quarta-feira, 7 de março de 2018

ODEIO A INTERNET


Autor: Jarett Kobek

Título original: I hate the internet





Sinopse: Como seria se contasse toda a verdade e o mundo todo o ouvisse? E se vivesse num país afundado num pântano de afronta internética? E se fosse uma mulher numa sociedade que odeia mulheres?
Com a São Francisco do ano 2013 como pano de fundo, Odeio a Internet oferece um hilariante e obsceno retrato da vida das vítimas do boom digital. Enquanto biliões de tweets alimentam o avanço da gentrificação nas cidades e os destroços humanos se empilham por todo o lado, um grupo de amigos sofre as consequências de se ser desnecessário num mundo novo que despreza os que não têm relevância e os que não dão lucro.
Neste seu primeiro romance, Jarett Kobek aborda questões prementes do nosso tempo: por que motivo aplaudimos o enriquecimento de CEOs à custa dos fracos e dos que não têm poder? Por que razão desbaratamos a nossa propriedade intelectual? Porque é que o ativismo do século XXI não passa de uma série de lições de moral digitados em dispositivos construídos por escravos? Eis, finalmente, uma explanação da Internet com o detalhe mais cru possível.




Fiqui curioso com este livro mal acabei a sinopse. Senti um toque de crítica social e moral misturada com humor negro que me fez ler estas páginas a grande velocidade. E ainda bem que o fiz.

Este é um livro muito interessante e que tenta explorar com inteligência, emoção ou humor, a sociedade que estamos a criar após o boom digital. A forma como estamos a mudar enquanto pessoas, ms também enquanto sociedade é preocupante. Aliás, sempre foi, mas os meios digitais dão-nos agora um novo poder, uma nova forma de sermos ouvidos. O facto de podermos falar com qualquer parte do mundo a partir de um ecrã, sem ver as pessoas, sem estaremos perto, oferece um conforto e sensação de impunidade que nos leva para o que são hoje as redes sociais. Mentiras, insultos, ódio. Eu próprio, ao escrever este texto, estou, de alguma forma a usar redes sociais e a internet para deixar a minha opinião. O problema não está aí. O problema está nos valores morais que a sociedade está a esquecer em troca de um reconhecimento no mundo digital que em nada melhora o mundo em que vivemos. Quanto do nosso bem estar e sensação de sucesso está dependente de "likes"?

A história é interessante, explorando ideias bem conseguidas mesmo tendo em conta que alguns momentos são forçados. O autor usa o humor para criticar a sociedade. Para isso, tal como é normal, utiliza um humor negro e exagerado para passar a mensagem, e consegue-o com bastante qualidade. O ritmo, rápido e leve, ajuda bastante a que o livro seja viciante, mesmo quando ao história não nos agarra tanto porque se ramifica em vários temas ao mesmo tempo. Com isto, o livro pode perder-se um pouco no caminho principal, mas percebe-se que o objetivo não é apenas contar uma história, mas sim levar o leitor a sentir certas críticas, a sorrir mas também a questionar e a ponderar os seus próprios comportamentos.

Sendo um livro pequeno, não quero estar aqui a explorar em demasia o enredo. Até porque na minha opinião, a história, que é boa, é secundária. O importante é a mensagem que o livro passa e a forma como nos faz sorrir graças a vários pensamentos, acontecimentos e a uma personagem principal muito bem conseguida. Direto, desconfortável, cómico, este é um livro que agradará a quem gostar do género de leitor. De tempos a tempos gosto de ler um livro mais descontraído, que me faça rir e relaxar, e este foi uma escolha muito boa para atingir esse objetivo!

Luís Pinto




 

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