terça-feira, 20 de setembro de 2011

O ESTRANHO CASO DE BENJAMIN BUTTON

Autor:   F. Scott Fitzgerald          

Título original: The Curious Case of Benjamin Button


Muitos críticos dizem que “O Grande Gatsby” de F. Scott Fitzgerald marcou a literatura Americana do último século tal como “As aventuras de Huckleberry Finn” de Mark Twain marcaram o século XIX. Confesso que apenas li o livro de Twain, mas acabei por ler um pequeno conto de F. Scott Fitzgerald, “O Estranho Caso de Benjamin Button”, que nos últimos anos ganhou nova projecção com a adaptação para o cinema.
Este pequeno conto encantou-me grandemente pela sua singularidade, pela ideia (que partiu do próprio Mark Twain) de lermos sobre uma personagem que nasce velha e vai ganhando lentamente a juventude, deixando para trás as doenças, a incapacidade, para abraçar a força, agilidade e saúde própria de uma idade mais nova.
Primeiro devo dizer que o livro e filme são muito diferentes. Há várias diferenças que são suficientemente significativas para quem tiver visto o filme poder ler estas páginas e encontrar surpresas agradáveis. Surpresas estas que não irei revelar.
Este é um livro belo, onde Fitzgerald tem a capacidade de em cada linha nos mostrar algo de belo, algo pelo qual se dê valor à vida, mesmo que seja a vida de um rapaz com 5 anos mas que apresenta todos os problemas de um velho de 80 em enorme decadência. Este é um livro que nos mostra que a idade nunca poderá ser o que limita um sonho. Para se sonhar e concretizar esse sonho basta estar vivo. E é isso que esta personagem nos ensina!
O Ser Humano tem a enorme tendência de ao longo da sua vida dar menos valor ao que já tem, e para a grande maioria estar vivo é um dado adquirido, não há a sombra da morte nos nossos dias da juventude, talvez até meio da nossa vida. Com Button é o contrário. Temos uma personagem que nasce, que vai melhorando, descobrindo o mundo, mas que quer viver mais do que a sua condição lhe permite, e ao não consegui-lo, dá um valor à vida que poucos igualam, pois a verdade é que durante todo o livro, Button nunca tem a idade certa para apreciar a vida. São inúmeras as situações, oportunidades, que Button não agarra de braços abertos porque está velho na fase da sua adolescência, para depois de muitos anos a esperar pela força da juventude, já a sua mente estar cansada, e uma vez mais sentimos que falta a capacidade de viver a vida com tudo o que ela tem para oferecer.
Com uma personagem tão singular, Fitzgerald consegue criar momentos que ajudam a perceber como Button está longe de todos o que o rodeiam. Quando se apresenta demasiado velho, Button tem na realidade a idade de uma criança, mas todas as pessoas com quem cruza caminho acreditam na sua enorme experiência de vida, levando os diálogos a questões, conversas ou até a situações que Button não consegue perceber ou enfrentar. Por outro lado quando está numa idade avançada, Button apresenta a gloriosa juventude e apercebe-se da falta de respeito que as pessoas lhe dão, principalmente às suas palavras, pois é apenas um “puto”. Todas estas situações, levam Button a questionar certos valores e ideais, e tal nota-se na forma como os seus olhos observam a sociedade. A enorme diferença entre o leitor e esta singular personagem tornam este livro numa experiência única e que merece ser lida.
Com tamanha singularidade, Button “acelera” muito lentamente para a vida, levando-o a mudanças de “cenário” e de amigos, mudando constantemente, e uma vez mais a diferença. A criança que por ser velha cresce com pessoas idosas, de enorme experiência, que lhe falam como iguais, levando-o a um desenvolvimento mental único dentro da sociedade. Por vezes dá a ideia que Button ao aparentar ter, por exemplo, 50 anos, e convivendo com pessoas que têm realmente essa idade, ele sabe o que espera essa pessoa. O declínio da idade, a dependência, e acaba por as perceber por um lado, não percebendo no entanto o que eles já viveram, pois a Button falta a Era da juventude.
Como disse antes, o filme e livro são distintos, e se gostei do filme, achei o livro ainda melhor. Uma experiência única, com uma personagem singular, com a qual nos preocupamos, que caminha para um destino que não encaixa no nosso senso comum, um homem que caminha para a morte com um aspecto de novo, mas apenas por fora. Uma personagem que lamentamos não conseguir aproveitar totalmente a sua vida simplesmente porque nasceu velho. E se Button chega a fazer comparações, entre por exemplo o seu pai e o seu filho, também nós leitores faremos tais comparações ao ler as palavras de Fitzgerald, que afirmo aqui serem de grande qualidade.
Este é um belo livro, com uma mensagem para todos que o leiam, talvez com significados diferente para cada leitor. Eu pessoalmente adorei a ideia base, a personagem principal e a capacidade do autor me fazer pensar em cada página pelo que indirectamente está associado às palavras que li, tornando este livro em algo mais do que aquilo que está escrito.
Livro pequeno, que se lê rapidamente, que agradará a uns, a outros nem tanto. Eu adorei-o.

10 comentários:

  1. Ainda não li a opinião, fá-lo-ei com mais tempo. No entanto, encontro-me neste momento a ler "The Great Gatsby" do autor e estou a gostar bastante. Como já vi no primeiro parágrafo, sei que ainda não o leste. Se depois tiveres curiosidade em ver o que achei do livro, vê nos próximos dias o Labirinto. A opinião será publicada muito brevemente.

    Confesso que tenho curiosidade em ler o livro, porque adorei o filme. Mas por outro lado, a vontade não é muita, simplesmente porque eu sou daquelas pessoas cheias de manias, nas quais se inclui uma que é ler os livros e só depois ver os filmes. Mesmo que os últimos sejam diferentes dos livros, estraga-me sempre a antecipação.

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  2. Adorei o Livro também! Chega de mansinho e conquista-nos! É um conto que nos faz reflectir na efemeridade da vida. Apesar de preferir o filme foi uma leitura que apreciei bastante.

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  3. Filipa, percebo o que dizes em relação a estragar-te sempre a antecipação, mas olha que este livro tem algumas diferenças bem importantes em relação ao filme. o Grande Gatsby tenho curiosidade de ler mas ainda não o agarrei. depois leio a tua opinião. a escrita do Fitzgerald é agradavel e gostava de ler mais sobre ele.

    Jojo, ainda bem que gostaste do livro e do filme. eu acho que não se devem perder.Leste mais algum do autor?

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  4. Luis, já te respondi no facebook mas, respondo-te aqui na mesmo;). Não ainda não.Mas quero ler The Great Gatsby e o The beautifull and the Damned. Não sei é quando terei tempo.

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  5. Jojo, aconselho-te a leitura do Gatsby. :)
    Devias passá-lo à frente lol (estou só a brincar)

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  6. Tenho este livro por ler graças a uma promoção da revista Visão, se a minha memória não me falha, e fiquei contente por a tua opinião ser assim tão positiva. Tentarei lê-lo num futuro próximo. :)

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  7. Rita, depois de o leres diz-me o que achaste :)

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  8. "O estranho caso de Benjamin Button" vi apenas o filme e gostei muito. Normalmente quando vejo o filme não leio o livro mas penso que aqui é possível que faça uma excepção uma vez que dizes que o livro tem algumas diferenças. Gosto de enredos que me surpreendam pelas perpectivas diferentes que apresentam e este foi um dos casos. Por essa razão comprei este ano "O grande Gatsby" que tenho algumas expectativas. Vou aguardar também pela opinião da Filipa e da Rita.

    Boas Leituras!

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  9. Já acabei então a leitura deste livro e também gostei deste livro. Embora concorde que nos faz pensar, achei que deixou algo a desejar. Esta obra merecia mais do que ser apenas um conto. Merecia mais exploração.

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  10. Olá Filipa! Eu adorei esta ideia base e este conto tornou-se num dos meus preferidos, mas estou como tu, é daqueles livros que preferia que tivesse mais 100 páginas para podermos ver mais detalhes da personagem principal. Mas a ideia é excelente e a personagem fica na memória pelos desafios que é obrigado a passar. Pena realmente não ser mais explorado.
    bjs!

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