sábado, 12 de novembro de 2011

Os Anos de Ouro da PULP FICTION Portuguesa

Autor : Vários autores

Organização e Introduções de Luís Filipe Silva


Um livro, treze contos:

O Segundo Sol
A Expedição dos mortos
A Ilha
Pena de Papagaio
O Sentinela e o Mistério da Aldeia dos Pescadores
Horror em Sangue de Cristo
O Inconsciente
A Noite do Sexo Fraco
Pirata por um dia
Valente
                                                               O Amaldiçoado de Ish-Tar
                                                              Noites Brancas
                                                              Mais do Mesmo!

Lançar um livro de contos na mesma altura em que é publicado o último livro de Saramago e de José Rodrigues dos Santos é um factor mais do que suficiente para a maioria das pessoas não olharem para este livro. Mas a realidade é que este livro deve ser olhado com atenção e eu aconselho. Sendo eu um apreciador da Pulp Fiction americana que marcou tantas gerações, fiquei espantado quando vi este livro no site da editora, principalmente por nunca ter ponderado que houvesse muito a dizer sobre este assunto.
Confesso que sou um ignorante em relação ao que se fez de Pulp Fiction em Portugal, e como tal nunca poderei argumentar com o que a capa do livro anuncia: os melhores contos do séc. XX, mas também não é essa a questão essencial. O que é importante para quem lê, e tal como eu não conhece, é que estes contos são realmente bons, acabando com a ideia que tinha de não existir grande qualidade neste género em Portugal.
Falando resumidamente da estrutura do livro, temos treze contos independentes, de autores distintos. Antes de cada conto, Luís Filipe Silva dá-nos uma introdução falando um pouco do autor explicando o seu percurso, quer na vida privada quer profissional. Estas introduções, que a princípio podem parecer algo aborrecidas, acabam por ser bastante esclarecedoras e no fim percebemos que existiu, não só uma enorme dificuldade em ter êxito ao início, mas também  uma variedade de acontecimentos, motivadas pelos mais variados interesses (desde dinheiro ou espionagem) que ajudaram no desenvolvimento deste género literário e também à sua destruição no nosso país. Agora com o livro acabado digo-vos que há várias perguntas sobre estes autores que gostaria de saber a resposta. Certamente muito se perdeu na História deste país, muito sem grande interesse, mas aqui permanece a sensação que este livro ganha claramente com estes textos introdutórios. De louvar o trabalho de organização e pesquisa necessários para se criar um livro que certamente não dará à partida grande garantia de vendas.

Em relação aos contos, este livro mostra-nos um Portugal alternativo, todos eles com temáticas diferentes, abrangendo os gostos da maioria dos leitores, e como tal, não existindo um conto que seja verdadeiramente uma obra-prima, a verdade é que enquanto conjunto, estes contos funcionam na perfeição. Temos histórias de cowboys, expedições ao estilo de Indiana Jones, piratas, contos de terror, espionagem, um conto de pura ficção-científica, entre outros.
Sendo contos rápidos, sem grandes descrições, conhecimento profundo das personagens e com uma escrita acessível, basta-nos absorver toda a acção disponível e lermos todas as surpresas e reviravoltas presentes em cada texto.
Claro que houve textos que gostei mais do que outros. Dos treze há dois que não me agradaram significativamente (apesar de notar a sua qualidade dentro do género), mas também há três textos que adorei de uma forma que não esperava: A Ilha (onde temos uma visão da Ilha da Madeira que me deixou de boca aberta), Noites Brancas (sinceramente dos melhores contos de Terror que alguma vez li) e Mais do Mesmo! (um conto de João Barreiros, o único com uma escrita mais descritiva, mais lenta, mas com um resultado final impressionante e que não fica atrás de grandes livros de Ficção-Científica de um grande autor internacional), o melhor conto deste livro. Mas todos eles têm algo em comum, são viciantes, directos à intriga que move a história, e conseguem sem dúvida alcançar o objectivo dos contos: divertir.
As particularidades são muitas, o conto O Inconsciente é de uma qualidade fora do comum, apesar de ter um final algo previsível; O Amaldiçoado de Ish-Tar é viciante do início ao fim e tive de o ler de uma só vez, e por fim o conto A Noite do Sexo Fraco que apresenta uma característica única: trata-se da versão integral do conto, ainda censurada/riscada pelo lápis azul da censura. Um detalhe que torna este livro ainda melhor (também graças à ajuda dos comentários de rodapé explicando o porquê da mesma censura)!  

Resumindo, muitas pessoas não apreciam contos porque nunca chegam a conhecer as personagens verdadeiramente, e porque quando começam a sentir uma proximidade com as mesmas, o conto acaba. Este livro não foge a essa regra, a verdade é que não há tempo/páginas para conhecer verdadeiramente uma personagem, o seu passado, traumas, gostos, ou para imaginarmos locais belos e bem construídos. Não, este livro é um conjunto de contos de ritmo acelerado, merecedores de estarem nesta colecção. É um trabalho de louvar de Luís Filipe Silva por nos dar a conhecer um pouco mais daquilo que a História apagou, dando-nos a hipótese de ler algo que possivelmente nunca conseguiríamos alcançar de outra forma, a menos que fizéssemos o mesmo trabalho de investigação.
Não se trata de ser um grande livro que nos marque como outros, com um enredo fabuloso, não é! Trata-se  de um livro de contos, de uma obra de coleccionador, com um valor que será inestimável para quem queira saber um pouco mais da própria história da literatura portuguesa, ter algo inédito nas suas prateleiras. Mais do que a qualidade, é o valor que este livro tem que realmente conta.

12 comentários:

  1. Mais uma excelente opinião. Grande mas esclarecedora. Obrigado

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  2. Fiquei interessado neste livro. Parece-me uma iniciativa muito boa.

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  3. Não conhecia o livro. à primeira vista tem tudo para ser a obra de colecionador de que fala. Irei dar uma vista de olhos ao livro e uma boa opinião da sua parte.

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  4. Obrigado pela divulgação deste livro. Um livro diferente certamente. Agora depois desta opinião basta apenas lê-lo. Ire comprá-lo no fórum Fantástico.

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  5. Excelente texto. Este livro não faz o meu estilo mas percebo essa qualidade de que falas. Talvez compre para o meu pai recordar tempos!

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  6. Fiquei muito interessada. Não conhecia o livro, mas também eu antigamente lia algumas dessas revistas dos meus pais.

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  7. também não conhecia este livro. é certamente do mais interessante que apareceu este ano. boa divulgação!

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  8. Cada vez mais interessado neste livro. Excelente opinião. É provável que compre. Continue e fale mais deste tipo de livros.

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  9. Só uma correcção: os contos não são antigos! O LFS conseguiu de facto criar um "passado imaginário" onde Portugal tinha uma tradição pulp, mas a verdade é que os contos foram escolhidos por concurso http://www.saidadeemergencia.com/index.php?page=Articles.ArticleView&article_id=394 e depois foram escolhidos os melhores ;)

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    1. Olá Adeselna! Obrigado pela tua visita!

      Realmente e como dizes. O Luís Silva não juntou realmente estes textos "do nosso passado", criou antes esse passado e adicionou-lhes os contos vencedores. Infelizmente quando escrevi a minha opinião não sabia de tal facto. Apenas na apresentação do livro me disseram a verdade. E se assim o livro poderá perder algum "valor nostálgico", também ganha no enorme trabalho de grafismo presente no livro.
      E também devemos realçar a oportunidade que a editora deu a estes desconhecidos autores que com estes contos tiveram oportunidade de ver o seu trabalho publicado.

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  10. Bom, com o meu nome verdadeiro chapado no início do conto, ninguém, mas ninguém poderia dizer que eu era um autor do tempo dos Pulp...aaaah...pera aí! Serei imortal? Ou pelo menos o mais velho autor vivo do género, aí com cento e vinte anos?

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    1. Olá João Barreiros. Se tiver 120 anos, então está muito bem conservado!

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