Autor: Alan Moore, David Lloyd (ilustração)
Qual é a diferença entre estar dentro ou fora das grades, se continuamos presos?
Termos como liberdade, vingança, controlo, o que realmente significam? Poderá uma pessoa ser mais do que a carne do seu corpo? V, a personagem principal, conseguiu-o.
“I didn't put you in a prison, Evey. I just showed you the bars.”
V for Vendetta é um dos melhores comics que alguma vez li. Numa bela mistura de O Conde de Monte Cristo, 1984 e Fahrenheit 451, o autor Alan Moore cria uma personagem que deverá ser olhada não como um homem, mas como a junção de várias ideias e convicções.
Num país totalmente controlado pelo governo, retirando ao povo a informação, a liberdade, e em último caso, todos os prazeres, vemos surgir um homem que acredita poder fazer a diferença. Tal como Cobb disse em Inception, a ideia é o mais resistente dos vírus, levando-nos a moldar vidas, criando um objetivo, obrigando-nos a continuar. V tem essa ideia bem vincada, uma vingança que passará a mensagem ao povo, criando um efeito borboleta que fará as pessoas levantarem-se e destruir a apatia que as oprime.
V, personagem fantástica, é também uma mistura de outras personagens noutras obras, e facilmente vemos um pouco de Dantes (O Conde de Monte Cristo), quando percebemos a sua ingenuidade em relação ao que a vingança lhe dará. Poderá alguma dia a vingança matar a dor após concretizada?
“Behind this mask there is more than just flesh. Beneath this mask there is an idea... and ideas are bulletproof.”
Este é um livro que passa uma mensagem, muito política e social, mostrando que existe um limite para um povo. Nenhum povo, por mais oprimido que seja, terá sempre um momento em que se levanta, e neste caso esse momento é oferecido por V, o catalisador que mostra ao povo que podem, e devem, ser mais do que aquelas vidas sem chama!
A história é boa e tem como trunfo toda a filosofia de V, que sem nunca impor a sua ideia a outras pessoas pela força, consegue por palavras o que outros não conseguem com violência. É verdade que existem algumas parecenças com 1984 e Fahrenheit 451, mas neste caso a mistura cria um mundo base muito interessante, mostrando-nos o que pode acontecer se nos deixarmos manipular.
O que é controlo? Como se consegue controlar as massas? Por medo muitos tentaram e falharam... E por falta de algo? Não. As pessoas apenas são controladas indefinidamente quando não o sentem e é aí que entra a manipulação de todo um povo, alterando o seu conceito sobre o que os rodeia, sobre o que será o futuro, sobre a realidade do exterior. Estaremos tão longe disso? Telemóveis, redes sociais, comunicação social... tudo isto são formas básicas de controlo, que aceitamos a belo prazer. Mas poderemos chegar um dia a este estado? Em quantos países encontramos ainda hoje esta realidade? Se tal acontecer, o erro será nosso, tal como a culpa. Afinal, poderá ser isento de culpa o povo que se deixa controlar?
“People shouldn't be afraid of their government. Governments should be afraid of their people.”
O trabalho gráfico é bom, ou pelo menos assim me parece, pois admito que não sou um grande conhecedor de comics. No entanto posso afirmar que gostei bastante do visual.
No geral esta é daquelas comics que consegue ter uma qualidade difícil de esquecer, pois não se limita a entreter, mas também a fazer-nos pensar e a passar uma ideia, cabendo a cada um de nós interpretá-la à sua maneira e aceitá-la, ou não, pois acredito que mesmo quem não concorde com algumas das ideias da personagem V, não deixará de sentir a qualidade.
Eu vi a política e a filosofia, outros verão outras mensagens, e é essa a beleza desta obra. Mesmo para quem não seja um fãs de comics, este livro é recomendado!
Para quem viu o filme, a adaptação é fiel, mas novamente, o livro consegue, graças a uma maior duração, atingir uma profundidade superior.