Autor: Henry Gilbert
Título original: Robin Hood
Sinopse: Num tempo em que a fome e a pobreza devastavam a população de Inglaterra…
Num tempo em que a luta pelo poder do trono gerava dos mais ferozes e sangrentos combates então conhecidos…
Num tempo em que Ricardo I, Coração de Leão, o Príncipe João («Sem Terra») e Saladino passaram à história quase como lendas…
Nesse tempo, surgiu um homem que mudou o rumo de uma nação…
Robin dos Bosques é o fora-da-lei mais amado de todos os tempos: lutador, irreverente, habilidoso no manejo do arco, o ladrão que roubava aos ricos para dar aos pobres tornou-se um símbolo de justiça e de liberdade. E foram muitas as baladas e muitos os poetas que cantaram os seus feitos.
Henry Gilbert, em 1914, procurou reunir alguns dos melhores episódios atribuídos pela tradição àquele herói. Encontramos, assim, nesta edição belamente ilustrada, o romance que resultou desse trabalho: as aventuras dos companheiros da Floresta de Sherwood, que povoaram o imaginário de pessoas de todo o mundo — Robin dos Bosques, João Pequeno, Frei Tuck e Lady Marian.
Todos nós conhecemos a história do Robin dos Bosques, quer seja por ouvirmos a história quando somos pequenos, ou pelos vários filmes que adaptaram as aventuras do homens que roubava aos ricos para dar aos pobres. No entanto, e apesar de já conhecer a história, as suas personagens e o seu final, decidi ler o livro e ver quais as diferenças e o que o livro me poderia dar de único.Afinal, porque gostamos tanto de um fora da lei?
Um dos aspetos que mais gostei nesta leitura foi o seu ritmo. Estava à espera de algo mais lento, mas na realidade a leitura foi rápida, graças a uma escrita que muitas vezes é simples e objetiva, não sendo muitos os momentos em que se torna numa escrita mais densa e floreada para termos algumas descrições, que também estão muito boas. A isso alia-se um estrutura bem conseguida, com os acontecimentos e diálogos a aconteceram nos momentos certos e mesmo já conhecendo o enredo, foi fácil ficar agarrado ao livro.
Robin, apesar dos seus defeitos, é uma personagem com a qual é fácil criar uma ligação, principalmente devido aos seus motivos e ao seu passado que aos poucos é desvendado e ajuda a construir a personagem. Percebemos o porquê do que faz, percebemos as questões morais que se levantam e percebemos que este é, inevitavelmente, uma história sobre amizade, sobre amor, mas principalmente sobre justiça, seja ela correta ou não, porque nenhum povo deve viver amarrado.
Um dos grandes trunfos deste livros são os seus diálogos. Inteligentes e cheios de significado, é nas falas dos personagens que os iremos conhecer, compreender e perceber os seus planos. É nos diálogos que as amizades crescem neste enredo e é nas falas que iremos saber o que cada personagem tem medo de perder. A capacidade de um diálogo nos dar mais do que avançar com o enredo é algo que a grande maioria dos autores tentam alcançar, mas há livros que conseguem atingir um patamar mais alto em termos de conteúdo sem deixar que os diálogos deixem de ser realistas. Este é um desses casos em que nada parece forçado.
Devido à forma como está escrito, podemos olhar para esta obra como tendo um público alvo mais juvenil, mas acredito que sejam os adultos a compreender toda a moral que está nestas páginas. A crítica social é bastante dissimulada mas está presente em todas as páginas, quer seja na forma como os personagens olham para o mundo, mas principalmente pela forma como o autor expõe esse mundo. Aliás, as descrições do autor aparecem nos momentos certos para nos dar a conhecer este mundo onde o fosso entre ricos e pobres é colossal e onde a religião tem um poder enorme na manipulação e controlo do povo.
Gostei bastante desta leitura mesmo tendo em conta que já conhecia várias adaptações para o cinema. Sendo um livro, consegue ser diferente de todos, com pormenores que nunca vi nas adaptações. É mais coeso e bastante viciante mesmo nos momentos em que o ritmo desce porque a amizade e a moral deste grupo de personagens empurra a leitura. A forma como nos ligamos a um grupo fora da lei, devido ao facto de nos identificarmos com a justiça desse grupo e não com quem governa, cria uma sensação sobre a qual devemos pensar. Gostei bastante e recomendo a todos os que tenham curiosidade por adensar uma história que já devem ter ouvido falar.
Luís Pinto