terça-feira, 2 de setembro de 2014

A TÚLIPA NEGRA


Autor: Alexandre Dumas

Título original: La tulipe noire



A Túlipa Negra era já um romance de época à época do seu autor - Alexandre Dumas – que nos conta esta história numa ação passada dois séculos antes da sua existência. Passa-se a narrativa na Holanda, simbólico país das tulipas, por finais do século XVII, e começa docemente, com a figura de van Baerle, um inofensivo botânico de bom coração que ama esta espécie de flora acima de tudo na vida, já que nada mais tem para além dos seus fiéis servos. 

Toda esta doçura é quebrada com a entrada em cena da inveja figurada na personagem do seu vizinho Boxtel que lançará o fio do enredo central, ao mandar prender van Baerle injustamente, impedindo-o a poucos passos de realizar a sua grande ambição: criar uma túlipa negra como azeviche. Porém, é em pleno cárcere que o botânico encontra a figura do amor personificada numa flor de outra espécie: Rosa, a filha do carcereiro, a quem quer juntar as tulipas do seu coração e com quem dá as mãos para mergulhar na aventura que nos conta esta obra.

A trama desta aventura propõe-nos sensações de suspense, ação, revolta e deleite, ao longo de uma leitura simples mas nem de longe inanimada. Antes pelo contrário: o leitor que percorre estas linhas vai sentir-se sentado com as pernas à chinês e queixo seguro nas mãos, admirando um Dumas sentado numa cadeira, de óculos na ponta do nariz e o livro numa mão, deixando a outra liberta para movimentos de expressão. É que este autor, mais do que escritor, é um verdadeiro contador de histórias. Fala ao leitor, recorda-lhe momentos da história para que não perca o fio à meada e, por vezes, sentado na sua cadeira, parece que afasta para longe a mão que segura o livro, olha-nos nos olhos por cima das lentes e partilha a sua opinião. Mas nem por isso somos obrigados a considerar esta obra como literatura juvenil, já que a sua expressividade agradará com grande facilidade a um leitor mais maduro.

As personagens são também simples e cada uma serve claramente de marco a uma virtude ou a uma falta. Se van Baerle, o botânico, é a ambição, Rosa é a inocência, Boxtel será a inveja e por aí adiante. Quer isto dizer que as ações isoladas de cada um dos intervenientes são guiadas continuamente pelo mesmo princípio com o derradeiro objetivo de se entrecruzarem numa colisão de sentimentos que desembocará nas derrotas de alguns deles e nas glórias de outros.

Alexandre Dumas, o grande criador do vingador Conde de Monte Cristo e do bravo D’Artagnan, encantou também os seus leitores com um delicioso arranjo floral: uma "túlipa-flor" e uma "rosa-mulher". Conta-nos a história de um ambicioso, de uma apaixonada inofensiva, de um invejoso, de vários injustiçosos e de uma túlipa que, sem sentimentos nem caráter, teceu involuntariamente todas as teias desta história, assassinando, castigando, recompensando e encantando todos os seus intervenientes até ao desfecho magnífico desta narrativa, que convido o leitor a conhecer, deixando-se levar pelo ambiente da época e da aventura: sentai-vos, cruzai as pernas e escutai com os olhos! Alexandre Dumas nunca falha.


Luís Pinto

3 comentários:

  1. Mais uma bela análise. Li este livro o ano passado que já estava em casa a apanha pó. Não é o meu preferido de Dumas mas é muito bom como sempre.

    Boas leituras

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  2. Um dos meus livros favoritos :-)

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  3. Olá Luis!
    Não conheço este livro mas já fiquei a gostar da história.
    Queria muito ler um autor clássico estrangeiro este ano e acabei de descobrir qual será.
    Obrigada pela partilha

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