terça-feira, 8 de setembro de 2015

A RAINHA CRUCIFICADA


Autor: Gilbert Sinoué

Título original: La reine crucifiée




Depois de Vitor Hugo, Montherlant e outros artistas, Gilbert Sinoué vem juntar-se ao rol de contadores da trágica história de amor de D. Pedro I e Dª Inês de Castro. 

Na Europa trecentista, impaciente pelas epopeias marítimas que profetizavam um ponto de viragem, a narrativa envereda pela corrida entre as potências europeias querendo chegar primeiro ao oriente e pela procura da esperança no domínio da Terra Santa. Traz-nos a famosa carta do Prestes João e o seu misterioso reino que atiçou guerras entre tronos e setores da cristandade na disputa pelo descobrimento dos mares. É no seio destes alvoroços,que, escondidos pelo véu do amor, encontramos o perturbado infante D. Pedro e a bela e proibida Inês de Castro.

A narrativa progride cronologicamente, saltando de lugar em lugar, consoante a ocasião. Os espaços principais são Montemor, residência da família real, e Avinhão, residência do papa, mas, à maré dos acontecimentos, surgem-nos também outras cidades e campos pertinentes no acompanhamento da história. Estes pulos no espaço e as poucas páginas dedicadas a cada fração criam situaçãoes de suspense em ações não reveladas, permitindo também manter o leitor entusiasmado no encalço global da história em todos os seus planos espaciais. Porém, na linha do tempo, os acontecimentos parecem mandriar até ao remate trágico, e acelerar a partir desse ponto, dedicando escassas páginas ao desvendar das consequências do clímax. Acrescento ainda que o culminar dos acontecimentos centralizado, como seria de esperar, na morte de Inês, é narrada de forma demasiado repentina, parecendo diluir-se numa abreviada lista cronológica onde é exposto o que resta da história.

Sinoué conta-nos esta história de amor no seu lado mais romanceado, pese embora a carga histórica muito bem enquadrada e a notável investigação. D. Pedro, o Justiceiro para uns e o Cruel para outros, é aqui retratado num infante perturbado e ultrarromântico como, de resto, se sabe que era. Façamos apenas um pequeno reparo a ligeiros anacronismos cometidos na ilustração histórica durante o relato de alguns momentos gastronómicos e comerciais. O autor escreve-nos ao sabor da época, introduzindo termos trovadorescos de modo bastante expressivo que se enquadram perfeitamente na perspetiva romântica que escolheu para esta obra.

Assim lemos as páginas de um romance histórico ligeiro e equilibrado na sua proporção de História, narração, esfera envolvente e floreados literários. Estes são ingredientes que resultam numa sensação de admiração perante a obra e de aprendizagem de um episódio histórico balizado numa cronologia perfeitamente adequada. No fruto desta combinação está um livro que conta uma história de que toda a gente sabe mas que poucos conhecem, permitindo-nos aprofundá-la e descobrir os seus recantos doces e amargas.

Luís Pinto

4 comentários:

  1. Parabéns pela crítica. Gostei bastante e como não conheço o autor mas gosto do tema vou aproveitar para ler.

    boas leituras

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  2. Li apenas um livro deste autor e foi por sugestão de uma opinião tua. Gostei bastante na altura mas não voltei a ele. Este tema não é dos que me chamam mais a atenção, mas fiquei curioso. Parabéns pela análise.

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  3. LI dois livro de Sinoue o ano passado e gostei das leituras. Parece-me um escritor inteligente. Este livro nunca li mas é sempre bom ver um autor estrangeiro falar sobre um tema tão nosso. Gostei bastante da análise e certamente que irei ler este livro ainda este ano.

    Abraço e boas leituras

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  4. Carla Rosáriasetembro 09, 2015

    Excelente análise. parabéns. Já li o livro há uns meses e gostei bastante até porque adoro o tema.

    Beijinhos

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