quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

CONVERSAS DE MANHÃ E DE TARDE


Autor: Naguib Mahfouz

Título original: Hadith al-sabah wa-l-masa'


Uma das últimas obras de Naguib Mahfouz, famoso escritor egípcio galardoado com o Nobel da Literatura. Conversas de Manhã e de Tarde é uma história de dimensões épicas que retrata a vida no Egipto ao longo de cinco gerações.
Situada no Cairo, a história acompanha o percurso de três famílias desde a chegada de Napoleão no fim do século XVIII até aos anos 80, através dos depoimentos de personagens dispostos por ordem alfabética.


Não sei se será inédito, mas eu nunca tinha lido uma narrativa nesta forma. O autor dá-nos um livro onde cada personagem é apresentada por ordem alfabética e em poucas páginas. É como se estivéssemos a ler um resumo de cada pessoa até à sua morte. 

No início não é fácil encaixar toda a informação que vamos recebendo, não só sobre as leves referências à história árabe, mas principalmente com as personagens, e por isso aconselho qualquer leitor a criar um esquema para ser mais fácil interiorizar o que vamos lendo, principalmente parentescos, pois, por vezes, não temos páginas suficientes para memorizar a base da personagem (motivações, crenças, etc...).

Um dos factos que mais gostei é a notória diversidade da civilização árabe, dentro de várias classes sociais. Ao contrário de muitos romances, que tentam dar a ideia que se trata de um povo religiosamente fanático (não que este fanatismo seja no mau sentido) que reza, não tem dúvidas e segue uma vida com certos condicionalismos religiosos sem qualquer sacrifício. Aqui temos personagens que acreditam, outras que duvidam, outras que se revoltam, outras que não acreditam. Não são poucas as vezes que o autor nos mostra os sentimentos de quem questiona ou segue as palavras divinas, e essa diversidade ajuda a construir a história que estamos a ler.

Com a narrativa a saltar entre gerações, é preciso alguma ginástica mental para construirmos a história na nossa cabeça, e para além disso, poderá ser importante conhecer um pouco dos momentos mais marcantes da História árabe. O não conhecimento da mesma não nos impede de perceber a história, mas senti que pesquisar um pouco pela internet é o suficiente para a leitura se tornar mais fácil e interessante.

No entanto, o interessante deste livro são, na minha opinião, dois pontos: em primeiro lugar, a narrativa. É fantástico como, ao lermos apenas resumos separados de mais de 60 pessoas, no fim sentimos que lemos uma marcante história, e que tudo se liga. Em segundo lugar, o paradoxo de este livro ser um resumo da vida de cada personagem, mas no global, este não ser um livro sobre a vida de cada uma individualmente, mas sobre a sociedade na qual viveram. Este é um livro sobre a mudança dos tempos, sobre costumes, sobre a forma como a relação entre familiares, vizinhos e amigos mudou durante o último século. É um livro sobre a religião e a forma como a aceitamos e questionamos... e por fim, é um livro sobre a mudança das necessidades de cada geração para se sentir concretizada e como isso influenciará a própria política no Egito, levando a destruição de correntes há muitos anos criadas... o caminho para a independência.

Considerado um dos romances mais marcantes da língua árabe, Conversas de Manhã e de Tarde não será um livro para qualquer leitor. Será preciso gostar do género e também manter um bom ritmo de leitura (o que nos faz continuar a ler é o querer compreender a história e não o vício que o livro nos dará), pois com um ritmo mais baixo muito se poderá perder. Para os que decidirem arriscar, provavelmente existirá um primeiro choque devido à singularidade da narrativa, mas no fim ficará uma sensação de plena compreensão do que o autor nos quis transmitir e a noção que estivemos perante uma grande obra. Um livro completo e que demonstra a grande qualidade do autor.

3 comentários:

  1. Fiquei curiosa e vou pesquisar um pouco mais sobre este autor. Não conheço nada dele.

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  2. Parece um bom livro para ler e oferecer. Obrigado pela sugestão.

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  3. Acho que pode ser um livro interessante. E como disse o Gus, pode ser muito bom para dar aos pais.

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