se estão a criar mentiras, mas sim verdades), vive a semana do ódio e sente as correntes que o aprisionam, e assim vemos que não é a verdade nem o conhecimento que o prendem, são antes os utensílios que lhe mostraram a cela onde vive. 

Sendo uma clara crítica ao regime de Staline com toques de Nazismo, Orwell dá-nos um mundo governado pela economia impulsionada pelas guerras, e com isso o mundo vive em constante receio, resignando-se ao controlo. Claro que existem muitos mais fatores que tornam este mundo credível e fascinante, e que farão muitos leitores questionar como seria viver assim e ainda mais importante, se estaremos tão longe desta visão. No entanto, não irei "espremer" tudo o que o livro tem para oferecer. 

Para onde nos leva o capitalismo? Até que ponto estaremos a ser manipulados para esquecer o que realmente é importante? Estaremos a caminhar para um mundo dominado por super potências capazes de serem sustentáveis, e consequentemente, fechadas?

1984 é uma obra fascinante e gostaria de falar sobre ela durante horas. Poderia falar da tensão psicológica que o autor tenta transmitir, da impossibilidade de escolhermos o nosso destino, do sistema social que não deixa os personagens mudarem de estatuto. 1984 vale pelas personagens que tem, pelo enredo que oferece, mas principalmente pelo mundo onde se sustenta e pelo passado que a meio nos revela. E no fim, o livro, tal como o Big Brother, tem a capacidade de nos quebrar, principalmente porque este "futuro" que Orwell criou é reconhecido por nós em certos momentos.

Orwell foi um génio. 1984 é para mim a sua maior obra que está entre os melhores livros que já li, e claro, é um dos meus favoritos. Deve ser lido, relido, estudado e questionado. Quando me perguntam qual o meu livro favorito ou qual o melhor que já li, nunca sei responder, mas quando uma pessoa, quem quer que seja, me pede que lhe recomende um livro, 1984 é sempre a minha primeira opção, porque para mim, deveria ser lido por todos. Uma obra prima sobre a natureza humana, e que me deixou a olhar, durante vários minutos, para a última página.

Afinal, qual é o limite de poder que uma sociedade pode "oferecer" a alguém?

Afinal, o que é a verdade? Algo imutável ou que podemos definir?

Luís Pinto

15 comentários:

  1. Parabéns, Luís! Que comentário fantástico. Fiquei convencido!

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  2. Novamente, um texto fantástico sobre um livro imortal. Gostei bastante de sentir a emoção com que escreveste sobre este livro que é um dos meus favoritos e que concordo contigo quando dizes que todos o deviam ler.

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  3. Bom dia, Luís. Quero felicitar-lo por mais uma vez criar uma análise primorosa. Neste caso trata-se do meu livro favorito e que também recomendo a todos. Uma obra marcante, sem dúvida e que merece muito estudo.

    Boas leituras e um bom fim de verão.

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  4. 1984 é uma leitura marcante. Lembro-me de várias passagens que foram um choque quando as li, não por não estar à espera delas, mas por espelharem dolorosamente conceitos que estão presentes na nossa sociedade, disfarçados, é certo, mas, ainda assim, presentes e que são um entrave àquele que é um direito do ser humano - a liberdade.

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  5. Olá Luís. Tudo bem?

    Adorei este livro e já o li duas vezes. Estou contigo quando falas do final. É arrepiante! Adorei o teu texto mesmo sem falares nada da história que para mim não deve ser fácil e dou-te os parabéns. Como sempre, grande texto!

    Beijinhos

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  6. ainda não li mas depois disto tem de ser. Tens um grande talento de convencer as pessoas a comprar o que sugeres e eu já comprei vários. Este vai ser mais um. Continua com o excelente trabalho.

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  7. 1984 é um dos melhores livros se sempre sem dúvida. Gostei bastante da tua análise a um livro que me marcou bastante. A semana do ódio é particularmente perturbadora a certa altura e é algo que não estava mesmo à espera. O final é o melhor do livro e transmite uma mensagem única que fizeste bem em não divulgar.

    Parabéns por finalmente teres falado de um livro que te marcou tanto.

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  8. Olá Luís. Mais um excelente comentário como sempre fazes. Eu sou uma grande fã deste livro e concordo contigo em tudo o que dizes.

    As férias foram boas? Agora vê lá se voltas com mais análises.

    parabéns pelo texto bastante bem escrito.

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  9. Olá Luís,

    Já li, alias li várias distopias e não faz a minha praia, reconheço que são bem escritas, muito interessantes mas não me cativa.

    Ainda assim os meus parabens pelo teu excelente texto :)

    Abraço

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  10. Já li e marcou-me mas acho que o li cedo demais e quando ainda não tinha maturidade para o ler. Vou repetir agora com a tua visão em mente.

    Grande análise. Parabéns pelo excelente trabalho nestes dois anos de blogue.

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  11. Obrigado a todos pelos comentários. Ainda bem que tantos gostaram deste livro. Para mim foi mesmo muito marcante. Uma leitura fantástica.

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  12. É um livro que, ainda não o tendo lido, espero ansiosamente fazê-lo, principalmente depois de eu ter lido "O Triunfo dos Porcos", também do Orwell, e que me agradou bastante.

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  13. Fantástica análise. Parabéns!

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