Autor: Ray Bradbury
Título original: Fahrenheit 451
Imaginem um mundo onde ler é proibido… imaginem o fogo a queimar cada página do que lemos… imaginem tudo o que seria perdido no fogo… Fahrenheit 451, a temperatura a que o papel do livro se incendeia e arde…
Bradbury trouxe-nos a meio do século XX um livro que ficaria para a História da literatura. Num dos melhores livros do género, ao lado de 1984 ou Admirável Mundo Novo, o autor leva-nos para um mundo onde as crianças não aprendem a ler, porque ler lhes retira a felicidade. Haverá sempre um livro que deixe alguma pessoa infeliz ou revoltada. Nenhum livro fará todas as pessoas felizes, então vamos queimá-los… vamos também ignorar que há fome no mundo, e as pessoas não ficarão tristes. Vamos deixar de dar duas opções possíveis a uma pessoa sobre qualquer assunto, pois a dúvida da decisão o torna angustiado… os funerais são tristes? Acabemos com isso e regressemos a casa… apatia.
O Ser Humano é ao mesmo tempo o animal que mais evolui e também o mais apático. Educar uma criança “à pancada” é mais fácil do que com compreensão e carinho; trabalhar e pagar as contas é mais difícil do que nada fazer… apatia.
O problema deste livro é o facto de ser tão bom e ao mesmo tempo ter instantes em que é quase profético. Olhemos para nós! Horas e horas na internet a ver o que não interessa, outras tantas horas a ver televisão preenchida algumas vezes por um jornalismo que não nos dá espaço para pensar, para ver os dois lados da questão, que por vezes manipula… horas e horas de séries e programas que muitas vezes nada nos dão, que nos disseram que entretêm e nós vemos. Anúncios que nos dizem o que comprar, gastar no que não precisamos… uma vida inteira nisto... o filho ao lado precisa de atenção e educação, mas não… o que nós queremos é mais séries, mais desporto, mais programas que comentam tudo, para nós ouvirmos e ganharmos opinião, porque pensar também custa…
Montag é apenas mais um bombeiro que incendeia livros, até conhecer uma rapariga que questiona o que a rodeia, que lhe fala de um passado em que as pessoas não tinham medo, em que bombeiros apagavam fogos, não os criavam. E então a pergunta nasce: porque será tão perigoso ler um livro? O que está afinal naquelas linhas? Porque torna o leitor perigoso? Será tão desumano admitir que não é feliz e tentar mudar a sua vida de forma a consegui-lo?
Numa escrita emotiva e directa, este livro dá-nos a mudança de Montag, o homem que tentará mudar a sua vida, que tentará ser feliz quando o mundo apenas se senta e vê televisão, sem pensar, sem questionar, como se o cérebro estivesse desligado, desprovido de emoções para o que vê, para o que o rodeia. Os homens não amam as mulheres... as mulheres não querem filhos, porque choram, dão trabalho...
As personagens são o grande trunfo deste livro, pois dão a profundidade necessária a este mundo, tornando-o quase palpável, mas acima de tudo, mostrando-nos os resultados da vida deste singular modo de vida. Montag é uma excelente personagem, mas sinceramente foram Clarisse, a rapariga que questiona e quer sentir algo, e ainda Beatty, para mim o melhor personagem do livro (mas não revelarei as razões para que leiam por vocês mesmos), as personagens que movem, explicam e dão força a estas páginas, como um soco no estômago do leitor.
Bradbury diz-nos para não nos acomodarmos, para não deixarmos as coisas acontecerem. Qualquer pessoa pode fazer algo com significado, com importância, porque às costas de um gigante, um simples anão é o que se vê mais ao longe.
Fahrenheit 451 é um livro imperdível, com um mundo bem construído, apesar de não muito aprofundado (pois estamos limitados à visão de Montag), personagens ricas e bem conseguidas e muitas questões que se levantam. Se ainda não o leram, façam-no! Leiam-no e questionem, tal como Montag e Clarisse, deixando a apatia para trás, cortando com o que a sociedade diz que deve ser feito. Nós felizmente ainda vivemos num mundo onde podemos chegar a uma biblioteca e levar um livro, sem dar nada em troca, e isso nunca pode acabar.
Mark Twain uma vez disse: “Um homem que lê maus livros pode não ter vantagem sobre um homem que não lê”, e é verdade, mas está mais perto de o conseguir, porque já começou a ler.
Não sendo o meu preferido neste género, Fahrenheit é indiscutivelmente um livro incrível e marcante, sendo obrigatório pelo que nos oferece. Recomendado sem hesitações.
Parabéns. Excelente crítica. Sem palavras, do melhor que li ultimamente.
ResponderEliminarObrigado António!
EliminarNovamente conseguiste. Uma opinião fantástica.
ResponderEliminarOpa, a tua opinião está divinal. Estou completamente convencida. Dificilmente depois de ler isto uma pessoa não compra o livro. Parabéns Luis, esta mesmo muito bom, como sempre!
ResponderEliminarMuitos Parabéns! Adorei a crítica ao livro. Tenho de ser sincero que apesar de o nome do livro não me ser estranho, não sabia nada acerca dele. Fiquei com bastante curiosidade de o ler e foi rapidamente adicionado à lista para a próxima feira do livro.
ResponderEliminarbom dia, Hugo.
EliminarÉ natural não conhecer totalmente este livro. Trata-se de um livro pouco conhecido das massas em Portugal, no entanto é um dos melhores alguma vez escritos. Ficará satisfeito certamente.
Uma vez mais parabéns ao Luís pelas suas escolhas literárias.
Sem comentários. A sério. Novamente que grande crítica. O teu blog está sempre em grande nivel de qualidade, acho que nunca li uma critica tua que não fosse boa, mas de vez em quando escreves textos assim, que me obriga a comprar o livro. Parabéns, pelo texto forte e pungente que se aparece enquadrar muito bem com o livro.
ResponderEliminarExcelente. Escreves como poucos e prendes o leitor como poucos.
ResponderEliminarNão conheço o livro, mas vou tratar de o fazer.
Excelente! muitos parabéns por este texto. Estou convencida!
ResponderEliminarClarinha
Muito bom! Mesmo muito bom!
ResponderEliminarTambém gostei muito da tua opinião. Já ouvi falar do livro mas nunca li. O tema parece-me muito itneressante e falaste de pormenores que aguçam a curiosidade.
ResponderEliminarEstou a pensar comprar. parece-me uma excelente escolha e quero ver como pode acabar uma historia com um mundo assim.
Parabéns. O teu texto convence qualquer um.
apoiado. Crítica 5 estrelas
EliminarLi o livro há uns anos. Uma distopia fantástica e esta tua crítica acerta em cheio. Realmente tens uma escrita que cativa, o que é raro. Parabéns e continua o grande trabalho que tens feito.
ResponderEliminarNão li nenhum dos livros que mencionas-te mas tenho o 1984 aqui em casa. Vou aproveitar para ler e comprar este do Bradbury. A tua opinião está muito boa! Os meus parabéns.
ResponderEliminarNovamente obrigado a todos pelos comentários! Infelizmente não tenho tido tempo para responder a todos.
ResponderEliminarDas distopias que referes são ainda não tive oportunidade de ler "Admirável Mundo Novo".
ResponderEliminarO "Fahrenheit 451" e o "1984" são realmente obras de leitura obrigatória! E já agora acrescentaria "A Laranja Mecânica".
Gostei muito da tua opinião.
Olá tonsdeazul.
EliminarSim, A Laranja Mecânica também é um excelente livro, sem dúvida. E aconselho-te o Admirável Mundo Novo! Está muito bom!
Dá prazer ler o que escreves. Continua com o excelente trabalho!
ResponderEliminarObrigado Cardoso. Vou continuar!
Eliminarfantástica opinião da tua parte! parabéns
ResponderEliminarObrigado Rui. Espero que estejas convencido. É um livro que vale a pena!
EliminarBoas Luis.
ResponderEliminarBoa critica, mais um para a lista.
Vou começar a ler o Mago depois de acabar o Processo de Kafka, já li a trilogia Millenium, que me deixou agarrado e lamento que o escritor, Stieg Larsson, tenho morrido repentinamente/misteriosamente sem acabar a sua Obra, pelos visto era para ser 10 livros e ficou apenas 3 e o 4º a meio mas ao qual a esposa não quis disponibilizar...
Mesmo assim o final do 3º livro é muito bem concebido.
Os filmes não fazem jus ao livro, é cortado alguns enredos e até acções de muitas personagens.
No entanto a versão americana do filme tem uma fotografia fiel ao livro e uma resolução da historia mais surpreendente, não pelo resultado final porque esse é o mesmo mas pela forma como chegaram a ele.
Como foi a primeira obra do género que li não vou entrar em grandes criticas.
Para mim o desenrolar da historia foi asfixiante, Stieg cria um cenário repleto de pontas soltas e cada fio é um cenário diferente e quando se começa a puxar as pontas uma a uma é como uma nova aceleração do ritmo cardíaco.
O 3º Livro, depois de termos ficado envolvidos com as a personagens e suas historias no 1º e 2º livro, é difícil parar de ler devido á velocidade viciante em que se desenrola a historia.
As personagens estão muito bem concebidas e o suspense é priceless.
Aconselho.
Curiosidade: 1º vi o filme com uma amiga, no dia a seguir comprei os livros, depois conforme ia lendo ia comentando com ela as partes que faltavam no filme e a continuação da historia, por fim era ela que me ligava para saber o resto da historia hehehe.
Olá RLacerda! Tudo bem?
EliminarVais começar o Mago? Excelente! Depois quero saber a tua opinião.
Em relação à trilogia Milénio, ouvi dizer que o filme é bom, mas que o livro é melhor, e como tal não vi e vou antes ler a saga. Queria lê-la este ano, mas não vai ser fácil O bolso não dá para tudo e o tempo também não. São muitos os fãs, os que falam de grande qualidade e de uma enorme necessidade de continuar a ler.
Se conseguir ler este ano aviso-te e depois escrevo uma opinião!
Que estás a achar do Processo Kafka?
Boas,
EliminarRelativamente ao Processo de Kafka esperava mais, isto devido ao terminus da historia, como é óbvio temos que levar em conta a época, local e a maneira como foi exposta toda a sua obra.
A qualidade da escrita é top top aqui nada a dizer, os diálogos entre personagens e os pensamentos do senhor K é o expoente máximo deste livro.
Para mim foi uma leitura vagarosa pois tive dificuldade em mergulhar nesta "vida", escrita de uma maneira diferente do que estava habituado, até agora só li um livro onde bati nesse degrau, "Um, Ninguém e Cem Mil" Prémio Nobel 1934 de Luigi Pirandello.
Certamente vou ler a Metamorfose para afirmar se gosto da Obra de Kafka ou não.
Sinto que o meu nível literário é fraco quando agarro nestes livros, já por varias vezes que agarrei na obra: Os Irmãos Karamázov de Fiódor Dostoiévski, mas senti sempre receio de não me conseguir seduzir por aquele tipo de leitura, mas hei-de ler...
Abraço
Um dia também trato de ler O Processo. Em relação aos Irmãos Karamazov, é realmente um excelente livro. O problema é que toda a literatura russa dessa geração, é vezes dificil de ler.
EliminarBoas
EliminarMais uma excelente leitura, foi o meu 1º livro de Ray Bradbury e gostei muito.
O mundo que criou as personagens, até o cão... estavam 5 estrelas.
Não vou dizer que fiquei maravilhado com o desenrolar da historia mas foi uma leitura apetecível.
Custou um pouco montar o cenário que Ray nos oferece neste livro, os diálogos entre Montag e Clarisse ajudam a a alcançar a ideia de Ray B.
A apatia que estava enraizada nas pessoas daquele país era medonha, Montag é a personagem principal mas não deixa de ser uma pessoa limitada de raciocínio mesmo depois de algumas novas experiências, Mildred era o expoente máximo dessa apatia.
Se este mundo já era cinzento com Beatty ficou negro, gostei muito desta personagem.
Na parte final os novos amigos de Montag fizeram-me lembrar o filme The Book of Eli ...
Li este livro em Julho e por cima dele já vão alguns livros por isso a minha opinião esta um pouco turva ...
Na minha lista já consta Algo Maligno Vem Ai... mas agora é tempo de voltar a Krondor =).
Abraço
Olá RLacerda. Tudo bem?
EliminarConcordo contigo. Tudo 5 estrelas e as conversas entre Montag e Clarisse estão excelentes.
Krondor? Então depois diz-me se gostaste!
abraço
Comprei este livro depois de ter lido a tua opinião e vou começar agora! Depois comento.
ResponderEliminarAinda bem Punch! Acredito que não te vais arrepender!
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