sexta-feira, 2 de dezembro de 2016

AS PRIMEIRAS QUINZE VIDAS DE HARRY AUGUST


Autor: Claire North

Título original: The First Fifteen Lives of Harry August 




Sinopse: Harry August não é um homem normal. Porque os homens normais, quando a morte chega, não regressam novamente ao dia em que nasceram, para voltarem a viver a mesma vida mas mantendo todo o conhecimento das vidas anteriores. Não interessa que feitos alcança, decisões toma ou erros comete, Harry já sabe que quando morrer irá tudo voltar ao início. Mas se este acumular de experiências e conhecimento podem fazer dele um quase semideus, algo continua a atormentar Harry: qual a origem do seu dom e será que há mais pessoas como ele?
A resposta para ambas as perguntas parece chegar aquando da sua décima primeira morte, com a visita de uma menina que lhe traz uma mensagem: o fim do mundo aproxima-se.
Esta é a história do que Harry faz a seguir, do que fez anteriormente, e ainda de como tenta salvar um passado que não consegue mudar e um futuro que não pode deixar que aconteça.



Será que posso fazer uma análise a dizer "Recomendado" e nada mais? Neste livro é o que apetece... dizer a alguém para o ler, sem ideias, sem expectativas... mas como devo fazer uma análise ligeiramente mais aprofundada do que com apenas uma palavra, aqui vou eu, tentar explicar-vos o porquê de este ser um dos livros do ano...

Imaginem que podem repetir a vossa vida, sabendo o que vai acontecer. Decidem tomar decisões diferentes? O que mudam? O que muda sem que vocês queiram? Qual é sequer o objetivo de mudar algo durante a vossa vida se depois a vão repetir? o que ganham e o que perdem...?

A primeira metade do livro demonstra a inteligência da autora e serve como fase de adaptação do leitor a um livro que vai dando saltos de forma a que seja possível ver as quinze vidas do personagem principal. Harry August foi um personagem que fui apreciando aos poucos. No início não tive qualquer ligação com ele e muito se deve ao facto de estar perante uma personalidade totalmente moldada pelo peso que suporta. As dúvidas, os medos... a tristeza de ver que uma pessoa que o adorava numa vida, noutra nem o conhece. O peso de sentir os efeitos das suas escolhas, a capacidade de ver o quanto uma pequena escolha pode fazer tão grande diferença. A noção de quando irá morrer, e de quando as pessoas que gosta irão morrer...

Depois chega a segunda metade do livro. A trama está lançada e atinge um novo patamar. As dúvidas de Harry são as nossas dúvidas e a cada página questionamos o que faríamos nós naquele instante. Mas, acima de tudo, quando fechamos o livro, pensamos sobre o que faríamos se tivéssemos tal poder. O que vale a pena ser mudado? Algo apenas nosso? Ou devemos melhorar o mundo? Para quem volta sempre a viver, qual é o risco de morrer? Até que ponto a morte condiciona cada minuto da nossa vida? Ou ainda mais importante...  de que vale a pena fazer algo bom, se depois tudo começa do zero? 

E é com todas essas perguntas que nos imaginamos naquela situação, a melhorar a vida de quem amamos porque sabemos o que temos de fazer. E reviver, decidir e sentir que o poder é demasiado para alguém ter. E é tudo isso que este livro tem. Ao início parece um bom livro com uma base original, no fim é algo que fica connosco e que nos faz questionar algumas decisões, o que teria sido diferente.

Este é um livro único. É algo que sai das páginas e nos agarra, transportando-nos para um outro mundo onde a nossa mente está presa ao que um autor escreveu. Sentimos algo com as palavras de uma autora que não conhecemos. Sabemos que nada daquilo é real, vivemos aqueles momentos como se fossem. É isto que um livro deve ser. Claro que este também é um livro com falhas, com momentos forçados ou menos coerentes, e, no final, não é uma obra prima... mas está perto. E é, claramente, um dos melhores livros que li este ano. Totalmente recomendado.

Luís Pinto

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