terça-feira, 11 de agosto de 2015

O LUTO DE ELIAS GRO


Autor: João Tordo




Sinopse: Numa pequena ilha perdida no Atlântico, um homem procura a solidão e o esquecimento, mas acaba por encontrar muito mais.
A ilha alberga criaturas singulares: um padre sonhador, de nome Elias Gro; uma menina de onze anos perita em anatomia; Alma, uma senhora com um coração maior do que a ilha; Norbert, um velho louco que tem por hábito vaguear na noite; e o fantasma de um escritor, cuja casa foi engolida pelo mar.
O narrador, lacerado pelo passado, luta com os seus demónios no local que escolheu para se isolar: um farol abandonado, à mercê dos caprichos da natureza - e dos outros habitantes da ilha. Com o vagar com que mudam as estações, o homem vai, passo a passo, emergindo do seu esconderijo, fazendo o seu luto, e descobrindo, numa travessia de alegria e dor, a medida certa do amor.
O luto de Elias Gro é o romance mais atmosférico e intimista de João Tordo, um mergulho na alma humana, no que ela tem de mais obscuro e luminoso.




Contam-nos estas páginas o excerto da história de um homem. Sem sabermos onde nasceu ou morreu, desvendamos o seu percurso dentro de si próprio e o papel da sua esfera envolvente no desbravar desse caminho. Contam-nos estas páginas a história de um luto.

Porque o luto também é uma história. É o relato de uma transformação consumada na exploração dos percursos da alma e no encontro com a desesperança, trevas, inquietação e outros rebuliços. Neste caso, tudo converge na fuga e na insulação de si mesmo que, nesta história, são reduzidos à simplicidade de uma ilha e de um farol. Aqui, estes dois elementos servem, em primeiro plano, de local de fuga à dor e, em segundo plano, de local de reencontro do protagonista consigo mesmo e com os figurantes que com ele abrirão caminho. O verdadeiro âmago da questão é revelado através do comportamento do protagonista e das suas visões de memória, ao ritmo dos abalos, dores e perturbações que, não sendo descritos, são antes dados a perceber na (aparente) simplicidade dos gestos dos personagens. 

Elias Gro, de seu exótico nome e emblemático perfil, não se trata do personagem principal deste romance, embora a sua presença se atravesse ao longo de toda a narrativa. Não são propriamente as peripécias da sua história que o autor se centraliza, mas antes o processo da sua transformação e, sobretudo, a influência da sua história na transformação do protagonista.

Esta é uma história profundamente filosófica sob a forma de uma literatura incrivelmente límpida, que nos faculta espaço e tempo para interpretar, absorver e disfrutar das suas linhas, sem que seja necessário desembaraçar os nós das lógicas psicanalíticas e das meias palavras. João Tordo consegue levar-nos ao centro de um homem, onde o seu âmago se contorce de desassossego, sem nos contaminar com este sofrimento, mas antes permitindo-nos um olhar à distância e uma reflexão acerca dos sinuosos caminhos da psique. Atrevamo-nos a concluir que a condição de luto não corresponde obrigatoriamente ao falecimento de um ente querido, podendo também associar-se a um estado de morte não-física decorrente de uma profunda danificação do cerne de cada um de nós.
O desfecho não deve ser revelado mas importa salientar que o autor gloriosamente o construiu numa confirmação da sua mestria de palavra, pensamento e filosofia.

Não é um livro para todos, mas é um grande livro...

Luís Pinto

3 comentários:

  1. Parabéns pelo texto de grande qualidade, como sempre!

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  2. Como é normal neste grande blog, mais uma análise com grande mérito, sempre em géneros literários diferentes e com escritas também diferentes para cada género. Como é usual, volto a dar os parabéns pelo texto e devo dizer que fiquei com muita vontade de ler este livro.

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  3. Também fiquei entusiasmado com este livro depois de ler esta crítica. Tal como é regra neste blogue, um texto com uma boa análise sem revelar nada da história. Parabéns pela crítica e pela escolha de mais um livro português!

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