segunda-feira, 6 de maio de 2013

OS GUERREIROS DO ARCO-ÍRIS


Autor: Andrea Hirata

Título original: Rainbow troops


Sinopse: Este é o primeiro romance do indonésio Andrea Hirata, que o escreveu em homenagem à sua escola, aos seus professores e ao grupo de crianças com quem cresceu e partilhou experiências extraordinárias. A história é contada na primeira pessoa por Ikal, um rapaz que tem seis anos quando o romance abre, e decorre na pequena ilha de Belitong, onde a maioria da população vive em condições de extrema pobreza. Para estas crianças, a sua escola, uma velha construção de madeira, é o lugar onde são felizes e a única possibilidade de escaparem à pobreza. Mas para eles como para os dois únicos professores há que travar uma batalha constante face à ameaça de a escola ser fechada. Felizmente Pak Harfan, o diretor da escola, e Bu Mus, a jovem professora, souberam incutir nestas crianças a autoestima e o amor pelo conhecimento que lhes permite defender corajosamente o seu direito à educação.


Nada define tanto a nossa vida quanto o momento em que nascemos. A junção de vários fatores, como o local, o dia, os pais... Uns nascem numa família da classe média em Portugal, outros em famílias ricas da Dinamarca, outros nascem em locais "esquecidos por Deus". Ikal é um desses rapazes, um entre milhões de crianças que luta por algo que para nós é banal, um direito adquirido. 

Com uma narrativa na primeira pessoa, lemos as palavras de Ikal, rapaz indonésio de seis anos, e o facto de ser uma história baseada em factos reais, torna o livro melhor, inspirador até. Neste livro, o marcante não é a história em si, mas antes a realidade na qual se desenrola. O que marca é a desigualdade que todos nós sabemos existir, mas que rapidamente esquecemos. O que marca é a diferença entre a nossa realidade e a do livro. Esta é uma história sobre crianças que nada têm, que iriam chorar de felicidade se tivessem uma torneira por onde saísse água potável. Esta é a história de um grupo de professores, que sem um quadro e um giz, usam a terra das ruas para escrever e ensinar. Esta é a história de um grupo de crianças, que não tendo dinheiro para pagar os estudos, sonham com o aprender, com o conhecimento que ninguém lhes pode roubar e lutam por isso. E é, de forma comovente, um livro sobre a coragem de quem usa os seus dias a tentar ensinar, a tentar dar esperança a crianças que o mundo abandonou.

Sendo um livro que transmite esperança mas é envolto em tristeza, a força da narrativa é muito importante. O autor utiliza uma linguagem fácil e que chega facilmente ao leitor, de forma a que seja fácil perceber esta realidade. Um ponto interessante, e que não esperava, é o facto de perante um livro que expõe a desigualdade no país, o autor não faz uma crítica direta à política local. Tudo é feito de forma indireta, porque é na natureza humana que está a raiz do problema, e não no sistema criado.

Outro ponto a favor neste livro é o seu conjunto de personagens. Ikal é a principal mas nem por isso a mais marcante. Existe um conjunto de sete ou oito personagens que fazem o livro ter conteúdo e consistência. Todas bem definidas, diferentes, e com vida, senti que foram estes rapazes e os seus professores que me fizeram continuar a ler, pois a sua força de vontade sente-se... e por isso temos um livro em que, sem que nenhuma se destaque, existem várias personagens muito boas, e que iremos recordar.

O que comove nesta obra é a luta diária e o facto de não desistirem, e aos poucos estas crianças deixam de ser sonhadores aos nossos olhos, e passam a ser heróis. Ver a dificuldade de uma criança em querer aprender, e a alegria que tem em estar na escola, ou ver como um professor sente o quanto a sua profissão é nobre e necessária, deixa um nó na garganta quando tudo o resto tenta destruir estes esforços. Mas o livro não é só tristezas, e existem momentos em que rimos, quer seja pela inocência ou pela ingenuidade das crianças em alguns dos seus atos ou conversas.

No entanto, por mais que entremos nesta realidade, é inevitável não fazermos comparações com o que conhecemos. Estas comparações ajudam a vincar esta realidade e a distância a que estamos dela, mas há pontos em que estamos perto. Há muito que a terra já não pertence ao povo, mas sim às grandes empresas, a quem tem o dinheiro, a quem tem o lucro. A diferença está simplesmente na percentagem de desigualdade que existe, porque a realidade é que existe em todo o lado.

Não quis revelar nada sobre a história mas também não é ela o mais importante. O importante é a luta contra a realidade em que algumas crianças têm o azar de nascer. Podia ter sido qualquer um de nós... Um livro forte, que demonstra a força do sonho e a importância dos professores que desejam realmente ensinar. Sem dúvida, um livro que qualquer pessoa deve ler, se quiser visualizar uma realidade muito diferente. Parabéns ao autor pela sua impressionante história que não deixa o leitor indiferente.

Para mais informações sobre o livro "Os Guerreiros do Arco-íris", clique aqui.

Luís Pinto

6 comentários:

  1. Parabéns pela excelente análise. A meio da análise já estava convencido. Está na lista de futuras compras. Parece uma bela escolha.

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  2. Uma análise muito forte e objectiva da tua parte, Luís. Parabéns. Já tinha lido outras opiniões a falarem bem deste livro e agora fiquei ainda mais convencida.

    continuação de boas leituras. Bjs

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  3. Já li o livro e gostei bastante. é tudo o que tu dizes nesta opinião. Gostei muito do ambiente e dos professores. Excelente crítica da tua parte, focado no que é importante neste livro.

    Abraços

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  4. Adorei este texto! Parabéns!

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  5. Obrigado! Se procurarem pelo livro na net vão encontrar várias análises, e todas as que encontrei falam muito bem do livro.

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  6. Excelente análise a um livro que me parece muito forte e esclarecedor. Vou comprar :)

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