Autor: Patrick Modiano
Título original: Dora Bruder
Sinopse: Anos atrás, o narrador depara-se com um anúncio publicado no Paris-Soir de 31 de dezembro de 1974: «Procura-se uma rapariga, Dora Bruder, de 15 anos…» Quem era Dora Bruder? Desde esse dia, o destino da jovem judia enredada nas malhas da ocupação nazi nunca mais o largou, obcecado que estava em reconstruir a sua história até aos momentos finais no campo de Auschwitz. Este livro (como aliás, toda a obra do autor) é assim um combate contra o esquecimento, uma afirmação portentosa dos caminhos redentores da memória – contra tudo aquilo que nos macula e destrói. Com ele, Modiano escreveu porventura a sua melhor obra – e uma das mais notáveis da moderna literatura francesa.
O vencedor do Prémio Nobel de 2014 era um nome que desconhecia. Já ouvira falar do seu trabalho, mas nunca lera nada do autor. Na última semana agarrei naquela que é, provavelmente, a sua mais impressionante obra, e apesar de acreditar que não será um livro favorito de muitos leitores, é um livro impressionante, e que ficará connosco para sempre.
Começa lento, direto, objetivo, transportando de imediato o leitor para um ambiente quase palpável, angustiante e sombrio, quase como um murro no estômago durante todas as páginas em que Modiano nos dá uma impressionante visão da Segunda Guerra Mundial.
A busca sobre esta jovem, tentando saber quem era, o que lhe aconteceu... é avassaladora, levantando o autor a querer que tudo corra bem, como se de pura ficção de tratasse, sem nunca esquecer que esta história é real, e não é única... e é com essa noção que nos apercebemos da realidade de que Dora Bruder não foi apenas uma história isolada, mas sim a repetida história de muitas pessoas durante aqueles anos. Dora Bruder, neste livro, não é apenas uma rapariga, é a realidade de muitas. O autor sabe-o, nunca nos diz tal coisa, mas nós sabemos, e assim continua a busca por alguém de quem apenas sabemos o nome do início.
O incrível neste livro é a forma como o autor nos agarra. Sendo um livro bastante lento e metódico, a verdade é que o li rapidamente, querendo saber mais, procurando pistas e ligações, desejando o golpe de sorte que fará o autor encontrar Dora. Mas, mais do que tentar encontrar a rapariga, o que fica na nossa memória são as descrições, sem emoção, que o autor nos vai dando daquela época, daquele mundo ao qual muitos decidiram fechar os olhos.
No final o que temos é um impressionante relato de um ponto de vista pouco usual deste conflito, tornando este livro único e incrivelmente marcante. Não será o favorito dos leitores, talvez nunca o voltemos a ler, mas marcará para sempre. E talvez seja por isso que este autor ganhou o Nobel, porque, tal como foi descrito vários vezes, escreve contra o esquecimento, leva-nos a recordar algo para sempre. Paradoxalmente forte e sem emoções, Modiano tem aqui uma obra de mestre mas que não é para qualquer leitor. É sim, para todos os que queriam entrar nesta época, preparados para tudo.
Luís Pinto
Livro a ter em conta claramente. Abraço
ResponderEliminarNão conheço o livro nem o autor mas a ideia base é empolgante. Estou muito curioso para o ler.
ResponderEliminarMais uma excelente análise. Li o livro esta semana e gostei bastante e a tua opinião transmite exatamente o que senti. Recomendado a todos.
ResponderEliminarBoas leituras