segunda-feira, 11 de janeiro de 2016

GUERRA E PAZ - Livro II



Autor: Léon Tolstói




Sinopse: A Rússia continua a ser devastada pelos exércitos de Napoleão, e as mortes e tragédias sucedem se, ligando-se indelevelmente às vidas das personagens. Estamos no início do século XIX, um dos mais conturbados da história da Rússia, e as vidas de homens e mulheres cruzam-se num tecido narrativo deslumbrante. Ainda assim, apesar de a felicidade parecer algo impossível de ser vivido em tempos de guerra, há bailes e casamentos, aventuras e diversões, festas e grandiosos momentos.
Guerra e Paz é um verdadeiro clássico da literatura universal, e aqui chegamos ao seu último volume. Eis uma obra intemporal que condensa toda a condição humana, simultaneamente romance histórico, bélico e filosófico, e propõe acutilantes reflexões sobre os temas que nos movem e comovem: a vida, o sacrifício, a liberdade, a justiça, o amor e a honra.


Neste segundo volume, Tolstói continua a aprofundar o nosso conhecimento sobre as personagens, principalmente Pierre e Andrei. Estas são para mim as personagens mais fascinantes da história e este segundo volume demonstra a sua evolução.

Com a acção a fugir um pouco dos campos de batalha e a centrar-se nos bastidores durante uma boa parte do livro, começamos a perceber as intrigas dos ricos, tanto na busca por mais riqueza e poder, como na procura de alianças em casamentos, muitos deles sem qualquer amor. Temos ainda uma melhor percepção dos sentimentos amorosos de algumas personagens enquanto as vemos evoluir física e mentalmente. Umas farão o previsível, outras deixarão o leitor de boca aberta pela surpresa.

Pierre é, na minha opinião, a personagem mais importante desta narrativa, pois é com ele que começam todas as dúvidas, sendo a personagem que começa a questionar, deixando-se cair, questionando cada vez mais o sentido da vida, amizade, e acabamos por ver uma pessoa deslocada da sociedade em que vive. É também a personagem que introduz a Maçonaria à história e que ajuda este livro a tornar-se mais completo e por vezes misterioso, levando-nos uma vez mais às guerras de bastidores/interesses.

A escrita de Tolstói, como já disse na opinião ao primeiro livro, é forte e por vezes com um ritmo demasiado lento, mas o significado está sempre presente. Este é o livro que leva o leitor a sentir o sofrimento das personagens e todo o livro está associado a esse sofrimento e à transformação originada por essa dor, física ou mental. Tolstói é um mestre a atacar a sociedade e a apatia dos que nela vivem e o leitor sente a revolta. 

Em relação ao mundo descrito pelo autor, tudo está no seu lugar, e estamos perante uma narrativa impressionante das sociedades russas e francesas, e que me fizeram conseguir imaginar facilmente o que Tolstói tenta transmitir. Todas as sociedades têm virtudes e defeitos e para existirem ricos, terão sempre de existir pobres. Para existirem guerras, terão sempre de existir soldados que lutem sem questionar, e a seguir à paz voltará sempre a guerra, com muitos a serem favorecidos por ela.

Uma vez mais uma leitura que não é fácil, nem consegue ser compulsiva em algumas fases, mas a sua qualidade é inegável. É um murro no estômago, é uma verdadeira obra prima. É um companheiro que nos leva para um mundo no qual não queremos viver. Esta é uma obra que se deve ler de seguida para melhor compreensão, mas que certamente exige alguma vontade por parte do leitor. No fim serão recompensados, sem dúvida!

Falar muito mais sobre um dos melhores romance de sempre é redundante. Nestas centenas e centenas de páginas existem muitos temas abordados, muitos momento de reflexão, de emoções, de surpresa, alegria e tristeza. Poucos livros alcançaram esta qualidade, esta coerência, esta magnitude que nos leva a pensar que o autor pensou em tudo e que nada ficou por contar ou explicar. Uma sensação de realismo única num livro obrigatório para se ter na nossa estante.

Luís Pinto

Adaptado de um texto lançado no início do blog sobre este poderoso romance 

10 comentários:

  1. Estou à espera que fales dos 4 livros, mas para já estás a convencer-me.

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  2. Gostei muito desta tua opinião e também já li a do primeiro volume. É das obras que tenho na lista mas que vou evitando. Quando acabares os 4 volumes talvez a olhe com outros olhos! :)

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  3. Gosto imenso da literatura russa. É densa, complexa e deveras fascinante! Dostoievski é o meu preferido, mas Tolstói vem logo a seguir. Depois de «Anna Karenina» ando mesmo a ganhar coragem para começar este «Guerra e Paz». E é só mesmo o volume que me faz não pegar nele, porque quando começar quero lê-los de seguida.
    Boas leituras!

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    1. Olá tonsdeazul. Também prefiro Dostoiévski mas Tolstói vem logo atrás e aconselho-te a ganhar coragem. Mas sei que não é fácil. Há alturas em que mais vale a pena não forçar, porque é bom ler os 4 livros de seguida e não parar a meio.
      Boas leituras!

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  4. E espero falar dos restantes livros nas próximas duas semanas!

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  5. Também fico à espera. Interessante teres divido a opinião em 4 e teres falado de temas diferentes em cada. continua!

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  6. António Sequeirajunho 11, 2012

    O seu blogue é fantástico. Um grande talento, sem dúvida. Parabéns.

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  7. Este comentário foi removido pelo autor.

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  8. Boa tarde

    Passei para ver as novidades e deixar um testemunho :)
    Primeiro, comentar esta grande (em todos os aspectos) obra de Tolstoi. Dediquei-me logo nos primeiros dias do ano a ler Guerra e Paz. A edição que li, é algo antiga, tem o francês no original, ou seja, todas as frases originalmente escritas em francês (pelo autor) foram mantidas... uma verdadeira aventura... :)
    Mas... gostei. Tem um forte enquadramento histórico e torna-se lento a ler, mas prende.

    Sugiro a leitura de O Hipnotista de Lars Kepler, mais um (por acaso são dois!) autor sueco. O que me impressionou neste livro foi que me fez sentir MEDO, tal e qual como se estivesse a ver um bom filme de terror! Já tinha tido a experiência de sentir o medo que um dado personagem sente (p.ex. Cheirete, Crónicas de Gelo e Fogo), mas sentir MEDO, sentir o estômago encolhido com medo pelo que estou a ler, foi muito bom. Adorei o livro, embora nalgumas partes tenha achado demasiado "sombrio", escuro. Embora seja também um romance policial, achei que comparativamente ao Millenium perde um bocadinho para a realidade, ou seja, o Millenium está escrito quase como uma obra de investigação (e quase acredito que pode ser tudo verdade)e este (O Hipnotista) não tive essa sensação. Bom, não tenho tanto jeito como o Luis para dar opiniões :) mas cá fica.

    Até mais!
    P.S. O próximo vai ser "A teoria geral do esquecimento", José Eduardo Agualusa.

    Clara

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    1. Olá Clara.

      Ler essa edição que fala deve ter sido mesmo uma aventura! E agora fiquei ainda mais curioso com esse Hipnotista. Desde que saiu que tenho o livro na minha lista, mas está lá para o fim, e então ainda não o arranjei. Acho que agora vai subir umas posições. Obrigado pela sugestão. A saga Milénio é outra que está para ser lida, talvez ainda este ano. O tempo não dá para tudo.

      E já agora, fico à espera de uma opinião ao A teoria geral do esquecimento!

      Boas leituras!

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