segunda-feira, 13 de maio de 2013

MORTE NA ALDEIA


Autor: Caroline Graham

Título original: The Killings at Badger's Drift


Este livro foi considerado um dos 100 melhores policiais de sempre pela Crime Writers Association. Esta é uma lista do qual já li vários livros que adorei, e por isso, tinha boas expectativas em relação a esta obra.

A história começa simples: uma mulher idosa vê, num bosque da sua pacata aldeia, algo que não deveria ter visto. É, mais tarde, encontrada morta na sua casa. Acidente ou assassínio? O que terá visto?

Em primeiro lugar devemos ter em conta que este livro tem quase 30 anos e a tecnologia dos anos 80 não é a que conhecemos agora. Para além disso, a cultura, a mentalidade e a forma como uma sociedade vê um caso destes, é diferente. Este é para mim um dos pontos mais interessantes do livro: sendo passado numa tradicional aldeia inglesa, o livro tenta explorar como a própria sociedade vê e reage a este "possível" crime, mas principalmente, mostra como estes pequenos locais são propícios a boatos, "coscuvilhice", etc... acabando, inevitavelmente em cada pessoa a ter a sua própria teoria e, por vezes, a tentarem influenciar a própria polícia nas suas investigações.

A investigação está a cargo do Inspetor Barnaby e o seu ajudante Troy, um homem que sem grande experiência nestes casos, vai ajudando ou atormentando Barnaby com as suas dicas. A "química" entre os dois é muito interessante, pois Troy é um homem incansável que gosta de agradar mas que vê tudo de forma muito obtusa, quase sem pensar, retirando ideias estereotipadas com um simples olhar, não o deixando ver o que se esconde. Barnaby é o oposto, tentando não retirar conclusões apressadas, mas nem sempre é fácil fugir ao que os olhos e anos de experiência nos dizem, pois a própria forma como a sociedade nos educa um ou outro tema, poderá levar-nos a ver algo errado. E no meio de tudo isto, cada vizinho quererá ter razão...    

Outro grande ponto a favor, na minha opinião, é a forma perfeita como a escrita da autora encaixa no género. A narrativa dá-nos detalhes a cada instante, tanto no espaço em que se insere, como sobre as personagens. Aliás, o que mais me agradou no livro foi o conjunto de personagens que se tornam suspeitos. O livro mostra-nos os seus passados, tenta influenciar-nos e em algumas situações quase que nos dá a resposta... mas eu não a vi. Os suspeitos estão todos muito bem conseguidos, com personalidades distintas, e todas elas têm algo a esconder, principalmente quando se vive num meio tão pequeno.

Barnaby também é uma personagem interessante, mas não tem o foco que os suspeitos recebem do livro. Nesse aspeto é notório que a autora não nos quer desviar do essencial, que é levar-nos a também retirarmos as nossas conclusões, levando-nos, muito provavelmente, a falhar. Eu, por duas vezes percebi que o livro me estava a enganar, mas a verdade é que falhei no meu palpite e é isto que mais aprecio neste género: ter sido enganado. É verdade que nunca tive certeza absoluta mas o próprio livro não nos deixa acreditar piamente que a personagem X é o criminoso, e no fim, quando tudo é revelado, reparo que as resposta sempre lá estiveram. Sobre essa revelação final, é uma surpresa reparar que este livro tem quase 30 anos, e fiquei admirado com a narrativa negra e com os temas abordados. O livro é mais negro do que eu esperava, e só o percebi já ao enredo ia bem adiantado, não por ter descrições violentas, mas porque aborda vários temas difíceis que levam a motivações que nos deixam surpresos. 

E se vivemos todos numa mentira? E se eu não fiz aquilo que acredito ter feito?

Infidelidade, prostituição, incompetência médica, violência doméstica, entre outros, são os temas deste livro, que nos demonstra como uma vingança pode levar anos a ser preparada e como um erro nos pode atormentar para a vida. Não querendo deixar aqui qualquer pista, pois para mim este género de livros vive das surpresas que nos dão, fica aqui a minha convicção que este livro terá sido fantástico há 30 anos atrás. Atualmente será, também pelos temas que aborda, uma obra mais banal num ou noutro aspeto, mas no global é um excelente livro que vive pela qualidade da narrativa. Totalmente recomendado a quem gostar de um bom policial, com uma boa escrita, boas personagens e um toque de Agatha Christie.

Luís Pinto

5 comentários:

  1. Já li e gostei muito. E gostei muito da tua análise! Está muito boa!

    Bjs

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  2. Não conheço nem é o meu género mas gostei da tua opinião e fui procurar outras. todas falam bem e por isso convenceste-me. Depois digo se gostei!

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  3. Pedro Fariamaio 14, 2013

    Mais um livro que me convences-te. Abraço e continua com o excelente trabalho!

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  4. Obrigado a todos pelos comentários. Espero voltar a ler uma obra desta autora.

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  5. Já estava previsto ler este livro, mas se poderia restar alguma dúvida, esta opinião esclareceu-a por completo :-) Obrigado

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