sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

A CURA DE SCHOPENHAUER


Autor: Irvin D. Yalom

Título original: The Schopenhauer Cure


Há uns anos li um livro de Schopenhauer chamado "O Mundo como Vontade e Representação" e fiquei a conhecer um pouco as ideias deste filósofo. Porque o fiz? Primeiro porque acabara de ler "Clube de Combate" e algumas das ideias da personagem Tyler Durden sobre o materialismo humano vinham de Schopenhauer. O mesmo acontece com a filosofia Jedi (Star Wars) que apresentam alguns traços da visão deste autor, juntamente com a visão de algumas religiões em relação à interacção com outras pessoas.


Agora, finalmente, comecei a ler Irvin D. Yalom, e ao iniciar-me nas suas obras com este livro, imediatamente recordei muito das ideias que Schopenhauer tentou ensinar à humanidade, mas o facto de já ter lido sobre o filósofo não se mostrou importante, pois Yalom escreve um livro onde a história principal e a história da vida de Schopenhauer são dadas de forma intercalada. A história principal é obviamente mais interessante, mas saber como foi a vida de Schopenhauer ajuda a percebermos o porquê das suas decisões e forma como viu a vida, e a morte.

Este é o primeiro livro que leio em que filosofia e psicanálise se misturam de forma tão acentuada, sendo aliás, o mecanismo que faz todo o enredo avançar.
A história começa quando Julius, um terapeuta de sucesso, descobre que tem um cancro, e apenas um ano de vida. Este primeiro contacto direto com a morte, leva o terapeuta a procurar Philip, um dos poucos homens que não conseguiu ajudar.

Confesso que no início, a história pareceu-me assente em algo "banal": um terapeuta às portas da morte tenta redimir-se, ajudar alguém, dar um novo significado aos poucos meses que tem de vida. No entanto o livro tornou-se em algo muito melhor. A batalha entre Julius e Philip é a diferente visão da vida, e se um necessita de companhia e amor, e sem isso a vida não faz sentido, Philip segue as palavras de Schopenhauer, onde precisamos de nos libertar de tudo o que tememos perder, para não sofrer no futuro.

Esta batalha tem como cenário um grupo de terapia liderado por Julius, onde encontraremos pessoas com os mais variados problemas humanos: problemas sexuais, de relacionamento, bebida, afirmação social, raiva, incapacidade para perdoar, angústia perante a velhice...
E quase todo o desenvolvimento do enredo se passa nestas sessões. Parece estranho, mas na realidade é fantástico como Yalom conseguiu criar um livro assim, que seja tão bom!

O grupo é dinâmico, com regras próprias e a intereção entre elementos resulta em diálogos realistas e que demonstram o avanço ou retrocesso das personagens. E no final podemos dizer que todas as personagens evoluíram lentamente e com uma grande carga emocional, levando-me a afirmar que o autor criou um enredo realista com personagens, que apesar de não conhecermos fora das sessões, conseguem mostrar-nos muito do que é a vida humana no mundo em que vivemos... cheia de obrigações, expectativas e condicionalismos sociais.

Philip, homem que tenta passar a linha que separa o banal do brilhante, é a grande personagem desta obra, pois é ele quem terá de ser quebrado por um grupo cheio de problemas. E há sempre alguém, ou algo, que nos consegue quebrar... ninguém é um livro aberto, e por vezes, escondemos demasiado fundo os nossos problemas, mas eles estão lá... atormentam-nos.

Este livro, é um amontoado (no bom sentido da palavra) de ideias sobre a vida, a morte e a necessidade de sermos felizes. E mais do que a história, é isto que torna o livro bom. As suas ideias...
Entretém, vicia e ensina a cada página, o que é raro. Fará qualquer pessoa pensar, e muitas vezes irá atingir-nos com a realidade da condição humana, mas também com a tentativa de deixarmos algo com significado. Quando conhecemos a nossa hora, tudo se altera. O que pensa um homem que sabe ter alguns meses de vida? O que mais lhe custará deixar? O que quer concluir na vida? O que pensa nas noites em que permanece acordado?

A Cura de Schopenhauer é algo que nos faz abrir os olhos, perceber que quem possui o amor é quem ama, e não quem é amado, e que quem nunca amou nem foi amado, terá um vazio demasiado grande para ser suportado.

Antes de morrermos devemos perguntar: "estarei disposto a repetir esta vida eternamente, vezes e vezes sem conta?" Devemos agora fazer tudo para que a resposta seja "sim"

Irvin D. Yalom convenceu-me à primeira. Arrepiou-me, e agora percebo porque tantas pessoas me aconselharam este livro e porque é um autor com tão grande sucesso. Uma excelente obra sobre as formas como podemos enfrentar a morte, mas também a dor que a vida nos poderá causar e como nos devemos curar das feridas do passado. Um livro que educa e que faz pensar...


aproveitem para votar no blog Ler y Criticar para melhor blog do Ano!

6 comentários:

  1. Parabéns pela opinião. Muito boa!

    ResponderEliminar
  2. Muito interessante esta opinião. Já ouvi falar muito bem deste autor e a tua opinião não me surpreende.

    ResponderEliminar
  3. Um dos livros da minha vida. Foi muito marcante para mim e já o li várias vezes.

    Simplesmente adorei o Julius e concordo quando dizes que o Philip é uma fantástica personagem.

    Parabéns pela magnífica opinião.

    ResponderEliminar
  4. É um excelente autor. Nunca li este livro mas já estava na lista e oiço sempre muito bem deste livro.

    ResponderEliminar
  5. Mais um grande texto. Nunca li nada deste autor nem estava muito interessado neste género, mas com uma análise destas deixaste-me muito interessado. Vou procurar mais umas opiniões mas para já acho que vai para a minha lista e talvez até seja uma boa prenda para os meus pais.

    ResponderEliminar
  6. Saúl Reisjunho 05, 2014

    Tenho que dizer que o livro é realmente muito interessante, inclusive para pessoas leigas como eu em assunto de psicologia e afins. E esse é um ponto muito genial da obra, atrair diversos públicos, e encantá-los com um assunto que cativa, impulsiona e deixa nossa mente cheia de vontade de saber mais e mais.

    Se alguém ficou com curiosidade, http://portugues.free-ebooks.net/ebook/A-cura-de-Schopenhauer

    E que descubramos muitos outros livros tão bom e impolgante quanto esse!

    ResponderEliminar

Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.