terça-feira, 27 de dezembro de 2011

ANO DE 2011

Chegamos ao fim de 2011 e é sempre bom fazer um pequeno "apanhado" do que se leu. 

Apesar de ter escrito, nestes seis meses de blog, cerca de 60 opiniões literárias, a verdade é que apenas terei lido em 2011 metade desses livros, sendo que a outra metade foi lida nos anos anteriores. Tal facto não ajuda muito a tentar escolher o que melhor li este ano e ainda menos a escolher o melhor livro que li publicado em 2011, porque a verdade é que são poucos. Porquê? Porque raramente compro livros quando são publicados, sendo tal uma questão financeira, acabando na maioria das vezes por ler livros que foram publicados em anos anteriores.

Sendo assim vou indicar livros que li este ano, tanto os que foram publicados este ano, como em outros.

Este ano dediquei-me muito mais à Fantasia e à Ficção-Científica do que por exemplo aos romances de Espionagem, outro género que gosto bastante e do qual já li muito. Sendo assim conheci muitos autores novos enquanto continuava outras sagas. A saga de George R. R Martin continuou a ocupar muito do meu tempo e como é óbvio o seu livro A Glória dos Traidores foi o melhor que li na fantasia este ano. Os livros seguintes na saga, que também li este ano, não estiveram ao mesmo nível de revelações e foram prejudicados pela "separação" entre Norte e Sul (isto apesar de achar que foi um acto que sendo discutível, foi muito bem conseguido). 

Já o A Dança dos Dragões apresentou-se como o grande lançamento deste ano (muito graças a dois factores: a enorme espera de mais ou menos 5 anos, e ao lançamento da série que apresentou uma qualidade assinalável) e apesar de não estar ao nível do que desejamos, o futuro promete e muito. É impossível esquecer o Cheirete. É uma série impossível de perder, e está tudo lançado para em Os Reinos do Caos se acelerar para o fim da saga, o final mais esperado actualmente, esperemos apenas que não demore uma década.
Outro escritor que não conhecia e que mostrou um trabalho que deve ser assinalado é Dan Simmons. Se a história O Terror poderá agradar mais a uns do que a outros, já ao trabalho de investigação e tipo de escrita ninguém poderá ficar indiferente, e como tal fiquei ainda com mais vontade de um dia ler a saga Hyperion.  
O escritor que mais me surpreendeu este ano foi David Soares, não conhecia o seu trabalho e fiquei muito agradado com O Evangelho do Enforcado e ainda mais com Batalha. Continuarei a ler o seu trabalho.

Existiram ainda outros livros que gostei bastante de ler e que foram agradáveis surpresas, como Expiação e A Balada do Café Triste, sendo que este último foi publicado este ano.
Este foi ainda o ano em que li finalmente Duna, simplesmente fantástico, depois de muitos anos de espera, e continuei com a saga O Mago, com o terceiro livro Espinho de Prata e asseguro-vos: o quarto e último livro da saga é um dos que mais espero para o próximo ano.

Realço ainda a qualidade do livro Os anos de Ouro da Pulp Fiction Portuguesa, muito bom! e ainda o primeiro livro que li (reli) este ano, Ratos e Homens, um livro simplesmente genial!e o avassalador A Estrada. Forte, duro. excelente leitura.

2012 promete ser um ano com excelentes leituras:

encontrou-me neste momento a ler As Mentiras de Locke Lamora e estou a gostar muito!
Está para chegar Os Reinos do Caos e ainda o último Mago
Espero ler mais um livro da saga Kushiel
Quero iniciar-me na trilogia de Stieg Larsson
Vou ainda dar uma vista de olhos à saga Jóias Negras de Anne Bishop
Tentar ler A Toupeira de John le Carré
Tentar continuar com a saga Ender, da qual já li O Jogo Final
Reler uns clássicos
Ver aonde me leva Durham com o seu Acácia
ler (finalmente!) As Brumas de Avalon
e muitos, muitos outros livros...

Se conseguirei ler todos estes livros em 2012 dependerá apenas de dois factores: finanças e tempo. No entanto prometo que continuarei a escrever aqui as minhas opiniões, tanto do que irei ler, como de muitos outros livros que já li e ainda não tive tempo de dar uma opinião sincera.

Uma vez mais obrigado a todos os que me apoiaram, aos que visitaram este espaço, aos que comentaram, aos que divulgaram, aos que me ofereceram os livros que li e irei ler, etc...

E vocês o que esperam ler no próximo ano?

Feliz 2012! e excelentes leituras!

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

FELIZ NATAL!

Desejo a todos um Feliz Natal cheio de alegria, saúde e todas as outras coisas que são essenciais a cada um! 
E já agora, muitos livrinhos no sapatinho!


FELIZ NATAL

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

O PRINCIPEZINHO


Autor: Antoine de Saint-Exupéry

Título original: Le Petit Prince



Este é o livro que todos devem ler. Mesmo aqueles que não gostam de o fazer. E porquê? Porque este livro não é apenas um livro, não são apenas palavras escritas, misturadas ao gosto do autor. Este livro é uma gigantesca lição de vida. É isto que torna este livro imortal, um membro de um grupo restrito de obras que perdurarão muito para além da vida do seu autor.

 Ao início vemos um livro leve, pequeno, poucas palavras… mas todas elas são algo mais do que isso, são lições enigmáticas para as crianças que as lerem. São para os adultos lições que deveriam ser desnecessárias. Mas todas elas verdadeiras, que nos fazem questionar porque nunca estamos satisfeitos, porque queremos algo que não precisamos. O essencial não tem de ser comprado… o essencial é invisível para os olhos.
Este livro faz-nos pensar. Cada página, cada capítulo, por mais pequeno que seja, tem o seu significado. Sim, o essencial é mesmo invisível. Aquilo que sentimos, aquilo sem o qual não conseguimos viver e que normalmente só sentimos verdadeiramente quando perdemos. A grande generalidade do Ser Humano é assim, sem capacidade de expressar o amor que sente. Mostrar ódio é tão mais fácil e a ironia é o facto de conseguirmos viver sem ele, mas nunca sem amor.  Afastamo-nos tantas vezes do que nos dá prazer, tal como o homem que nesta história deseja não voltar a ter sede para não ter de beber água, sem perceber que beber com sede é um prazer ao qual ele foge. Mas porque fugimos nós dos nossos prazeres? Porque perdemos a ingenuidade de criança onde existem menos barreiras? São os preconceitos? É a sociedade que nos molda? Afinal o que nos rouba a capacidade de abraçarmos quem queremos, de dizer o que sentimos, o que realmente é importante e essencial? Todos nós já sentimos que deveríamos ser algo mais, deveríamos ter dado mais um abraço ao nosso pai, à nossa mãe, à pessoa com quem casamos ou namoramos, sem os quais não conseguimos viver…  ser criança é mais fácil, mais verdadeiro. Devíamos ser crianças mais tempo para abraçarmos mais vezes quem amamos…

O Principezinho passa por todas estas questões. A relação com a sua flor é tudo isto que mencionei. A flor que deseja ser admirada, não pede a amizade do rapazito, ao contrário da raposa que apenas deseja ser amada. Não, a flor quer algo que não se pede, porque se for pedido, não será verdadeiro. O Principezinho percebe tarde demais que há muito que gosta da flor. Ela é importante! Apenas quando não a pode proteger o rapaz sente esse sentimento invisível e aos poucos deseja que tivesse feito algo mais. Todos o desejamos um dia...
O homem que cria laços acabará sempre por chorar, irá sempre sofrer um dia, mas desde quando é que isso nos deve impedir?
A flor acaba por ser amada, talvez sempre o tenha sido, mas não o sentiu, não completamente, como ela o desejava, à sua maneira. O Principezinho demonstra-o de forma diferente. E isto acontece diariamente no nosso mundo. Cada pessoa demonstra, mais ou menos, o que sente, mas por vezes quem é amado não o percebe, não recebe a mensagem. Mas se aqueles que verdadeiramente amamos não o sabem, então quem saberá?

A história do Principezinho é uma bela viagem por vários planetas, onde se encontram personagens distintas. Todos eles são o autor principal de uma nova lição, e cada leitor acabará por retirar as suas conclusões, tal como o Principezinho o faz e também ele evolui... e se passamos a vida a caminhar, quantas vezes sabemos para onde vamos? O Principezinho também aprende a escolher o seu caminho e a escrita fácil de Saint-Exupéry leva-nos sem esforço nesta viagem.
Este rapazito tem um bocadinho de cada um de nós. Teimoso, curioso, talvez apenas sozinho… por vezes preocupado, por vezes descontraído. É impossível não sentir afecto por esta personagem, e por vezes até sofremos com as suas palavras, pois estão cheias de sentimento. Estão cheias de algo invisível.
Este livro é para mim do melhor que já li. Como é que um livro tão pequeno pode ter tanto para dizer? Não o deixem ficar na estante. Recomendo-o a todos, seja qual for a idade, mesmo àqueles que não costumam ler. Leiam este livro lentamente, tentem “arranjar” um significado para cada página, e no fim sentirão uma satisfação que poucos livros podem oferecer. Depois de o lerem, uns anos mais tarde, repitam a leitura. Terá certamente novos significados, porque nós mudamos, e estamos sempre prontos a aprender algo novo, com significados distintos, consoante as nossas vivências.
Obrigatório.
 Inesquecível.
Obra-prima.
O mais triste não é existirem pessoas que não leram este livro. O triste é todos aqueles que o leram, terem esquecido o que aprenderam nestas palavras.

Os homens deixaram de ter tempo para conhecer o que quer que seja, compram as coisas já feitas aos vendedores. Mas como não há vendedores de amigos, os homens deixaram de ter amigos

Só se pode exigir a uma pessoa o que essa pessoa pode dar.

sábado, 17 de dezembro de 2011

Blog: 6 meses!

Hoje o Blog Ler y Criticar faz os seus primeiros seis meses de "vida".

Começou tudo sem grande planeamento, sem saber o que deveria escrever, sobre que livros falar, o próprio nome do Blog não foi muito pensado. Foi a primeira "coisa" que saiu e que ainda não existia neste enorme universo de blogs literários. Porque o fiz? Porque gostava de seguir o Blog Estante de Livros e achei que podia, esporadicamente escrever sobre alguns livros. Mesmo que ninguém lesse, ao menos eu teria para sempre as minhas opiniões aos muitos livros que leio.

Hoje o meu blog já é mais do que estava à espera de alcançar. 19 mil visitas, 183 fãs no Facebook, 92 seguidores, 500 comentários. Serão certamente números insignificantes para outros blogs, mas para mim já é algo que me faça continuar a escrever!

Para que fique registado e um dia eu possa recordar, fica aqui a curiosidade de o meu post mais visitado ser o texto que escrevi: O Senhor dos Anéis vs A Guerra dos Tronos, seguido de muito perto pelo passatempo A Dança dos Dragões.
Um agradecimento especial à Editora Saída de Emergência por colaborar comigo em dois passatempos até agora, tornando este blog muito mais "visível". 

Um agradecimento ainda a todos os que visitam este meu espaço, aos que comentam, aos que divulgam! Espero que continuem a aparecer! Eu continuarei a dar a minha mais sincera opinião sobre os livros que vou lendo!

Obrigado a todos e até já!

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

À BOLEIA PELA GALÁXIA


Autor: Douglas Adams

Título original: The Hitchhiker’s Guide to the Galaxy


Sinopse: Segundos antes da Terra ser destruída para dar lugar a uma auto-estrada inter-galáctica, o jovem Arthur Dent é salvo pelo seu amigo Ford Prefect, um alienígena disfarçado de actor desempregado. Juntos, viajam pelo espaço na companhia do presidente da galáxia (ex-hippie, com 2 cabeças e 3 braços), Marvin (robot paranóico com depressão aguda), e Veet Voojagig (antigo estudante obcecado com todas as canetas que comprou ao longo dos anos). Onde estão essas canetas? Porque nascemos? Porque morremos? Porque passamos tanto tempo entre as duas coisas a usar relógios digitais? Se quer obter estas respostas, estique o polegar e apanhe uma boleia pela galáxia.

 
Este livro é famoso, muito famoso. Mas não em Portugal… reparem: esta saga de Douglas Adams, sendo este o primeiro livro, é a grande saga de humor dentro do género fantástico e tal nota-se quando pesquisamos na net e vemos algumas votações.
- 4º lugar no top 100 de livros favoritos de FC, no site Sci-Fi Lists.
- 2º lugar no top 100 dos livros favoritos de fantástico, do site NPR
- 4º na lista The Big Read da BBC

Em Portugal o livro é publicado em 2005 por uma editora que estando nos primeiros anos de vida ainda não tinha a projecção de outras. Depois o filme em Portugal passa completamente ao lado do público, não está ao nível do livro (uma adaptação completamente falhada na minha opinião visto que nem o consegui ver até ao fim) e terá certamente ajudado a que muitos fugissem destas páginas de Adams. Resultado? O livro ainda só deve ter uma edição e eu não conheço pessoalmente ninguém que o tenha lido. Vamos tentar mudar este facto.

Claro que vocês podem dizer: “Votações não confirmam a qualidade de um livro, apenas o fanatismo de alguns leitores”. Correcto. Passemos então à qualidade do livro.
À Boleia pela Galáxia é daqueles livros que na minha opinião só pode causar duas reacções: ou detestamos e nem o acabamos, ou simplesmente adoramos. Eu faço parte do segundo grupo.
Douglas Adams escreve um livro genial, “um clássico” como a crítica o apelidou. Cheio de um humor fantástico, por vezes britânico, por vezes negro, outras vezes simplesmente parvo (parabéns à tradução por não destruir esse humor), personagens incríveis, momentos de enorme estupidez e factos no mínimo improváveis. Este é o livro ideal para quem goste de fantástico, de leituras leves e de rir com o que lê. Eu li o livro sempre com um sorriso nos lábios e por duas vezes chorei de tanto rir (até contagiei o meu pai que estava na sala comigo), e que melhor sensação do que essa quando estamos a passar uma fase em que nos encontramos cansados e psicologicamente mortos? Uma lufada de ar fresco!

As personagens são muito boas e Marvin torna-se instantaneamente uma personagem a reter na nossa memória, pois o seu estado depressivo é de tal forma genial que nos fará rir ao imaginarmos aquele robot cabisbaixo. Os diálogos são o ponto forte, simplesmente fabulosos dentro do género, e que encaixam na perfeição em tudo o que Adams inventa. A forma como Adams escreve também é de assinalar. Com humor e ironia, satiriza no seu Universo o que existe na realidade Terrestre: Governos, Religião, Filosofia, etc… falando desde pessoas que tentam ser intelectuais passando por ricos que compram coisas caras sem sentido, apenas para impressionar outros ricos. Podia estar aqui o dia todo...
No fim ficarão a saber o porquê de uma toalha ser o mais importante objecto a levar numa viagem, para onde vão todas as canetas que existem, quem é afinal o ser mais inteligente da terra… só não saberão o significado do número 42. Mas como diz o livro na sua primeira página: NÃO ENTREM EM PÂNICO! A realidade é que no fim, se pensarem, perceberão que este livro é muito mais inteligente do que parece.

Se apreciarem este género literário, em Portugal mais famoso pelas mãos de Pratchett e Gaiman, então este livro é simplesmente obrigatório. Não poderia recomendá-lo mais pois é o que mais gostei dentro do humor fantástico. Agora é esperar até ter o segundo livro e podem contar com nova crítica!

Agradecimento especial à editora Saída de Emergência por ter publicado este livro quando mais nenhuma o fez. Afinal de contas o livro já tinha mais de 25 anos quando chegou finalmente ao nosso país. Este junta-se às sagas O Mago, Duna e Guerra de Tronos; livros em que ninguém queria apostar.


Este planeta tem (ou melhor, tinha) um problema que era o seguinte: a maioria das pessoas que nele vivia andava infeliz a maior parte do tempo. Muitas soluções foram sugeridas mas a maior parte estava relacionada com o movimento de pequenos pedaços de papel verde, o que é estranho porque, na verdade, não eram os pedaços de papel verde que andavam infelizes.

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

HARRY POTTER e a Ordem da Fénix

Autor: J. K. Rowling

Título original: Harry Potter and the Order of the Phoenix



Quando comecei a ler este livro já há muito tempo o Harry Potter era a minha saga de eleição. Devorara os livros anteriores, esperara impacientemente por este e no fim o sabor foi uma mistura entre ter gostado porque é um Harry Potter, e não ter gostado porque era um Harry Potter.
Passo a explicar: Rowling deixara-me maravilhado com o livro anterior. Voldemort estava de volta, a história estava mais negra, mais madura e agora a saga aproximava-se do fim. As expectativas eram altas para este livro e a verdade é que o devorei como qualquer outro. No entanto, apesar de ter adorado ler mais páginas desta saga, o livro em si foi uma pequena desilusão (como já referi as expectativas eram muito altas).

Este livro não é mau, longe disso, mas tem pequenos problemas que o tornam o pior da saga na minha humilde opinião. Primeiro é um livro lento, algo que nunca acontecera na série. Depois há ali muita coisa que talvez não necessitasse de estar lá, e por fim há a questão de como a história é empurrada para um específico acontecimento final. É de tal forma notório como a autora nos empurra para esse acontecimento que fiquei deveras desiludido. Outro factor que me chateou foi o facto de Harry passar grande parte do livro chateado, de forma algo incongruente com a sua personalidade dos livros anteriores, pelo menos está exagerado. Depois percebemos que essa raiva é necessária para nos empurrar (desculpem por usar esta palavra tantas vezes) para os tais acontecimentos do fim do livro, o que deixa uma sensação ainda pior para quem lê.
No entanto também devemos perceber o que Rowling tenta passar com essa raiva: um rapaz com demasiada responsabilidade e que não a aguenta sozinho. Ninguém a aguenta sozinho, muito menos quando começa a notar que à sua volta ainda há quem não o aceite como alguém que deva ser ouvido, respeitado. Percebe-se, mas achei forçado todo o comportamento de Harry.

Não me interpretem mal, o livro continua a ser bom, viciante, cheio de magia, alegria, diálogos espectaculares como Rowling nos habituou, e com acontecimentos que serão de enorme importância no futuro… percebo ainda o final que Rowling nos dá, mas é a forma como leva Harry Potter até ele que me desagradou. Afinal Dumbledore simplesmente ficou parvo neste livro, perdendo toda a sua esplendorosa inteligência? Até eu, leitor, percebi que algo estava mal ali. O facto de Rowling ter “rebaixado” a genial capacidade da personagem Dumbledore, é o defeito central deste livro, algo que se agrava quando lemos os livros seguintes e reparamos na grandeza do plano do Director de Hogwarts. Plano esse que é a prova da genialidade de Rowling!

Mas tirando este pequeno detalhe, que peca por não ser consistente com tudo o resto, a verdade é que Rowling consegue manter esta série em grande. A “evolução na maturidade” continua presente, há um enaltecer dos interesses políticos que dão um ar refrescante à saga, temos o romance a aparecer em força, e  muito mais. Rowling mantém a sua capacidade de inovar, de inventar como poucos e novamente acaba o livro em grande, deixando-nos a ferver pelo próximo, ainda para mais ao notar-se como este livro é mais negro, dando uma ideia de como sombrio será o futuro, de que ninguém está a salvo.
Claro que podemos apontar o facto de Rowling apenas nos dar acontecimentos importantes no fim dos seus livros. Podemos ainda apontar o facto de as personagens serem logo à partida definidas entre boas e más, não existindo nenhuma, até agora, que esteja no meio termo… mas também nestes termos Rowling evolui neste livro, e tal irá notar-se ainda mais nos próximos. Rowling tem ainda aquela capacidade rara de nos fazer adorar e odiar personagens, e eu provavelmente nunca odiei tanto uma personagem como odiei a Dolores Umbridge!

No global este livro é o que demora mais a desenvolver, é o mais lento, mas também demonstra momentos muito importantes, sendo sempre um grande livro para qualquer fã da série. Rowling continua a melhorar o seu mundo mágico, a sua escrita continua viciante, continua a ter a sua magia, a ser Harry Potter, a saga que meteu o mundo a ler, e mesmo sendo o que menos gostei de toda a saga de 7 livros, é uma obra com excelentes momentos.
Como sempre digo: leiam esta saga!

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

O DARDO DE KUSHIEL


Autor: Jacqueline Carey

Título original: Kushiel’s Dart


Sinopse: TERRE D'ANGE é um lugar de beleza sem igual. Diz-se que os anjos deram com a terra e a acharam boa... e que a raça resultante do amor entre anjos e humanos se rege por uma simples regra: ama à tua vontade. Phèdre é uma jovem nascida com uma marca escarlate no olho esquerdo. Vendida para a servidão em criança, é comprada por Delaunay, um fidalgo com uma missão muito especial... Foi, também ele, o primeiro a reconhece-la como a eleita de Kushiel, para toda a vida experimentar a dor e o prazer como uma coisa só. Phèdre é adestrada nas artes palacianas e de alcova, mas, acima de tudo, na habilidade de observar, recordar e analisar. Espia talentosa e cortesã irresistível, Phèdre tropeça numa trama que ameaça os próprios alicerces da sua pátria. A traição põe-na no caminho; o amor e a honra instigam-na a ir mais longe. Mas a crueldade do destino vai levá-la ao limite do desespero... e para além dele. Amiga odiosa, inimiga amorosa, assassina bem-amada; todas elas podem usar a mesma máscara reluzente neste mundo, e Phèdre apenas terá uma oportunidade de salvar tudo o que lhe é mais querido.
 

Quando no início do ano aproveitei a promoção 3=2 do site da editora Saída de Emergência (penso que para comprar os primeiros dois livros da saga O Mago) foi este o livro que recebi de oferta. Porque o escolhi? Achei a capa interessante, li a sinopse e decidi arriscar.
Contudo li o livro sem qualquer expectativa, mas rapidamente comecei a gostar a forma como Carey escreve. Quase como um diário, a história é-nos narrada por Phèdre, uma personagem que se tornou aos poucos mesmo muito interessante. Mas já lá vamos.

Primeiro que tudo devo avisar: se só gostas de fantasia rápida, cheia de acção, em que tudo é lido sem grande esforço mental, então este livro não deverá ser para ti. A verdade é que o início do livro é lido com algum esforço, primeiro porque a escrita de Carey é lenta, e depois porque o universo criado é grande, muito grande, cheio de personagens que “entram” nas páginas como se nós já as conhecêssemos. Resumindo: passamos muito tempo a visitar as páginas que nos indicam quem são as personagens. Obrigado à editora, sem estas páginas tornar-se-ia mesmo muito difícil.
Passadas algumas páginas a ginástica mental, necessária para percebermos o que se passa, diminui, mas nunca se torna num livro fácil de ler, pois o enredo é realmente complexo, sendo algo que ao início pode afastar alguns leitores, mas acreditem que existe muita qualidade neste livro. Lentamente percebemos as movimentações desta vasta corte cheia de intrigas, manipulações, prazeres e a história começa a agarrar-nos.

Sendo um livro de fantasia, a verdade é que essa mesma fantasia é muito mais sugerida do que imposta pelo mundo onde se desenrola, e como tal não se trata de um livro de fantasia puro, sendo muito mais um romance que tem um ou outro toque de fantástico. Mas o que realmente impulsiona a história é muito mais real do que fantástico. Como tal, o que move esta história?
Sexo. Sexo é, sempre foi, e sempre será, uma forma de poder, de persuasão. O sexo, a atracção e desejo consequente são armas poderosas, viciantes, incrivelmente bem usadas pelas personagens deste livro por forma a manipular e usar quem sente esse desejo… e aos poucos entramos neste mundo de intrigas, sedução e luxúria. Vamos lendo e percebendo as teias que prendem algumas personagens, o desejo por Phèdre, por aquilo que apenas ela pode dar. Tal facto, juntando-se a astúcia e a evolução da personagem, tornam Phèdre uma personagem que vale a pena seguir. Rejeitada por uns, usada por outros e desejada por todos, Phèdre é a “voz” de uma história elegantemente narrada, com uma escrita que tenta ser sensual (certamente grande trabalho na tradução) por forma a aproximar-nos na personagem, sua vida e sentimentos. 

O universo criado por Carey, vasto em personagens, é simultaneamente parecido e diferente das culturas europeias de séculos passados, mas nota-se desde o início que se trata de uma criação capaz de sustentar uma história por muitos livros, ficando apenas por saber se a autora terá a arte de usar de forma satisfatória tudo o que criou.
O livro é grande, principalmente porque se trata apenas de metade do original, muito graças à narração pormenorizada, quase um diário, de todos os acontecimentos. A escrita de Carey nunca torna o livro desinteressante, e como já disse, é um livro que tenta seduzir. Visualmente forte, Carey não “censura” nas descrições, sendo muitas as que tornam este livro num romance para adultos, devendo “ficar fora do alcance das crianças”. Também estas descrições podem desagradar a algumas pessoas, mas sinceramente penso que encaixam bem na história, principalmente para sentirmos o que Phèdre sente.
As restantes personagens são boas, bem construídas e a história tem tudo para se tornar em algo que seja realmente bom. Infelizmente este livro sofre do facto de estar dividido. Se por um lado é bom não termos de carregar um livro com mil páginas, por outro senti que este primeiro volume é muito mais introdução do que desenvolvimento, visto que apenas nas últimas páginas (nas últimas 50, ou perto disso) é que os acontecimentos começam a acelerar verdadeiramente, dando a ideia que o próximo livro será mais rápido.

Como tal ainda me falta ler muito desta saga para a recomendar sem hesitar, mas confesso que este primeiro livro foi uma boa surpresa. Quem olhar para a sinopse e achar o tema apelativo, não ficará desiludido nestas quatrocentas páginas. Uma excelente estreia desta escritora, que apesar de não ter uma saga que encaixe no género que mais aprecio, a verdade é que já tenho aqui na estante o próximo livro para ler um dia.

Luis.

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Agradecimentos!

 Olá!

Hoje surgiu-me a ideia de criar um pequeno texto de agradecimento a três pessoas que aí pela "net" elogiaram e recomendaram o meu blog! O mínimo que posso fazer é agradecer!
Primeiro um agradecimento à Célia, autora do muito famoso site Estante de Livros e que não precisa de qualquer recomendação da minha parte, por ter sugerido o meu blog quando lhe perguntaram sobre que blogs seguir enquanto ela está no seu muito merecido descanso! Foi ao ler o blog da Célia que decidi fazer o meu, e por isso agradeço-lhe ainda mais a ajuda que me deu.
Outro agradecimento para a Filipa, que para além de muitas vezes me dar a sua opinião a textos que escrevo, decidiu hoje recomendar este blog aos seus leitores. Aproveitem, quem ainda não conhecer, para dar uma olhadela ao seu blog, O Labirinto dos Livros. Certamente irão gostar, com boas opiniões, muitas sugestões e uma gama muito variada de géneros literários.
Por último gostaria de agradecer à Ana Robalo Silva, por ter sugerido as minhas opiniões, num artigo que escreveu no site da Revista Visão. É sempre bom ler opiniões positivas ao que escrevemos, mesmo quando nunca comunicamos com essa pessoa.

Um agradecimento ainda a todos os outros visitantes do meu blog que sempre me apoiaram a continuar, escrevendo comentários, dando também as suas opiniões aos livros que li; aos visitantes anónimos, aos membros do Forum Bang! no Facebook e ainda aos membros do Sopa de Livros também no Facebook. Obrigado!

Luis

O JOGO FINAL


Autor: Orson Scott Card

Título original: Ender’s Game


Sinopse: Prepare-se para a história de um rapaz que com apenas seis anos de idade é retirado à família para ser treinado no espaço e assim tornar-se no melhor comandante que o planeta Terra já conheceu. Este é o programa de defesa dos homens que se baseia no treino rigoroso de crianças sobredotadas com o objectivo de as transformar em indestrutíveis génios militares. A missão? Combater o exército extraterrestre, de insectóides, que visa aniquilar sem piedade toda a humanidade. Um intrigante e vertiginoso primeiro volume que a Presença publica do grande mestre de Science Fiction.



Para quem não conheça este livro, o que em Portugal é frequente, deixo aqui uma pequena introdução histórica: Orson Scott Card lança este primeiro livro da saga Ender em 1985 e de imediato consegue o que muito poucos conseguiram: vencer com o mesmo livro o Hugo e o Nebula Award, os dois conceituados prémios da literatura fantástica. No ano seguinte o autor lançaria o segundo livro da saga e repetiria o feito, tornando-se no único autor em toda a História a vencer estes dois prémios em anos seguidos, feito no mínimo notável.
Mas voltando a Ender's Game, a popularidade dentro dos fãs do género é enorme, e tal nota-se quando vemos, por exemplo, votações de sites da internet: o site Sci-Fi Lists coloca-o em primeiro lugar no top dos melhores livros de FC; e a mega votação do site NPR coloca-o em terceiro no top dos melhores livros de fantástico, deixando para trás clássicos como 1984 ou a saga do momento de George R. R. Martin, Game of Thrones. Procuramos pela internet e este livro aparece sempre nos tops. Juntamos a isto o facto de ser um dos livros com melhor classificação do GoodReads e vemos que estamos perante a saga mais premiada da Ficção-Científica e uma das mais adoradas. Motivos suficientes para a ler.
Mas este livro é muito mais do que FC.

Scott Card tem uma escrita simples, rápida, e que tem como objectivo ajudar-nos a perceber com relativa facilidade a mente prodigiosa da sua personagem principal. Ender, um rapaz genial, tem a capacidade de criar incríveis tácticas em batalhas, e até aqui tudo normal em relação a outros livros, mas Scott Card "mostra-nos" mesmo essas movimentações, essas manobras geniais, não se limitando a escrever "Ender chegou e ganhou". Juntamos a isso o facto de o autor nos dar muitas vezes no início de capítulos, acontecimentos com outras personagens, principalmente aquelas conversas entre os verdadeiros manipuladores da história, aqueles que a fazem avançar, oferecendo a esta obra uma intriga sempre presente e um carácter quase estratégico às suas páginas, pois aos poucos vemos outras movimentações que não as de Ender.
Sendo um livro para qualquer idade, a verdade é que será mais fascinante para um adolescente, pela acção e amizade entre as personagens, mas por outro lado terá uma maior qualidade para um adulto pelas questões que levanta. Os treinos das crianças tornam-se por vezes angustiantes, por serem levadas ao limite, tocando a extrema violência nos seus actos, sem que o autor as descreva com pormenor, dando a oportunidade a uma criança de ler este livro e não ficar impressionada, mas também oferecendo a qualquer adulto uma imagem negra, que nos faz questionar os actos destas crianças, o seu estado psicológico e o que os levou a tal situação.

Precisamos de conhecer e compreender um inimigo para o conseguir derrotar? O tempo em que somos crianças será realmente a idade da inocência, mas também é a criança o ser que muda mais rapidamente de estado, amando e odiando a mesma coisa em poucos minutos de intervalo. Será então uma criança o comandante perfeito? Quente e frio, fácil de manipular? Aos poucos o livro mostra-nos a manipulação, a inveja do ser humano, a ética moral que nos prende e a violenta loucura que nos solta... mas será a sobrevivência da espécie desculpa para qualquer acto? A verdade é que existe sempre algo que consegue destruir a mais forte das determinações, quer seja por termos perdido alguém que amamos e só desejamos desistir, ou porque simplesmente deixámos de ser felizes. Roubaram-nos isso.
Este livro é sobre as motivações das crianças. A capacidade de superação seguida da tentação de simplesmente encolher os ombros e desistir, porque afinal a vida não é justa e a criança que "cresce" mais depressa, também o aprende primeiro. Esta personagem principal é fantástica e realista, porque ser um génio não retira à pessoa nada de humano. Que criança, por mais genial que seja, não se sentiu pelo menos uma vez incompreendida ou inferior? Que criança não desejou pelo menos uma vez ser especial sem perceber que certamente já o é?

Orson Scott Card é fantástico. Se não o fosse não teria ganho todos os prémios que ganhou, não teria feito um Universo tão fácil de se perceber, não teria criado aquela que é para mim, muito provavelmente, a mais incrível raça alienígena que já li... se Card não fosse tão bom, não teria inventado, muito antes de J. K. Rowling, uma escola com equipas, jogos e pontos, e que realmente funciona apesar de não tão detalhado como em Harry Potter.
Um livro com alguns anos e ainda tão actual, basta lermos e percebermos como algumas pessoas neste livro manipulam outras em "redes sociais", e perguntamo-nos se estaremos a caminhar na mesma direcção...
O final, bem, é simplesmente incrível. Alguns poderão não gostar, mas para mim é excelente, pois percebemos que todo o livro nos levou nesta direcção. Agora é esperar até ter nas minhas mãos o próximo da trilogia. Um livro que me deu um verdadeiro prazer, como poucos.
A questão é: se és fã de literatura fantástica, ou se simplesmente és uma pessoa que adora ler, como é possível ainda não teres lido este livro?

Luis.

terça-feira, 29 de novembro de 2011

HARRY POTTER e o Cálice de Fogo

 
Autor: J. K. Rowling

Título original: Harry Potter and the Goblet of Fire

 
Depois de três livros em que Rowling nos mostra uma criatividade de louvar e nos deixa completamente viciados, chega-nos este quarto livro e dá-se um salto qualitativo na saga, principalmente porque fica para trás a ideia de que HP é para crianças. Agora a história amadureceu, torna-se adulta e fala-nos de outros temas, muito menos infantis.

Sendo um livro muito maior do que os outros (quase o dobro), Rowling ganha com este livro o Hugo Award, o único ganho pela saga HP, e desde cedo percebemos que a história continua a evoluir tal como os leitores que a seguem.
É um livro que começa em grande, tanto pelo capítulo na casa Riddle, como depois na Taça do Mundo de Quiddicth, deixando qualquer leitor empolgado e tal como o próprio Harry, também nós esquecemos as preocupações sobre o que será o futuro. Logo de seguida o torneio dos Três Feiticeiros! Rowling junta magia, torneios, criaturas mágicas, provas dificílimas, pistas que nos deixam a ler a uma velocidade louca… tudo junto? O mais viciante Harry Potter até então!
Mas desenganem-se aqueles que possam achar que este livro é apenas um Torneio. Desde cedo se percebe ligeiramente que agora tudo é mais negro, nós apenas estamos mais interessados no resto! Rowling uma vez mais faz-nos olhar para um lado enquanto no outro é que está o que realmente será importante. A autora mostra ainda mais o seu mundo mágico, muito graças às duas escolas que passamos a conhecer melhor e ainda às intrigas/interesses políticos que se começam a formar. Uma novidade na saga!
De resto Rowling não desilude. Começam-se a sentir os primeiros enredos amorosos; temos a introdução do Pensatório que oferece mais qualidade ao enredo; novas personagens distintas, sendo que algumas conseguimos mesmo odiar, como a Rita Skeeter (grande qualidade por parte de Rowling); temos as aulas de Alastor Moody, excelentes e que nos preparam para o salto de amadurecimento que antes mencionei; entre outros enredos secundários que passaram por Hermione a tentar “salvar” elfos, antigos Devoradores da Morte, etc...
Devo ainda salientar que uma vez mais Rowling consegue reproduzir bastante bem as mentes dos adolescentes, e tal nota-se principalmente nas três personagens principais, nas suas discussões, reacções e nos seus momentos de alegria, mas uma vez mais percebemos lentamente que antes tínhamos mais momentos em que nos riamos, e agora ficamos apreensivos.
Rowling consegue com este livro prender qualquer leitor que ainda não fosse viciado nos três anteriores (também não deveriam ser muitos). Um livro que se lê de seguida, o elevar da qualidade em quase todos os parâmetros do livro, várias surpresas, e ainda uma mão cheia de pistas, dadas em cada página de forma brilhante, e que nós lemos, mas não vemos.
Os diálogos são fantásticos em algumas situações, e pelo menos uma vez roçam a perfeição, num dos capítulos do fim, onde muito acontece. Que grande capítulo, nem tanto pelo que acontece, mas pela forma como acontece e pela qualidade das palavras de uma certa personagem. Excelente!
Uma vez mais um livro imperdível. Quem comece a ler esta saga, tenha a idade que tiver, se quiser ter prazer a ler algo que o faça sentir bem, muito provavelmente não conseguirá parar de ler Harry Potter.

domingo, 27 de novembro de 2011

O EVANGELHO DO ENFORCADO


Autor: David Soares


Sinopse: Nuno Gonçalves, nascido com um dom quase sobrenatural para a pintura, desvia-se dos ensinamentos do mestre flamengo Jan Van Eyck quando perigosas obsessões tomam conta de si. Ao mesmo tempo, na sequência de uma cruzada falhada contra a cidade de Tânger, o Infante D. Henrique deixa para trás o seu irmão D. Fernando, um acto polémico que dividirá a nobreza e inspirará o regente D. Pedro a conceber uma obra única. E que melhor artista para a pintar que Nuno Gonçalves, estrela emergente no círculo artístico da corte? Mas o pintor louco tem outras intenções, e o quadro que sairá das suas mãos manchadas de sangue irá mudar o futuro de Portugal. Entretecendo História e fantasia, O Evangelho do Enforcado é um romance fantástico sobre a mais enigmática obra de arte portuguesa: os Painéis de São Vicente. É, também, um retrato pungente da cobiça pelo poder e da vida em Lisboa no final da Idade Média. Pleno de descrições vívidas como pinturas, torna-se numa viagem poderosa ao luminoso mundo da arte e aos tenebrosos abismos da alienação, servida por uma riquíssima galeria de personagens.


Com o livro Batalha a ser uma enorme surpresa pela sua qualidade (principalmente filosófica), li A Luz Miserável e confirmei o estilo de escrita de David Soares, a qualidade nas suas palavras. Agora faltava confirmar a capacidade de Soares em desenvolver boas historias... confirmado!
O livro Batalha tinha como grande trunfo o que nos transmitia, os diálogos e acções repletos de significado, as questões filosóficas que levantava. A Luz Miserável por seu lado mostrou-se como um livro de contos forte, com uma escrita que nos leva até ao momento singular em que o horror explode, e agradado com a leitura destes dois livros atirei-me a este “O Evangelho do Enforcado” e devo já dizer que Soares consegue com notável mestria, misturar ficção e História, algo que poucos conseguem fazer em Portugal.
Contando a história de Nuno Gonçalves, autor dos Painéis de São Vicente, vamos conhecendo esta personagem desde o seu nascimento até ao feito da sua enigmática obra, e se no início do livro não senti grande entusiasmo nestas páginas, foi sensivelmente a meio que comecei a agarrar-me à história que Soares criou. Com a sua escrita sempre forte, esta leitura mostrou-se mais rápida do que Batalha, sem todas as palavras quase desconhecidas da grande maioria dos leitores, mas devo assinalar que nunca faltou o significado de cada linha. Este é um dos grandes motivos pelos quais gosto deste autor: ele não escreve por escrever. Não escreve para vender ou para encher o livro. O que temos aqui é uma escrita cheia de significados, tanto nas detalhadas descrições como nos inteligentes diálogos, e se em Batalha éramos brindados com mensagens quase “educativas”, filosóficas; aqui vemos em cada linha a criação de personalidades, de movimentações de bastidores pelo poder do Reino e alimentar de medos. Tudo isto tendo como trunfo a força visual do que lemos enquanto somos brindados com os pensamentos das personagens, pensamentos esses que nos ajudam a perceber os motivos, principalmente de Nuno Gonçalves e do Infante D. Henrique, as duas grandes personagens deste livro e que o fazem avançar. E é com estes dois homens, personagens deveras cativantes, que avançamos nesta Lisboa que se viria a tornar no centro do mundo moderno.

O medo e a sede de poder são os grandes catalisadores da acção humana, levando-nos a praticar o impensável, a quebrar as barreiras da sanidade mental... este livro mostra-nos isso. Os jogos de poder estão muito bem encaixados nos factos históricos, e as personagens ganham qualidade com este facto, o que aliado a uma excelente investigação de Soares nos leva a “entrar” no mundo Medieval Português sem grande esforço. Lemos as suas superstições, essa crença que move uns, inspira outros e torna muitos ignorantes. O simbolismo também está presente, e novamente uma excelente investigação do autor, que nos dá uma escrita que não está presa a mitos históricos, a teorias ou a ideias populares que tentam definir personalidades de pessoas há muito mortas. Este não é um livro para nos contar a verdade, é um trabalho de ficção, que não serve para nos empolgar, para nos fazer sorrir ao sentirmos orgulho nos nossos antepassados... serve para pensar e muitas vezes chocar com o detalhe visual do autor. Resultado final: este livro tornou-se viciante e muito graças às duas personagens que antes mencionei. Nuno é uma personagem fascinante!

Biliões de pessoas já viveram e morreram. Caminharam este mundo, respiraram, sofreram, amaram, mas quantas atingiram a imortalidade? O que é realmente tornar-se imortal? Afinal o que vence a morte? Um acto? Uma criação? Pode um pintor imortalizar-se numa obra? Num bocado de madeira, numa tela... por vezes morremos, mas deixamos para trás algo que nem a própria morte consegue destruir.
No fim as últimas páginas são mais do que o terminar de uma história. São o pensar da mesma, dos seus significados, é a rampa para o que virá, com um encontro que eu não esperava... apenas mais um detalhe que nos mostra como David Soares mistura fantasia e realidade de forma magistral.

Olhando para o todo, este livro não tem para mim, a excelente qualidade de Batalha, mas é mesmo assim um bom livro, do melhor que já li do género. Do melhor que se faz no nosso país. Se gostam deste género literário, então este livro é mais do que recomendado! Se não gostarem de descrições fortes, tanto nas acções de algumas personagens como na visão que nos é dada de Lisboa enquanto sociedade, este livro pode não agradar a alguns leitores, mas tal como antes disse, Soares não escreveu este livro para vender, ele escreveu-o para ter qualidade e conseguiu-o! No top dos livros de Língua Portuguesa que li nos últimos anos, David Soares é realmente um dos grandes escritores do fantástico Português!
Deus é uma ideia.  Nada é tão ambíguo quanto uma ideia.

Aproveito ainda para realçar o texto escrito pelo autor nas páginas seguintes ao fim da história. Bastante interessantes, com o objectivo de explicar as motivações e a pesquisa do autor, e convidando-nos a lermos outras obras que tentam descobrir muitos dos factos que se misturam nesta história. Uma adição que ajuda a percebermos melhor onde está a linha que divide ficção e realidade.