Autor: F. Scott Fitzgerald
Título original: The Great Gatsby
Considerado um dos melhores romances de sempre, O Grande Gatsby
é, na minha opinião, dentro do que já li, uma das mais fortes e
abrangentes críticas a uma específica sociedade. E mais do que uma
história de amor ou de solidão, é esta crítica que torna a obra de
Fitzgerald num dos livros mais marcantes dos últimos cem anos.
Num
livro pequeno, com poucas personagens e sem grandes descrições, é
fantástico como o autor consegue expor tão bem uma sociedade que é, na
sua maioria, corrupta e invejosa. As personagens são, no global, pouco
desenvolvidas e nota-se que o autor quis desvendar pouco, criando um
suspense que poderá levar ao fascínio do leitor, o mesmo fascínio que
grande parte da sociedade tem em relação aos ricos e à sua forma de
vida.
São
poucos os que têm a sorte de nascer entre os ricos, mas esse aleatório
momento condicionará toda a nossa vida, para o bem, ou para o mal. Nick,
o nosso narrador e personagem interessante, está, tal como o leitor
(que não seja imensamente rico), fora desta realidade, e passa grande
parte da história entre o fascínio e as dúvidas. Esta semelhança torna
Nick numa personagem que facilmente agrada, e mesmo com uma primeira
parte do livro mais monótona, a leitura nunca me custou.
Gatsby
é um homem de extravagâncias e isso nota-se nas suas festas. Cria
(paga) fabulosos espectáculos sem se dar ao trabalho de estar presente
ou de saber quem está convidado e nota-se a primeira crítica do autor.
Está na valorização do dinheiro. No entanto, rapidamente nos apercebemos
que Gatsby não é o alvo da crítica, pois este homem, que ninguém sabe
porque é tão rico, tem motivos morais para as suas acções, ao contrário
de muitos outros.
A
crítica tem como alvo a ambição e a falta de moral da sociedade rica na
década de 20 nos EUA. Conversas chatas em que ninguém é honesto, onde
apenas se fala para desdenhar e encontrar fraquezas nas outras pessoas,
misturam-se numa luta entre a honestidade de alguns e a mentira de
muitos. E até a forma como as personagens falam, demonstra facilmente o
seu estatuto social. Mas o autor não se fica por aqui, e mostra como
muitos dos que nasceram ricos, não sabem o que a vida custa, não sentem
as limitações e não sabem o que é a dignidade... pois aquilo que alguns
adquirem com respeito e mérito, outros compram.
Interessante
ainda, ver que uma pessoa que nasça rica, não desperta a atenção nem a
inveja em comparação com um homem que ganhou essa riqueza por mérito. E
porquê? Porque este homem fez o que os outros, que nasceram ricos, não
tiveram de fazer, e como tal, apresenta um feito invejável.
Gatsby
é um personagem marcante, não pelo que mostra, mas pelos motivos que
determinam as suas acções, e com este homem, o autor mostra-nos que para
ter uma excelente vida, não basta ser rico. É aí que está a mentira
instalada na mente das pessoas. No entanto, como disse antes, para mim
este livro é mais do que uma história onde pessoas e sentimentos estão
misturados. Existe uma história de amor, e existe amizade, e é isto que
nos agarrará ao livro, mas é na crítica que está o soco dado ao leitor, e
as primeiras páginas tornam-se a parte mais importante do livro ao
vermos que será a partir dessa base, que irá crescer a crítica que torna
esta obra tão marcante.
Sendo assim, torna-se fácil perceber o porquê de estarmos perante um livro tão conceituado. O Grande Gatsby
não será, para a maioria, o mais viciante dos livros, nem será o
favorito. Claro que muitos irão preferir a história de amor e a amizade,
mas para mim, este livro ficará presente como uma das grandes críticas a
um estilo de vida, ao que o poder faz às pessoas, e à imoralidade que
ganha forma quando as barreiras (do dinheiro) desaparecem.
Para mais informações sobre o livro O Grande Gatsby, clique aqui!
Luís Pinto
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Luís Pinto
Excelente texto. Parabéns. Livro a ler sem dúvida.
ResponderEliminarObrigado Pereira. É mesmo para ler, sem dúvida!
EliminarEstou muito curioso com este filme e livro. Li a tua opinião com muita atenção e tentei perceber o significado escondido das tuas palavras. Obrigado por não falares sobre a história mas sim sobre o que faz o livro fantástico. Vou comprar de certeza.
ResponderEliminarOlá Pavio. Também quero ver o filme para ver se a adaptação está boa. Não será fácil.
EliminarExcelente análise como sempre! parabéns!
ResponderEliminarObrigado Rute! =)
EliminarGrande livro e grande análise da tua parte mostrando realmente o que torna este livro memorável. Parabéns pelo trabalho.
ResponderEliminarAdorei este livro, li-o num ápice!
ResponderEliminarPrincipalmente pela descrição social das classes abastadas dos anos 20.Reporta-nos às festas, à importância da imagem, aos círculos sociais, onde reina a falta de autenticidade, genuinidade e valores morais e sociais entre os elementos.O imperativo artificial e fútil do ser humano, é abordado pelo autor de forma exímia . Remete-nos à solidão que impera nas personagens.
Ao nível da escrita, gostei bastante da estrutura que o autor aplica. Relativamente à história, a mesma ganha fôlego nos últimos capítulos, onde culmina num final inesperado.
Sendo uma fiel seguidora deste belíssimo blog, congratulo-o pelas excelentes escolhas literárias, principalmente os clássicos, pelos quais nutro um fascínio incondicional, e após as suas criticas, torna-se impossível não correr para a biblioteca e comprar o livro!
Bem haja pela sua existência blogosférica!!!!
Olá Ana Martins,
EliminarTudo o que indica é aquilo que me faz acreditar que se trata de uma obra que pode ser adaptado ao cinema mas nunca poderá estar ao nível do livro. As palavras deste autor têm uma força difícil de adaptar. O final inesperado é para mim o grande momento do livro e que se torna muito coerente, nós é que não o vemos aproximar-se.
Obrigado pelos elogios. Tento criar um equilíbrio entre novidades e clássicos, mas tal não é fácil, umas vezes porque o preço dos clássicos é alto, outras vezes porque desapareceram do mercado.
Fico à espera de mais opiniões!
Boas leituras!