sábado, 11 de maio de 2013

WINDHAVEN


Autor: George R. R. Martin & Lisa Tuttle


George R. R Martin sofre o mesmo que qualquer outro autor que tenha atingido tão grande feito com um livro/saga... o peso da expectativa. Por exemplo, J. K. Rowling sofreu com essa expectativa quando voltou à literatura depois da saga Harry Potter, e imaginem, se Tolkien estivesse vivo e voltasse a escrever. Quais seriam as nossas expectativas? Poderiam matar a própria obra?

No meu caso, este foi o primeiro livro que li de GRRM fora do universo de Westeros. É verdade que o livro já foi escrito há muitos anos, antes de A Guerra dos Tronos, mas para mim as expectativas serão sempre altas, pois estamos a falar de um autor que, em alguns aspetos, alterou a forma como o leitor sente o que está a ler. No entanto, volto a fazer um esforço para baixar as expectativas e ler esta obra como se fosse de um autor que não conhecesse. Mas, para aqueles que queiram desde já saber uma opinião objetiva, digo o seguinte: este livro de GRRM com Lisa Tuttle, tem muita qualidade, tem muitos pormenores que vemos em Westeros, mas não é, e provavelmente não o poderia ser, um marco na literatura como é o seu primeiro A Guerra dos Tronos. Não podemos, nem devemos, comprar um único livro com uma saga tão grande. Este Windhaven é um livro com um fim e é muito bom em alguns aspetos. 

Em primeiro lugar digo-vos que me foi difícil entrar no mundo criado. Não na parte geográfica ou política, mas na mentalidade, na importância/valor dado às assas. O mundo é bem criado, tem alguns toques originais e percebe-se a sua dinâmica, mas o facto de pessoas lutarem tão ferozmente pelas suas assas, foi algo que no início pareceu forçado. No entanto, enquanto vamos lendo o livro, essa sensação desaparece, principalmente porque começa-se a perceber o estatuto que as mesmas oferecem, e principalmente, começamos a ver que nenhuma personagem está isenta de falhas nesta história. E é aqui que GRRM entra (sem retirar qualquer mérito a Tuttle), com as suas personagens realistas, nunca totalmente boas, nunca totalmente más.

Maris, personagem principal consegue tornar-se com facilidade numa excelente criação destes autores. A sua transformação/adaptação durante o livro é de assinalar e se juntarmos a isto o facto de estarmos perante uma personagem que falha, que desilude, que luta, que não é totalmente boa ou má... tudo isto torna a história mais realista. Infelizmente as outras personagens não apresentam esta qualidade, mas nota-se que nunca foi objetivo conhecermos quem rodeia Maris, aumentando assim a intriga e o impacto de algumas revelações, e não diminuindo o ritmo.

Temos conflitos, decisões impossíveis e traições, tudo presente num jogo de bastidores que apenas vemos pela visão de Maris. O ritmo é lento durante metade do livro, acelerando bastante no fim onde o livro se torna melhor, não por ter mais ação ou mais surpresas, mas porque define a sua própria mensagem para o leitor.

Mais soft e menos violento do que esperava, com uma escrita fácil e simples, este é um livro sobre o poder dos sonhos, o evoluir de uma cultura estagnada e injusta, e torna-se num vislumbre sobre a força necessária para fazer o mundo olhar com respeito para os que estão em baixo, e não só para os que estão acima. O final completa o livro, como se o unisse numa mensagem clara e que o melhora bastante, e este é o tipo de final que mais gosto: ao não existir uma luta global entre bem e mal, o final nunca pode ser definitivo, mas sim o culminar de uma história de vida, de algo realista. As pessoas nascem, vivem, morrem e por muito que façam, por muito que alterem, o mundo continuará sem elas. Foi isto que GRRM nos mostrou em todos os seus livros que li.

Por vezes, uma pessoa consegue mudar o mundo, mas conseguirá essa pessoa antever tudo o que a mudança trará ao mundo? Existem várias formas de poder, mas quem o tem, nunca o quer perder.

O enredo não é o mais original que já li, longe disso, mas a construção do mundo torna o livro singular. Não conheço o trabalho de Lisa Tuttle, mas nota-se a sua mão com uma escrita mais "bonita", menos "negra". No entanto é muito fácil encontrar o toque de GRRM na forma como demonstra a personalidade das suas personagens com simples ações. Windhaven é um livro muito interessante e que em certos aspetos é até comparável com o nosso mundo, ajudando a transmitir uma mensagem importante, apesar de indireta. 

Resumindo, Windhaven é um bom livro (que também será interessante para um público mais adolescente), que me deu imenso prazer a ler, principalmente a partir de meio. Uma excelente personagem principal, narrativa comovente, algumas reviravoltas (umas previsíveis, outras surpreendentes) e momentos onde é preciso tomar-se uma decisão, e não existe uma totalmente correta. Não é uma obra-prima, não é o melhor livro que li de GRRM, mas isso seria quase impossível e é verdade que muitos poderão ficar desiludidos, mas tudo dependerá das expectativas que levarem. Eu gostei imenso deste livro e recomendo-o.


Luís Pinto

17 comentários:

  1. Li-o há uns meses em inglês porque não sabia que ia sair por cá. Gostei bastante e concordo com a tua opinião muito boa como sempre. Gostei bastante do livro apesar de não se comprar a GOT e gostei muito da Maris e do Val e fizeste bem em não falar sobre a história e agora que falas da mensagem no final, acho que a percebi depois de ler a tua crítica. Não tinha pensado sobre isso.
    Abraço e boas leituras.

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    1. Obrigado Gus. Ainda bem que concordas. A personagem Val também é interessante, apesar de ter tido um momento que achei mais previsível, mas nada de importante.

      Abraço!

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  2. Ois Luís,

    Gostei de ler o teu comentário e provavelmente irei investir neste livro, até pelo que referes.

    Já agora e não conhecendo a parte da FC do Martin, recomendo-te, dentro das tuas possibilidades, que leias o Sonho Febril do escritor, penso que irias gostar bastante ;)

    Abraço e boas leituras, que o dia de hoje se torna ainda mais especial :D

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    1. Olá Fiacha,

      Depois quero ver a tua opinião. O sonho Febril está na lista. Quero ver se ainda o leio este ano. Agora vou ver se volto ao Fitz!

      Abraço!

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    2. Fico à espera de ver a opinião ao "Sonho febril"!

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  3. Opinião objectiva e com uma introdução muito interessante e que ainda bem que escreveste. Convenceste-me com este texto. Já tinha saudades do grande Martin!

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  4. Pedro Correiamaio 11, 2013

    Convencido!

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  5. Também estou cheia de saudades deste autor. Agora deixaste-me ainda mais curiosa e espero conseguir baixar as expectativas como tu dizes porque é verdade que quase sempre mata o livro.

    Beijinhos

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  6. Parabéns pela excelente opinião. Ainda não comprei mas já estava de olho nele e agora fiquei convencido. Acredito que não esteja a par do que nos habituou mas gostei dos temas que falaste. Continua com o excelente trabalho.

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  7. Já andava à espera que falasses sobre este livro. Fiquei muito convencida e gostei bastante do que escreves-te. O George Martin é dos meus autores favoritos e também me falta ler o Um sonho Febril. O dinheiro não dá para tudo.

    Beijinhos e continua Luís!

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  8. Boa análise como de costume. Obrigado por não teres falado sobre a história. Acho que falas-te sobre o essencial e devo comprar na feira do livro. A carteira não perdoa. Também estou a pensar comprar o O Mago que falas tão bem e alguns do Tolkien.

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  9. Fizeste mais uma grande análise. Conseguiste dissipar as minhas dúvidas sobre certos temas e ainda bem que não falaste da estória. Devo comprar na feira depois deste texto.
    Grande George Martin!

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  10. Parabéns. Análise muito cuidada e pensada. Estou a pensar comprar este e o livro do Matt Ruff que falaste há uns tempos. Esta feira do livro vai ser difícil.

    Abraço!

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  11. Agora ainda fiquei mais convencido a ler este livro deste grande autor. Obrigado pelo texto Luís.

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  12. Olá a todos. Por falta de tempo apenas agora consigo responder aos vossos comentários. Obrigado pelas vossas opiniões. Estou a pensar voltar a GRRM nos próximos tempos e O Sonho Febril será a minha primeira opção. Assim que o ler, tentarei deixar aqui a minha opinião, mas pelo que vejo, quem leu, gostou imenso! GRRM não falha!

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    1. Boas Luis,
      Estou a meio deste livro ou seja na parte ascendente da história, mas quando acabar de ler venho dar a minha opinião, até agora só posso dizer que me custou a agarrar esta historia no inicio, talvez seja tenha sido o factor Tuttle.

      Em relação ao Sonho Febril, gostei muito, foi uma lufada de ar fresco no mundo vampiresco que andava a ficar poluído com esta novas modas…
      A maneira humana/animal como GRRM descreve estes “vilões” é priceless, o resto é GRRM no seu melhor, a mim deu-me um gozo tremendo ler este livro.

      Abraço e continuação de boas leituras

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