Autor: Kaui Hart Hemmings
Título original: The Descendants
Resumindo muito a história inicial deste livro, a personagem principal Matthew, vê-se obrigado a cuidar das filhas quando a sua mulher entra em coma após um acidente de barco.
Após o grande sucesso (junto da crítica) que foi a adaptação cinematográfica deste livro, decidi lê-lo. A primeira impressão que se ganha do livro é que a autora apresenta uma escrita fácil de ser lida, apelativa e que nos faz avançar confortavelmente no livro. É verdade que no primeiro terço a narrativa é lenta, em termos de desenvolvimento da história, mas os vários momentos de humor fizeram-me agarrar ao livro com vontade. Isto aconteceu porque tendo em vista tratar-se de um livro onde a mulher do personagem principal está em coma, não esperava uma mistura de tristeza e alegria nestas palavras (nunca foram momentos forçados), e gostei.
Gostei bastante da personagem Matthew, pois achei-a muito bem conseguida. Um homem rico que vive para trabalhar, não por desejar mais dinheiro ou luxo, muito menos para o gastar, mas sim porque é a sua forma de viver. Gostei desta característica.
Matthew é um pai ausente, consciente desse facto, apesar de o seu sub-consciente não o deixar ver o quanto não conhece as suas filhas, muito menos a sua mulher. Por vezes é necessário um acontecimento extremo e imprevisto para acordarmos e ganharmos consciência da nossa vida, do que construímos e essencialmente do que destruímos. É pena algumas pessoas precisarem de sentir dor para conseguirem abraçar a família que sempre tiveram, mas à qual viraram as costas de forma inconsciente. É sempre tarde demais… A natureza humana empurra-nos nesse caminho.
Como disse antes, a escrita é rápida, divertida e triste em momentos separados. O ambiente é bom e descrito sem grande pormenor visual (também não é o que se pede neste tipo de livros, penso eu) e conseguimos com relativa facilidade imaginar o Hawaii; uma imagem necessária para percebermos um pouco melhor esta história e as personagens que a preenchem. Estas personagens são um dos factores mais importantes do livro, tanto Matthew e as suas duas filhas, como Sid são pessoas fáceis de aceitar ou perceber, apesar de uma ou outra característica me ter parecido exagerada. Esta mesma caracterização das personagens é de um modo geral bastante boa, apesar de por vezes sentir que as mudanças de atitude foram demasiado radicais (principalmente nas filhas) sem que a escrita da autora acompanhasse o porquê da mesma mudança. Não estou com isto a dizer que as mudanças são absurdas, não. Apenas senti que a escritora não deu na sua escrita a base para que tal acontecesse, mas uma vez mais trata-se de uma opinião muito pessoal.
Este é um livro que nos faz questionar até onde poderemos perdoar. Qual é o limite? E quando o fazemos, o que fica para trás? Que marca fica na nossa memória?
À nossa frente temos um casal (onde um dos membros não pode falar e como tal não se pode defender) que nunca percebeu o quanto uma relação é um conjunto de cedências sem que existam sacrifícios, e ao nunca o perceberem, nunca se aproximam, nunca sendo uma família, nem um casal… nunca se conhecendo.
É por tudo isto que Matthew foi uma personagem que apreciei. Porque percebe tudo demasiado tarde, porque quer voltar a fazer o correcto, a criar algo para a vida que não seja apenas no trabalho. O esforço para compreender quem gosta, para se aproximar das filhas revoltadas com várias situações.
Poucos momentos poderão custar mais do que aquele instante em que percebemos que não nos vamos despedir de quem amamos, que é tarde para dizer-mos o que devíamos ter dito antes.
Não sendo um grande conhecedor deste género de livros penso que este livro será uma boa leitura para quem aprecie. Divertido e que nos faz pensar, uma leitura que não custa e que nos poderá fazer pensar se estivermos dispostos a tal. Quem estiver à procura de num livro deste tipo, Os Descendentes será uma boa escolha.
Uma excelente estreia para esta autora.