Autor: Brandon Sanderson
Título original: Mistborn - The final Empire
Em todas as sagas o primeiro livro é fundamental, pois é este livro que determina se os leitores voltarão para ler o seguinte. É também neste livro que o autor tem de expor o seu mundo, apresentar personagens, sem as mostrar totalmente, e desenvolver a intriga que deverá criar perguntas e deixar-nos curiosos com o futuro das personagens com as quais nos estamos a ligar. Por tudo isto, e muito mais, o primeiro livro é mesmo muito importante.
Vejam, por exemplo, o que acontece no primeiro livro da saga A Guerra dos Tronos, em que uma certa personagem morre e define toda uma saga... ou, no caso de O Senhor dos Anéis em que haverá momento mais imponente do que Gandalf a gritar ao Balrog que ele não passará? A verdade é que quando estamos perante algo muito bom, só precisamos do primeiro livro para o saber. Esta saga de Sanderson faz parte desse pequeno lote de sagas que mostram desde o início, que estamos a ler algo que está um patamar acima da generalidade.
Então, o que torna este primeiro livro tão bom? A história base, as personagens e a narrativa. Mas, principalmente, o caminho do personagem principal. Na grande generalidade das sagas de fantástico (claro que não em todas) o herói é apresentado, tal como o mundo, e a seguir a possibilidade de aventura aparece. O herói recusa no início, mas um encontro (geralmente com um mentor), ajuda-o na sua decisão, e, por fim, o herói sai do seu espaço de conforto, e avança para a sua ventura. Aqui, tal não acontece, pois desde o início que o personagem principal, já passou estas fases, oferecendo ao enredo um ritmo superior, mas também uma maior indefinição, pois ao falharmos todas as anteriores etapas, não conhecemos os seus motivos nem o seu passado.
Assim, o enredo começa forte, e cheio de incógnitas. Por que motivos o personagem principal enfrenta o inimigo? Será vingança? O que terá perdido? Quem o acompanha?
Mas nem só da personagem principal vive este livro. Sanderson cria um pequeno conjunto de personagens com interesse e sabe o que deve demonstrar de cada um neste primeiro livro. É impossível não gostar de Vin e não ficar surpreso com outro personagem que não revelo aqui. Pelo meio está o vilão, sobre o qual criei várias dúvidas, algumas já respondidas, mas que criaram novas dúvidas, levando-me a querer ler o próximo livro o mais rápido possível. Mas, mesmo sem se perceber muito, acho que este enredo ganha bastante com o vilão que apresenta, porque em alguns momentos aparenta ser mais do que um "mau da fita".
Por fim, devo falar do mundo. Com uma narrativa rápida e que não perde o seu foco, o autor vai explorando o seu mundo aos poucos e assim nunca existe aquela queda abrupta de ritmo quando se começa a descrever muito do que é a base do enredo. Aqui o autor consegue explicar aos poucos, deixando-nos com várias dúvidas no início, mas que se esclarecem aos poucos. Quando se introduz um tipo de magia, a base e as suas limitações são o mais importante: de onde vem? como se cria? quais os seus limites? Tudo isto tem de ser estipulado e o autor explora bem estas necessidades, mas sem ainda responder a tudo. Aliás, Sanderson deixa muito por explicar, principalmente com um final de livro muito bom e que catapulta a história para uma continuação mais do que desejada.
Sendo o início de saga, não me alongo mais. Uma saga vale por um todo, e por muito boa que seja o caminho até ao seu final, é o final que a define. Com esta não será diferente, mas uma coisa é certa: poucas sagas começam com tanta qualidade demonstrada e tantas possibilidades para o futuro. No GoodReads esta é uma das sagas mais bem pontuadas de sempre, e agora percebo a razão. Se gostam de fantástico, este é um livro a ler, e espero que a restante saga mantenha a qualidade inicial. Esperemos para ver...
Luís Pinto