quarta-feira, 26 de abril de 2017

4 3 2 1


Autor: Paul Auster

Título original: 4 3 2 1





Sinopse: O que nos motiva verdadeiramente? O que nos leva a optar por um caminho em detrimento de outro? De que futuros abdicamos pelo simples facto de termos apenas uma vida para viver?
No dia 3 de março de 1947, na maternidade do hospital Beth Israel em Newark, New Jersey, nasce Archibald Isaac Ferguson, filho único de Rose e Stanley Ferguson. Uma só criança a quem são dados quatro caminhos ficcionais diferentes, quatro direções possíveis. Uma pessoa que se desdobra em quatro, para assim viver quatro vidas paralelas e absolutamente diferentes, mercê das circunstâncias, do acaso, e das escolhas.
Os contrastes entre os quatro Fergusons são evidentes. As distintas relações com a família e as amizades, o amor romântico e as paixões intelectuais percorrem a tumultuosa paisagem da América, entretecendo-se com momentos cruciais da História do século xx. Em comum, o fascínio por uma mulher: a magnífica Amy Schneiderman. Todavia, cada uma das relações entre os quatro Fergusons e Amy é única. E nós, leitores, somos as testemunhas de cada momento de prazer, cada momento de dor, cada lento avançar rumo ao inevitável culminar das suas - de todas - as vidas.



Vou ser direto: este é um daqueles livros que se adora, ou se odeia. Paul Auster tem aqui, muito provavelmente, o seu livro mais complexo até hoje e aquele que leva o leitor ao limite.

Com um brutal número de páginas, Paul Auster sabe como envolver o leitor num enredo do qual não conseguirá sair. Com uma escrita objetiva, mas sem nunca deixar de explorar o que é importante para a criação de ambientes e exploração de personagens, Auster empurra o leitor durante quatro narrativas que se unem e se afastam quando menos esperamos, sem nunca ter tido a noção de que o autor se perdera pelo caminho. É verdade que a meio o livro perde algum fulgor, perdendo o fascínio inicial e ainda sem oferecer as respostas que estão guardadas para o final, mas mesmo com um ritmo mais lento a meio, o livro não perde qualidade, apenas obriga o leitor a um maior esforço para se perceber tudo o que estas páginas tentam transmitir.

Com bons personagens e momentos surpreendentes, Auster tem aqui uma base fantástica que explora com mestria, levando-nos a questionar tudo o que o personagem faz e sempre com a noção de que essas mesmas questões podem ser colocadas à nossa vida. A questão principal é que o autor não se limita a explorar uma história. Este é um livro filosófico, psicológico, metafísico sobre a essência do que é ser uma pessoa nesta sociedade e de como as nossas vidas são a construção de todos os momentos, todas as decisões, todos os sentimentos. É um livro sobre um minuto que pode mudar a nossa vida e nunca saberemos como seria diferente se esse minuto tivesse tido outro desfecho.

A tudo isto Auster mistura vários locais, todos eles com uma identidade que encaixa no enredo e o torna mais inteligente. A forma como o autor monta a sua história é, talvez, o seu maior trunfo, e que pode passar despercebido ao leitor menos atento. Auster leva o leitor por caminhos bem montados, principalmente porque todos nós sabemos como acabam esses caminhos, com a morte. Aliás, é esse, indiretamente, o tema deste livro: a morte, como ela condiciona a cada instante, a cada ação, a cada sentimento, a cada dor ou prazer. A noção de que o nosso tempo está a acabar.

Pauls Auster tem aqui um livro complexo, forte, psicológico. Questiona o que é, o que foi e o que poderia ter sido. Questiona quais os valores que nos fazem decidir. Muitos leitores precisarão de um enorme esforço para o acabar, outros irão entrar no enredo e sentir o peso de cada página. Não é um livro que agrade a todos, mas a qualidade é inegável e inesquecível. 

Luís Pinto

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