Autor: Irvin D. Yalom
Título original: The Spinoza problem
Sinopse: Quando o jovem de dezasseis anos, Alfred Rosenberg, é chamado ao diretor
devido a comentários antissemitas no liceu, é obrigado a estudar
passagens sobre Espinosa. Rosenberg fica espantado ao descobrir que
Goethe, o seu ídolo, era um grande admirador do filósofo português Bento
Espinosa. Um judeu. Mais tarde na sua vida, Rosenberg continua a ser
perseguido por esse «problema Espinosa»: Como poderia o génio Goethe
inspirar-se num membro de uma raça inferior, uma raça que ele estava
determinado a destruir?
Espinosa, um judeu português refugiado na Holanda, viveu uma vida de castigo e isolamento. Devido aos seus pontos de vista, foi excomungado da própria comunidade judaica de Amesterdão, e banido do único mundo que sempre conhecera. Apesar de viver com poucos meios, Espinosa produziu obras que mudaram o rumo da História. Com o passar dos anos, Rosenberg tornou-se um ideólogo nazi eloquente, fiel servidor de Hitler, e principal responsável pela política racista do Terceiro Reich. Todavia, a sua obsessão por Espinosa continuava a afetá-lo.
Espinosa, um judeu português refugiado na Holanda, viveu uma vida de castigo e isolamento. Devido aos seus pontos de vista, foi excomungado da própria comunidade judaica de Amesterdão, e banido do único mundo que sempre conhecera. Apesar de viver com poucos meios, Espinosa produziu obras que mudaram o rumo da História. Com o passar dos anos, Rosenberg tornou-se um ideólogo nazi eloquente, fiel servidor de Hitler, e principal responsável pela política racista do Terceiro Reich. Todavia, a sua obsessão por Espinosa continuava a afetá-lo.
É o 3º livro que leio deste autor e, uma vez mais, foi uma leitura fantástica. É difícil, pelo menos para mim, conseguir criar uma análise que consiga explorar todos os temas que o escritor aborda.
Uma vez mais, tal como nos seus livros anteriores, Yalom oferece-nos uma narrativa que se torna numa luta entre duas personagens, neste caso Espinosa e Rosenberg. É uma luta intelectual, uma oposição de ideias, de formas de ver a vida, a sociedade e o valor do que nos rodeia. E, tal como nos anteriores livros, Yalom cria duas personagens de tal forma credíveis, tanto em termos psicológicos com em termos históricos, que acabamos no fim por reparar que nenhuma delas tem a totalidade da razão. É preciso sempre ver os dois lados. À partida podemos pensar que Rosenberg, um dos grandes nomes do Terceiro Reich, estará inevitavelmente errado, mas a verdade é que não o está totalmente numa ou noutra questão, tal como não existe alguém totalmente mau ou bom, nem totalmente sábio ou ignorante.
Com um realismo bem vincado nas suas personagens, principalmente na forma como o autor recria Espinosa a partir das suas ideias, vemos o choque da mentalidade criada por imposição contra a mentalidade recriada pelo pensamento e estudo. Mas não só. A diferença entre estes dois homens é o marco do livro, chegando a um ponto de qualidade só igualmente atingível pelo momento em que estas duas personagens percebem (tal como nós, leitores) que em certos aspetos são tão parecidos.
Outro aspeto bem presente neste livro e um dos maiores trunfos na escrita de Yalom, está na forma como molda a vida destas personagens por forma a nos mostrar, com ações, um pouco mais das suas personalidades. A disparidade com que cada um avança na sua vida, um isolado para uma maior compreensão, o outro necessitado de afeto e da presença de alguém que o enalteça, é, quase inexplicavelmente, suficiente para criarmos um esboço psicológico caso não o tenhamos feito ainda.
Em termos de história, é sempre interessante começar um enredo por algo verídico e aqui Yalom explora muito bem um certo momento. Mas, o que fica vincado, tal como nos anteriores livros do autor, é o seu conhecimento do trabalho de alguns filósofos, e com esse conhecimento cria uma personalidade, uma vida... e deixa uma mensagem a todos os leitores. A forma como o autor explora a mente humana é ímpar, pelo menos para mim, e alia a tal facto a capacidade de criar uma narrativa que não satura, pois tudo é explicado aos poucos de forma a criar um enredo ao mesmo tempo complexo mas de fácil compreensão.
Yalom oferece mais um excelente livro. Para mim, não está ao nível de "A cura de Schopenhauer" (opinião aqui), mas é mais um livro de grande qualidade, que fará qualquer leitor questionar várias visões numa das mais marcantes épocas da nossa humanidade. Yalom leva-nos a questionar a forma como olhamos para algo diferente, a diferença como ouvimos alguém "abaixo" por comparação a alguém "acima" de nós, e o valor que damos ao que ouvimos... mas muito mais. Todos nós, numa esmagadora maioria, deixaremos algo neste mundo, quer seja bom, quer seja mau. Pode ser uma ideia, um simples ato, mas a nossa presença, por muito curta que seja, não é apagada. A presença de Espinosa e as ideias que deixou, ainda fazem eco, e a forma como Yalom expõe tal noção, é realmente impressionante.
Luís Pinto