segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

NÃO DIGAS NADA


Autor: Mary Kubica

Título original: The good girl




Sinopse: Tenho andado a segui-la nos últimos dias. Sei onde faz as compras de supermercado, a que lavandaria vai, onde trabalha. Nunca falei com ela. Não lhe reconheceria o tom de voz. Não sei a cor dos olhos dela ou como eles ficam quando está assustada. Mas vou saber.»
Filha de um juiz de sucesso e de uma figura do jet set reprimida, Mia Dennett sempre lutou contra a vida privilegiada dos pais, e tem um trabalho simples como professora de artes visuais numa escola secundária. Certa noite, Mia decide, inadvertidamente, sair com um estranho que acabou de conhecer num bar. À primeira vista, Colin Thatcher parece ser um homem modesto e inofensivo. Mas acompanhá-lo acabará por se tornar o pior erro da vida de Mia.


Depois de muito recomendado, decidi ler o primeiro livro de Mary Kubica e gostei bastante. O que torna, na minha opinião, este livro acima da média são dois fatores. O primeiro é a forma como o enredo é narrado. Kubica leva-nos a saltar entre o antes e o depois da noite em que Mia conhece Colin, e com estes saltos, iremos tentar perceber o porquê do futuro quando lermos o passado, e vice-versa. 

Este saltitar ajuda a que a nossa atenção esteja sempre no máximo, pois queremos explicações, porque por vezes o autor mostra-nos algo no futuro e queremos saber como tal aconteceu, ou porque vemos algo no passado que sabemos que irá ter peso no futuro. E esta montagem que pode parecer complexa e capaz de destruir a narrativa, é, afinal, o grande trunfo do livro. A sensação que tenho no fim da leitura é que se a narrativa fosse sempre temporalmente em linha reta, não me teria prendido da mesma forma, mas assim, querendo ligar acontecimentos, fui avançando a grande velocidade, não conseguindo parar no último terço do livro. Resultado? Leitura compulsiva até ao último capítulo.

E é no último capítulo que está o outro trunfo do livro. Não é preciso muito para vermos que algo está errado. O enredo está a tentar enganar-nos, é óbvio, e tentamos perceber onde, tentamos antever o final porque acreditamos que haverá um twist... mas mesmo procurando, mesmo sabendo que vai haver, a grande maioria dos leitores ficará de boca aberta quando o livro acabar. E é nesse momento que este livro confirma que é melhor do que a generalidade dos thrillers psicológicos.

Sim, este é um thriller psicológico. Aliás, a narrativa não tem como base a investigação em si, mas sim o aprofundar psicológico de Mia e de Colin, quer tanto para os porquê das suas ações, mas também para nos mostrar como é o mundo que os rodeia. E assim quase que somos esmagados pela forma como a narrativa nos expõe estes personagens, querendo que o leitor sinta que os conhece, mas a realidade é que não os conhece.

Para além de tudo isto, o livro faz um bom trabalho a explorar uma visão muito particular de uma família sem problemas financeiros e "presa" a um modo de vida da qual não quer, nem pode sair. Mia é a personagem que faz o contraste dentro dos ricos, mas tudo isto é apenas para tornar o mundo mais coeso, porque depois a narrativa volta ao perfil psicológico das duas personagens principais enquanto avança e recua no tempo.

Este é um dos melhores thrillers psicológicos que li nos últimos tempos. É óbvio que tem falhas, com alguns diálogos forçados e personagens um pouco estereotipadas, mas o resultado final continua a ser bom o suficiente para tanta gente mo recomendar. Gostam de thrillers psicológicos? Gostam de serem obrigados a pensar durante uma leitura e serem surpreendidos? Então leiam este livro.

Luís Pinto 

5 comentários:

  1. Parece-me um interessante thriller psicológico. Quando vi a capa não me convenceu, mas depois da tua opinião irei lê-lo certamente.

    Abraço

    ResponderEliminar
  2. Uma boa análise como nos tens habituado sempre. Também não conhecia o livro mas fiquei curioso com essa carga psicológica que falas. A ver se o apanho numa promoção :)

    ResponderEliminar
  3. Li este livro ha algumas semanas. Nao digo que não gostei mas discordo consigo em alguns aspectos. Acho que a narrativa pouco tem a ganhar com os capitulos em que o narrador é a mae de Mia. No primeiro capitulo narrado pela mãe sabe-se tanto como nos restantes, ficando uma sensação de repetição.
    O conteúdo da narrativa é também bastante restrito, sendo que o factor inovador está presente no facto de leitor se sentir enganado, atraiçoado, defraudado mesmo pela escritora. Acho que o fim seria suficiente. O fim depois do fim pareceu-me desnecessário. É uma forma brilhante de atraiçoar o leitor mas para primeiro livro da escritora, pessoalmente achei desleal e um cartão de visita demasiado arriscado.

    ResponderEliminar
  4. Li este livro à umas duas semanas. Gostei da história e da forma como a autora escreveu, mas há ali momentos em que uma pessoa quase se perde. Até que gostei da sensação de repetição porque acho que fiquei a conhecer melhor as personagens. Já o final é arriscado mas acho que a autora arrisca bem mas acho que muitos leitores poderão não apreciar.

    ResponderEliminar
  5. Concordo com o anónimo! Não gostei do final e achei os capítulos da Eve uma maçada. A parte mais interessante do livro é a descoberta da causa da amnésia.

    ResponderEliminar

Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.