quarta-feira, 27 de julho de 2011

A TORMENTA DE ESPADAS

Autor: George R. R. Martin

Título original: A Storm of Swords

Quando comecei este 5º livro da saga do momento, tive algum receio que novamente Martin baixasse o ritmo do livro (tal como fizera no 3º livro) para alargar o leque de personagens de Westeros. Tal não acontece e é este, para mim, o primeiro grande trunfo deste livro. Com um excelente final do anterior, desejava que o ritmo se mantivesse e tal aconteceu porque não existiu nada para acrescentar. Martin pega no que já conhecemos e desenvolve a história com mestria, eu fui levado pelos acontecimentos e não posso protestar. Digo-vos já que é um grande livro!
Este livro pode não ter as revelações de outros, ou os momentos mais sangrentos ou de suspense  que nos “prendem a respiração”, mas é, na minha opinião, o melhor livro da saga até aqui, por um simples facto: é o mais consistente. Pode parecer demasiado grande quando o temos na mão, mas as suas linhas são realmente necessárias para o desenrolar da história.
Outro factor de realçar é o quanto este livro nos afasta de algumas personagens para nos aproximar de outras. Catelyn, por exemplo, perde algum fulgor dos livros anteriores tal como acontece com Tyrion, mas a adição dos capítulos de Jaime são fabulosos e para mim o maior trunfo deste livro em particular.
Jaime apresenta-se no desenrolar deste livro, como algo mais do que aquela personagem desagradável de livros anteriores (não estou a querer dizer que agora já não é desagradável enquanto pessoa, mas ao conhecê-la mais profundamente ganhamos uma noção do porquê das suas acções, os seus motivos e as suas lutas interiores). Na minha opinião é uma personagem muito bem conseguida.
Não querendo falar mais das personagens (era obrigatório falar de Jaime), devo dizer que existem alguns momentos que nos prendem realmente (por um ou outro motivo) e outros onde faço a vénia a Martin por ter feito aquilo que não era esperado e também por arriscar no desenrolar dos acontecimentos. Martin tem essencialmente uma escrita imprevisível que torna tudo mais realista e que nos agarra por desconhecermos totalmente o que está para vir. Aliás, há muito que deixei de tentar adivinhar o que aconteceria no capítulo seguinte, pois na grande maioria, Martin parece fugir sempre aos clichés dos romances de fantasia.
Esta imprevisibilidade de que falo é um dos factores que me faz continuar a ler esta saga, o outro factor são as personagens. Estas são personagens das quais realmente gostamos e nos preocupamos, algo que já não sentia desde que li o Harry Potter quando era puto. As personagens são o que faz esta saga essencial se a olharmos como um todo. Gostamos de umas, odiamos outras, mas essencialmente já só queremos saber o final que cada uma terá (e tal fim poderá chegar mais cedo para umas do que para outras, e uma vez mais Martin irá surpreender). Esta saga tem, e sobre isto não tenho a menor dúvida, o melhor conjunto de personagens de todos os livros que já li.
Com um leque tão grande de personagens é óbvio que esta saga ainda tem muito para dar e mesmo muitas páginas até chegarmos ao fim, mas para já sinto que Martin tem sempre aumentado a qualidade. Não me vou alongar muito mais, esperarei pelo fim do 6º livro para dar uma opinião mais pormenorizada. Conseguirá Martin manter a qualidade e o nível de detalhe nas intrigas, movimentações e motivos das dezenas de personagens nesta história?
Vou já ler o próximo livro porque realmente é difícil parar e o Inverno está a chegar.

terça-feira, 19 de julho de 2011

O MAGO - Mestre

Autor: Raymond E. Feist

Título original: Magician: Master

Assim que acabei o primeiro livro, agarrei este de imediato com enorme interesse no destino de algumas personagens. Feist não desiludiu, aliás, superou claramente a qualidade do primeiro. E porque é que tal acontece? 
Primeiro falemos sobre Pug. Os seus capítulos estão muito bem construídos, quer pelo mundo que o rodeia, quer pela sua personalidade que nos mostra uma nova maturidade, e tal reflecte-se em diálogos bem criados. Este é o primeiro ponto vencedor deste livro. Outra personagem que me agradou bastante no primeiro livro foi Tomás, e neste segundo livro a sua personalidade cativou-me ainda mais, essencialmente pela sua própria luta interna que achei realmente interessante. A sua ligação ao passado foi algo que me pareceu uma ideia muito bem conseguida pelo autor e um dos pontos mais altos deste livro.
Feist consegue, com estas duas personagens, ligar dois mundos paralelos e ainda mostrar-nos o passado quando outros Reis governavam. Uma outra personagem que me ajudou a ficar mais “agarrado” ao livro foi Macros. Com aparições discretas, esta personagem, da qual Feist quase nada revela, pareceu-me demasiado importante na história para ter direito a tão poucas linhas e confesso que o desejo de saber mais sobre este mago é o que me faz querer ler o resto da saga. Numa história coerente como esta, Macros terá de ser algo mais do que aquilo que podemos ler neste livro.
Em relação à história, está na minha opinião bem conseguida e uma vez mais preciso afirmar que tanto a evolução de Pug como de Tomás está muito boa. Contudo no fim esperava algo que me marcasse mais, tal não aconteceu mas deixa a ideia que algum do vazio que senti poderia ser preenchido com os próximos livros. Apesar disso, devo ser justo e concordar que sendo o livro tão agradável de ler, talvez tenha elevado as expectativas em relação ao fim.
Realço ainda o mundo de Kelewan, que neste livro se revela não só em cultura e tradições como também no seu próprio passado para nos revelar a evolução da magia que Feist introduz na sua história. Este mundo apresenta-se como uma mistura de várias civilizações nossas conhecidas, como romanos, gregos e ainda culturas africanas. Esta mistura pode parecer algo estranha, mas funciona por não ser excessivamente igual a nenhuma das que referi. É realmente um mundo muito bem conseguido, com personagens sólidas que nos ajudam a perceber este mundo, tradições e preconceitos. Das melhores culturas que já li, infelizmente no fim deseja-se mais páginas de Kelewan mas a história não nos leva nesse sentido.
Resumindo, este é realmente um livro que deve ser lido por um apreciador do género. Não será certamente o melhor livro de fantasia que me passou pelas mãos, depois de ler O Senhor dos Anéis tal tornou-se quase impossível, mas preenche facilmente os requisitos para ser um livro do qual se adore e principalmente que nos vicia muito. Fico à espera dos próximos capítulos na esperança que me possa revelar um pouco mais de personagens com Macros ou Pug. Recomendo-o e certamente quem o ler retirará prazer das suas páginas. Obrigatório!

segunda-feira, 18 de julho de 2011

O MAGO - Aprendiz

Autor: Raymond E. Feist

Título original: Magician: Apprentice

Há muitos anos que ouvia falar deste livro mas apenas o ano passado uma editora portuguesa o trouxe para o mercado nacional. A questão é, terá a fantasia tão pouco mercado no nosso país para ninguém apostar num livro que é dos mais adorados pelo público que lê este género? Agradeço desde já à editora!
Li este livro em poucos dias e confesso que a sua escrita e história tornam-no bastante viciante. Feist oferece-nos um livro com uma escrita fácil e que nos empurra a continuar, sem sentirmos o cansaço pelas exaustivas descrições que por vezes matam os livros de fantasia. E este é o primeiro ponto favorável deste livro. O segundo ponto que devemos analisar é o conjunto de personagens, e aqui Feist não deslumbra na complexidade mas consegue o suficiente para nos agarrar ao livro graças a personagens com que nos identificamos e preocupamos. 
Pug, personagem principal, cativou-me desde o primeiro momento e nunca me desiludiu. O mesmo posso afirmar de outras personagens como Kulgan ou Tomás. Contudo penso que outras menos importantes são mais lineares, quase previsíveis. Achei que tal fosse um ponto negativo no livro mas mais tarde apercebi-me que Feist nunca teve como objectivo criar um mundo excessivamente extenso em relação a personagens, e a realidade era que eu tinha partido do pressuposto que tal aconteceria. Havia uma parte de mim que mal pegara no livro o comparava a O Senhor dos Anéis, e a introdução de Elfos e Anões ajudou a  tais comparações. O terceiro ponto é o mundo em si, e aqui Feist é banal por um lado e genial por outro. Passo a explicar: o mundo de Midkemia não traz nada de novo à fantasia (para quem leia agora o livro e não quando ele foi publicado), mas o mundo de Kelewan foi, na minha opinião, incrivelmente bem conseguido, quer pela sua cultura, povo ou simplesmente pelas dúvidas que pairam no ar a cada capítulo. Contudo este mundo terá muito maior interesse no próximo livro e por isso não me vou alongar para já.
Devo também deixar bem claro que este é um livro que se enquadra entre O Senhor dos Anéis e As Crónicas de Gelo e Fogo em dois aspectos: o primeiro é na linha que separa o bem e o mal. Na obra de Tolkien essa linha é bem visível e raramente uma personagem muda de lado, na saga de George Martin essa linha quase não existe. Este livro está no meio termo. O segundo aspecto é na brutalidade. Tolkien nunca descreveu a violência com grande importância para o desenvolver da história, ao contrário de Martin que nos apresenta um detalhe cruel e real. Uma vez mais Feist está no meio.  
Posto isto, o que faz este livro ser tão adorado? Fácil, é o todo. Sem brilhar em nenhum parâmetro em especial neste primeiro livro, Feist dá-nos boas personagens, de quem gostei de imediato, revela-nos uma forma de magia pouco usada em fantasia e apresenta-nos dois mundos distintos, com culturas ricas. Este livro não é uma fantasia infantil, como nos primeiro livros de Harry Potter, e também não está no extremo da maturidade complexa de George Martin. Talvez por ser um livro tão equilibrado seja tão aclamado desde que foi publicado em 1982.
Falarei do segundo livro desta saga nos próximos dias, onde irei abordar outros aspectos desta história e algumas personagens e suas decisões. Mas para já deixem-me dizer que este livro, pelo que nos oferece é imprescindível a um jovem adepto de fantasia e será especialmente gratificante para quem esteja a iniciar-se neste género literário. Se gostas de fantasia, não o percas.

Sinopse: Na fronteira do Reino das Ilhas, existe uma cidade tranquila chamada Crydee. Nessa cidade, vive um rapaz órfão de nome Pug. Trabalhando nas lides do castelo que o acolheu, ele sonha com o dia em que se tornará um guerreiro valoroso ao serviço do rei. Mas o destino troca-lhe as voltas e o franzino Pug acaba por tornar-se aprendiz do misterioso Mago Kulgan. Nesse dia, o destino de dois mundos altera-se para todo o sempre. Subitamente a paz do reino é esmagada, sem piedade, por misteriosas criaturas que devastam cidade após cidade. Quando o mundo parece desabar a seus pés, Pug percebe que apenas ele poderá mudar o rumo dos acontecimentos, penetrar as barreiras do espaço e do tempo, e dominar os poderes de uma nova e estranha magia... Esta é uma viagem por reinos distantes e ilhas misteriosas, onde irá conhecer povos e culturas exóticas, aprender a amar e descobrir o verdadeiro valor da amizade. Mas, no seu caminho, terá de enfrentar tenebrosos perigos e derrotar os inimigos mais cruéis.

sábado, 16 de julho de 2011

O CLUBE DE DANTE

Autor: Matthew Pearl

Título original: The Dante Club

Pouco depois de ler A Divina Comédia de Dante deparei-me com este livro e de imediato fiquei com um certo interesse. A história poderia ter-me passado ao lado se não fosse a ligação ao livro de Dante, que gostei tanto, e decidi dar uma olhadela. Li a sua sinopse para me aperceber que se tratava de um serial-killer que mata as suas vítimas tendo como base os castigos do Inferno de Dante. A ideia base era tentadora apesar de imediatamente me lembrar o filme Sete Pecados Mortais.
Contudo o meu interesse despertou ao mesmo tempo que a dúvida. Ter o nome Dante na capa podia chamar a atenção, mas não me garantia um bom livro. Afinal de contas eu também poderia fazer um livro, meter o nome de alguém tão famoso como Dante e talvez até conseguisse vender. Seria este o caso de algo bom ou uma grande desilusão?
No início Pearl mostra uma boa introdução e descreve bem, a meu ver, a sociedade daquela época, dando ao livro um bom ambiente histórico para percebermos onde se enquadra a história. Foi assim mais fácil percebermos os preconceitos e preocupações que se mostrariam mais à frente na história, quer sobre o livro e sua publicação, quer sobre a série de mortes que para o povo daquela época não tem qualquer ligação com o livro do qual nunca ouviram falar.
Com um elevado conhecimento do Inferno de Dante, Pearl cria vários assassinatos interessantes e que nos prendem ao livro até ao fim. O início do livro é realmente muito bom e rapidamente percebemos como Pearl tem uma escrita gráfica, dando-nos pormenores macabros que alguns leitores poderão não gostar, mas penso que neste tipo de livros tais descrições são bem-vindas.
As personagens históricas estão bem delineadas e nada revelarei sobre elas. Já em relação ao Lucifer (é assim que chamam ao serial-killer) confesso que esperava mais. Talvez o fantasma de outros serial-killers como Hannibal ou John Doe me tenham levado a elevar as expectativas.
Interessante ainda o adicionar de um secreto esquema para impedir o trabalho das personagens principais e acabamos com um livro cheio de mortes e intrigas, com um ritmo apetecível. Gostei sinceramente que o livro não fosse exclusivamente sobre uma caça ao homem, mas que houvesse toda uma sociedade à sua volta para lhe dar uma maior base.
O Clube de Dante não se mostra como uma obra-prima mas também não desilude e irá agradar às pessoas que apreciem o género, mas será certamente um livro que dará mais prazer a quem tenha lido A Divina Comédia. Eu certamente voltarei a ler este livro. 

quarta-feira, 13 de julho de 2011

A DIVINA COMÉDIA

Autor: Dante Alighieri

Título original: Divina Commedia

Muitos devem ter ouvido falar deste livro, mas quantos o leram? Poucos certamente. Este livro, com mais de 400 páginas de poesia, não é um livro fácil de ler e quem não estiver previamente interessado no tema certamente que o colocará na prateleira sem o acabar. No meu caso a leitura foi por vezes algo cansativa (por ser lenta), outras vezes foi sublime. No fim a sensação é que lemos um grande livro. Uma verdadeira peça de arte que será seguramente imortal.
Já várias pessoas me perguntaram porque não dava nota aos livros. A razão é que seguramente dentro de algum tempo acabaria por não ser justo com a nota de um livro quando comprado com outro que tenha lido um ano antes. Mas uma coisa é certa, este livro de Dante teria sempre a nota máxima.
Incrivelmente bem construído, com uma imaginação fabulosa, Dante criou algo que ficará para a história e eu nunca o esquecei. Confesso que por vezes me perdi no significado das suas palavras e provavelmente haverá outras que pensei perceber e talvez não o tenha feito realmente. Não sou nem de longe um especialista na literatura da época e olhando o facto de ser este o único livro de poesia que alguma vez li, também me é difícil perceber até que ponto se enquadra ou não num ou noutro estilo de poesia. Mas para mim a nota só pode ser positiva.
A imaginação de Dante ao descrever-nos o Inferno, Purgatório e Paraíso é de assinalar. Mesmo sendo difícil perceber a sua poesia na totalidade, as imagens criavam-se na minha mente a cada palavra. Para quem não conheça o livro (falarei um pouco sobre a história para melhor conhecimento daqueles que não se atrevam no futuro a lê-lo), Dante é a personagem principal que percorre (acompanhado por Virgílio, autor da Eneida) os vários níveis onde se passa esta história. Juntos entram no Inferno na esperança de encontrar Beatriz, a falecida amada de Dante. A discrição do Inferno é excelente. Adorei-a, com os seus nove níveis, tendo em cada, um ou mais tipos de pecadores e castigos adequados. Porem é à entrada que Dante dá o seu primeiro golpe de génio, pois no portão do Inferno pode ler-se “Deixai toda a esperança, vós que entrais”. Adorei este toque e é sem esperança que entramos no local onde os pecadores serão castigados até ao fim dos tempos. Outro descrição que adorei é sobre o último nível do Inferno, onde se encontram os traidores, como Judas que é lentamente comido por Lúcifer. O último nível é frio, sem fogo, ao contrário de todos os outros. Tal mudança foi algo que nunca me passaria pela cabeça, e gostei.  
De seguida segue-se o Purgatório e no fim temos o Paraíso. Li  o Purgatório quase sem parar, pois é ai que nos é descrito os Sete Pecados Mortais (ou capitais), e foi este o tema que me levou a ler o livro. Uma vez mais a imaginação de Dante deixou-me de boca aberta.
A história acaba de forma feliz, daí o nome “Comédia” e não “Tragédia”. Dante encontra a sua amada Beatriz pouco depois de perder a companhia de Virgílio, pois este não pode entrar no Paraíso. O fim não o revelarei mas uma vez mais adorei.
Este livro foi uma leitura muito lenta. Tentei ao máximo perceber o significado das palavras, tentei perceber o simbolismo e ainda conhecer todas as personagens históricas que Dante vai encontrando pelo caminho, até descobri que uma personagem era portuguesa, mas terei mesmo percebido metade sequer do que Dante escreveu nas suas linhas? A leitura do Inferno e do Purgatório foi  mais apelativa, e admito que no Paraíso foi mais difícil continuar a leitura em bom ritmo. Devo revelar ainda como fiquei surpreso ao perceber como Dante era contra a igreja, apesar de um homem de enorme fé, são bastantes as críticas a Papas, alguns são falados no Inferno, pelo menos um chega mesmo a ser visto enquanto é castigado (que me lembre, talvez apareçam mais).
Este é um livro cheio de simbolismo. Poderia ficar aqui horas a falar sobre como Dante desenhou todo o Universo, em círculos, desde o Inferno até ao imaterial último círculo do Paraíso. Poderia ainda falar da crítica à Igreja, ou de como Dante via pecados que actualmente já não são pecados. Poderia especular como Dante escreveria hoje este livro agora que evoluímos tanto em conhecimento do nosso Universo e quando certos pecados são vistos diariamente e ninguém liga, porque são banais. Poderia falar do simbolismo atribuído a algumas personagens, como Virgílio, Beatriz ou Dante. No entanto tenho de acabar de escrever, e nada melhor do que dizer que este é um livro que considero imortal. Eu, os meus filhos e os meus netos morrerão e este livro ainda será uma obra-prima. Um marco na literatura, um livro rico e difícil de ler e que por vezes não nos dá grande prazer, mas eu pelo menos não consegui parar.
Uma última nota para agradecer todas as notas de rodapé incluídas no livro e que muito jeito dão para percebermos as palavras de Dante. Sem tais notas seria muito difícil perceber o que depois se torna tão óbvio.

segunda-feira, 11 de julho de 2011

O PRESTÍGIO

Autor: Christopher Priest

Título original: The Prestige

Quando em 2006 vi a adaptação deste livro para o cinema (com o nome de O Terceiro Passo) fiquei de boca aberta. Era na minha opinião indiscutivelmente um dos melhores filmes de sempre, com uma história que me fez sentir cego por não a ter percebido até me ser revelada no fim. Contudo, nem o livro nem o filme tiveram grande aceitação em Portugal, mas porquê? Estaria eu a enaltecer um filme que não seria assim tão bom? Mostrei-o a todos os meus amigos, a opinião foi unânime. Um dos melhores filmes de sempre. Foi apenas uma questão de tempo até ter o livro...
Hoje tenho na minha estante a edição de coleccionador assinada pelo autor, que pode ser adquirida no site da editora Saída de Emergência. Li-o sem conseguir parar e com a plena consciência de que a expectativa poderia ser demasiado elevada. Poderia tal facto estragar-me o prazer desta leitura? Não… porque neste caso quem viu o filme não sabe a verdadeira história do livro. Aliás, apesar da base ser a mesma, a história de livro e filme diferem o suficiente para ser obrigatório vermos e lermos a história destes dois mágicos.
O livro revela-nos a história com a leitura de dois diários, de dois mágicos que aumentam sucessivamente a rivalidade entre eles. Há um desejo impossível de travar pelo desvendar do truque do rival até se tornarem inimigos.
O diário de Alfred Borden é o primeiro que lemos. Agora quando acabamos o livro é que percebemos como está bem escrito, como nos ilude nuns momentos e se revela em outros. Alfred é o mágico por excelência, o que percebe o que é a magia, o que sacrifica para a concretizar. A sua mente é dividida, perturbada, criando uma personagem fascinante e que nos obriga a virar até à próxima página. O segundo diário pertence a Rupert Angier e com o seu ponto de vista completará o que ficou por dizer no diário anterior. Mais nada revelarei para não estragar surpresas, mas aconselho-vos, no fim do livro, a pensar sobre a vida e sacrifício destas personagens e que o autor não nos revela directamente.
Este é um livro de obsessões e segredos que põem em causa a própria humanidade das personagens e nós como em qualquer truque de magia, somos enganados e tal facto dá-nos prazer pela curiosidade que nos oferece. Um truque apenas nos dá prazer de ver se não percebermos. O  segredo é tudo. 
Este livro, vencedor de inúmeros prémios internacionais e considerado a grande obra-prima deste autor, é um verdadeiro truque de magia. Mostra-se um livro banal, normal, depois, tal como qualquer mágico faria, desvia-nos a atenção e nós obviamente não percebemos, e vemos não o que está a acontecer, mas apenas o que na realidade não interessa. No fim o autor, revela-nos que nos enganou e eu senti-me maravilhado.
Poderia estar um dia inteiro a falar deste livro, poderia passar ainda mais tempo a falar da personagem Alfred Borden, que me maravilhou e gostaria que fosse ainda mais revelada no livro. O autor deixou-me esse vazio de querer saber mais e na segunda leitura do livro preenchemos essa falta de conhecimento e vemos o que antes faltava. Fabuloso.
Não seriam suficientes os elogios a este livro, e apenas me pergunto como pôde ter passado despercebido aos olhos dos leitores portugueses. Este é daqueles livros que me deixou satisfeito quando o fechei. É dos melhores que já li pela ideia do autor, pela forma de escrita que difere de um diário para o outro, aproximando-nos da personagem, e fundamentalmente pelo que me enganou. Recomendo-o avidamente a qualquer um, quer goste de magia ou não. 
Perturbador, cheio de segredos… fabuloso. Um truque de magia passado para o papel.

Deixo-vos aqui a sinopse retirada do site da editora:
O Prestígio é uma história de segredos obsessivos e curiosidades insaciáveis. Actuando nas luxuosas salas de espectáculos vitorianas, dois jovens mágicos entram num feudo amargo e cruel, cujos efeitos podem ser ainda sentidos pelas respectivas famílias mais de um século depois.
Os dois homens assombram a vida um do outro, levados ao extremo pelo mistério de uma espantosa ilusão que ambos fazem em palco. O segredo da magia é simples, mas para os antagonistas o verdadeiro mistério é outro, pois ambos os homens têm mais a esconder do que apenas os truques da sua ilusão.

sexta-feira, 8 de julho de 2011

EXPIAÇÃO

Autor: Ian McEwan

Título original: Atonement

Se há época que me interesse particularmente é a Segunda Guerra Mundial. Costumo ler e ver tudo sobre esse momento da História e portanto seria apenas uma questão de tempo até ler este livro. 
O único que até hoje li deste autor, fala-nos de uma rapariga que desejava ser escritora e na sua infância vê, ou julga ver, algo que mudará a vida de outras pessoas a partir do momento em que as revelar.
Tentando revelar o mínimo possível da história, devo dizer que o autor leva-nos de seguida para a defesa de França contra a Alemanha Nazi. As descrições são boas, os diálogos interessantes mas não é pelo “tema” da Segunda Guerra Mundial que este livro se eleva acima de outros. McEwan, de quem não conhecia realmente nada, revela-se como um excelente escritor ao mostrar-nos o interior de cada personagem, mais do que pelas descrições ou diálogos que cria. Fiquei realmente surpreso pela sua capacidade de aos poucos nos revelar um pouco mais de cada personagem.
Mas, para mim, e isto é claramente um gosto pessoal, a história é o que mais interessa. E nesse aspecto este livro mostrou-se algo banal durante a sua grande maioria e confesso que por algumas vezes pensei que estava apenas a ler mais um livro sobre uma história de amor impossível… mas então porque teria a revista Time considerado este livro como um dos melhores 100 romances de sempre?
Continuei a minha leitura sem nunca sentir aquele entusiasmo que outros grandes livros me deram. Há realmente bons momentos, a chegada à praia pelos soldados ingleses para serem resgatados, ou a conversa entre uma enfermeira e um Francês à beira da morte… mas não conseguia ver este livro como obra-prima… até chegar ao fim.
Como estava enganado. McEwan, com um final verdadeiramente assombroso, criou um livro que perdurará como um dos melhores de sempre e duvido que algum dia consiga repetir tal sucesso. É aliás, a ideia de como acaba o livro, que associada à sua escrita muito investigadora da mente humana, que torna este livro obrigatório. É um livro que pelo seu final marca qualquer um, ao ponto de lermos novamente o livro só para nos sentirmos mais angustiados agora que sabemos o que está par vir, e confesso que a segunda leitura que fiz foi bem mais entusiasmante do que a primeira.
O que é a angústia? O remorso? Haverá sentimento mais corrosivo do que o remorso? Que sentimento é esse que nos impede de ser feliz, de aproveitarmos a felicidade que nos aparece porque no interior sabemos que não somos merecedores? Este é um livro sobre este sentimento. Até onde nos poderá levar essa dor? A esquecermos o que nos envergonha? A imaginarmos ser castigados pelo que fizemos? Proibimo-nos a nós próprios de sermos felizes enquanto esse sentimento perdure?
McEwan escreveu um livro que nunca esquecerei, que a alguns não dirá nada, mas que a mim me marcou muitíssimo por ser tão diferente de tudo o que li enquanto nos levanta indirectamente várias questões de até onde pode ir uma mente destroçada e enojada consigo mesma. Qual de nós nunca sentiu remorsos por algo que disse ou fez? Ou até que apenas pensou?
Talvez se os remorsos realmente matassem, nós estivéssemos todos mortos…

terça-feira, 5 de julho de 2011

A GUERRA DOS MUNDOS

Autor: H. G. Wells

Título original: The War of the Worlds

H. G. Wells será seguramente o pai da ficção-científica moderna juntamente com Júlio Verne. Autor de romances de relevo como este, ou A Máquina do Tempo e A Ilha do Dr. Moreau, entre outros, Wells marca o início de uma nova época neste género literário.
Este livro relata, pela voz de um narrador sem nome, a invasão marciana ao nosso planeta Terra. Tendo em conta que este livro foi publicado em 1898, foi um dos primeiros livros a falar sobre este tema que actualmente está tão farto de ser usado. Devemos aliás, ler este livro sobre esta perspectiva, de estarmos a ler algo escrito muito antes das grandes descobertas dos últimos anos, num tempo em que muitas coisas que eram dadas como garantidas foram apagadas, dando origem a novas descobertas e razões.
Falando um pouco sobre o livro devo começar por pensar sobre este narrador sem nome. Este homem sem nome escreve-nos de forma apelativa e  de fácil leitura, descrevendo medos e pensamentos, nunca sendo brilhante, nunca sendo enfadonho. A personagem é tão real, pela imperfeição e banalidade que tem, que demorei pouco tempo a perceber o porquê de não ter nome. É porque os seus olhos poderiam ser os nossos e quando lemos as suas palavras imaginamo-nos naquela situação. Nós vivemos o livro na primeira pessoa. De salientar ainda a sua escrita quase jornalística que se torna ainda mais viciante ao dar-nos noções de ciência, filosofia, política, (daquela época) entre outros.
Num livro pequeno e com mais de um século, li as suas páginas e quase que parecia um livro actual pelas questões que levanta. O que poderemos nós esperar de uma civilização tecnologicamente avançada o suficiente para nos visitar? Vamos esperar ser amigos? Faríamos nós o mesmo se estivéssemos a chegar a um novo planeta habitável? Neste caso os Marcianos estão cá para nos matar quando precisarem de comer, apenas isso, e rapidamente nos é dado a entender que serviremos de comida, e como tal poderemos ficar vivos enquanto os Marcianos não têm fome. Nós, Terrestres, estamos com medo, raivosos, desejamos retaliar, matá-los, porque este planeta é nosso, somos os seus senhores!… agora pensem, não estará Wells a mostrar-nos indirectamente o que os animais poderiam pensar de nós? Nós humanos somos impiedosos para com os outros seres vivos por sermos superiores, a mensagem no livro é bem explícita, Wells apenas nos colocou do outro lado da equação. Existirá sempre a necessidade de sobrevivência em cada ser.
Não irei revelar nada da história, mas queria salientar que o final, se olharmos para a data de publicação do livro, é verdadeiramente fabuloso. Aliás, todo o livro desenvolve um enorme conjunto de ideias que para a altura eram inovadoras, dando ao livro o toque de génio que o faz ainda hoje ser lido, relido e inúmeras vezes adaptado para tudo e mais alguma coisa.
De recordar ainda que se trata do livro que Orson Wells leu no seu programa de rádio, levando milhares de americanos a acreditar que realmente os Marcianos tinham chegado à Terra. O acontecimento ficaria para a História.
Resumindo, este livro é obrigatório para qualquer adepto do género. Uma verdadeira obra-prima com mais de um século, uma história envolvente, boa narração e com uma criatividade genial. A não perder.  

segunda-feira, 4 de julho de 2011

DRAGÃO VERMELHO

Autor: Thomas Harris

Título original: Red Dragon

Quando comecei a ler este livro já a personagem Hannibal Lecter era mundialmente famosa, não só pelos livros que foram publicados antes de eu nascer, como também graças aos filmes, principalmente com o sucesso de O Silêncio dos Inocentes. Li-o antes de ver qualquer um dos filmes e portanto não sabia o que esperar desta personagem.
Dragão Vermelho é o primeiro livro da saga de Hannibal, contudo preparem-se para quase não terem qualquer vislumbre  do Cannibal. Lecter aparece umas três vezes no livro, apesar de ser imensamente mencionado por outras personagens e de graças a ele o ritmo da acção aumentar durante partes da história. Este livro é na realidade sobre Will Graham, homem do FBI que capturou Lecter anos antes e que quase morreu para o conseguir.
Não revelando o essencial da história, devo dizer que Will volta ao activo para ajudar a prender a Fada dos Dentes, um serial-killer que aparecera nos últimos dois meses e já matara duas famílias. Will demonstra uma capacidade rara de assumir o ponto de vista de outras pessoas, principalmente daquelas que o assustam e isso ajuda-o a perceber não só o método mas também o porquê de tais massacres. Este livro é no meu entender verdadeiramente interessante por vermos o que capturar Lecter fez à mente de Will, o medo que sente sempre que o vê, o respeito misturado com repugnância. Tal facto deixa-nos a desejar ler mais sobre aquela personagem enjaulada e Lecter terá em cada livro cada vez mais preponderância, para satisfação de quem lê. 
 O serial-killer deste livro é bem criado e os seus capítulos atrasam ligeiramente a acção para percebermos os verdadeiros motivos deste personagem. Tais capítulos agradaram-me e são bem conseguidos pelo autor, tirando-nos daquele ritmo frenético com que o FBI o tenta prender.
Sem uma escrita que fique na memória, Thomas Harris parece, em alguns momentos do livro, não ser um escritor nato, mas a sua criatividade de acção e personagens é de louvar. Hannibal Lecter é uma das minhas personagens de eleição no mundo dos livros, ao lado de Gollum, Tyler Durden, entre outros… mas também a personagem de Will se torna fascinante em certos momentos, o que me agradou bastante pela sua natureza, mas mais nada irei revelar.
Apreciei bastante este livro e ainda mais o últimos capítulos que são lidos há velocidade da luz. O fim é muito bem planeado pelo autor e mal acaba queremos pegar no próximo livro na esperança de termos mais Lecter.
Pode não ser um grande clássico enquanto livro, mas apresenta-nos uma personagem, Hannibal, que nunca poderá ser perdida por ninguém, o que torna este livro obrigatório para quem quiser ficar de boca aberta com a mente arrogante, culta e louca de Lecter.