terça-feira, 23 de abril de 2013

PRÍNCIPE DE FOGO


Autor: Daniel Silva

Título original: Prince of Fire


Espionagem é o meu género favorito a seguir ao fantástico, mas raramente consigo encontrar um bom livro, pois também não é um género muito explorado no nosso país. Por outro lado, após ter lido O espião que saiu do frio, torna-se difícil encontrar um que tenha a qualidade que pretendemos. Há muito tempo que estava para começar a ler este autor, muitas vezes elogiado pela crítica como um dos melhores escritores neste género, e quando me ofereceram este livro decidi lê-lo, mesmo tendo me conta que é o 5º livro da saga de Gabriel Allon.

Em primeiro lugar devo dizer que tirando um ou outro momento, nunca senti que fosse realmente importante ter lido os livros anteriores. Claro que se o fizesse, conheceria melhor as personagens e os seus passados, mas não é obrigatório para percebermos esta história. Daniel Silva escreve com inteligência e rigor, dois aspetos essenciais para este género literário, e o resultado é um excelente livro.

A personagem Gabriel está muito bem conseguida, e nota-se que há muito tempo que é construída, pois existem pequenos pormenores que fazem a diferença. O enredo desenrola-se à sua volta na maioria do tempo, obrigando o leitor a sentir alguns dos receios e indecisões de um espião que tenta separar a vida pessoal da profissional, mas raramente o outro lado deixa que tal aconteça. Em relação ao vilão, o autor segue a estratégia de nos mostrar muito pouco, não em termos de ação, mas em termos psicológicos. Não é fácil saber como o vilão pensa, quais os seus objetivos nem quais os seus medos, e ao ficarmos nesta ignorância, entramos melhor na pele de Gabriel, e as surpresas têm um impacto maior.

Interessante ainda a forma como o autor expõe muita da história recente do Médio Oriente. Nota-se que há trabalho de investigação e também a tentativa, bem conseguida, de não quebrar muito o ritmo da narrativa com demasiado factos históricos de uma só vez. E com isto o autor parte para uma mistura entre realidade e ficção que ajuda a dar credibilidade a todo o enredo, principalmente porque sentimos que se trata de uma história que não foge muito à realidade que por vezes nos escapa.

Realço ainda a luta numa narrativa que é por vezes parcial, por vezes imparcial, ao mostrar-nos um pouco mais sobre o conflito Israel/Palestina que tem muito para ser explorado. O leitor tem a possibilidade de pensar por si próprio e a postura do personagem principal ajuda. Gabriel não é um herói nato que convença os leitores. É ainda um espião que tem as suas próprias dúvidas e que também tenta pensar em si, e não só no "bem maior". O final está muito interessante e ajuda a tornar o enredo muito melhor. Há outras personagens muito interessantes, mas é a noção que a qualquer momento algo poderá correr mal, que agarra o leitor. O ritmo não oscila muito,ficando num meio termo em que a ação decorre mas somos obrigados a absorver todos os importantes detalhes que mais à frente farão a diferença numa ação ou na construção de uma personagem.

No geral, este é um excelente livro dentro do seu género, com boas personagens e um ambiente que me agradou, levanta, indiretamente, questões morais e religiosas que se enquadram com o enredo. Não é uma obra-prima, mas tem toques de grande inteligência, que me faz querer ler mais livros do autor, tanto os que acontecem depois, como antes deste livro. Totalmente recomendado a quem goste do género!


Luís Pinto

11 comentários:

  1. Realmente não é um género que se fale muito pela net. Espero que continues com a saga que eu gosto bastante de espionagem.

    Excelente análise como sempre.

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    1. Olá Gus.

      Vou tentar ler mais sobre este autor. Quando voltar a ele, escrevo opinião!

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  2. Também tenho pena que não seja um género muito comentado pela internet. Gostei bastante da tua opinião e é um escritor que nunca li. Fiquei curiosa.

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  3. Olá Luís, li com muita atenção esta tua opinião, como sabes também sou um fã confesso do género. Também nunca li nada de Daniel Silva, mas tenho muita curiosidade e talvez o faça em breve.
    O ano passado comprei ao acaso "O Confessor" mas ainda não tive oportunidade de lhe pegar.
    fiquei bastante mais descansado por saber que as histórias podem ser lidas independentemente de seguirem uma certa cronologia, embora goste de o fazer geralmente mesmo pelo primeiro. Creio que mais coleccionismo do que outra coisa.
    Um abraço para ti.

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    1. Olá Nuno.

      Graças Às tuas opiniões no género, já tenho vários livros na lista para comprar!
      Pois, eu também gosto de ler na rodem certa para ver como tudo começa e como a personagem desenvolve. Mas quando recebi este, aproveitei, porque já andava atrás deste autor há algum tempo. Tenho de voltar a ele.

      Abraço!

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  4. Pedro Santosabril 23, 2013

    Li este livro este ano. É dos melhores que li no género mas ainda não li o tão aclamado Espião que saiu do frio. Está na lista desde que falaste sobre ele. Espero que continues com este autor. Eu li os primeiros 5, e gostei de todos apesar de ter gostado mais deste e do segundo.

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    1. Como é um género que adoro, vou voltar a este autor assim que tiver uma hipótese. O espião que saiu do frio, é obrigatório.

      abraço!

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  5. Mais um em que me convences. Também me convenceste a ler le Carré e adorei!

    Boas leituras e continua com esta saga. Mas começa do início! :)

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    1. Olá Cardoso.

      Para mim, Carré é o grande mestre na espionagem.

      Boas leituras!

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  6. Ois,

    Por acaso é um género que gosto e tenho aqui alguns por ler como os do John Le Garré, mas aqui está um excelente exemplo que por cá também temos bons escritores e estou contigo já li vários comentários a elogiarem os livros do escritor.

    A ver se consigo ler pelo menos um livro do mesmo, será uma questão de tempo e oportunidade.

    Excelente comentário ;)

    Abraço

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    1. Olá Fiacha,

      Tens de me dizer o que tens do le Carré para leres. Pode ser que já os tenha lido.

      Abraço!

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