quarta-feira, 22 de junho de 2011

O ESPIÃO QUE SAIU DO FRIO

 Autor: John le Carré

Título original: The Spy who came in from the cold

Têm sido muitos os autores que tentam escrever sobre espionagem. Não é um género fácil. Há que perceber aquele mundo, o que realmente envolve, o que realmente se faz e o porquê de o fazerem. Raramente a espionagem é feita de tiros, carros desportivos, etc… Talvez por isso os grandes escritores de espionagem do último século tenham sido homens com experiências reais em serviços de espionagem. Aquele que será não só o mais famoso mas aquele que nos trouxe os melhores livros, foi John le Carré, ficando à frente de outros nomes famosos como Graham Greene, Ian Fleming ou Tom Clancy.
Com mais de vinte livros, O espião que saiu do frio foi o livro que lhe deu a projecção que tem hoje. O próprio autor confessou que depois do êxito do livro decidira dedicar-se inteiramente à escrita deixando o trabalho que exercia. Escrevera-o em apenas cinco semanas numa onda de entusiasmo e inspiração. Com um trabalho tão vasto no mundo literário, com grandes clássicos como “O Fiel Jardineiro”, “Casa da Rússia”, “Um espião perfeito”, entre outros, decidi ler “O espião que saiu do frio”. De seguida li outros livros de espionagem, e mais outros, até regressar a este. Escrevo hoje sobre ele porque o considero o melhor que li.
Alec Leamas é a personagem principal desta história passada logo após o erguer do Muro de Berlin. Homem céptico e quase depressivo, Alec é tudo aquilo que James Bond não é: deselegante, por vezes rude, fisicamente nada atractivo e um operacional em fim de carreira, deixa para trás a grande maioria dos sentimentos que muito raramente o seu corpo é capaz de produzir. Continua as suas missões porque considera que os serviços de informações têm sempre uma lei moral com base em resultados e que depois a balança os julgará. E assim somos levados para o mundo de espionagem mais cinzento e traiçoeiro que já li, pois o mundo que vemos é pelos olhos de Alec, mesmo que indirectamente, e como ele está farto daquele mundo dividido por uma muralha.
A história leva-nos lentamente, sem grande espectáculo em descrições ou acontecimentos, para um mundo de comunismo, de encenações de todas as personagens, onde os bons e os maus se fundem tal como a própria lógica na guerra do bem contra o mal.
É um livro morno e que não cativará muita gente na sua primeira metade. É na segunda metade que este livro se torna fabuloso. As suas revelações tornam este mundo ainda mais negro e acabamos por não saber de que lado está cada um dos intervenientes, acabando num final arrebatador que não esquecerão tão cedo.
No entanto é na segunda vez que lemos este livro que percebemos que estivemos perante uma obra-prima. Ao sabermos agora as verdadeiras intenções de cada um, percebemos o que antes nos falhara, quer seja nos diálogos, quer seja em pequenas acções. Mais não revelarei porque este é um livro que vale pela sua história e intriga.
Uma nota ainda para a personagem principal, que acaba por nos cativar, contra qualquer probabilidade, ao desvendar do seu passado e suas convicções. Inteligente, com pensamento perspicaz, Alec quase que nos ensina espionagem sem querer.
Um livro a não perder. Pode não ser o mais apelativo e o mais entusiasmante dos livros de Carré, mas é uma verdadeira lição do mundo de espionagem onde os resultados valem muito mais que pessoas ou moralidade. É rude e cru, um livro marcante para os adeptos do género e que vos farão ler mais deste autor. Imprescindível.

8 comentários:

  1. João Pedrojunho 28, 2011

    Adoro espionagem e raramente encontro criticas a este género aki na net. para quando mais criticas a livros deste autor?
    parabens pelas escolhas.

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  2. Este é um grande livro, infelizmente muito pouco conhecido da juventude em geral. continua com este blog porque as criticas estão muito boas. fala mais sobre le Carré, vale a pena.

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  3. Comprei este livro depois de ler a tua opinião e digo-te que é do melhor que já li. simplesmente incrivel, nunca tinha lido nada deste autor.
    as tuas escolhas literárias são muito boas e tenho-as em elevada consideração. continuarei a seguir este blog entusiasmo!

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  4. Como tenho vindo a dizer, este blog tem das melhores opiniões que há na net. mas esta opinião ainda não tinha lido, e acabaria talvez por não a ler se não fosse o comentário do Mr. Haye. Gostei muito do que escreveste e irei dar um salto a esse género literário que nunca li. Assim que conseguir compro-o.

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  5. Não conhecia este livro, também não faz bem o meu genero. Mas pesquisei na net e vejo que são mts os que dizem ser um dos melhores livros de espionagem. vou arriscar. Obrigado por o divulgares.

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  6. Por favor, não é possível comparar John le Carré com Ian fleming, e quanto á comparaçao com Graham Greene, só se for por ambos serem (um já foi) candidatos ao nobel, cada livro dele ultrapassa o género de espionage, calha ser a espionagem o assunto da história, a riqueza da linguagem, é da mais alta literatura que se pode ler, sem rótulos!

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  7. Acabei de o ler, é efetivamente fascinante e sendo dos primeiros livros do autor, já se nota o descrédito que se veio progressivamente a aprofundar relativamente aos poderes instituídos. John le Carré denuncia em livros posteriores
    as faces ocultas do verdadeiro poder. Nomeadamente em "O Fiel Jardineiro".

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