Autor: Will Hill
Título original: Department 19
Sinopse: Jamie Carpenter tem 16 anos e perdeu o pai há pouco tempo. No mesmo dia
em que descobre que a sua mãe foi raptada por um vampiro, é salvo por
uma criatura gigante que diz chamar-se Frankenstein e que o leva para o
Departamento 19, a agência supersecreta do governo. Conhecida também por
Luz Negra, esta agência foi fundada há mais de um século por Van
Helsing e outros sobreviventes de Drácula para combater as forças do
sobrenatural. Com a ajuda da agência, de Frankenstein e de uma jovem
vampira por quem se apaixona, Jamie vai fazer tudo para salvar a sua
mãe, mesmo sabendo que terá de enfrentar um exército de vampiros
sedentos de violência, sangue e destruição.
Vampiros. O género mais lucrativo dos últimos anos foi alterado para sempre com a saga Twilight, um daqueles livros que divide os leitores entre os que adoraram e os que odiaram e que, em muitos casos, nunca mais conseguiram olhar para vampiros, fossem eles brilhantes ou sangrentos.
O género alterou-se e levou atrás muita da fantasia urbana, e de repente, tivemos um mercado onde o público alvo era o feminino. Mas não aqui. Will Hill traz-nos um livro para adolescentes, moderno e clássico ao mesmo tempo, onde armas, ação e vingança são "o tema do dia", e que, apesar de não ser exclusivo para rapazes, a verdade é que são eles o público alvo.
No início este livro não me estava a convencer... no fim, fiquei desejoso de ler o próximo. Will Hill começa algo previsível, e com alguns clichés, principalmente na construção da sua personagem principal: Jamie. Rapaz imaturo, distante do mundo e do presente, apresenta os seus problemas e revolta devido à morte do seu pai. No entanto, o autor começa a fugir desses clichés construtivos e acaba com uma obra que traz algo de novo a um género que já era difícil de ler e muito previsível.
Com uma escrita simples e ritmo elevado, Hill leva-nos a saltar constantemente entre passado e presente, e se no presente Jamie é o centro, no passado temos o início da sua família e a luta entre Drácula e Van Helsing. É violento, cheio de sangue e com algumas descrições mais fortes, mas a sempre presente tendência para se tratar de um livro para um público adolescente, não deixa a narrativa chegar a níveis mais altos de violência psicológica.
O autor faz uma ligação muito interessante entre o passado e o presente, entre a tecnologia atual e a existete na era de Drácula e, principalmente, consegue encaixar bem o enredo entre estes dois tempos. O facto de termos pela frente personagens lendárias como Drácula, Bran Stoker ou Van Helsing, ajuda a criar entusiasmo, mas é também aqui que o autor tem um dos seus maiores trunfos: a capacidade de interligar histórias, personagens e criar algo que não parece repetitivo nem forçado, e no fim temos um livro que nos dá uma enorme vontade de ler os próximos.
O enredo está bem montado apesar de apresentar alguns momentos mais previsíveis, mas que no geral funciona muito bem, com descrições nos momentos certos e viagens ao passado que deixam sempre a sensação que ainda não sabemos tudo. E com tudo isto, nunca fiquei saturado. Um outro ponto a favor é a imaturidade de Jamie, mas que não agradará a todos os leitores. Na minha opinião, Jamie é uma personagem bem construída, com todas as falhas e valores morais que melhor encaixariam nesta história. No entanto, e uma vez mais, também Jamie puxa o livro para um público mais adolescente que se identificará com a personagem.
Num plano mais adulto é preciso afirmar que é muito agradável não existir uma distinção firme entre humanos bons e vampiros maus. Sempre apreciei histórias onde a linha que divide os bons dos maus fosse difícil de se perceber e aqui existem momentos onde tal acontece, dando uma maior maturidade mas também ajudando a que o leitor continue a ler, procurando uma melhor definição das personagens.
Para terminar, não poderia deixar de salientar que existe neste livro um pequeno diálogo, com pouco mais de cinco ou seis linhas, e que define, muito bem, a qualidade que este autor pode atingir. Esse diálogo levanta várias questões sobre o porquê das nossas ações e se a mesma ação, feita por razões diferentes, terá ou não o mesmo significado. Se nos próximos livros o autor explorar estas questões, o livro ganhará bastante com isso.
Resumindo, este livro será adorado pelo público mais adolescente mas também ganhará vários fãs no público mais adulto e que goste deste género. Como início de saga, não é uma obra prima, mas Hill demonstra que o enredo é sólido, tem muito para dar e vários segredos escondidos. Se a qualidade se mantiver até ao fim da trilogia, Hill terá, tal como a crítica internacional afirmou, oferecido um novo fulgor a este género. Agora é esperar pelos próximos e ver onde Jamie nos irá levar.
Luís Pinto