terça-feira, 3 de abril de 2012

ESMERALDA COR-DE-ROSA




Autor: Carlos Reys



 Comecei a ler este livro sem saber o que esperar, mas mal o agarrei pela primeira vez achei muito interessante a capa do livro ser um desenho do próprio autor.
Com uma escrita simples e acessível, Carlos Reys conta-nos as vidas cruzadas de várias personagens, todas elas bem conseguidas e distintas. 

O que notei de imediato foi o sempre presente significado na escrita do autor. Foram vários os parágrafos que à primeira vista nada davam à história, mas um pouco de atenção e reparamos em algo, quer seja crítica social, uma forma de realçar um detalhe sobre uma personagem, ou de nos dar a conhecer um pouco do Portugal da época em questão. Aliás, Reys consegue um retrato muito interessante da sociedade portuguesa desde a Primeira Guerra Mundial até aos tempos actuais, mostrando a sua evolução, a forma como as pessoas encaravam a vida, o país (antes e após 25 de Abril), e ainda o mundo, com a tecnologia a deixar para trás a fé e a arte. Todo este retrato é talvez o aspecto mais interessante do livro.

Cada pessoa terá na vida (durante mais ou menos tempo) um mentor, alguém que ouve, que inevitavelmente copia num gesto ou num olhar perante a vida, alguém com o qual argumenta, confrontando ideias, aprendendo, moldando-nos. Podem ser os pais (como no meu caso), ou um avô, um amigo, ou uma pessoa que à primeira vista era um desconhecido. Reys cria a personagem Guilherme Esteves, transforma-a num mentor e narra a história sem o "perder de vista". Esteves é, indiscutivelmente, a personagem central da história, não por "ter mais páginas" do que outras, mas porque a sua importância é enorme, destacando-se facilmente. Uma personagem que gostei bastante, principalmente por rapidamente perceber que se tratava de alguém que não estava preso aos preconceitos da sociedade e por não apresentar o olhar cego, não-crítico, e submisso da sociedade que ouve, aceita, não questiona, não vê. Esteves é o oposto, porque questiona, vê, tornando este livro em algo mais do que talvez a sua visão: a sua lição.

Somos nós que temos de lutar para moldar a vida a nós próprios. Devemos ser humildes mas orgulhosos por vivermos.

A forma como a narrativa salta entre acontecimentos pode confundir o leitor ao início até se conseguir situar de forma automática, mas rapidamente começamos a criar a nossa imagem sobre as personagens. As personagens são credíveis (Figas, Esmeralda, Violeta, Elias), com caminhos distintos que não nos deixam vislumbrar o futuro. O que vemos é as aprendizagens e as situações que moldam uma vida, e que insignificantes são por vezes essas situações, que se transformam em acontecimentos tão marcantes! Basta não comer uma maçã num determinado momento, e tudo muda...
Afinal, o Homem define-se pela sua capacidade de sobreviver, mas alguns preferem desistir, outros lutam, outros oferecem de forma altruísta, um último momento de felicidade a quem já nada tem. São estas acções que tornam as personagens boas, com os seus medos, coragem ou submissão, e acima de tudo, com os seus segredos nunca revelados, porque a História da Humanidade está repleta de verdades que nunca iremos saber...

Este livro de vidas cruzadas, mostra-nos a beleza do mundo, da vida, mas também como somos capazes de pintar de negro o que nos rodeia. Um livro que terá certamente um público alvo sénior, por talvez conseguir identificar mais o ambiente daquela época, e talvez numa ou noutra linha encontre algo parecido nas suas memórias (quer seja uma pessoa ou um local), e isso será certamente uma satisfação.
Com este primeiro livro, Carlos Reys conseguiu transmitir emoções e fez-me pensar. E é para isso que um livro serve! Não é fascinante nem agradará, certamente, a todos os leitores, principalmente aos mais novos, mas se gostarem do género e/ou da época, e de leituras calmas, este livro poderá ser uma boa escolha.
  

16 comentários:

  1. Não conhecia e fiquei com interesse. A tua crítica está muito boa!

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  2. Gonçalo Pereiraabril 03, 2012

    Mais uma excelente crítica. Grande trabalho.

    O livro parece-me interessante e irei procurá-lo na feira do livro.

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  3. Sempre uma grande crítica da tua parte! Parabens e obrigado por divulgares mais um livro que não conhecia. Vou dar uma vista de olhos mas para já estou convencida. A lista para a feira do livro aumenta.

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  4. AH! Para com as opiniões que a minha wishlist está enorme! Matas-me a carteira!

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  5. Muito interessante a tua opinião, o que é normal neste blog. Estás sempre a convencer-me a procurar pelos livros que falas.

    Este não é o meu género de livros, mas na feira vou dar uma vista de olhos, pode ser que esteja barato!

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  6. Mais um livro que parece interessante. Não conhecia mas gosto bastante deste género e principalmente se tiver personagens crediveis. vou dar uma visita de olhos e espero gostar. O teu texto está excelente. again!

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  7. Mais uma crítica cheia de qualidade. És um desperdicio ficares apenas pelo blog e não seguires profissão nos livros. Pelo menos é o que eu penso.

    O livro parece interessante.
    Talvez o dê aos meus pais.

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    1. Obrigado a todos pelos comentários! Espero que dêem uma vista de olhos ao livro.

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  8. Também fiquei muito curiosa. Excelente crítica, os meus parabéns.

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  9. Tal como era de esperar, confirma-se com comentários críticos como este, que o Carlos deverá continuar a escrever para todos nós, que o conhecemos, e todos os que certamente aprenderão a viver com as suas palavras.
    Um abraço da Helena Brasão

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  10. Olá Helena.
    CArlos Reys deve, sem dúvida, continuar a escrever!

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  11. http://numadeletra.com/15857.html

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