terça-feira, 10 de março de 2015

VÍCIO INTRÍNSECO


Autor: Thomas Pynchon

Título original: Inherent vice



Sinopse: Em parte noir, em parte farsa psicadélica, protagonizado por Doc Sportello, detective privado, que de vez em quando se ergue de uma névoa de marijuana para assistir ao fim de uma era. Há já algum tempo que Doc Sportello não vê a ex-namorada. Mas um dia ela aparece com uma história acerca de um plano para raptar o milionário por quem por acaso se apaixonou. Esta ponta solta dos anos sessenta em Los Angeles é o mote para o livro, mas Doc sabe que o «amor» não passa de mais uma palavra que anda na moda, como trip ou «curte».


Este é, indiscutivelmente, um livro sobre a queda dos anos 60. Aqui, durante todo o livro, e de forma indireta, vemos o declínio de uma era, da mentalidade, da música, das lutas políticas, das drogas, das roupas e tudo o resto que tornou os anos 60 numa década que marcou a humanidade em muitos aspetos, tanto positivos como negativos.

E é na entrada dos anos 70 que este livro nos leva a ver a adaptação de alguns, a mudança da maioria e as memórias que ficaram, porque por mais que tentemos... a sociedade evolui, quer seja para o bem, ou para o mal. E depois, o que fica de uma era? Apenas as memórias das pessoas ou algo mais? Este livro de Pynchon tem tanto de negro como de comédia, misturado num argumento que encaixa perfeitamente com a sua época, parecendo por vezes surreal, como se o próprio enredo estivesse com os efeitos que o personagem viciado apresenta.

E é nessa névoa que o enredo nos vai divertir, enquanto percebemos com facilidade o que esta década nos deu de bom, ou que nos deu de mau e o quanto houve em excessos. Pelo meio, um enredo inteligente por conseguir oferecer o que pretende, quer seja ou não do gosto do leitor. Para tal, usa Sportello, um personagem que nos cativa e que identificamos como aquele homem que ficou na época passada, não indo atrás das mudanças que a sociedade decidiu, ficando sozinho e não conseguindo encaixar no que o rodeia.

Para se gostar deste livro temos de o aceitar pelo que é: uma história cómica envolta no fim de uma era e no início de outra, misturada com um suave romance, uma escrita objetiva e inteligente, e algum momentos que nem parecem fazer sentido. No entanto, no fim, percebemos que fazem, porque é esse o objetivo do autor. Se gostam dos anos 60 este será um livro indicado, principalmente porque o ambiente que o autor criou está muito bem conseguido, com uma escrita suave, diálogos inteligentes e um enredo cativante. A mim demorou a convencer-me, talvez porque não vivi nesta década, mas conseguiu ser uma leitura divertida e que certamente agradará a muitos, principalmente aos fãs do autor. Percebe-se o porquê de ter sido tão aclamado pela crítica, principalmente pela mistura de thriller e comédia que conegue oferecer.

Luís Pinto

2 comentários:

  1. Excelente análise. Parabéns. Já me falaram muito bem deste livro e a tua opinião convence-me a le-lo.

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  2. Ia ver o filme mas nem sabia que havia livro. Timming perfeito da tua parte porque assim prefiro ler do que ver. Parabéns pela análise.

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