quinta-feira, 30 de outubro de 2014

A PRIMEIRA REGRA DOS FEITICEIROS - Parte II


Autor: Terry Goodkind

Título original: Wizard's first rule



Este livro é a segunda parte do livro original que deu um enorme sucesso a Terry Goodkind. O primeiro livro demorou a convencer-me, pois o seu início tinha demasiado clichés do género, mas neste segundo livro a história é diferente, pois muito já está apresentado e novamente voltamos a sentir que este mundo tem um grande potencial, como muito que pode ser explorado.

Todavia, este é um livro de altos e baixos e que são difíceis de diferenciar, pois todos os elementos do livro apresentam bons e maus momentos. Os diálogos, por exemplo, é algo que neste livro apresenta inteligência nuns momentos, mas noutros falha totalmente, sem qualquer tipo de objetivo aparente, ficando a dúvida se terão significado nos próximos livros.

Nas personagens acontece o mesmo. Por vezes temos momentos bem construídos e coerentes, noutros momentos nem por isso, e fica a dúvida se o autor está a falhar na concretização do seu livro ou se não nos está a explicar tudo para que sejam os próximos livros a oferecem as respostas. É nestes altos e baixos que o livro se desenvolve, sendo a melhor parte o olhar que temos sobre o vilão, que apesar de previsível, consegue ser uma personagem muito coerente, e no personagem principal que se destaca por não ser o herói que estamos habituados. Num enredo que apresenta alguns clichés do género, é refrescante ter um personagem diferente e que não é facilmente identificado como o herói.

Ta como nas personagens principais, que vamos acompanhando, o enredo está bem estruturado e uma vezes irá surpreender-nos, tal como outras vezes se deixa cair no óbvio. Este "óbvio" deixa uma sensação de que algumas partes da narrativa são forçadas e o problema está no facto de este não ser o fim da saga, mas sim o início de muitos livros que estão para a frente. Com isto ficamos sem saber se o autor está mesmo a forçar ou se terá uma explicação mais para a frente (sim, estou a repetir-me, mas esta é a sensação constante da leitura). Contudo, olhando apenas para este livro, este é um enredo indicado para quem goste de uma fantasia suave com alguns temas adultos. O leitor mais experiente no género, e também mais exigente, encontarará muitos momentos que, provavelmente, não lhe irão agradar, por falta de coerência ou de um provável significado. Por outro lado, um leitor que goste de uma fatansia com ação e um bom ritmo, tem aqui um livro que pode ser uma boa escolha.

Goodkind tenta explorar alguns temas adultos, e com sucesso, apesar de exagerar no facto de olhar apenas para alguns. Por exemplo, Goodkind quer, claramente, apresentar uma narrativa jovem mas que nos recorde, em certos momentos, que este mundo é negro. Esta ideia agrada-me, mas poderá chocar alguns leitor que o autor se foque apenas em possíveis violações de personagens femininas (para além das normais mortes). O problema, uma vez mais, é que estamos no início da saga, e é difícil aceitar certas tedências quando ainda não conhecemos os costumes e tradições deste mundo, quer coisas boas, como festas, quer comportamentos maus, como violações.

No final fica a ideia que este livro não oferece nada de novo ao género, mas que tem tudo para o fazer nos próximos livros. A questão aqui é saber se o autor consegue dar o salto qualitativo que este mundo pede e que pode ser dado, pois muito da sociedade aqui presente está bem conseguida, com pormenores interessantes. Apesar de ainda não me ter convencido, a verdade é que esta saga convenceu muitos leitores por todo o mundo, principalmente jovens adolescentes, e acredito que vai melhorar. Por agora é esperar e ver o que o autor nos irá oferecer nos próximos livros.

Luís Pinto

Passatempo: Dei-te o melhor de mim


PASSATEMPO

Dei-te o melhor de mim



O blog Ler y Criticar e a Editorial Presença têm para vos oferecer um exemplar do livro: Dei-te o melhor de mim (esta semana estreia no nosso país a adaptação cinematográfica).

Para se habilitarem a ganhar, basta responderem a uma simples pergunta e preencher o questionário.


Podem encontrar a resposta na sinopse e apenas é permitida uma participação por pessoa. 

O passatempo termina às 23:59 do dia 10 de novembro 



Sinopse: Na primavera de 1984, dois adolescentes norte-americanos, Amanda Collier e Dawson Cole, envolvem-se na intensa vivência do primeiro amor. Apesar de pertencerem a mundos diferentes na pequena cidade de Oriental, na Carolina do Norte, o seu amor um pelo outro parece-lhes suficientemente poderoso para enfrentar todos os desafios. Mas quando o verão de seu último ano da escola secundária chega ao fim, acontecimentos imprevistos colocam os dois jovens em trajetos irremediavelmente divergentes. Vinte e cinco anos mais tarde, a morte do único amigo que os protegera reúne-os de novo na cidade natal. Confrontados com dolorosas memórias e um sentimento que se revela intacto, que sentido dar agora a um amor que nunca poderia mudar o passado?


Boa sorte a todos

Aproveitem e participem nos restantes passatempos desta semana!

quarta-feira, 29 de outubro de 2014

Passatempo: Os rapazes do lixo


PASSATEMPO

Os rapazes do lixo



O blog Ler y Criticar e a Editorial Presença têm para vos oferecer um exemplar do livro: Os rapazes do lixo (esta semana estreia no nosso país a adaptação cinematográfica).

Para se habilitarem a ganhar, basta responderem a uma simples pergunta e preencher o questionário.


Podem encontrar a resposta na sinopse e apenas é permitida uma participação por pessoa. 

O passatempo termina às 23:59 do dia 9 de novembro 



Sinopse: Num país do terceiro mundo, num futuro não muito distante, três rapazes tentam sobreviver nas montanhas de lixo nos subúrbios de uma metrópole. Num dia de sorte e azar, Raphael encontra algo muito especial e misterioso. Tão misterioso que decide guardar, mesmo que a polícia da cidade ofereça uma bela recompensa pela sua devolução. Essa decisão traz terríveis consequências, e em breve os rapazes do lixo vão ter de usar toda a sua astúcia e coragem para escapar aos seus perseguidores.
Trash - Os Rapazes do Lixo é um romance policial para leitores jovens, cuja leitura será interessante para os menos jovens, igualmente. Publicado em mais de 15 países, este é um livro sobre como a esperança e a determinação podem transcender até a pobreza mais indigna.


Boa sorte a todos

Amanhã temos novo passatempo!




EXCALIBUR


Autor: Bernard Cornwell

Título original: Excalibur


Sinopse: Artur esmagou a revolta de Lancelote, mas o preço foi elevado. A traição de Guinevere deixou-o fragilizado e os seus inimigos saxões pretendem aproveitar-se dessa vulnerabilidade. O caos ameaça dominar a Bretanha. Mas Artur já deu provas do seu génio militar e, à medida que a próxima batalha se aproxima, prepara-se para abrir caminho até à vitória em Monte Badon e reconquistar a mulher que perdeu. Mas quais serão as consequências das intrigas de Mordred, agora o herdeiro ao trono da Bretanha, e da magia da sacerdotisa Nimue, que querem exterminar Artur?


Fantástico! Bernard Cornwell é um mestre no seu género, capaz de criar enredos, sociedades e personagens complexas como poucos, apresenta uma trilogia consistente do início ao fim, num patamar difícil de alcançar. Neste último livro, Cornwell acelera nas batalhas e abranda o seu ritmo quando tem de descrever algo, tornando esta narrativa menos constante em termos de ritmo, mas mais empolgante. Desde o início que percebemos, tal como Artur, que o fim da história está próximo e, para satisfação dos leitores (acredito), Cornwell leva-nos numa viagem em que mergulhamos na personalidade de Artur, nos seus medos, na sua revolta e na incapacidade de esquecer quem o traiu. E é aqui que o enredo deixa o Rei Artur e olha para o homem Artur que, tal como disse nas minhas opiniões aos livros anteriores, é um homem cheio das dúvidas normais de quem quer reinar com sabedoria e justiça.

Artur é, para além do centro da história, o homem que está verdadeiramente quebrado, que parece estar "preso por um fio", mas que continua a demonstrar uma determinação invulgar, apenas ao alcance de quem acredita que está a fazer o correto e o que deve, imperativamente, ser feito.

Tudo o resto que possa dizer sobre este livro, já disse nas opiniões aos dois anteriores livros. Cornwell é um profundo conhecedor desta época, explora teorias e factos, mistura-as com a sua fição e a complexidade atinge um nível em que sentimos que toda a sociedade está construída de forma exímia e coerente, ao ponto de tudo fazer sentido, quer seja a ação de alguém do povo, passando pelas decisões dos que têm poder e estão envoltos em intrigas e favores corruptos, procurando mais poder. Claro que existem pontos fracos neste livro, tal como nos anteriores, e que poderia aqui revelar, mas passam totalmente ao lado num livro que tem um enredo sólido. Todos os temas sociais continuam aqui presentes mas o foco é agora as lutas interiores de Artur, e é incrível como o autor muda muito ligeiramente o seu foco e todo o livro se transforma, sendo possível perceber quais serão as últimas decisões do Rei.

Este foco é necessário para que o autor explore o quanto o amor, quer a parte boa, quer a parte ma, transforma uma pessoa. As decisões mudam, a paixão eleva-se acima da razão, e tudo toma um novo caminho, em que os objetivos podem ser outros que apenas o coração conhece. Em tudo isto, Cornwell é fantástico e fica bem demonstrado que estamos perante um grande nome do romance histórico. Pelo meio, e que ainda não referi, estão descrições fantásticas das batalhas, quer a nível estratégico, quer na parte psicológica dos soldados. Tudo muito bem conseguido e muito completo.

Este é uma incrível trilogia. Pode não ser a mais viciante, nem a mais rápida de ler mas, dentro do romance histórico, é do melhor que já li e poucos autores conseguem alcançar o que Corwnell oferece nesta saga. Completo, complexo, marcante, emocional. Cornwell está no topo do seu género.

Luís Pinto


terça-feira, 28 de outubro de 2014

Passatempo: Surpreende-me


PASSATEMPO

Surpreende-me
de Megan Maxwell


O blog Ler y Criticar e a editora Planeta estão a oferecer um exemplar do livro "Surpreende-me".

Para se habilitarem a ganhar, basta serem fãs ou seguidores do blog, preencherem o formulário e responderem à pergunta. Podem ver a resposta na sinopse do livro.



Sinopse: Björn é um atraente advogado a quem a vida sempre sorriu. É um homem ardente, alérgico ao compromisso e agrada-lhe desfrutar da companhia feminina nos seus jogos sexuais. Melanie é uma mulher de acção. Como piloto do exército americano está acostumada a levar a vida ao limite, no en tanto, a sua principal missão é a de lutar como mãe solteira pelo bem-estar da filha.
Quando o destino os põe frente a frente, a tensão entre eles torna-se evidente. O que no começo foi um encontro hostil, pouco a pouco irá converter-se Numa atracção irresistível. Conseguirão estes dois titãs entender-se? 

Apenas é permitida uma participação por pessoa.

O passatempo termina às 23:59h do dia 8 de novembro


Boa sorte a todos!


segunda-feira, 27 de outubro de 2014

HOUSE OF CARDS


Autor: Michael Dobbs

Título original: House of cards



Sinopse: Francis Urquhart conhece cada segredo no mundo da política - e está disposto a denunciar todos os seus opositores para se tornar primeiro-ministro.
Mattie Storin é uma jovem repórter política, que se distingue pela sua determinação. Ela enfrenta o maior desafio da sua vida quando se depara com uma escandalosa teia de intrigas e corrupção financeira ao nível das altas esferas da governação. Ela está decidida a revelar a verdade, mas tem de arriscar tudo para fazê-lo...



Sendo um fã da série, há muito que estava para ler o livro que deu origem a tudo, apesar de com grandes diferenças que já sabia que existiam, em relação à série americana (nunca vi a inglesa).

House of cards é um verdadeiro, intenso e inteligente jogo político, capaz de nos chocar com aquilo que Francis consegue fazer nas sombras para ganhar cada vez mais poder. Começando pelo enredo, o autor sabe, claramente, o que está a escrever. A estratégia e a teia de poderes que Francis cria é a demonstração de que o autor tem um conhecimento profundo do meio político, do que se faz, do que se pode fazer e de como é feito. Este é o jogo do "eu faço-te algum favor agora, mas irei mais tarde cobrar um outro favor", e é assim que Francis, sabendo os "podres" de cada um, joga com favores, chantagens e fica quase sempre com a "melhor mão".

Por parte do leitor, não será fácil vibrar com o sucesso de Francis (claro que nem tudo corre bem a este exímio político) porque é muito difícil criar uma ligação com um homem que faz o que Francis faz, mas sentimos quase que uma admiração pela forma astuta como Francis se movimenta neste sistema corrupto. Francis é, devido à inteligência que demonstra, uma personagem fascinante, capaz de antever situações que escapam ao leitor até realmente acontecerem, mas o bom deste livro é que esta não é a única personagem bem criada. House of cards apresenta um pequeno conjunto de personagens fantásticas, que ficam na nossa memória, tal como ficarão muitos dos esquemas de Francis.

A isto junta-se uma boa escrita na qual o autor não tenta usar uma escrita demasiado complexa porque o enredo não necessita. O que é complexo aqui são as movimentações e os limites do que se pode fazer, e fiquei agradado com o facto de o autor tentar explicar tudo de forma simples para que o leitor não tenha de diminuir o seu ritmo de leitor para perceber melhor. E assim, caminhamos por um enredo em que sentimos que, a qualquer momento, Francis poderá falhar, aumentando a tensão durante toda a leitura, porque manipular tantas pessoas e sair vitorioso não pode ser fácil.

Sendo o primeiro livro de uma trilogia, não me quero alongar demasiado sobre enredo e personagens. Este é um livro que pdoerá não agarrar todos os leitores, mas que é muito inteligente, surpreendendo em vários momentos. Francis é um personagem difícil de esquecer tal como é difícil ler este livro e não imaginar Kevin Spacey a desempenhar uma fantástica interpretação. Por fim, devo referir que a grande qualidade deste livro está nos diálogos, inteligentes, cheios de significados, em que cada palavra é um teste ao personagem que a ouve, mas também ao leitor que a lê. Olhares, linguagem corporal... tudo é lido por Francis, e também pelo leitor. Se gostam do género e do tema central, este é um livro a ler. 

Luís Pinto

sexta-feira, 24 de outubro de 2014

MAZE RUNNER - Provas de fogo



Autor: James Dashner

Título original: The Scorch trials



Sinopse: Atravessar o Labirinto devia ter sido o fim. Acabar-se-iam os enigmas, as variáveis e a fuga desesperada. Thomas tinha a certeza de que, se conseguissem fugir, ele e os Clareirenses teriam as suas vidas de volta. Mas ninguém sabia realmente para que tipo de vida iriam regressar...


Para este livro vou tomar como garantido que todos os que lerem esta análise já leram o primeiro livro da saga. Ligeiros spoilers à frente!

Esta é, de certeza, uma das análises mais difíceis que alguma vez fiz neste blog, simplesmente porque tudo o que acontece neste livro está dependente do próximo. Cada página oferece algo que não percebemos, que questionamos, e no fim, todas as respostas ficam para o próximo livro. Sendo assim, como posso analisar a qualidade de um livro que pode ser destruído pela próximo porque nada é concluído neste? Vamos por partes...

Este é, inevitavelmente, o grande problema de um livro que, em vez de começar a responder, cria ainda mais questões. Esta estratégia é muito usada no entretenimento, mas a verdade é que poucos a sabem usar. Filmes e séries são, frequentemente, arrastados para novas perguntas quando começam a ter sucesso e os seus autores não sabem quando parar. E depois nada encaixa e torna-se impossível oferecer todas as respostas.  Todavia, isto não é o mau aspeto se for controlado e planeado, mas aumenta os problemas do autor. Já lá vamos...

Começando pelo enredo enquanto base, o autor foge um pouco do que criou no primeiro livro para tornar toda a trama em algo maior. O esquema é maior, o objetivo mais importante, mas faltam as respostas. E é por não ter respostas que lemos sem parar, à procura, tal como as personagens. Estamos no mesmo nível de ignorância e tal liga-nos com estes adolescentes que continuam sem certezas, mas continuam, tal como nós...

Dahsner mantém, e bem, o ritmo elevado (para não termos tempo para criar muitas perguntas) e, apesar de não me ter agarrado tanto quanto o anterior, o livro consegue prender o leitor com facilidade, embalando-nos num enredo misterioso em que as personagens nunca estão a salvo. Dashner arrisca em alguns momentos, colocando em perigo as personagens com as quais nos identificamos, mas conseguindo criar reações nas mesmas que se enquadram nas personalidades que conhecemos. E este aspeto é muito importante porque este é um livro de escolhas impossíveis, em que o personagem não tem a mínima noção dos resultados dos seus atos. Como tal, as suas escolhas terão apenas a ver com a sua personalidade e tal está bem feito.

Agora, voltemos ao problema do livro. Na realidade, este livro não tem nenhum problema, mas poderá ter. Como disse, este enredo está totalmente dependente do próximo ao ponto de toda a trilogia estar dependente de como irá acabar. O terceiro livro terá a capacidade de tornar esta trilogia muito boa, ou num verdadeiro desperdício de tempo.

E porquê? Porque para nós, leitores, nada neste livro faz sentido a partir do momento em que paramos e começamos a pensar um pouco. Não percebemos qual é o objetivo, não percebemos porque estão as personagens a viver tais situações psicológicas (se estamos num mundo tão avançado em que a tecnologia nos consegue controlar ações e emoções, então para quê uma experiência psicológica no mundo real?). E como irão tais experiências psicológicas oferecer a cura a uma doença? Porque existem dois grupos tão distintos? Estas são apenas algumas das muitas perguntas e é por isso que estou ansioso por ler o próximo livro.

No fim, tudo isto poderá fazer sentido (tenho uma teoria, tal como todos devem ter as suas, mas não a irei revelar). O autor apenas terá de dar muitas respostas e podemos ficar aqui perante uma saga de grande qualidade e que demonstre que tudo, desde o início do primeiro livro, foi planeado com antecedência. Se não der as respostas, a trilogia desmorona-se. Para já, estou a gostar e quero ler o próximo livro o mais rápido possível (enquanto todas as perguntas estão na minha memória), mas tenho a sensação que o autor poderá estar a ir por um caminho que não consiga controlar. Claro que posso ler este livro sem questionar, apenas absorvendo o que vou lendo, mas se estamos perante um enredo em que nos é passada a noção de que tudo foi planeado por uma instituição, então tudo terá de ter um propósito e um porquê. Cada experiência tem de ter uma razão, porque se não é apenas desperdício de recursos por parte dessa instituição.

Para finalizar, devo salientar o fim. O que acontece no fim é bastante previsível, a todos os sentidos, mas, é também a ação mais coerente e aí devo aplaudir o autor por definir o único caminho possível depois de tudo o que tinha acabado de ler. Houve coerência com as personalidades criadas. Agora as possibilidades são muitas... já falta pouco para saber como tudo irá acabar. Conseguirá Dashner terminar em grande?

Luís Pinto

quarta-feira, 22 de outubro de 2014

SURPREENDE-ME


Autor: Megan Maxwell

Título original: Sorpréndeme



Sinopse: Björn é um atraente advogado a quem a vida sempre sorriu. É um homem ardente, alérgico ao compromisso e agrada-lhe desfrutar da companhia feminina nos seus jogos sexuais. Melanie é uma mulher de acção. Como piloto do exército americano está acostumada a levar a vida ao limite, no en tanto, a sua principal missão é a de lutar como mãe solteira pelo bem-estar da filha.

Quando o destino os põe frente a frente, a tensão entre eles torna-se evidente. O que no começo foi um encontro hostil, pouco a pouco irá converter-se Numa atracção irresistível. Conseguirão estes dois titãs entender-se?


Este não é o meu género de livros, não pelo género em si, mas pelo facto de terem todos bases iguais. Todavia, para minha surpresa, este tem um aspeto diferente que me despertou a atenção. A grande maioria dos livros que se vendem neste género apresentam um homem bem sucedido, profissional e socialmente, atraente e com uns gostos sexuais algo "diferentes". A mulher é quase sempre frágil, fraca, e com uma recente história em que uma relação correu mal. Felizmente, neste livro a mulher é mais forte, mais segura (claro que todas as pessoas têm as suas fraquezas e indecisões, porque se não, não eram personagens credíveis), mas ao menos aqui a personagem feminina não é apenas a "coitadinha" do enredo que se deixa levar pela paixão. E este aspeto agradou-me bastante por fugir do atual estereotipo deste género.

Posto isto, não me quero alongar no enredo porque a sinopse já conta o essencial para quem queira começar esta leitura. As duas personagens principais são interessantes e o enredo acompanha-as numa paixão cheia de momentos sexuais e dúvidas pelo meio, com problemas familiares ou até morais a atravessarem o enredo para que este ganhe alguma tensão que não seja apenas a paixão entre os dois. De salientar ainda a pressão social, bem explorada neste livro, e que dá um toque de coesão que costuma faltar neste género, demonstrando que por vezes seguimos uma vida em que a imagem que passamos é mais importante do que estarmos felizes.

Todavia, quem for ler este livro já sabe o que esperar, porque o livro oferece uma boa experiência dentro do género. A narrativa tem como principal objetivo impulsionar um sentimento de paixão no leitor e por vezes o enredo perde com isso. Mas, como em todas as paixões, os momentos menos coerentes fazem parte da vida. É esse o lado interessante da paixão, o que fazemos sem pensar, os riscos que corremos, a capacidade de enfrentarmos qualquer resultado. O leitor mais exigente poderá não apreciar a escrita da autora ou alguns momentos que parecem forçados, mas é isso que temos de aceitar num enredo em que a paixão é tudo.  

De forma global, o que mais apreciei neste livro foi o seu final e a forma como a autora foge de alguns clichés do género. Como disse antes, a mulher não aparece como uma personagem fraca, o que me agradou, mas também é verdade que não percebo porque este género insiste em colocar o homem como o personagem que tem os "alternativos gostos sexuais". No entanto, este não é um género do qual tenha grande conhecimento, porque li poucos livros, e por isso não posso argumentar que este livro é diferente de todos os outros.  Este foi dos livros que gostei mais do género, não por ter mais ou menos qualidade, mas porque foi diferente dentro do que já li, e isso levou-me a aproximar-me mais das personagens, criando uma relação entre mim e o livro que não se saturou com momentos óbvios.

Olhando de forma objetiva, este livro tem tudo o que os leitores deste género procuram. É, certamente, uma escolha que não desapontará, sem nunca ser fascinante, mas sem nunca deixar de ser aquilo a que se compromete, ser um livro que tenta transmitir ao leitor a paixão e a sensualidade do género mistura com a tensão de quem está a viver uma vida paralela.

Luís Pinto

segunda-feira, 20 de outubro de 2014

O REI DE FERRO E A RAINHA ESTRANGULADA


Autor: Maurice Druon

Título original: Le Roi de fer; La Reine Étranglée



Sinopse: O Rei de Ferro - Filipe, o Belo - é frio, cruel, silencioso, e governa o reino sem hesitações. Apesar disso, não consegue dominar a própria família: os filhos são fracos e as esposas, adúlteras, ao mesmo tempo que a sua filha de sangue, Isabel, é infeliz no casamento com o rei inglês - que parece preferir a companhia de homens.
Empenhado na perseguição aos ricos e poderosos Templários, Filipe sentencia o grão-mestre Jacques de Molay a ser queimado na fogueira, atraindo sobre si uma maldição que vai destruir o futuro da sua dinastia. Morre nesse mesmo ano, deixando o reino em grande desordem. O seu filho é nomeado rei, mas com a esposa presa e acusada de adultério, é incapaz de gerar um herdeiro e de garantir a sucessão. Enquanto a cristandade espera um papa e as pessoas estão a morrer de fome, as rivalidades, intrigas e conspirações vão despedaçar o reino e levar barões, banqueiros e o próprio rei a um beco sem saída, ao qual só parece ser possível escapar pelo derramamento de sangue.


Há dois factos que devo assinalar logo no início. Em primeiro lugar dar os parabéns à editora por ter apostado em juntar os dois primeiros livros da saga num só, permitindo que a história se torne melhor e mais completa ao fim da primeira leitura. O segundo facto é que este livro é mesmo muito bom!

Sendo dois livros num só, estamos perante uma leitura de mais 470 páginas, mas a enorme velocidade a que o li demonstra o quanto me agarrou. Druon apresenta um trabalho meticuloso e objetivo, não tendo problemas em chocar o leitor com alguns acontecimentos inesperados. Confesso que no início, por não ser um grande conhecedor da história de França, achei estranho o livro estar a dizer-me, de forma totalmente direta, que a rainha iria ser estrangulada. Porquê tal revelação ainda antes de começar a leitura? A razão é que tal facto é apenas uma migalha em toda a intriga que Druon criou. 

Apesar de cada livro original ser pequeno (este livro contém os dois originais e não é assim tão gigantesco), o autor explora de forma muito completa um enredo cheio de intriga, política, religião, espionagem, sexo, etc... Os temas encaixam de forma surpreendente em alguns momentos e apesar de estarmos perante um romance que não foge muito do que foi a história, vemos com facilidade que o autor oferece um toque de ficção que é muito agradável e nos prende com facilidade. É difícil arranjar um romance histórico que demonstre, logo desde o início que estamos perante algo bom.

Druon escreve com calma, sendo acutilante quando é preciso mas também um professor para o leitor que não conhece detalhes importantes da história. Este é um aspeto muito importante nos romances históricos: a capacidade do autor em nos dar o contexto político/social para percebermos algumas decisões e acontecimentos, e não saturar ao fazê-lo. Druon consegue-o com grande facilidade. A isso consegue aliar um conjunto de personagens interessantes, algumas muito bem conseguidas, sendo notório que a linha que separa "os bons e os maus" é muito ténue. É tudo uma questão de interesses, coragem e firmeza moral. Pelo meio as paixões, os medos, as dúvidas. Druon cria personagens completas e que nos prendem, e torna-se muito difícil largar o livro.

Até onde iremos por poder? O que torna  digno o homem que tem como objetivo governar? O que o torna apto para tal? O que leva alguém que já tem tanto, quando comparado com a maioria da sociedade, a desejar ainda mais... e a arriscar tudo por mais poder? É nestas questões que o livro se sustenta, transportando-nos para a loucura dos nobres e para as conspirações dos astutos e falsos. Este é um enredo de aliados esquivos e inimigos das sombras...

Estes são apenas os primeiros dois livros de sete, e por isso não me alargo muito na minha opinião. O que é óbvio é que irei ler esta saga até ao fim, porque Druon começa-a com um trabalho muito acima da média. Existe inteligência por parte da editora em juntar estes dois livros, pois a segunda parte é mais cativante e mais intensa, com um final que nos leva a querer ler já o próximo. Para já, muito bom. Que venham os próximos, e rápido!

Luís Pinto

sábado, 18 de outubro de 2014

O INIMIGO DE DEUS


Autor: Bernard Cornwell

Título original: Enemy of God




Este é o segundo livro desta trilogia Arturiana criada pelo muito admirado Bernard Cornwell e está ao nível do primeiro em todos os aspetos.

De forma global, apreciei mais este livro, simplesmente porque o enredo é mais apelativo agora que as personagens principais foram apresentadas no livro anterior. No entanto, e apesar de ter um ritmo um pouco mais rápido, Cornwell mantém o estilo do primeiro livro, com uma narrativa que nunca é muito rápida, sendo antes focada nos vários detalhes que criam uma sociedade coerente e personagens muito interessantes e completas. Este é, para mim, o brilhantismo de Corwnell, o de criar algo que está de tal forma completo que parece real. Existem detalhes a cada página e aos poucos cria-se uma sociedade que parece real, coerente e completa. Cornwell explora vários temas e várias forças desta sociedade em que Artur se eleva. Tal como no livro anterior, política, religião, condições sociais, tradições, espionagem, amor... tudo está presente na dose certa.

O resultado é um livro que não nos obriga a continuar a ler, porque não é rápido o suficiente para nos embalar nesse ritmo imparável, mas é um livro que nos convence que estamos a ler algo realmente bom. Cornwell transmite um conhecimento admirável sobre uma era da qual se sabe tão pouco e somos contagiados. Explora conceitos, alguns que são factos, outros que são teoria, e torna-os reais porque encaixam perfeitamente. A isto junta-se a sensação que este livro e o anterior são um só, em constante evolução, a acelerar muito lentamente.

Deixando agora para trás a fantástica sociedade criada por Cornwell, passemos a outros dois pontos importantes: personagens e enredo. Começando pelas personagens, Artur volta a ser a estrela que mais brilha, não por ser a que tem mais "tempo de antena", mas sim porque se aproxima do leitor com as suas fraquezas e dúvidas. A narrativa apresenta-nos um homem que lidera mas que não é desprovido das dúvidas normais de quem tenta liderar de forma justa. É isso que nos liga a Artur: a sensação que no fundo ele tenta fazer o que é correto, mesmo que a pressão política ou a sua paixão lhe diga o contrário, e todos nós já cometemos uma loucura de amor. A diferença é que as decisões de Artur têm mais peso sobre quem o rodeia.

E essas decisões levam-nos a falar sobre o enredo. Como disse no início, o ritmo é ligeiramente mais forte e muito se deve ao facto de as personagens já estarem minimamente apresentadas. O livro torna-se mais cativante e facilita a aproximação às personagens mas, todavia, este é um livro sobre Artur, e o que não falta no mercado são livros assim e todos temos uma ideia de como esta história poderá acabar. Mas Cornwell surpreende na sua história, alterando aqui e ali, sempre com coerência e levando o leitor a reparar que devia ter antevisto isto ou aquilo mais cedo porque o autor já o está a construir há muito tempo... o resultado é um livro diferente e muito acima, qualitativamente, à grande maioria dos livros sobre Artur.  

Sendo o segundo livro de uma trilogia, não me quero adiantar no enredo nem dar uma opinião que possa revelar algo. Falta um livro e duvido que Cornwell desiluda no fim. A qualidade é palpável e percebe-se o porquê de ser considerado um dos melhores autores de sempre no seu género. Se gostam de romances históricos, então Cornwell tem toda uma sociedade complexa e completa, cheia de traições e paixões para vos oferecer. Para já, muito bom, mas ainda falta um livro. Vamos ver como acaba!

Luís Pinto


quinta-feira, 16 de outubro de 2014

OS INOCENTES


Autor: Taylor Stevens

Título original: The Innocent



Sinopse: Vanessa «Michael» Munroe trabalha com informação. Após fugir a uma infância traumática, a sua aprendizagem e o seu treino permitem-lhe obter todo o tipo de informações, independentemente do cenário ou do país onde se encontre. Por isso, é agora contratada por empresas, instituições ou privados que pagam os seus serviços únicos no mundo.
Destacada para uma missão de alto risco, Vanessa tem de resgatar Hannah, uma rapariga de treze anos, da sua reclusão no seio de uma fanática comunidade religiosa conhecida como «Os Eleitos».
O processo de libertação de Hannah vai resultar em situações complexas e perigosas, mas, com a ajuda do especialista em segurança Miles Bradford, vai também permitir uma nova vida para esta heroína intrigante e com um passado devastador. O lado mais violento e instintivo de Vanessa irá revelar-se em nome da justiça: matar pode não ser necessariamente mau, se houver inocentes envolvidos.


Após ter lido o primeiro livro desta saga (A informacionista, cliquem aqui para lerem a opinião) fiquei com vontade de ler o segundo, principalmente por causa da personagem principal. Vanessa, a nossa personagem principal, apresenta uma personalidade complexa mas que pedia para ser mais aprofundada. E é o que acontece aqui.

A grande diferença entre estes dois livros é que este segundo é mais virado para os problemas psicológicos de Vanessa. Se no primeiro livro ficamos com a sensação que estamos perante uma personagem que não consegue encontrar um equilíbrio emocional, o segundo é a confirmação, e toda a tensão deste thriller é muito mais focada nos problemas de Vanessa do que na trama que avança o enredo.

O resultado deste foco é ficarmos perante um livro que não nos agarra pela trama em si, mas antes pela luta interior de Vanessa e a sua procura por tranquilidade num enredo que não o permite alcançar, pois Vanessa estará constantemente em ação. E é ao ganharmos simpatia por Vanessa que vamos lendo, procurando a solução, mesmo sabendo que Vanessa não conseguirá deixar os seus problemas de um momento para o outro.

Tal como no primeiro livro, o ritmo é constante, com uma escrita simples, forte quando é necessário, mas sempre muito objetiva e com momentos inteligentes. Este é um livro que não tem momentos lentos e mesmo quando se foca totalmente em Vanessa, a narrativa é sempre rápida. Existem ainda outras personagens interessantes, mas nenhum consegue fazer sombra a Vanessa em nenhum momento e no final a sensação com que fiquei é muito clara: este livro prepara o leitor para o próximo, para algo que Vanessa fará e que terá a sua explicação no desenvolver da sua personagem neste livro. Se assim for, o trabalho da autora poderá ser aplaudido se tudo encaixar no final. Resta esperar.

Voltando à trama, o enredo está bem conseguido e a história central tem coerência, mas onde ganha pontos é no ritmo que já mencionei. O problema deste livro é que se foca demasiado em Vanessa para quem procure uma intriga mais complexa. Quando digo isto não falo em número de páginas, mas sim no facto de o que faz o leitor continuar a ler são os problemas de Vanessa e não o enredo em si, que está presente para ajudar a desenvolver a personagem, e não o contrário. A aposta da autora é clara e Vanessa ganha bastante com isso enquanto que a trama perde e as restantes personagens não têm espaço. No entanto é preciso destacar que existem personagens secundárias interessantes e que se forem mais exploradas no próximo livro, poderão dar uma boa contribuição ao fim da trilogia.

O resultado final é um livro que demonstra estar montado de forma inteligente e apesar de não deslumbrar, consegue agarrar-nos facilmente e superar o livro anterior em alguns aspetos. As portas que deixa aberta poderão ser uma boa base para o próximo livro e Vanessa torna-se cada vez mais uma personagem marcante. Para quem goste do género, este livro é uma leitura que agradará e vos deixará à espera do próximo para sabermos até onde poderá ir Vanessa.

Luís Pinto

terça-feira, 14 de outubro de 2014

UMA ESCOLHA IMPERFEITA


Autor: Louise Doughty

Título original: Apple tree yard




Sinopse: Yvonne Carmichael trabalhou arduamente para conquistar o que sempre quis: uma invejável carreira na área da genética, uma casa fantástica, uma boa relação com o marido e dois filhos.
Um dia, cruza-se com um desconhecido e, num impulso, começa uma tórrida aventura amorosa - uma decisão que acaba por colocar em causa tudo o que sempre valorizou.
Yvonne acredita que conseguirá manter a relação extra matrimonial sem que tal venha a interferir na sua vida, tal como ela é. Só que, na verdade, ninguém consegue controlar o que acontecerá a seguir.
De conceituada e respeitada cientista a adúltera acusada dos mais variados crimes, Yvonne vê todos os seus planos desmoronarem-se numa espiral de desilusões e violência.



Este foi um livro que me surpreendeu pela forma como a autora agarra em situações diferentes e que parecem improváveis, ou quase "ilógicas", e as torna coerentes. Basicamente, é essa a base do livro, em que temos uma personagem que tem tudo o que deseja ou que, pelo menos, acha que deseja, e que toma todas as decisões que sabemos de forma lógica que irão destruir essa realidade.

O ponto alto é que a autora consegue explicar-nos o porquê das decisões de Yvonne, porque se tal não acontecesse, todo o enredo acabaria por cair, pois tudo seria forçado, tal é a diferença entre o pensamento lógico do leitor, fora da história, e a da personagem, que é, obviamente, um pensamento emotivo e que a levará a decisões erradas. E é numa narrativa simples mas objetiva, que vemos uma vida perder o seu controlo onde a personagem tem consciência do que está a acontecer, do que pode acontecer, mas não pode parar. Este é o poder do amor e da paixão... tudo pode perder a sua lógica porque algo é mais importante do que qualquer controlo ou conquista profissional ou social. O amor pode ser tudo.

É no equilíbrio emocional desta personagem que o livro caminha, criando uma personagem com a qual acabamos por simpatizar, porque uma parte de nós quer viver a mesma paixão, a mesma necessidade de loucura, de decisões sem lógica, mas também queremos que a personagem (da qual vamos gostando facilmente) ganhe consciência do que está a perder. 

E, lentamente, todo o livro se torna numa balança em que devemos procurar o que é mais importante, se a paixão efémera mas que todos necessitamos, se a estabilidade profissional, social e pessoal que nos leva a um equilíbrio dentro dos parâmetros da sociedade. E é por todos nós termos, em algum momentos da nossa vida, a mesma questão, que simpatizamos com Yvonne. O que faríamos nós em tal situação? O que precisamos para nos sentirmos vivos? O problema, por muito que tente não ser filosófico neste tema, é que não temos resposta para este suposto equilíbrio, porque cada pessoa se sente viva à sua maneira, quer seja na loucura imprevisível da paixão, ou no abraço da família ao chegar a casa, ou na concretização profissional. 

O enredo é muito bem montado, com momentos inteligentes e que abrangem certos aspetos da sociedade e que aqui encaixam muito bem. Este não é um livro fantástico, mas é uma leitura com significado e com uma personagem que está muito bem construída. Yvonne tem as fraquezas de qualquer ser humano e acaba por tomar algumas más decisões... mas serão mesmo más ou apenas diferentes para os padrões da sociedade em que vivemos? Cada leitor terá a sua resposta, e eu também tenho a minha, mas não é a resposta o mais importante. O importante é perceber o porquê das suas decisões e isso a autora consegue com grande mestria, tornando o livro em algo muito coerente, por mais difícil que seja aceitar alguns acontecimentos... mas a vida é isto.

Se gostam de romances com alguma tensão, uma personagem profunda e se a sinopse vos despertou a atenção, então acredito que este livro vos agradará. Eu gostei bastante porque é uma história que tem tudo para ser real, e de certeza que já aconteceu com muitas pessoas, e os que estavam de fora, também questionaram essas decisões, tal como nós, leitores, agora o fazemos, e percebemos...

Luís Pinto 

segunda-feira, 13 de outubro de 2014

A ESTRADA DO TABACO


Autor: Erskine Caldwell

Título original: Tobacco road



Sinopse: Durante a Grande Depressão americana, a família Lester não sabe como sobreviver à miséria que se avizinha. Residem e gerem os territórios rurais da Geórgia, cultivados com tabaco e algodão, mas já nem isso os salva. Debilitados pela pobreza ao ponto de atingirem um estado de ignorância e egoísmo cruel, os Lesters preocupam-se com a fome, os apetites sexuais que os devoram e o medo de que a hierarquia social os empurre para uma camada ainda mais desfavorecida.
A pobreza, o racismo e a bestialidade dos homens são aqui postas a nu, despindo a sociedade americana dos anos 20 com crueza e violência, numa tragicomédia de mestre. A Estrada do Tabaco é um dos grandes clássicos americanos de Erskine Caldwell.



Sendo um livro pequeno, a leitura foi rápida mas não foi fácil. Ao contrário do que esperei no início, este é um livro forte, muito forte, não só pelas personagens que tem, mas pela imagem que passa de uma sociedade que está fora da visão diária que temos da mesma. "A estrada do tabaco" levanta, tal como outro livros levantaram, uma pergunta para a qual não temos resposta concreta, mas sobre a qual podemos facilmente especular, e que aqui é questionada de forma indireta... afinal, no que nos tornaremos nós, tanto enquanto indivíduos, como enquanto sociedade, quando o dinheiro faltar? Para mim, apesar de o autor nunca nos perguntar, esta é a questão que o livro levanta num enredo que está, constantemente, a dar-nos murros com a realidade que nos apresenta.

O que temos pela frente neste livro é uma família sem dinheiro, em que valores morais ou cívicos pouco contam perante o desespero de quem nada tem, e onde os próprios valores familiares se alteram. Numa escrita que é, ao mesmo tempo, forte e divertida, Caldwell expõe alguns comportamentos a um nível que no início nos faz questioanr se estamos perante uma comédia, em que cada ação é exagerada para provocar o riso, ou se estamos perante uma impressionante crítica e abrir de olhos perante uma situação que é real e que muitas famílias sentiram. Aliás, o livro é de tal forma acutilante em relação a alguns temas que quase parece difícil acreditar que esta realidade pode ter existido num país em que os sonhos foram mortos pela depressão económica, criada por alguns que, facilmente, não sofrerão com a mesma.

E aos poucos, num ambiente que salta entre a comédia e a dura realidade, vemos como esta família se comporta, como vê o futuro, como abandona a esperança e como decide continuar a viver, sem almejar alcançar algo mais, sem lutar por algo mais do que a sobrevivência... é a apatia social exposta de forma diferente, mas igualmente perturbadora. Pelo meio, a violência, o racismo, o apetite sexual num livro que nos marca, não por ser uma obra genial, ou por ter um enredo marcante, nem sequer pelas ligações que iremos criar com as personagens, mas sim pela reação que nos irá provocar... porque no meio de todo este cenário, iremos rir, tal como temos necessidade de sorrir num velório, de encontrar algo que nos prenda aqui à felicidade para continuarmos a viver, este livro leva-nos a sorrir enquanto estamos envoltos pela desgraça da família que estamos a ler. 

Essa é, para mim, a grande mensagem do livro. Mais do que o que Caldwell conta, o génio está no que não conta. No entanto, este livro não é para todos, porque é forte, é depressivo em certos momentos e é angustiante porque queremos ajudar. Para quem o ler, imagens ficarão na memória, mesmo que se esqueçam da história ou do nome das personagens, alguns atos ficarão e iremos questionar alguns valores que não existem neste mundo escrito em poucas páginas. Em todos os momentos da nossa vida, existe algo que nos apoia, mas que também nos vira a costas em algum momento, mesmo que não percebamos porquê... talvez para aprendermos... este livro faz o mesmo e torna-se numa obra que, duvido, alguém diga que é o seu livro favorito, porque não pode, nem o deve ser. Diverte-nos e depois agride-nos, para de seguida nos voltar a divertir... afinal, que tipo de leitores somos cada um de nós?

Luís Pinto


Passatempo: Pack Saga da Águia - vencedor!

PASSATEMPO

Pack Saga da Águia
4 livros

Vencedor!



No mês passado de Junho tivemos um passatempo em que iríamos sortear um vendedor para este pack de 4 livros. Infelizmente, apenas agora conseguimos anunciar o vencedor. O problema é da inteira responsabilidade do blog e novamente agradeço a todos os que ajudaram a que fosse possível oferecer este pack.

 Aproveito para pedir desculpa a todos os que esperaram por este resultado e convido-vos a participarem nos próximos passatempos que irão chegar.

Ao vencedor peço que nos contacte, confirmando que a sua morada ainda é a mesma para que o pack seja enviado esta semana.

E o vencedor é:

António Rogério da Fonseca
Parabéns ao vencedor!

Novos passatempos em breve! Boa sorte para todos!





sexta-feira, 10 de outubro de 2014

O SEGREDO DOS TUDOR


Autor: C.W.Gortner

Título original: The Tudor secret



Sinopse: No verão de 1553, Brendan Prescott é chamado à corte inglesa dos Tudor para se tornar escudeiro de Robert Dudley. Na mesma noite em que chega à corte, Lorde Robert encarrega-o de entregar secretamente um anel à princesa Isabel.
Frente a frente com a emblemática princesa, e depois de ela se recusar a aceitar a joia, o jovem escudeiro percebe que se encontra no meio de uma trama de conspirações e mentiras. Os Dudley planeiam uma traição mortal contra o rei Eduardo VI e as suas duas irmãs Maria e Isabel com um único fim: chegar ao trono.
Destemido e convicto de que o que vai fazer é o melhor para Inglaterra, Brendan Prescott alia-se a Isabel e aos seus protetores. Torna-se assim um agente duplo em defesa da coroa, contra a ambição desmedida dos Dudley.
Num enredo misterioso envolto em intrigas, perseguições, assassínios e corrupção, Prescott acaba por descobrir também as suas verdadeiras origens e a sua própria história. Uma história que esconde um segredo muito mais perigoso e mortal do que ele alguma vez poderia imaginar.



A Corte dos Tudors é, certamente, dos temas mais escritos dentro do género "Romance histórico". Época que mudaria a componente política e social da Europa, é famosa pelas intrigas, vinganças, loucuras de amor e traições. É nessa base que assenta o enredo deste livro que é, essencialmente, um livro com um bom rigor histórico.

O que devo destacar no início da leitura é a escrita simples de Gortner que, apesar de formal, encaixando nos padrões da época, é capaz de nos convidar a entrar no enredo com grande facilidade. Todavia, o enredo não me agarrou de imediato, pois tudo parecia demasiado simples, forçado em alguns pormenores que estavam a fazer a diferença. Esta sensação passou quando o autor começa a explorar a intriga, começando a oferecer detalhes, mas as perguntas, derivadas de alguns acontecimentos que pareciam forçados, permaneceram durante muito tempo, levando a que a leitura fosse rápida, mas também "desconfiada" porque sentia que o autor me estava a esconder algo.

E aos poucos tudo começou a fazer sentido. A intriga começa a revelar-se mas, mais importante, o autor consegue criar uma sábia mistura entre ficção e factos que nos levam a ler sem sentirmos que o enredo não encaixa. Este é o ponto alto do livro: o rigor histórico do autor que nos empurra para dentro do enredo sem nos cansar. A isso junta-se um bom conjunto de personagens, grande, por vezes complexo, com algumas personagens que não marcam o livro, mas com outras que o definem, principalmente Isabel.

E é suportado por estas personagens que o enredo começa a ganhar peso, sendo cada vez mais abrangente em relação aos principais temas da sociedade. É verdade que dentro dos temas "política", "religião" ou "tradições sociais", alguns factos são mais explorados do que outros, mas também é verdade que este livro tem continuação, e por isso nem tudo terá de ser demonstrado no primeiro livro. 

No fim a sensação é que tudo encaixou e pormenores que no início não faziam sentido, ou que não tinham sido revelados, no fim conseguem encaixar. É verdade que algumas respostas ficam para o próximo livro e alguns temas estão em aberto, mas no global este é um livro que se aguenta sozinho. O que Gortner tentou criar neste livro foi uma leitura que tem rigor histórico sem perder o ritmo necessário para não ser difícil de ler e o resultado é um romance histórico que não é exaustivo, que poderá não agradar aos leitores que gostem de leituras muito pesadas em termos de detalhes históricos, mas compensa isso com um bom ritmo e no fim ganhamos um livro equilibrado com bom rigor histórico e sem momentos exaustivos. Se gostam do género, este livro pode ser uma boa escolha, porque apesar de não ser do melhor do género, está bem estruturado e pensado ao ponto de não nos largar. Fico à espera para ver como serão os próximos!

Luís Pinto

quarta-feira, 8 de outubro de 2014

Notícia: Porto Editora lança "A Primeira Guerra Mundial" de John Keegan


Porto Editora lança livro de John Keegan sobre a Primeira Guerra Mundial.

A guerra que começou há 100 anos descrita por um dos maiores historiadores militares no nosso tempo. Um acontecimento com a relevância da Primeira Guerra Mundial requer ser retratado por um historiador distinguido e, em A Primeira Guerra Mundial, que a Porto Editora publica a 10 de outubro, Sir John Keegan leva a cabo a missão de escrever para a atual geração sobre a grande guerra que influenciaria todo o século XX. Para além da descrição das batalhas em terra, no ar e no mar, Keegan revela o contexto em que estas acontecem e interpreta de forma fascinante os contornos das estratégias militares. Ao longo de dez capítulos, acompanhados por mapas e fotografias da época, este documento fundamental e de mérito internacionalmente reconhecido permite compreender as vicissitudes dos quatro anos de guerra que mudaram o mundo. A presente edição é enriquecida com um textode Maria Fernanda Rollo e Ana Paula Dias, historiadoras e tradutoras deste livro, em que se analisam a participação portuguesa na guerra e as suas consequências para o futuro de Portugal.

SINOPSE

Há precisamente 100 anos, em 1914, eclodia a Primeira Guerra Mundial. Com ela nascia o mundo moderno e, sem perceber os seus contornos, não se pode ter uma ideia da história do século xx – das origens do nazismo à emergência da Rússia Soviética, do desmembramento da Europa Central ao crescente poderio do movimento operário, dos conflitos no Médio Oriente à consolidação dos Estados Unidos como potência mundial. John Keegan, antigo docente da Academia Militar de Sandhurst e especialista em assuntos de Defesa do The Daily Telegraph, dá-nos neste livro um panorama completo e claro desses quatros anos que transformaram a história do nosso mundo.


IMPRENSA

A melhor e mais acessível introdução à Grande Guerra que até hoje se escreveu.
The Guardian

Escrita elegante, clara, detalhada e omnisciente.
The New York Times

Ninguém descreve as batalhas como Keegan, relatando vivamente os acontecimentos no contexto do campo de combate. Este livro é uma espécie de memorial de guerra. 
Sunday Times

Excelente.
Mail on Sunday

MENTIRAS NO DIVÃ


Autor: Irvin D. Yalom

Título original: Lying on the couch



Sinopse: Depois do sucesso dos best-sellers internacionais Quando Nietzsche Chorou e A Cura de Schopenhauer, Irvim D. Yalom regressa com uma história ambiciosa sobre as virtudes e os princípios da terapia. Neste provocador romance de ideias, Yalom disseca a complexidade das emoções humanas através do relacionamento de três terapeutas e dos seus pacientes. Num romance tocante e angustiante, Yalom estuda as delicadas fronteiras entre terapeuta e inquisidor, confidente e amante.Seymour, um terapeuta de renome e ex-presidente da Associação Psiquiátrica Americana, é adepto de técnicas pouco ortodoxas e inicia um jogo erótico com uma paciente quarenta anos mais nova. Este tratamento alternativo parece tirá-la de uma rotina de promiscuidade e autoflagelação. Lash é um jovem psicanalista com uma fé inabalável na psicanálise e esconde o seu fanatismo sob a máscara da responsabilidade. Na busca do seu caminho, inventa uma radical abordagem para as suas sessões: honestidade brutal entre analista e analisado. Os resultados são tão inesperados como perigosos. E vê-se na situação de ser vitima da sua própria cura. Explorando os jogos de poder, Mentiras no Divã é uma história intensa, eloquente e bem-humorada, em que os dilemas da lealdade se apresentam com clareza e vigor. Um livro brilhante, inteligente e apaixonante. 


Irvin Yalom é um dos escritores mais constantes que já li. Todos os seus livros, sem exceção, são de uma qualidade muito acima da média e mesmo não sendo este um dos seus melhores livros, é mais uma grande leitura. 

Olhando de forma geral para este livro, não ficamos perante um romance dentro do que estamos habituados, mas sim perante uma leitura que, tendo uma história (que é o catalisador e que apresenta muitos diálogos interessantes), tem como objetivo ser didático. Trata-se de um livro para ensinar, que nos faz pensar, e que quase relega para segundo plano o enredo, porque o essencial é o que iremos aprender e o que iremos questionar. O enredo foca-se em duas histórias paralelas, sobre dois casos onde existem três ideias bases: a primeira é que o psicólogo também é um ser humano, a segunda é que nada garante ao psicólogo que esteja a ouvir a verdade do seu paciente, e a terceira prende-se com a questão, que tanto psicólogo como o leitor terão, que é a dúvida se a forma como o psicólogo decide conduzir o tratamento é, ou não, o mais indicado e produtivo.

Olhando primeiro para o facto de o psicólogo, ser, inevitavelmente, um ser humano com os seus próprios problemas pessoais, é preciso louvar a facilidade com o que Yalom expõe as suas personagens. Todas elas com problemas, com segredos, com mentiras e vergonhas, capazes de rivalizar com os problemas dos seus próprios pacientes, tornando este enredo em algo incrivelmente realista. 

Por outro lado temos os pacientes, que de forma consciente, ou não, mentem. Este será, provavelmente (isto vendo de um ponto de vista de quem não percebe nada do assunto, eu), um dos problemas da própria terapia: se um paciente não for sincero, como poderá o psicólogo ter, na fase inicial, a melhor abordagem? E num mundo de mentiras, poderá o psicólogo alcançar, em algum momento, a totalidade do problema do seu paciente? Esta é, inevitavelmente, uma relação de confiança e sinceridade, sem aproveitamentos, sem segundas intenções... Yalom explora aqui essas necessidades e as falhas que podem acontecer nestas relação entre psicólogo e paciente.

Com personagens muito bem construídas, Yalom apresenta o seu estrondoso conhecimento sobre o tema, levando-nos a perceber conceitos com facilidade numa linguagem que por vezes foge da normalmente encontrada num romance, para se tornar numa escrita que é simples, mas também académica em alguns momentos. E aos poucos, sem que tivéssemos conscientes no início, o enredo transforma-se num thriller psicológico sob o olhar do psicólogo para com o paciente, aumentando o ritmo da narrativa, colando-nos às páginas até ao surpreendente final em que o último parágrafo ficará na nossa memória durante algum tempo.

Apesar de não ser, tal como já disse antes, o melhor livro de Yalom (para mim é difícil bater A Cura de Schopenhauer), este é mais um grande livro do autor. Não é para todos os leitores, é preciso gostar do tema, mas aqui Yalom tem um enredo mais abrangente, porque existe uma mistura em que o thriller psicológico ganha peso. Falar mais sobre este enredo, com excelentes diálogos, é retirar à leitura momentos que o leitor deve ter e descobrir, sempre tendo como base que nada impede doutor ou paciente de mentir. Faz parte da natureza humana, e sempre fará, em qualquer momento.

Como sempre, uma leitura muito agradável e muito inteligente.

Luís Pinto


segunda-feira, 6 de outubro de 2014

MAZE RUNNER - Correr ou morrer


Autor: James Dashner

Título original: The Maze Runner



Finalmente começo a ler a trilogia de que se fala atualmente. Maze Runner é, de forma muito resumida, a história de um grupo de jovens presos numa clareira, rodeada por um labirinto. Não sabem nada do seu passado, nem porque estão naquele local. 

Se tivesse de resumir este livro numa única palavra, seria "Viciante". Maze Runner é impossível de parar de ler se gostarmos do género. Mas vamos por partes...

O autor usa uma estratégia muito comum e que se enquadra perfeitamente nesta base, e a partir daí agarra o leitor. Começamos com um rapaz, com o qual simpatizamos, e logo nas primeiras páginas vemos que não teremos o conhecimento do que está à volta desse rapaz. Que lugar é aquele? Quem o colocou ali? Qual o objetivo? Faz parte de nós, enquanto raça humana, querer conhecer o que nos rodeia, e ao entrarmos num mundo onde as dúvidas aparecem a cada linha, quer seja uma dúvida apresentada pela personagem, ou criada por nós, a verdade é que não vamos parar de ler até termos as respostas. De uma forma simples, Dashner "pega" num género que "está na moda" e junta-lhe os mistérios que nos faz lembrar a série "Lost" que desde o primeiro episódio agarrou à televisão milhões de pessoas. É tudo uma questão de, inteligentemente, criar perguntas, e não dar respostas. O segredo está em, no fim, tudo fazer sentido, e é neste aspeto que muitos falham.

A seguir entra a construção e apresentação das personagens, que passam também por uma estratégia já usada: temos o que imediatamente enfrenta e tenta controlar o personagem principal, e também o rapaz simpático e verdadeiro amigo que é rejeitado por muitos mas que o nosso personagem irá compreender. Tudo isto parece um cliché, mas que aqui funciona e bem. O resultado é, inevitavelmente, um "desenrolar" de enredo em que nos aproximamos de personagens, lemos cada vez mais depressa e vamos criado as nossas questões, sabendo que provavelmente não teremos respostas.

O grande mérito do livro é o seu ritmo, pois Dashner consegue criar um ambiente de tensão que não nos deixa parar. Este é o segredo destes livros: não nos dar tempo para parar e questionar, e assim a base do universo do enredo não cai. Dashner consegue-o de forma quase perfeita para que a falta de respostas do primeiro livro não se sinta, e imediatamente passamos para o próximo livro, sôfregos de respostas.

Para mim, esta foi uma leitura compulsiva. Maze Runner não é uma obra prima, nem o tenta ser, pois para tal teria de construir um universo muito mais complexo, com muito mais detalhe e o ritmo iria perder-se. Este é um livro adolescente que nos agarra pela noite dentro e esse é um dos prazeres da leitura, o de não querermos regressar ao mundo real. Claro que Maze Runner tem falhas, porque não dá respostas e porque não explora certos temas. Se nos próximos livros o autor nos brindar com algumas respostas, a saga pode elevar-se a outro nível, principalmente se sentirmos que toda a trilogia foi estruturada e pensada desde o início, levando a que todos os detalhes batam certo. Provavelmente tal não acontecerá e um leitor mais experiente irá colocar dúvidas que o autor não irá responder, mas esse é o preço a pagar para termos outros prazeres.

No entanto, de todas as distopias adolescentes que li nos últimos tempos (e foram algumas, pois o mercado está inundado pelo género), esta é a que tem o melhor início dentro do que se compromete a ser: viciante, rápido, capaz de nos dar a sensação de urgência que os personagens também têm. Por tudo isto, este é um início recomendado aos leitores que apreciem este género, e provavelmente, tal como eu, quererão ir até ao fim da trilogia e desvendar todos os segredos do labirinto, e não só... Venha rapidamente o próximo!

Luís Pinto

sexta-feira, 3 de outubro de 2014

OS CRIMES DO MONOGRAMA


Autor: Sophie Hannah

Título original: Monogram murders



Sinopse: Sentado no seu café preferido, Hercule Poirot prepara-se para mais um jantar de quinta-feira quando é surpreendido por uma jovem mulher. Ela chama-se Jennie e diz estar prestes a ser assassinada. Mais insólita do que esta afirmação é a sua súplica para que Poirot não investigue o crime. A sua morte é merecida, afirma Jennie, antes de desaparecer noite dentro, deixando o detective perplexo e ansioso por mais informação. Perto dali, o elegante Hotel Bloxham é palco de três assassinatos. Os crimes têm várias semelhanças entre si: os três corpos estão dispostos em linha reta com os braços junto ao corpo e as palmas das mãos viradas para baixo. E dentro das bocas das vítimas, encontra-se o mais macabro dos pormenores: um botão de punho com o monograma PIJ. Poirot junta-se ao seu amigo Catchpool, detetive da Scotland Yard, na investigação deste estranho caso. Serão os crimes do monograma obra do mesmo assassino? E poderão de alguma forma estar relacionados com a fugidia Jennie que, por uma razão indecifrável, não abandona os pensamentos do detetive belga?



Criar o regresso de Poirot aos livros é, ao mesmo tempo, um motivo de grande excitação mas também de apreensão, pois nunca será fácil, para nenhum autor, conseguir captar a essência e a genialidade de Agatha Christie, falecida em 1976. Mas, quase 40 anos após a morte da sua criadora, Poirot regressa para desvendar mais um caso.

Este é, inevitavelmente, um caso de sucesso imediato mas também que poderá estar condenado ao fracasso, pois os leitores de Poirot, agora mais velhos e maduros, terão graus de exigência muito elevados, ou não estivéssemos a falar de Poirot. Posto isto, será este um livro morto à partida pelas expectativas?

O que mais me agradou no livro foi o seu ritmo, mais elevado do que esperava, e que começa bastante cedo a agarrar o leitor. O caso que nos é apresentado é de tal forma estranho (podem ver pela sinopse) que se torna impossível parar de ler. O resultado é uma leitura que se torna compulsiva até chegarmos ao final com todas as suas revelações. Com uma escrita elegante e objetiva, muito da essência de Christie está aqui presente, principalmente na forma como Poirot está desenvolvido neste livro. Este é, provavelmente, o elemento de maior discórdia, pois uns dirão que o trabalho de Sophie Hannah está fantástico ao "agarrar" o famoso detective, outros dirão que falta o toque de Agatha. Do meu ponto de vista, e tendo em conta que não sou um perito em Poirot mas apenas um leitor que leu alguns livros, parece que o trabalho está muito bem feito. É claro que nunca será igual, nem poderia ser, mas existe a clara noção que este livro foi alvo de um trabalho exaustivo e muito bem pensado.

Poirot está fantástico neste livro e é o que nos agarra, com as suas ideias e interações com outros personagens, principalmente com o narrador, que estão muito bem conseguidas. Pelo meio, a autora explora alguns temas mais sensíveis, mas de forma muito ténue, pois o essencial é o jogo de lógica que nós, a par de Poirot, iremos fazer para chegar às conclusões sobre o caso. Não existindo um momento que nos tente enganar de forma explícita, somos levados num enredo com várias pontas soltas mas que nos dá matéria para avançarmos na nossa própria investigação. 

No final da leitura a única coisa que nos pode levar a não aplaudir o livro é o facto de não apreciarmos a ideia de Poirot voltar sem Christie, ou devido as expectativas demasiado altas. Este é um regresso muito interessante, e apesar de não ser genial como alguns livros do famoso detetive, é bastante bom e um dos melhores policiais que já li este ano. Não é Agatha Christie, não, não é, tal como o filho de Tolkien nunca será Tolkien. Mas é uma leitura muito boa e apenas as expectativas o poderão atingir. Da minha parte, vou ficar atento aos próximos livros!

Luís Pinto