sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

22/11/63


Autor: Stephen King

Título original: 11/22/63





Sinopse: Quando o seu amigo lhe propõe que atravesse uma porta do tempo para regressar ao passado com uma missão especial, Jake fica completamente arrebatado. A ideia é impedir que Oswald mate o presidente Kennedy. Jake regressa a uma América apaixonante e começa uma nova vida no tempo de Elvis, dos grandes automóveis americanos e de gente a fumar.
O curso da História está prestes a mudar…



Mas que livro... Stephen King voltou a escrever um livro fantástico demonstrando que qualquer que seja o género, King é um fantástico escritor. Digo-o muitas vez: King não é um escritor que agrade a todos. A sua escrita é diferente, a sua forma de explorar as personagens também. Aqui, neste enredo que no início parece forçado e com um personagem principal que parece cheio de clichés, King demora a convencer, mas quando me convenceu foi para me levar numa viagem incrível de ficção científica onde viagens no tempo e romance estavam de mãos dadas.

Claro que o livro não é perfeito e houve alguns detalhes que não apreciei ou me pareceram forçados no início, mas aos poucos, enquanto vamos percebendo a mecânica da base do enredo, aceitamos a sua coerência e vemos como tudo bate certo. Todavia, quando menos esperava, King passa a parte da ficção científica para segundo plano, focando a nossa atenção numa relação amorosa que não esperava encontrar num livro de King.

O que salta de imediato à vista é a forma como Stephen King explora a sociedade americana da década de 60. King consegue sempre nos seus livros construir uma sociedade ou um mundo coerente, sendo esta é a sua grande base para qualquer enredo e aqui não é diferente, quer seja num mundo realista ou com toques mais fantásticos. Neste caso, Stephen King consegue expor a década de 60 pelos olhos de um homem do nosso tempo, capaz de encontrar as diferenças e confrontar o pensamento atual com o de há 50 anos.

No entanto, não me é fácil falar deste enredo sem revelar qualquer coisa. Jake foi um personagem com o qual não criei uma ligação imediata, mas a escrita de King, que nem todos os leitores apreciam, levou-me a continuar porque gostei bastante da ideia base, apesar de parecer algo forçada no início. Todavia, a grande surpresa foi a forma como o autor conseguiu colocar um enredo amoroso nesta base, impulsionando o livro para um nível em que ficção científica e filosofia se misturam de forma impressionante. O resultado final é um livro que começa com uma base de FC, com uma viagem no tempo, com um choque entre a sociedade atual e a de há 50 anos, e acaba por ser uma viagem filosófica sobre o poder do amor, o que é este sentimento e o que o faz sobreviver contra as leis do nosso universo.

Afinal, quem, ou o quê, nos colocou aqui? Até que ponto estaremos preparados, ou não, para mudar o nosso futuro, ou o nosso passado? King, questiona-nos indiretamente, argumenta indiretamente, mas algumas coisas não podemos ignorar, e a capacidade humana para amar é uma delas. A forma como alguns sentimentos atravessam o tempo, perdurando para sempre, é um dos temas que King explora aqui de uma forma que por vezes nos parece exagerada, noutras vezes é um verdadeiro murro no estômago, e que nos faz pensar se o amor é ainda algo que não somos capaz de compreender e que ultrapassa a paixão ou a necessidade de companhia, sendo algo mais que nós, humanos, temos a sorte de sentir, quer seja por outra pessoa, ou por um animal. 

Stephen King é um autor diferente, para o bem e para o mal. O que no início pode parecer apenas mais um livro sobre uma viagem no tempo para alterar o passado, torna-se muito mais do que isso. É complexo, é intenso, é inteligente e no fim, é, acima de tudo, sentimental. Não é para qualquer leitor mas é, sem qualquer dúvida, um dos melhores livros que li este ano. 

Luís Pinto

4 comentários:

  1. Totalmente convencida!

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  2. Como sempre, uma análise exemplar da tua parte. Um livro para comprar ainda este Natal a ver por esta tua crítica.

    Abraço e boas festas

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  3. Não é o meu autor favorito mas gostei bastante do teu texto e como costumo comprar a maioria dos livros que mais gostas e como também já li outro do King e gostei por sugestão tua, também vou ler este. Boas festas. Esperemos que continuem com a saga do Pistoleiro que me está a agradar.

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  4. Cá está um dos meus autores favoritos :) Ainda não tive oportunidade de ler este, mas estou de facto ansiosa.

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