terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

FILHA DO SANGUE



Autor: Anne Bishop

Título original: Daughter of the Blood


Há setecentos anos, num mundo governado por mulheres e onde os homens eram meros súbditos, uma Viúva Negra profetizou a chegada de uma Rainha, na sua teia de sonhos e visões.
Agora o Reino das Sombras prepara-se para a chegada dessa mulher, dessa Feiticeira que terá mais poder do que o próprio Senhor do Inferno. Mas a Rainha ainda é nova, passível de ser influenciada e corrompida. Quem controlar a Rainha controlará o mundo. Três homens poderosos - inimigos de sangue - sabem isso. Saetan, Lucivar e Daemon apercebem-se do poder que se esconde por trás dos olhos azuis daquela menina inocente. E assim começa um jogo cruel, de política e intriga, magia e traição, onde as armas são o ódio e o amor. O preço pode ser terrível e inimaginável...

Ler as primeiras páginas deste livro não foi uma tarefa fácil, e por dois motivos. O primeiro é porque o comecei a ler no dia seguinte a acabar O Mago – As Trevas de Sethanon. Grande erro! Percebendo de imediato que depois de ler a obra-prima de Feist qualquer outro livro não teria o mesmo impacto, decidi esperar uns dias e não ler nada.

Voltando ao livro dias depois, o segundo problema é entrarmos neste mundo e ele nos ser dado como se sempre o conhecêssemos. Uma experiência parecida com Duna. A complexidade do mundo de Bishop é, na minha opinião, notável. Não sendo fácil de o percebermos de imediato, ao fim de algum tempo começamos a interiorizar o que rege este mundo, o sistema que o sustenta, mas a verdade é que até metade do livro tenho consciência que houve situações que não percebi totalmente por falta de conhecimento profundo desse mesmo sistema (e quando falo em sistema falo em espaço, magia, raças, política, etc…)
No entanto, enquanto a história avança, começamos não só a perceber como tudo funciona, mas também percebemos pequenos detalhes que tinham ficado na minha mente para “futura compreensão”, e quanto mais avançava mais admirava o mundo de Bishop. A verdade é que se trata de algo diferente de tudo o resto que li, e como tal fiquei agarrado, pois rapidamente se notou qualidade neste início de saga.  

Desde cedo percebi duas coisas: primeiro este livro não tem nada da fantasia mais “típica” e como tal, aplaudo a autora por trazer algo de novo; em segundo trata-se de um livro negro. Quando digo negro não digo visualmente forte, digo negro, pois toda a sua história se passa num mundo sombrio, tanto em personagens e locais, como em interesses. Algo que também ajuda a essa imagem de darkfantasy é a própria escrita da autora: mantendo sempre o suspense, raramente nos dá toda a informação, de forma a não percebermos totalmente o que se passa, quer seja durante descrições ou diálogos. Tal facto levou-me a por vezes sentir que a noção que tinha dos acontecimentos vinham dos sentimentos das personagens e menos de tudo o resto. O resultado desta escrita foi que me aproximei rapidamente das personagens e isso ajudou bastante, mas por outro lado devo dizer que por vezes senti um ou outro exagero (para o meu gosto) nas emoções descritas pela autora. Dou-vos um exemplo: são muitas as vezes que Saetan e Jaenelle falam, e são muitas as vezes que após algo que a rapariga diz, Saetan sente a sala a andar à roda, ou as mãos a tremer, ou algo mais que nos mostre o medo da personagem. Aqui para mim só há duas hipóteses: ou Bishop criou um Senhor do Inferno que por vezes é fraco, ou então esta personagem apresenta um medo sustentado por perceber algo que nós ainda não percebemos. Esta segunda hipótese parece no final o mais provável, pois Jaenelle começa aos poucos a mostrar uma capacidade que ajuda a sustentar esse medo. Os próximos livros ajudarão nesta questão.

Como já disse a criatividade da autora salta à vista, mas também a forma como “montou” o livro. A forma como os capítulos encaixam uns nos outros, como saltamos de personagens e com muitas revelações a ficarem por revelar, todo o livro ganha uma dinâmica que me agradou bastante, e que me obrigou a não parar de ler. A isto junta-se o facto de a escrita da autora encaixar de forma quase perfeita no que o livro nos apresenta. Sensual, intrigante. Afinal de contas este mundo é grandemente sustentado pela sensualidade, pela escravidão sexual e pelo desejo. Poucas coisas retiram ao ser humano a capacidade de pensar logicamente, mas uma será certamente o desejo sexual e/ou a negação do prazer. Fonte de loucura, de interesse e de traições, o desejo é aqui usado como arma política e social, e Bishop está muito bem nesta área.

Apesar de notar que o público alvo deste livro será o sexo feminino, a verdade é que não notei que fosse algo tão óbvio como, por exemplo, na saga Kushiel (saga da qual ainda só li o primeiro livro, metade do original, mas que continuarei a ler visto que já adquiri o segundo).

Este é seguramente um início promissor de trilogia. Com um mundo complexo e algumas personagens excelente (Daemon é brilhante!) que dão uma qualidade enorme ao livro, digo-vos que a este livro apenas faltam duas coisas na minha opinião: uma espécie de mapa, para nos ajudar no início, e mais importante: um vilão a sério. Alguém que nos faça tremer! Percebo que a história deste primeiro livro “não tem espaço” para um vilão deste tipo, nem necessita dele, mas gostava de o ver no futuro da saga.   

Neste momento, ainda no início, parece-me que esta saga não deve ser perdida por ninguém, mas ainda me falta ler muito para ter uma opinião conclusiva. Para já tenho a certeza de uma coisa: agora que o leitor começa a dominar este mundo mágico, as suas regras e limitações, Bishop terá de mostrar uma enorme capacidade para não deixar este mundo cair de alguma forma com acontecimentos que possam original dúvida entre os leitores.
Para todos os que gostem de fantasia que não seja só o “modelo típico” que inunda o mercado, este livro será certamente uma leitura muito agradável e a mim convenceu-me totalmente.
Uma agradável surpresa! Para continuar a ler sem qualquer reserva!

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Notícia: Ler y Criticar mencionado no Blog do Autor de Acácia!



  O Blog Ler y Criticar foi mencionado no blog oficial do autor de Acácia, David Anthony Durham. Sendo assim decidi divulgar o seu post e também o seu blog oficial para os que ainda não o conheçam. Aproveitem para visitar o blog e ficarem a conhecer mais sobre este autor e o mundo que criou.


Deixo-vos aqui o link:





Obrigado David Anthony Durham pelo post e boa sorte com os próximos livros!

A INVENÇÃO DE HUGO CABRET


Autor: Brian Selznick

Título original: The Invention of Hugo Cabret



Hugo Cabret é um rapaz órfão que vive numa estação de comboios em Paris. Sem que ninguém o conheça, Hugo dá corda e repara os relógios da estação, passa completamente despercebido e caminha pela enorme estação roubando comida e peças de brinquedos, peças essas necessárias ao seu objectivo – consertar um autómato, um boneco robot que terá a capacidade de escrever.

As motivações de Hugo, e que fazem este livro desenvolver-se no enredo, são simples: primeiro existe uma necessidade de consertar o robot por se trata de algo que o seu pai lhe deixou, e para mais era algo que os dois tentavam consertar até se tornar órfão. No entanto não é difícil perceber que Hugo tenta consertar o robot porque a angustiante verdade é que ele está sozinho, sem ninguém, e poderá existir algo pior para uma criança do que encontrar-se sozinha no seu mundo?

O que me agarrou neste livro nas primeiras páginas foi exactamente essa solidão e a inabalável determinação da criança em conseguir o seu objectivo. Tanto o sentimento de solidão como a determinação do rapaz não são descritas ao leitor de forma directa, mas a verdade é que todo este livro é fácil de perceber, pois a sua escrita simples, direccionada a qualquer pessoa com mais de dez ou doze anos, dão-nos a garantia que nada nos deverá passar ao lado.

Este livro é metade texto, metade desenho, e como tal a sua leitura é muito mais rápida do que poderia parecer ao início quando vemos a grossura do mesmo. No entanto os desenhos, que à partida poderão afastar algumas pessoas, são o que na minha opinião torna este livro uma experiência única e muito agradável. E porquê? Porque ao contrário de outros livros também direccionados a um público mais jovem, este livro apresenta imagens que não se limitam a mostrar-nos o que o texto já nos disse. Aqui as imagens contam a história, levando o leitor a “saltar” entre o texto e o grafismo. Devo ainda assinalar que os desenhos do autor são excelentes, cheios de pormenores, muito bem feitos e com a extraordinária capacidade de transmitir o essencial, quer seja uma acção, um pensamento, um sonho.

Esta é uma obra fácil de ler, com mensagens adultas para quem as procurar. A história é simples e recheada de ambientes maravilhosos, com descrições que nos conseguem  passar uma sensação de beleza e acabamos por sonhar juntamente com Hugo. As personagens estão bem conseguidas, algumas delas reais, misturando a ficção com a nossa realidade.
Este livro na minha opinião só peca por ser tão rápido de ler. A verdade é que queria mais história, mais detalhes e é claro que esta sensação apenas fica porque todo o livro foi agradável, nunca sendo um esforço. Fica ainda a sensação que se o tivesse lido há dez anos, teria adorado, sem qualquer dúvida, mas ao lê-lo agora gostava de que fosse mais maduro, mais “negro” principalmente na capacidade de me fazer sentir a solidão da criança. No entanto nota-se claramente que esse nunca foi o objectivo do autor.
Para todos aqueles que procurem uma experiência diferente do normal, este livro é indicado, principalmente pela mistura entre texto e imagens, que aqui funciona na perfeição. Um livro que nos deve fazer pensar sobre o que é a solidão, o que tal sensação pode fazer a uma criança, transformando-a… neste caso é a sua força de vontade, a sua determinação que cresce e se alimenta dessa mesma solidão. 
Não é uma obra prima, mas será certamente recordado no futuro como algo diferente e que fica na memória dos leitores. Este autor oferece-nos algo único, uma nova forma de interagir com os livros.


Em relação ao filme que já vi, as diferenças existem, mas não são significativas. Notei algumas diferenças na interacção entre Hugo e Isabelle e ainda algumas diferenças no fim da história. No geral posso dizer que a adaptação está muito boa e fiel, mostrando aquele ambiente mágico que o livro transmite.

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

PASSATEMPO: Expiação


 

PASSATEMPO EXPIAÇÃO




O blog Ler y Criticar tem para vos oferecer um Pack com o livro Expiação de Ian McEwan e ainda o filme em Blu-ray da adaptação desta obra literária, com os actores James McAvoy e Keira Knightley e vencedor de um Óscar

Para se habilitarem a ganhar este Pack terão apenas de responder às perguntas do questionário e serem Fãs do blog no Facebook ou Seguidores com o Google Rede Social.
É só clicar no "like" ou no "aderir a este site" aqui mesmo ao lado!

O Passatempo acaba dia 29 de Fevereiro, sendo de seguida sorteado o vencedor e anunciado o seu nome! Será então pedido ao vencedor que envie um mail com os seus contactos para a entrega do livro e filme! O passatempo será apenas para Portugal Continental e Ilhas!

Encontrarão as respostas ao questionário na minha opinião sobre o livro AQUI

BOA SORTE a todos!



segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

O MAGO - As Trevas de Sethanon

 
Autor: Raymond E. Feist

Título original: A Darkness at Sethanon



Feist começou a sua Riftwar Saga com o excelente O Mago - Aprendiz. Personagens que me cativaram desde o início, uma escrita fácil, por vezes surpreendente e a junção de dois mundos que se revelaram desde o início muito interessantes. Quando acabei de ler O Mago – Mestre percebi o porquê de se tratar de uma saga com tantos fãs pelo mundo. Raymond E. Feist criara algo novo, refrescante, mostrando uma nova visão sobre a fantasia, sobre a magia e juntava ali uns conceitos básicos de Ficção Científica que adorei. Os personagens eram fantásticos, com Macros a deixar-me preso ao livro e com Tomas a afirmar-se como uma personagem simplesmente incrível, e tudo isto enquanto olhávamos para a sublime civilização de Kelewan. Com o terceiro livro, Espinho de Prata notei que Feist não mostrara tanta inovação como nos livros anteriores, mas apresentara personagens importantes como Jimmy e notava-se que o livro servia como introdução a algo maior, enquanto desenvolvia as suas personagens, tanto em poder como em maturidade, preparando-as para o livro final.

Este livro é simplesmente fantástico! De longe o meu preferido da saga, um dos melhores livros de fantasia que alguma vez li e sinceramente não sei quando irei ler outro que me agrade tanto quanto este. Um final de saga fantástico e a confirmação que estamos perante uma saga obrigatória!
Sendo um enorme fã dos livros anteriores, agarrei imediatamente este livro e se a espectacular capa me deixou de olhos abertos, ainda mais fiquei ao começar a ler e ver em letras grandes “Macros Redux”. Não era preciso mais nada para começar de imediato!
Neste livro Feist explica o essencial, tanto sobre a origem da magia, do mundo e o passado de muitas personagens, como também das origens do inimigo e as suas motivações. Este é o ponto alto do livro porque enquanto explica, Feist consegue criar fantasia pura, do melhor que alguma vez li, com Macros, Pug e Tomas em grande plano, sem nunca esquecer outras como Jimmy e até uma ou outra que serão verdadeiras surpresas e não irei aqui revelar.
Pelas suas páginas vemos criaturas novas, com histórias e passados que encaixam na perfeição, iremos ver novos mundos com uma qualidade que adorei, com descrições fantásticas, com grande esplendor gráfico e sendo cada uma delas uma lufada de ar fresco dentro do mundo literário da fantasia. 

Outro ponto a favor deste livro é o seu ritmo constante, tornando-o consistente, sempre agradável e cheio de acção e revelações. Os capítulos têm qualidade do início ao fim sem nunca usarem a estrutura de um capítulo que começa lento e acelera até ao ponto que queremos ler e nesse momento passamos para outro capítulo/personagem. Não, Feist não usa esse método. Feist mostra e explica o que nós queremos realmente ver e saber, essencial para um fim de saga.
Em relação às personagens, Tomas torna-se numa das melhores personagens da história da literatura fantástica e se já a considerava a melhor da história, agora estou completamente rendido a este rapaz que viveu duas vezes, com os seus constantes flashbacks que oferecem uma qualidade ímpar à história.
Com batalhas épicas, excelentes revelações, momentos de verdadeira magia literária, que nos levam a entrar no livro e imaginar cenários fantásticos, e ainda uma excelente mistura de fantasia com conceitos básicos de Ficção Científica, Feist arrisca em levar a sua saga por um caminho que poderá não agradar a todos, mas que me convenceu totalmente.

O final é coerente com todas as movimentações, mas pessoalmente queria algo diferente, pois a forma como Feist acaba o livro foi algo previsível do meu ponto de vista, o que destoa com todo o livro que foi um aglomerado de surpresas e surpresas. Existe ainda um outro momento no qual o autor foi previsível (até cheguei a torcer o nariz por ter percebido de imediato que tal iria acontecer), mas mais não falarei para nada revelar. Se olhar bem, no geral trata-se de um problema quase insignificante neste livro.

Resumindo ao máximo este livro e esta saga tenho que dizer o seguinte: A saga é excelente, absolutamente obrigatória e irei reler cada livro com o mesmo entusiasmo dentro de pouco tempo. Feist com a sua visão deste mundo conseguiu deixar-me de boca aberto.

Todos nós, que gostamos de fantástico, temos sempre uma ligeira preferência por diferentes aspectos deste género de livros. Uns preferem uma fantasia mais “Tolkien”, outros preferem uma fantasia mais “George R. R. Martin”, mas a qualidade nunca a negamos, e certamente a maioria nunca irá negar a qualidade deste livro.
Ao nível dos grandes clássicos, este livro é uma obra-prima e eu não o poderia recomendar mais. O ano ainda está longe de chegar ao fim, mas As Trevas de Sethanon estará sem qualquer dúvida, no top dos melhores livros de 2012! Repito: Fantástico!

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Discussão no blog: Como acabará a saga Game of Thrones?

 
Nota: Quem ainda não tiver acabado as sagas O Senhor dos Anéis e Harry Potter irá certamente ficar desagradado se ler este texto. Parto do princípio que o leitor que continue a ler já tenha acabado estas duas sagas. Usarei estas duas sagas no texto simplesmente porque são as que gostei mais de ler e são possivelmente as mais famosas. Existem ainda spoilers sobre a saga de George R. R. Martin


Como irá acabar a saga Game of Thrones de George R. R. Martin?

Esta é talvez a pergunta mais frequente da literatura actual. O brutal fenómeno literário (agora galvanizado pela excelente série) agarrou cada leitor e largou-os num universo com mais de mil personagens, numa teia de interesses que parece não ter fim. Mas afinal para onde nos leva Martin? Qual é o possível final de série? Bem, tal resposta ninguém sabe, é a pergunta de um milhão de dólares. Talvez nem Martin tenha mais do que um pequeno esboço na sua mente do que poderão ser as últimas páginas.

Se olharmos para os livros de literatura fantástica, todos apresentam um objectivo, que é delineado no início da obra. Os objectivos são variados, passando pela sobrevivência, conquista do amor perdido, concretização pessoal, salvar alguém que o personagem principal estima, ama… podia estar aqui o dia todo. O que devemos retirar é que o objectivo é quase sempre global à história/mundo, e é a demanda para alcançar tal objectivo que move o livro. Pensemos em alguns exemplos: olhemos para alguns dos livros/sagas que mais venderam nos últimos anos. Comecemos pelo imortal O Senhor dos Anéis. Uma vasta teia de movimentações, muitas personagens, povos fantásticos, mas esprememos tudo em relação ao objectivo e vemos como se resume à luta do bem contra o mal. A destruição do Anel Um simboliza essa luta e Frodo concretiza-a. Se olharmos à volta percebemos que todas as personagens se movimentaram em volta da destruição/salvação do Anel. Objectivo comum.
Olhemos agora para a saga Harry Potter. Esprememos o objectivo e chegamos ao comum. Desde o primeiro livro que tudo se desenvolve para a destruição de Voldemort. Talvez não o percebamos nos primeiros livros, mas quando chegamos ao fim, lá está. Todas as personagens têm como objectivo comum a vitória/derrota de Voldemort, dependendo do lado em que lutam.

LOTR e HP apresentam um objectivo comum a todas as personagens e isso consegue-se porque quase todas estão definidas entre preto e branco. Não há muitas personagens meio-termo, que saltem sobre a linha que divide essa moralidade. Mas uma saga que apresente esse objectivo comum torna-se uma má saga? Não. Devia existir uma Lei Física que impedisse alguém de falar mal de LOTR por tudo o que trouxe de novo, e a saga HP colocou uma geração de PlayStation a ler algo com qualidade dentro do seu género, situação quase impensável. A questão que se levanta numa saga que apresenta esta particularidade é que apenas temos dois finais possíveis, isto se olharmos para o fim da saga de forma global. Em LOTR, por exemplo, ou teríamos a destruição do Anel Um, ou este voltaria às mãos de Sauron. Tudo o que se seguisse seria o resultado desse evento. O mesmo acontece com HP. Ou teríamos a vitória de Harry Potter ou de Voldemort, e qualquer acontecimento seguinte, como por exemplo mortes, seriam o resultado dessa prolongada batalha em que o objectivo comum, do bem contra o mal, choca.

Vejamos LOTR: livro que é publicado depois de uma grande guerra em que o mundo presencia atrocidades que muitos queriam acreditar inalcançáveis para a mente humana e numa fase em que muitos temiam a vitória do mal. Ao aparecer um livro de fantasia, em que a mente do público era claramente fechada a este tipo de literatura, Tolkien chega ao final óbvio. As pessoas não queriam ver o mal vencer, queriam ver esperança, queriam ver a força da amizade, ajuda, e Tolkien ofereceu isso ao mundo com a destruição do Anel e a brutal amizade de Frodo e Sam. Se o mal triunfasse em LOTR, o mundo rejeitaria de imediato o livro, por mais qualidade que tivesse. O mundo não está preparado para dar dois saltos de cada vez e se ler fantasia adulta à escala mundial (em que árvores falam, etc…) foi um grande salto para a época, ler fantasia e o mal vencer seria no mínimo impensável. Tolkien estava então preso a esta mensagem de esperança que quis dar ao mundo. Quem é que não fica abismado com a amizade e o sacrifício do Sam? Quem é que não fica com um nó na garganta ao ler as últimas páginas deste livro?

Claro que depois as mentes dos leitores alargaram-se e agora muitas histórias acabam de forma não tão moralmente desejável, sem que isso retire qualidade à série.

J. K. Rowling estava completamente presa ao que criou. Ao início até pode ser possível que a autora tivesse a ideia de matar o jovem feiticeiro, mas como o poderia fazer depois de todo este sucesso, quando existiam milhões de fãs prontos para a destruir se ela o fizesse? Devido a esse tal objectivo comum (“encarnado” num personagem principal), Rowling só tinha duas hipóteses: ou Harry ganhava, ou Voldemort ganhava. Qualquer final que fugisse a isto era impossível. Imaginem o que seria se morressem os dois e Malfoy ficasse a controlar o mundo… pois. Ou então imaginem que depois de matar Voldemort, Harry Potter acordava e percebia que estava debaixo das escadas na casa dos seus tios… imaginem que passava a mão pela testa e não tinha cicatriz, que tudo tinha sido um sonho… pois. Claro que estou a falar de finais absurdos. Mas agora de forma mais séria, apenas existiam dois finais possíveis. Ou ganhava um ou outro, porque morrerem os dois acabaria sempre por dar vitória a um deles, dependendo da forma como o mundo mágico ficasse, só que sem o sabor da vitória

Agora as diferenças…
Primeiro Martin destrói a segurança psicológica que temos em relação a qualquer personagem principal de um livro. Em LOTR seria impensável Frodo morrer no primeiro livro. Em HP seria impensável o Harry morrer a meio da saga. Com Martin e a sua saga GoT tudo é possível. A imagem de personagem principal a salvo é destruída nos primeiros livros e sempre que achamos “ah, afinal esta é que é a personagem principal”, pois… Martin também nos mata esse pensamento, nem que para tal tenha de matar a própria personagem. O essencial que devemos retirar daqui é que Martin não deixa que uma personagem ser o único estandarte de qualquer “movimento moral”.  
Depois com Martin não há só personagens pretas/brancas. Aqui é tudo muito cinzento, uma personagem que parece boa, afinal é má, depois já parece boa novamente. É tudo uma questão de interesses, de sobrevivência e de tudo o que a envolve em certo momento e tudo isto ajuda a destruir esse objectivo comum. O que ao princípio parecia uma possível luta em Westeros entre Starks e Lannisters, ou então uma luta entre humanos e os Outros, afinal não é nada disso. É muito mais complexo. E é isso que torna tudo tão interessante e impossível de prever. E é por causa disto que os fãs não desejam a vitória do bem contra o mal, ou vice-versa, (como acontece noutras sagas), porque gostamos de personagens que achamos estar em “lados” diferentes. E digo “achamos” porque nas próximas páginas Martin pode destruir completamente a nossa noção de uma personagem específica.

Martin preparou os seus leitores para tudo. Matou, deu reviravoltas, tornou personagens asquerosas em homens com uma escondida moral que apreciamos, etc… ainda falta tanto para a saga acabar e nós já estamos preparados para tudo. O objectivo de Daenerys não é o mesmo de Snow, nem o de Jaime é o do Bran, etc… cada personagem tem um objectivo singular, que pode em certos casos ser semelhante ao de outra personagem, mas nunca igual, nunca comum. Aqui não há a luta entre o bem e o mal, porque na verdade ninguém consegue perceber onde muitas delas encaixam.
Este facto, por um lado, mostra o brilhantismo de Martin, enquanto demonstra que qualquer final que escreva (desde que não seja absolutamente parvo) será sempre mais ou menos coerente com a saga. Se cada personagem tem um objectivo, muitos acabarão por não se concretizar, mas isso leva a um quebra-cabeças avassalador para o autor.
Aqui Martin está enterrado até aos ossos… criou uma saga única, constante na sua imprevisibilidade mas no fim nunca conseguirá agradar a todos os fãs, pois cada leitor irá identificar-se com o objectivo de uma determinada personagem.
Mas é essa a beleza desta saga. Muitas das personagens que gostamos irão morrer, muitas que odiamos acabarão com um sorriso nos lábios… talvez acabem todos mortos e os dragões herdam Westeros. Aconteça o que acontecer, ninguém ficará revoltado se Martin conseguir manter o seu estilo.
A questão é até que ponto Martin conseguirá, com tantos enredos, criar um final que “saiba” realmente a um final.

Posto isto pergunto: Qual é para vocês o final provável? Quais serão as surpresas? Quem sairá vencedor?
Digam-me o que acham e como desejam que esta incrível saga acabe!


E uma vez mais peço desculpa por um texto tão grande, mas quando se fala nesta saga, há sempre muito que fica por dizer.

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

ACÁCIA - Presságios de Inverno


Autor: David Anthony Durham

Título original: Acacia – The War with the Mein


O primeiro livro de Acácia prometia uma boa continuação. Com um mundo interessante, muito devido à escravidão que sustenta todo o poder económico dos povos, e uma boa diversidade étnica/cultural, Durham apresentara algumas personagens que me conseguiram prender e esperar por este livro, porque a verdade é que ficara a necessidade de perceber o que poderia esta saga dar-nos afinal. Poderia este livro agarrar-me definitivamente à saga?
A verdade é que esta continuação não é uma obra-prima, mas foi uma surpresa muito positiva. Com aspectos que gostei bastante, e um ou dois que nem tanto, a verdade é que este livro consegue ser muito melhor do que o anterior (na versão original trata-se apenas de um livro).

O grande trunfo deste livro é o seu ritmo. A partir do momento que o agarrei, e agora que estava mais familiarizado com o mundo, não o consegui largar. Rápido, cheio de acção, acelera e acelera, como uma bola de leve a rolar numa montanha. O livro torna-se de tal forma rápido que por vezes gostava que fosse mais lento para conseguir "apreciar uma paisagem", mas a verdade é que Durham continua a escrever a sua história sem parar, e eu não consegui parar de ler.
As personagens são mais desenvolvidas do que no livro anterior, o que ajuda a uma aproximação entre o leitor e o enredo, mas este “aprofundar” não é igual a todas as personagens, e senti que conhecia perfeitamente algumas personagens enquanto outras continuavam algo distantes, como se ainda não conseguisse conhecer a sua personalidade. Tal facto torna-se mais evidente quando percebemos que algumas personagens, teoricamente secundárias, são muito mais aprofundadas do que algumas principais, e por vezes bem mais interessantes. Posto isto posso dizer que algumas personagens não estão ao nível da história, ou pelo menos não tiveram nestas páginas a oportunidade de se mostrarem, mas a verdade é que essas são as personagens que não desenvolvem a história, e como tal não existe uma grande sensação de vazio.
No entanto, como antes disse, este livro vive da história! A intriga mantém-se, sustenta grande parte dos desenvolvimentos e agora que o acabei posso afirmar que por várias vezes fiquei espantado com o que acabara de ler. Durham, arrisca com alguns momentos inesperados, eleva a qualidade do livro e convence. A sua escrita é mais forte, mais violenta (o que agradará a muitos leitores), mas principalmente é muito mais prática! Arriscaria mesmo a dizer que existe uma evolução na escrita de Durham mesmo dentro do próprio livro (versão original). Mas claro que aqui é o meu gosto pessoal a falar, pois aprecio uma escrita mais "objectiva" do que "descritiva" (se é que as posso classificar assim).

Num olhar global este livro apresenta algumas personagens bem interessantes, uma história muito boa, surpreendente e sem quebras de ritmo, tornando este livro num vício. Infelizmente do mundo pouco mais é revelado mas tal não era necessário para os acontecimentos. No entanto é bom ter bem presente as descrições/explicações do primeiro livro. Uma boa intriga, um mundo que pode dar muito mais, e muitas perguntas sem resposta. Tudo aguça o apetite pelo próximo livro onde Durham terá o desafio de conseguir sustentar muitas das decisões tomadas por algumas das suas personagens, para que muito deste livro não pareça forçado, e ao mesmo tempo revelar mais sobre o mundo, de forma a parecer mais coerente, porque o pouco revelado acabará sempre por criar perguntas.
Como disse antes, este livro não é uma obra-prima, mas se fores um apreciador de fantasia, então provavelmente irás ler este livro sem conseguires parar, gostarás muito mais deste do que o anterior e irás querer ler mais. Vale a pena ler e continuar!

E uma vez mais a capa está muito apelativa!

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

INCEPTION - The Shooting Script


Autor: Christopher Nolan



O filme Inception (A Origem) está no meu top 10. Para mim trata-se de um conceito original e fantástico, uma história excelente, com personagens que ficam na memória, e claro uma realização de sonho. Aliás, Christopher Nolan nunca me desiludiu com os seus filmes e no topo está o grande Prestige, baseado no livro que já comentei neste blog.

COBB: You're waiting for a train. A train that will take you far away. You know where you hope this train will take you, but you can't know for sure. Yet it doesn't matter...

Mal looks at his across the railroad tracks. Replies-

MAL: Because you'll always be together

No entanto estamos a falar de um dos filmes mais “confusos” dos últimos anos, talvez de sempre, e muito graças àqueles segundos finais. Mas afinal o que aconteceu? As teorias pelo mundo da internet são tantas, e sem Nolan a dar uma decisiva resposta sempre que é questionado, decidi ler o guião do livro.
Apenas publicado em inglês, este livro foi o primeiro guião que alguma vez li. Uma leitura diferente, onde apenas recebemos de informação o local, acção e falas. Posto isto, será difícil para alguém que não tenha visto o filme conseguir visualizar todo o esplendor gráfico que o guião nos tenta transmitir. No entanto o visionamento do filme não é obrigatório, mas quem já o tenha feito terá neste livro uma ideia mais aprofundada sobre a história e todo o seu conceito.

Agora a pergunta que eu fiz enquanto lia este livro: Este guião explica o final do filme? A resposta é não, mas existem muitas outras curiosidades que aparecem nestas páginas, e outras perguntas respondidas. Os diálogos são por vezes mais extensos e complexos, por vezes são-nos descritos pequenos detalhes que são realmente importantes e ainda existe um bom conjunto de cenas que acabaram por não ser incluídas na versão cinematográfica mas que aparecem neste livro, ajudando a conhecer um pouco melhor este mundo fantástico e os conceitos base das Extracções e Implementações.

De resto o livro é bastante fiel ao filme, ou não fosse o guião. As personagens conseguem ter a sua força, mesmo sem grandes descrições, e a personagem Cobb é realmente fantástica para mim, ao ponto de considerar a sua relação/culpa com a sua mulher Mal o grande trunfo desta história. Tudo isto num mundo bastante detalhado, onde se vê a mestria de Nolan e a sua capacidade de criar "pormenores descritivos" mas também pormenor em explicar o que é importante para se compreender o que vai acontecendo.

Resumindo, um livro para os grandes fãs deste filme, cheio de curiosidades e algumas respostas. O prefácio mostra-nos uma agradável discussão entre Chris e o seu irmão sobre este mundo, aguçando o interesse, e ficamos ainda com uma melhor noção do que foi a ideia base de Nolan, como se desenvolveu durante 10 anos até se tornar neste guião.
Algumas descobertas, mas no fim, aquele final, continuará na vossa cabeça. Para mim o melhor filme de 2010 e um dos melhores de sempre, esta primeira leitura de guiões de filmes foi uma experiência excelente e à qual irei regressar com outros filmes. Christopher Nolan é, na minha opinião a par de David Fincher, o grande realizador dos últimos anos, e Inception uma verdadeira obra de arte.

COBB: What’s the most resilient parasite?

CUT TO:
INT. SAME ELEGANT DINING ROOM - NIGHT (YEARS EARLIER)

The speaker, COBB, is 35, handsome, tailored. A young Japanese man, SAITO, eats as he listens.  
COBB: A bacteria? A virus?

Cobb gestures at their feast with his wine glass-

COBB: An intestinal worm?

Saito’s fork pauses, mid-air.
Cobb GRINS.
A third man is at the table-ARTHUR. He jumps in to save the pitch-

ARTHUR: What Mr. Cobb is trying to say-

COBB: An idea.

Saito looks at Cobb, curious.

COBB: Resilient, highly contagious. Once an idea’s taken hold in the brain it’s almost impossible to eradicate. A person can cover it up, ignore it- but it stays there.

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Passatempo: A Estrada - Vencedores

Terminado o Passatempo "A Estrada" chegou o momento de revelar o vencedor!


O livro "A Estrada" de Cormac McCarthy vai para a Júlia Gomes que irei desde já contactar para que ela me envie a sua morada! Parabéns! Espero que gostes desta leitura!


A todos os outros participantes, muito obrigado por terem tornado este Passatempo um sucesso e fica aqui a promessa que existirão mais oportunidades para se ganharem livros!

Até ao próximo Passatempo!

Parabéns Júlia Gomes!