Autor: Becky Albertalli
Título original: Simon vs. the Homo Sapiens Agenda
Sinopse: Simon Spier tem 16 anos e os únicos momentos em que se sente ele próprio são vividos atrás do computador.
Quando Simon se esquece de desligar a sessão no computador da escola e os seus emails pessoais ficam expostos a um dos colegas, este ameaça revelar os seus segredos diante de toda a escola.
Simon vê-se, assim, obrigado a enfrentar as suas emoções e a assumir quem verdadeiramente é perante o mundo inteiro.
Este é daqueles livros que não sei explicar porque quis ler. Quando vi a capa e li a sinopse, houve algo que me despertou a atenção. Tendo em conta que já analisei aqui no blog cerca de mil livros, a verdade é que já não é qualquer livro que me surpreende, que me marca enquanto leitor e enquanto ser humano. Este é um desses livros, que consegue ser mais do que palavras escritas. Consegue ser mais do que a criação de uma pessoa, consegue ser mais do que a visão de um autor. Este é um dos livros do ano!
Li este livro sem saber nada sobre ele, apenas lera a sinopse, e ainda bem. As surpresas são mais importantes nesta leitura e tentarei, não sei se com sucesso, explorar aqui alguns temas do livro sem revelar nada.
Vivemos numa sociedade em transformação constante. Queremos cada vez mais direitos, mas não queremos mais deveres. Aliás, queremos menos deveres. Queremos ter menos deveres para com a sociedade, queremos ter menos deveres para com a nossa família, para com a educação dos nossos filhos. Queremos menos de tudo o que possa dar trabalho, porque assim temos mais tempo para todos os estímulos que recebemos a cada instante, pelas redes sociais, pela televisão, pela internet... Mas queremos mais direitos. Vivemos numa sociedade que atualmente se sente ofendida com tudo, esquecendo que existem problemas muito piores. Fome, pobreza, doenças.
Simon é um rapaz, em teoria igual a todos os outros, mas a verdade é que somos todos diferentes. Simon é apenas mais uma criança que tem acesso a quase tudo. Eu, quando tinha 16 anos, a internet estava a começar a aparecer de forma global, o acesso era limitado, havia ainda muito para se descobrir. Agora tudo é dado de forma instantânea. Toda a gente quer opinar sobre tudo e as redes sociais tornaram-se num mistura de momentos de ódio ou momentos de felicidade, sendo que muitos desses momentos de felicidade são apenas para as aparências.
Tudo isto que escrevi está neste livro, de forma indireta, sustentando uma história dura, marcante, que angustia, não pelo que acontece, mas por sabermos que é verdade. Este livro é o espelho da nossa sociedade, de partes que não queremos ver. Esquecemo-nos que um rapaz de 16 anos não é assim tão exigente, apenas quer ser compreendido, integrado e feliz. E por vezes tornamos difícil o que deveria ser tão fácil.
Este não é um livro qualquer. Não é um livro perfeito, tem falhas e poderia ser melhor em vários momentos, mas desafio um leitor a lê-lo e a não ficar marcado pela sua história. Desafio um leitor a esquecê-lo. A história, bem pensada, apesar de ter alguns momentos mais forçados para provocar a angústia ou a revolta do leitor, está feita para criarmos uma ligação com o rapaz. O resultado é um livro com um rapaz sobre o qual nos preocupamos. Mas, o mais importante não é a sua história, que agradará a uns e não a outros. O importante é a sua mensagem, é a visão da mente de um rapaz que tem de enfrentar medos, preconceitos e que talvez sozinho não consiga sair vencedor. Tudo o resto que possa dizer é insignificante se ainda não vos tiver convencido a ler este livro. Mas, se com esta mistura de palavras vos convenci, então comprem o livro e preparem-se para uma viagem diferente, e que não esquecerão.
Luís Pinto