segunda-feira, 18 de março de 2013

SANGUE QUENTE


Autor: Isaac Marion

Título original: Warm Bodies



R é um jovem em plena crise existencial. É um zombie. Numa América devastada pela guerra, pelo colapso da civilização e pela fome incontrolável de hordas de mortos-vivos, R anseia por algo mais do que devorar sangue quente. Só consegue pronunciar alguns monossílabos guturais, mas a sua vida interior é rica e complexa, cheia de espanto pelo mundo que o rodeia e desejo de o compreender - bem como a si próprio. R. não tem memórias, não tem identidade e não tem pulsação= mas tem sonhos. Depois de um ataque, R devora o cérebro - e, com ele, as memórias - de um rapaz adolescente, e toma uma decisão inesperada: não devorar a jovem Julie, a namorada da sua vítima, e até protegê-la dos outros zombies.


Sangue Quente é uma leitura mais suave e divertida do que a base da sua história pode dar a entender. R, o personagem principal, é o dono de uma mente incapaz de se expressar, tal como qualquer zombie, mas ao ouvirmos os seus pensamentos vemos uma boa e divertida complexidade de quem, por vezes, olha para o mundo com os olhos de uma criança, sempre a descobrir algo novo, questionando noções básicas para os humanos.

A partir desta personagem, acho que podemos olhar para esta obra com duas perspectivas diferentes: na primeira, a mais simples e suave, vemos que Sangue Quente é um divertido e original romance entre uma humana e um zombie, onde a humana é a personagem catalizadora da evolução do zombie, principalmente na forma de se fazer comunicar. A história é simples e os pensamentos de R bastante interessantes, levando o leitor a perceber a magnitude deste amor impossível. Para além disso, não será difícil encontrar ligações entre esta obra de R e Julie, e Romeu e Julieta. O mundo é simples e apenas é explorado o necessário para percebermos as questões sociais e políticas, bastante importantes para percebermos muito do que move algumas das personagens. Claro que bastante fica por explorar, não são dadas todas as respostas, mas este género de livros também não o exige, nem o leitor passará a leitura a questionar todos os factos.

Mas, para mim, existe outra forma de abordar esta obra, e esta é muito mais profunda. Muitos poderão dizer que ao ver este "lado" poderei tornar o livro em algo mais complexo do que é o objetivo do autor, mas dou-vos alguns exemplos: em primeiro lugar, este livro demonstra como por vezes, a pessoa menos apta é a que mais se esforça, e este facto é algo que podemos transportar para muitos momentos da nossa vida. Para além disso, esta história também nos mostra que nem sempre o mais assustador é o mais perigoso, e aquilo/aquele, que pode parecer diferente ou arriscado, nem sempre será o menos seguro.

A juntar a isto temos o tema principal: o ser humano sempre necessitou, e irá necessitar, de alguma forma de ligação, contacto, interação... seja um romance, uma amizade, ou uma simples partilha social. Esta necessidade influencia a cada instante a nossa vida, e não será preciso pensar muito para se poder afirmar que o amor cura e destrói com mais força do que qualquer outro sentimento. E para mim, este livro é sobre isso: sobre a força do amor, que nos piores momentos consegue dar-nos uma luz, um caminho a seguir, e sem esse amor, não vivemos, somos zombies...

Sangue Quente é um romance interessante e original, com personagens que ajudam a cativar. R tem pensamentos interessantes e facilmente gostamos deste zombie. A história tem, no meu entender, mais do que parece num olhar rápido. Tem lições que nós próprios, leitores, devemos construir a partir do que lemos. Não é uma obra prima, nem irá agradar a todos, sendo um livro que terá como público alvo aqueles que apreciem um romance divertido e com vários momentos de suspense. Fica a imagem de quanto o amor é importante e poderoso, e de como, em muitas ocasiões, o ser humano limita-se a recear o que desconhece, atacando sem pensar.

Luis Pinto

5 comentários:

  1. Gostei muito da tua opinião. Fiquei convencida. Também quero ver o filme.

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  2. Olá Luís!

    Como sempre, deixas-me com vontade de ler este livro. Também estou a pensar ver o filme mas gostava de ler primeiro. vou ver se arranjo e depois digo-te o que achei.

    Boas leituras.

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  3. Gostei da tua opinião. Quando vi o trailer do filme não me deu grande vontade mas gostei da forma como abordaste a crítica e fiquei com vontade de comprar!

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  4. Como sempre tu escreves e as pessoas lêem com gosto. Fiquei convencida e olha que quando vi o trailer também não estava convencida e assim prefiro ler o livro.

    Boas leituras!

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  5. Quando vi o trailer também não me convenceu a ver o filme, mas o livro tornou-se bastante interessante em certos temas. Agora vou ver o filme para perceber se ficou parecido.

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