O Espaço Leitor regressa com mais uma opinião. Como sabem, trata-se de um "espaço" onde qualquer leitor pode deixar uma opinião a um livro à sua escolha.
Desta vez recebemos mais um texto da Margarida Contreiras a quem agradeço a análise, desta vez feita a um livro que nunca li.
Todos os que queiram enviar algum texto para ser publicado no blog, estejam A`vontade para usar o nosso e-mail de contacto!
Autor: Célia Correia Loureiro
Célia Correia
Loureiro apresenta a terceira publicação num romance que vem confirmar a sua
competência. Não que se possa comparar com grande ligeireza este romance
histórico com os seus anteriores volumes, que tratam outras matérias. Porém, é
possível validar a sua qualidade no notável aumento de complexidade, na
expressividade que ganhou estilo e na elaboração lógica e surpreendente de uma
trama bem composta.
A Filha do Barão é
simultaneamente uma história romanceada e uma personagem cuja personalidade
abraça todo o livro – que é a primeira semente da narrativa e que é também os
seus frutos. Retrata uma história de amor passada no tempo das invasões
francesas. E retrata bem! Verificamos uma ótima reprodução gráfica de locais,
personagens e ambientes, feita geralmente nas entrelinhas para não aborrecer o
leitor com parágrafos exclusivamente descritivos. São também estas descrições
que nos mostram o que aparenta ser uma pesquisa histórica muito bem feita, já
que chega ao pormenor da gastronomia, vestimentas e quotidianos, que enfiam o
leitor numa máquina do tempo. A escritora mostra-nos em que momento histórico
nos encontramos através de diálogos políticos que têm lugar no contexto
masculino, entre copos de vinho do Porto e charutos, onde por vezes nos deparamos
com uma ou outra ilustre figura da História de Portugal, o que realça ainda o
realismo e a credibilidade da narrativa.
Três vivas à narração
dos momentos de intimidade, atrevida mas elegante e muito empolgante. A
propósito, Célia Loureiro traz-nos o tema pouco explorado nesta categoria
literária da jovem que é forçada a casar com um homem mais velho. O patamar em
que as duas personagens se encontram e desencontram, além dos desenvolvimentos
intelectuais e físicos por que passam, não só complexificam esta história, como
também a ornamentam com um encanto muito particular. No que diz respeito ao
enredo, a autora já se mostrara bastante competente. Devemos, contudo,
reconhecer que neste livro ela se supera com os climas de suspense que apimenta,
deixando uma dúvida flutuante que quase nos faz crer que há um contra-senso –
um erro de narrativa. Mas por pouco tempo nos deixa assim ficar pois que
algumas páginas à frente chegamos à solução para a intriga. Esta história traz
à convivência portugueses, franceses e ingleses que encarnam a omnisciência do
narrador, mostrando-nos através das palavras de Célia Loureiro um Portugal
visto aos olhos destas nacionalidades em diferentes aspectos – do político ao
gastronómico – e que lhe deixam escapar um certo patriotismo.
Ainda assim, não
podemos afirmar que estejamos perante o livro perfeito já que, embora as suas
falhas não superem a sua qualidade, devemos apontar-lhe o dedo por se deixar
alongar demasiado na descrição de alguns acontecimentos que, ao nos fazer
perder o entusiasmo, comprovam que este livro não perderia qualidade se
perdesse alguns milímetros de lombada. Alguns acontecimentos paralelos à
história central poderiam ser dispensados ou eventualmente substituídos por
ramificações da narrativa, já que neste livro praticamente só seguimos uma
história central.
Por fim, é importante
saber-se que Célia Loureiro não ficará por aqui no que respeita a esta
história, já que nos poderemos permitir aguardar por uma sequela que há-de
aparecer completar o primeiro volume. E ainda bem, já que, ao lermos o primeiro
sabemos o que encontraremos no segundo e podemos prever que não nos
proporcionará uma perda de tempo mas antes momentos de digressão divagadora em
que nos deixaremos entrelaçar num novelo de personagens e histórias de nos
pregar os olhos, descair o queixo e endurecer os dedos ao segurar a capa.
Uma vez mais, obrigado à Margarida Contreiras por esta análise muito interessante!
Ah obrigadíssima!
ResponderEliminarA crítica tem tanta qualidade quanto um autêntico romance :)
É sempre bom ver os meus livros descritos nas tuas palavras.
Bj