Autor: Nuno Lobo Antunes
Olhando para A Bíblia como uma obra de ficção e após tê-la lido duas vezes, sempre me ficou a sensação que sabemos muito pouco sobre algumas personagens. José, pai de Jesus, é uma delas.
Este livro é sobre esse homem, a presença masculina na educação de Jesus, tão importante naquela época, mas que na vida de Jesus se torna tão ausente. O autor, com um português fantástico, dá-nos um José enquanto narrador, e aqui está o único ponto em que posso "apontar o dedo ao livro". Num gosto muito pessoal, acho que quando existe um narrador, a escrita deve adaptar-se ao mesmo. Se for uma criança de dez anos a narrar a história, os seus pensamentos e a sua fala, têm de parecer de uma criança. Neste caso basta apenas duas ou três páginas para percebermos que uma pessoa como José, na época em que viveu, com as limitações da mesma, provavelmente não escreveria tão bem como neste livro... mas deveria o autor abdicar desta poderosa escrita para a encaixar melhor na personagem? Não, porque acima da escrita está o pensamento de cada Homem, e como tal, este pequeno detalhe torna-se insignificante perante a beleza narrativa do livro.
Em tudo o resto, o livro demonstra uma qualidade que poucos conseguem atingir. Argumentando, desabafando, este José sofre o que nenhum outro homem sofreu. Costumo dizer, entre amigos, (e aqui perdoem-me os que acreditam, e sem qualquer falta de respeito) que o momento mais grandioso da Humanidade foi a invenção de Deus, momento de um significado só igualado pelo momento em que o começamos a questionar. Este livro tem em José aquele que questiona, pois foi a ele que Deus tirou a mulher e nela coloca o seu filho.
Do alto da montanha o Senhor fez rolar a pedra da vida, que consigo outras pedras arrastou.
Afinal que Deus é este, que por vezes dá, por vezes tira, por vezes diz que temos de ser nós a seguir o nosso caminho e escolher? José não compreende, e por vezes não aceita, esta divindade que criou algo imperfeito, que não respeita a sua própria criação, que a deixa sofrer, por vezes desde o primeiro momento de vida, e que friamente abandona o seu filho a morrer na cruz... levando o próprio Jesus, o único que nunca deveria questionar a existência de Deus, a perguntar porque o abandonou.
Esta obra é a vida de José e dos seus pensamentos. A argumentação está excelente e a forma como o autor monta a narrativa torna-a fácil de ler. Nota-se ainda um grande estudo do autor sobre o tema por forma a criar alguns passados e personalidades que ajudam a tornar a história mais coerente mas também mais sólida. Não é, claramente, um livro para todos os leitores, mas é totalmente recomendado a quem gostar do tema, quer seja alguém crente ou não.
Nuno Lobo Antunes tem aqui um livro filosoficamente forte, moralmente interessante, que deve ser lido devagar e questionado, para que exista, virtualmente, uma discussão entre o autor e o leitor, por forma a tirarmos as nossas conclusões sobre esta personagem que raramente vimos na vida de Jesus. Um excelente livro e com conteúdo suficiente para várias horas de discussão.
Luís Pinto
Volto a dar-lhe os parabéns, Luís. Um excelente texto, cheio de força. Se o livro tiver a qualidade do seu texto, já merece ser lido. Se for tão bom como diz, então irei adorá-lo.
ResponderEliminarComo em todos os outros textos que fez, dou-lhe os parabéns.
Uma critica muito interessante a um livro que quero ler. Não conhecia mas já o meti na lista de futuras compras. Parabéns pela escolha, pois parece um excelente livro. Parabéns ainda pelo texto, que está fantástico.
ResponderEliminarParabens pelo excelente texto. Fiquei convencida e nem conhecia o livro. Vou já comprar porque o tema interessa-me muito!
ResponderEliminarNão é o meu género mas com esta opinião vou ter de o dar à minha mãe. Parabéns que bem mereces!
ResponderEliminarVou comprar. Gostei mesmo muito da tua análise. Bjs!
ResponderEliminarMuito obrigado a todos pelos comentários!
ResponderEliminarFico à espera de opiniões!