Autor: Anne Bishop
Título original: Daughter of the Blood
Há setecentos anos, num mundo governado por mulheres e onde os homens eram meros súbditos, uma Viúva Negra profetizou a chegada de uma Rainha, na sua teia de sonhos e visões.
Agora o Reino das Sombras prepara-se para a chegada dessa mulher, dessa Feiticeira que terá mais poder do que o próprio Senhor do Inferno. Mas a Rainha ainda é nova, passível de ser influenciada e corrompida. Quem controlar a Rainha controlará o mundo. Três homens poderosos - inimigos de sangue - sabem isso. Saetan, Lucivar e Daemon apercebem-se do poder que se esconde por trás dos olhos azuis daquela menina inocente. E assim começa um jogo cruel, de política e intriga, magia e traição, onde as armas são o ódio e o amor. O preço pode ser terrível e inimaginável...
Agora o Reino das Sombras prepara-se para a chegada dessa mulher, dessa Feiticeira que terá mais poder do que o próprio Senhor do Inferno. Mas a Rainha ainda é nova, passível de ser influenciada e corrompida. Quem controlar a Rainha controlará o mundo. Três homens poderosos - inimigos de sangue - sabem isso. Saetan, Lucivar e Daemon apercebem-se do poder que se esconde por trás dos olhos azuis daquela menina inocente. E assim começa um jogo cruel, de política e intriga, magia e traição, onde as armas são o ódio e o amor. O preço pode ser terrível e inimaginável...
Ler as primeiras páginas deste livro não foi uma tarefa fácil, e por dois motivos. O primeiro é porque o comecei a ler no dia seguinte a acabar O Mago – As Trevas de Sethanon. Grande erro! Percebendo de imediato que depois de ler a obra-prima de Feist qualquer outro livro não teria o mesmo impacto, decidi esperar uns dias e não ler nada.
Voltando ao livro dias depois, o segundo problema é entrarmos neste mundo e ele nos ser dado como se sempre o conhecêssemos. Uma experiência parecida com Duna. A complexidade do mundo de Bishop é, na minha opinião, notável. Não sendo fácil de o percebermos de imediato, ao fim de algum tempo começamos a interiorizar o que rege este mundo, o sistema que o sustenta, mas a verdade é que até metade do livro tenho consciência que houve situações que não percebi totalmente por falta de conhecimento profundo desse mesmo sistema (e quando falo em sistema falo em espaço, magia, raças, política, etc…)
No entanto, enquanto a história avança, começamos não só a perceber como tudo funciona, mas também percebemos pequenos detalhes que tinham ficado na minha mente para “futura compreensão”, e quanto mais avançava mais admirava o mundo de Bishop. A verdade é que se trata de algo diferente de tudo o resto que li, e como tal fiquei agarrado, pois rapidamente se notou qualidade neste início de saga.
Desde cedo percebi duas coisas: primeiro este livro não tem nada da fantasia mais “típica” e como tal, aplaudo a autora por trazer algo de novo; em segundo trata-se de um livro negro. Quando digo negro não digo visualmente forte, digo negro, pois toda a sua história se passa num mundo sombrio, tanto em personagens e locais, como em interesses. Algo que também ajuda a essa imagem de darkfantasy é a própria escrita da autora: mantendo sempre o suspense, raramente nos dá toda a informação, de forma a não percebermos totalmente o que se passa, quer seja durante descrições ou diálogos. Tal facto levou-me a por vezes sentir que a noção que tinha dos acontecimentos vinham dos sentimentos das personagens e menos de tudo o resto. O resultado desta escrita foi que me aproximei rapidamente das personagens e isso ajudou bastante, mas por outro lado devo dizer que por vezes senti um ou outro exagero (para o meu gosto) nas emoções descritas pela autora. Dou-vos um exemplo: são muitas as vezes que Saetan e Jaenelle falam, e são muitas as vezes que após algo que a rapariga diz, Saetan sente a sala a andar à roda, ou as mãos a tremer, ou algo mais que nos mostre o medo da personagem. Aqui para mim só há duas hipóteses: ou Bishop criou um Senhor do Inferno que por vezes é fraco, ou então esta personagem apresenta um medo sustentado por perceber algo que nós ainda não percebemos. Esta segunda hipótese parece no final o mais provável, pois Jaenelle começa aos poucos a mostrar uma capacidade que ajuda a sustentar esse medo. Os próximos livros ajudarão nesta questão.
Como já disse a criatividade da autora salta à vista, mas também a forma como “montou” o livro. A forma como os capítulos encaixam uns nos outros, como saltamos de personagens e com muitas revelações a ficarem por revelar, todo o livro ganha uma dinâmica que me agradou bastante, e que me obrigou a não parar de ler. A isto junta-se o facto de a escrita da autora encaixar de forma quase perfeita no que o livro nos apresenta. Sensual, intrigante. Afinal de contas este mundo é grandemente sustentado pela sensualidade, pela escravidão sexual e pelo desejo. Poucas coisas retiram ao ser humano a capacidade de pensar logicamente, mas uma será certamente o desejo sexual e/ou a negação do prazer. Fonte de loucura, de interesse e de traições, o desejo é aqui usado como arma política e social, e Bishop está muito bem nesta área.
Apesar de notar que o público alvo deste livro será o sexo feminino, a verdade é que não notei que fosse algo tão óbvio como, por exemplo, na saga Kushiel (saga da qual ainda só li o primeiro livro, metade do original, mas que continuarei a ler visto que já adquiri o segundo).
Este é seguramente um início promissor de trilogia. Com um mundo complexo e algumas personagens excelente (Daemon é brilhante!) que dão uma qualidade enorme ao livro, digo-vos que a este livro apenas faltam duas coisas na minha opinião: uma espécie de mapa, para nos ajudar no início, e mais importante: um vilão a sério. Alguém que nos faça tremer! Percebo que a história deste primeiro livro “não tem espaço” para um vilão deste tipo, nem necessita dele, mas gostava de o ver no futuro da saga.
Neste momento, ainda no início, parece-me que esta saga não deve ser perdida por ninguém, mas ainda me falta ler muito para ter uma opinião conclusiva. Para já tenho a certeza de uma coisa: agora que o leitor começa a dominar este mundo mágico, as suas regras e limitações, Bishop terá de mostrar uma enorme capacidade para não deixar este mundo cair de alguma forma com acontecimentos que possam original dúvida entre os leitores.
Para todos os que gostem de fantasia que não seja só o “modelo típico” que inunda o mercado, este livro será certamente uma leitura muito agradável e a mim convenceu-me totalmente.
Uma agradável surpresa! Para continuar a ler sem qualquer reserva!