Autor: Philippa Gregory
Título original: The other Boleyn Girl
Este livro fala-nos de desejo, mas o que é tal “coisa”? Que sentimento é esse que nos rouba a lógica, destrói limites e moral, mudando uma pessoa? Este é um livro que nos mostra que o ser humano vive a desejar o que não tem. Quando o tiver, é provável que deixe de desejar. No fim percebemos, nós não escolhemos o que desejamos. É algo mais forte do que nós, que não controlamos e na nossa falta de lógica não conseguimos explicar. E é isso que acontece ao Rei Henrique VIII.
Este foi o único livro que li desta autora. Li-o porque esta parte da História inglesa sempre me interessou e as críticas do livro foram muito favoráveis. No entanto há dois factores a ter em mente quando agarramos este livro: primeiro que é uma obra de ficção, não um livro para aprendermos o que realmente aconteceu. Segundo, este livro tem 640 páginas, o que a princípio pode desagradar às pessoas que suspeitem que este seja um livro cheio de descrições e com uma leitura lenta.
Mas é a escrita de Philippa que torna este livro em algo agradável a ser lido. Uma escrita fácil, rápida e acessível, sem nunca deixar de descrever a vida da corte de forma surpreendentemente apelativa, o que é raro. É verdade que para mim, este livro terá umas páginas a mais, mas torna-se um pormenor insignificante quando acabamos a sua leitura.
Por vezes, nestes livros de Ficção Histórica, desagrada-me os autores “colocarem” diálogos quase sem conteúdo apenas para “encher” um pouco ou tentar demonstrar um mero ponto de vista de uma personagem. Esta autora não cai nesse erro, e os diálogos são fortes, necessários e muito bem construídos, ajudando sempre à compreensão da intriga e das personagens.
Para quem viu o filme, uma vez mais temos uma adaptação cinematográfica muito distante do livro. O livro, claramente superior, foca-se menos nas duas irmãs, Maria e Ana Bolena e dá-nos outras perspectivas, principalmente do Rei e Rainha. O Rei é a personagem que move este livro, quase indirectamente. Primeiro por sermos hipnotizados com a sua magnificência tal como todas as outras personagens o são, e depois ao percebermos que estamos perante um homem “mimado” que sempre teve tudo o que queria, nunca ninguém o confrontara com nada, e é esse o segredo de Ana, ela percebe-o tal como percebe a natureza do desejo.
No entanto este continua a ser um livro sobre as duas irmãs, e aqui a distinção entre elas é bem construída e coerente, mas a gosto pessoal achei a personagem Maria demasiado “boazinha” e ingénua, uma tentativa talvez demasiado forçada (na minha opinião) de mostrar uma personalidade que seja coerente com as suas acções. Durante toda a história é uma personagem que também se desenvolve, também aprende e confesso que gostei de como se desenrola a relação com o seu futuro marido.
A outra irmã, Ana, é uma personagem fabulosa, tal como o foi na vida real. Uma mulher capaz de tudo, que percebe o que a rodeia e se liberta dos poderes que o homem detinha sobre o sexo oposto, conseguindo alcançar com palavras e olhares aquilo que muitos não conseguiam com milhares de espadas. Mais fascinante ainda é a sua transformação quando consegue o que quer, tornando-se numa pessoa sufocada pelo medo de perder o que ganhara. Ninguém quer perder o poder que tem!
Existem também outras personagens interessantes neste livro, e todas elas lutam pelo mesmo. Numa época onde a posição na corte valia mais do que família ou moral, vemos como a sede de poder move muito mais do que tudo o resto e vemos o que se fazia pelo favor de um Rei, Soberano este que vivia para ser elogiado, sendo tal o seu impulso para as suas acções.
A religião está bem presente tal como a mentalidade do povo e os condicionalismos nos nobres para com a igreja, levando-nos a perceber que quando os interesses supostamente divinos levam a que nem sempre morra o culpado. Talvez o culpado seja realmente culpado de alguma coisa, mas talvez não do que é acusado.
Não sendo dos géneros literários que mais leio, este livro agradou-me imenso, pois tem o que é essencial, bons diálogos, boas descrições que não saturam, uma boa intriga base e personagens que se “movem” de forma coerente numa época histórica que me agrada imenso. Do melhor que já li de Ficção histórica, bem diferente do filme com o mesmo nome.
Fica o resto da saga para ler um dia, sem falta.
Gostei bastante da tua opinião. Vi o filme e gostei, mas nunca tive vontade de ler o livro. Vai ja para a minha wishlist!
ResponderEliminarTambém me convenceu neste. Uma opinião estruturada e que explica o porquê de ler ou não este livro.
ResponderEliminarGostei do livro e gostei da abordagem que fizeste para o comentar. salientaste pontos importantes. irei ler os próximos livros da saga mas já me disseram que não são tão bons.
ResponderEliminarNão conheço o filme nem o livro. Não sou apreciador de livros históricos, mas se dizes que este é um livro de ficção, irei dar uma vista de olhos. A maioria das vezes nem olho para eles nas lojas, ainda para mais quando são assim tão grandes. Mas talvez leia este.
ResponderEliminarO livro é tão, mas tão superior ao filme. A história que se segue, da mesma autora, 'A Herança Bolena', também é extraordinária, mas este é superior. Muito por causa de Ana Bolena, que acho uma personagem fantástica e fascinante.
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