Autor: David Anthony Durham
Título original: Acacia – The War with the Mein
Nota: Foram várias as pessoas que me pediram uma opinião a este livro, muitos na dúvida se deveriam "entrar" em mais uma nova saga. Esta minha opinião é certamente extensa, mas tentei falar sobre todos os aspectos fundamentais do livro, para que possam tirar as vossas conclusões sobre a sua aquisição ou não.
Sinopse: Leodan Akaran, rei soberano do Mundo Conhecido, herdou o trono em aparente paz e prosperidade, conquistadas há gerações pelos seus antepassados. Viúvo, com uma inteligência superior, governa os destinos do reino a partir da ilha idílica de Acácia. O amor profundo que tem pelos seus quatro filhos, obriga-o a ocultar-lhes a realidade sombria do tráfico de droga e de vidas humanas, dos quais depende toda a riqueza do Império. Leodan sonha terminar com esse comércio vil, mas existem forças poderosas que se lhe opõem. Então, um terrível assassino enviado pelo povo dos Mein, exilado há muito numa fortaleza no norte gelado, ataca Leodan no coração de Acácia, enquanto o exército Mein empreende vários ataques por todo o império. Leodan, consegue tempo para colocar em prática um plano secreto que há muito preparara. Haverá esperança para o povo de Acácia? Poderão os seus filhos ser a chave para a redenção?
Numa fase em que o mundo literário devora as páginas de George R. R. Martin (não só por haver uma série televisiva mas também pela enorme qualidade da saga) este autor aparece com uma série que pode levantar comparações. Basta ver as críticas internacionais. Mas existem assim tantas parecenças?
Sinceramente não existem assim tantas e Acácia “sofre” do facto do actual termo de comparação para qualquer livro da fantasia ser a saga de GRRM. Vendo aliás, de um ponto de vista mais amplo, as parecenças com Duna em relação ao enredo inicial, são mais notórias. Um Império dependente de uma droga que alarga os “horizontes” de quem a consome e a moralidade do comércio de escravos, juntamente com a tentativa de assassinato do Rei.
Claro que enquanto lemos o livro percebemos que realmente existem parecenças com a saga Game of Thrones, não só por cada capítulo ser visto pelos olhos de personagens diferentes, mas principalmente na muito falada ambiguidade moral. Mas Acácia consegue uma identidade própria nesta metade do primeiro volume, e que melhor elogio poderia eu fazer?
A também muito falada “brutalidade” não faz grande aparição neste livro, é-nos apenas dada de relance, mas neste aspecto, ao ter como base o que já vi neste livro, estou muito confiante que Durham irá surpreender. Quem o ler perceberá do que falo.
Dentro do género de fantasia este livro não inova, não deslumbra, mas também quantos o fazem actualmente? É tal factor uma necessidade para termos um bom livro de fantasia? Ajuda, mas não é obrigatório e como tal, Acácia tem tudo para se tornar numa excelente série. O primeiro factor positivo é que sendo um primeiro livro, e oferecendo uma quantidade enorme de introduções e explicações, a sua leitura nunca me aborreceu, o que não é fácil sendo um 1º livro que tenta explicar tanto (culturas, raças, mitos, História, religião, etc…). É um início também marcado por diálogos “mornos”, com o objectivo de explicar e não de acelerar a evolução da história, tornando estas primeiras páginas na dúvida moral do Rei Leodan. Sendo das personagens que mais gostei, é esta sua luta interior e o seu objectivo de vida que mais me agradou nas primeiras páginas, tornando este Rei num homem normal, com erros no passado e remorsos adjacentes. No entanto rapidamente percebemos que se trata de uma pessoa presa por correntes que nunca poderá quebrar e tal aspecto é a grande visão deste mundo.
Num mundo onde ainda existe muito pouca “magia”, e com uma História sustentada por mitos, a religião mostra-se forte e é descrita de forma agradável pelo autor, e desde cedo se percebe que terá um papel importante no futuro. As diferenças culturais são assinaláveis e um dos grandes trunfos desta obra até agora. Com os “olhos” de quatro ou cinco personagens, Durham desvenda-nos um mundo multirracial, com todos os factores que distinguem uma população a serem bem descritos e pensados. No fim percebemos que estas civilizações que habitam um mesmo mundo, não deslumbram individualmente, mas enquanto conjunto fazem este livro funcionar.
As personagens são boas e nota-se que têm tudo para evoluírem, permitindo certamente uma leitura mais viciante, no entanto o desenrolar dos acontecimentos não permite um grande aproximar das personagens com o leitor, pois “passamos” pouco tempo com elas. As duas excepções são Leodan, que já mencionei, mas também Hanish Mein, o melhor personagem desta história até agora. Sendo o “mau da fita”, foi a personagem que me deu prazer ler. A outros poderá não agradar, mas pessoalmente gostei de sentir que não é um vilão puro, mas sim um homem revoltado e cruel, moldado pelo mundo, capaz de odiar e quem sabe de amar. É uma personagem a seguir!
Corinn é também uma personagem que gostei, principalmente pela forma negra como vê a vida e espero que assim continue. De realçar ainda que a personagem Thadeus, sendo claramente secundária, mostra uma qualidade de assinalar, e acabamos por ver um homem alimentado pela revolta e remorso.
Resumindo, este livro mostrou-me quatro personagens que realmente gostei, e se o facto de não existirem descrições de batalhas pode afastar alguns leitores, o mundo construído por Durham consegue apagar esse facto, principalmente porque os diferentes olhos espalhados pela história mostram-nos civilizações diferentes e agradáveis, dando a este livro todas as condições para evoluir o meio onde tudo se desenrola. Para já deve-se assinalar que é um livro que tem mais qualidade no mundo que apresenta do que na história, mas estamos demasiado no início para se perceber até onde poderá ir esta saga.
É obviamente um livro que sofre por ser dividido (tal como A Guerra dos Tronos sofreu), mas que faz o que lhe é pedido: introduz e agarra o leitor. Sinceramente penso que quem gostar do género, depois de ler este primeiro livro, certamente irá ler o seguinte.
Durham tem aqui grande oportunidade para criar algo realmente bom. Esperemos para ver se consegue!