quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

O HOMEM DO CASTELO ALTO


Autor: Philip K. Dick

Título original: The Man in the High Castle


Em primeiro lugar, aproveito para enaltecer o ensaio de Nuno Rogeiro que nos é dado no início do livro, sobre o autor e as suas obras. Penso que é uma mais valia para esta edição e ajuda à compreensão da história que lemos a seguir.

Escrever sobre Philip K. Dick será sempre um desafio para mim. Poucos autores foram tão "estudados" quanto PKD, não só graças aos seus mundos complexos, mas também aos vários significados que as suas histórias podem transmitir.

Considerado o melhor romance de história alternativa escrito até hoje, esta obra é mais do que isso. É mais do que um enredo que difere do nosso actual presente após um desvio num passado comum. PKD escreveu um romance intemporal onde se mistura uma singular visão sobre o que é um ser humano, a forma como o divino actua no nosso mundo, envolto num cenário quase paradoxal.

Roosevelt morre na década de 30 e os EUA não recuperam da Grande Depressão, não conseguindo evoluir enquanto potência militar e ajudar na luta contra a Alemanha Nazi e Japão. Aqui o Eixo venceu a guerra e os Aliados perderam. Tendo este cenário como base, PKD cria cinco personagens complexas e distintas, que ironicamente olham de forma diferente para o mesmo caminho. PKD apresenta a sua escrita cheia de significados, e o leitor recebe constantes "murros no estômago" perante os quase imperceptíveis significados nestas páginas, onde nos mostra a impotência da vida perante a morte, ou ainda como um insignificante acto pode alterar milhões de vidas.
Todos nós já questionámos como agora seria se um determinado momento tivesse sido diferente. Nós questionamos isso quando lemos este livro, enquanto as personagens também o questionam, e aos poucos, torna-se explícito como cada uma delas, ao esconder o que são perante os outros, estão à procura delas mesmas. E será que cada um de nós, não faz também um pouco esta "ginástica"?

Apesar de o enredo ter como base a vitória do "Mal" perante o "Bem", o livro não apresenta a escuridão que eu esperava. Aliás, o livro é cheio de gloriosas possibilidades, todas elas disfarçadas num pensamento, ou num grito de revolta! O mundo construído pelo autor é fantástico, principalmente pela forma como a mentalidade das pessoas está fantástica e coesa, onde a dúvida está sempre presente, muito graças a uma manipulação eficaz.

Basta acreditar em algo para que se torne real?

Num livro que parece uma matrioska onde uma realidade esconde outra, que por sua vez esconde outra, a percepção da realidade pelas personagens é a chave para a forma como nós lemos esta história. E enquanto somos manipulados pelos vários segredos ou ignorância que cada personagem revela, vemos a manipulação das massas a ser feita a partir da intervenção de grandes narradores políticos, que levam o povo a olhar para certas opções dos governos como algo necessário, por mais bárbaro que seja.

...Verdade Interior...

Pelo meio devo ainda comentar a forma como PKD reduz a sociedade/cultura americana a algo que apenas existiu e não passa de uma memória assente em objectos, sendo agora valorizada pela facto de não existir. Fantástico como o Homem tem a tendência para valorizar mais o que existiu, levando-me a recordar uma frase em que J. R. R. Tolkien nos diz que o Homem construiu túmulos mais luxuosos do que as casas dos vivos.

Afinal o que é real? Poderá a nossa mente enganar-nos? Poderá o Universo iludir-nos? 

Podia estar o resto do dia a falar sobre esta obra. A história é boa, num mundo fantástico. As personagens estão muito bem construídas e as últimas páginas são arrepiantes, deixando-me vários minutos a pensar no que acabara de ler. PKD foi um génio! Foi um escritor que nos fez ver o Tempo, a vida, a morte e os medos de uma outra forma, mas principalmente, nos fez ver, em quase todas as suas obras, que o Homem vive pelas suas necessidades, todas diferentes, e todas iguais.

Um dos melhores livros que já li.

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14 comentários:

  1. Não me canso de ler as tuas opiniões. Esta está fantástica. Parabéns pelo belo texto.

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  2. Um dos teus melhores textos. Será dificil não ficar curioso depois de ler o que escreveste.

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  3. Li este livro à uns meses. é brutal!

    O fim acho que não o percebi muito bem mas também não é fácil e eu não domino a forma como o autor expoe as suas teorias. Mas gostei mesmo muito e recomendo. A tua análise está perfeita.
    Continua!

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  4. Depois disto, foi parar à minha lista. Mais livros que aconselhes deste autor?

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    1. Olá Pan. Também li o Blade Runner, que se tornou num filme marcante quando saiu. O livro é mesmo muito bom e já fiz a análise no blog!

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  5. Tenho um amor imenso por este livro! Adoro o "twist" da história mundial e as possibilidades que o autor coloca e que nos coloca deixando-nos a pensar no "se". Magnífico mesmo!

    Beijinhos Luis*

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    1. Olá Jojo.

      Estou como tu... passei o livro todo a pensar "e se..."

      Até agora, este autor ainda "não me falhou" e vou continuar a ler obras suas.

      Beijinhos!

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  6. Li este livro demasiado novo para gostar e foi em inglês que também não ajudou. Mas agora li esta tua opinião e fiquei com vontade do ler e ainda bem porque não me lembro de quase nada. Já nem me lembro do final que falas.

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    1. Então tens mesmo de repetir a leitura e depois diz-me o que achas!

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  7. Um dos melhores textos que já escreveste. Gostei bastante e vou colocar o livro na minha lista de futuras compras. parabéns e boa sorte para as votações. Mereces ganhar!

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    1. Obrigado pelo elogio Ricardo!

      Boas leituras!

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  8. Vou mesmo ter de comprar isto. Obrigado por escreveres!

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  9. Obrigado a todos por perderem algum tempo a comentar as minhas opiniões.

    Amanhã, novo texto!

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  10. Grande opinião. Vai já para a lista.

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