terça-feira, 11 de outubro de 2011

O PIANISTA

Autor:   Wladyslaw Szpilman


Há livros que são muito mais do que palavras, muito mais do que ideias, muito mais do que livros. Este é um deles.
Estas páginas relatam a vida do pianista Szpilman em plena Segunda Guerra Mundial. Sendo Judeu e vivendo na cidade que provavelmente mais sofreu com as invasões Nazis, o relato deste homem é duro e marcante. Contra todas as probabilidades, este pianista sobrevive às atrocidades Nazis enquanto perde tudo o que tem, ficando apenas a vontade de sobreviver.
Livro escrito pouco tempo após o fim da guerra, as memórias de Szpilman estão ainda bem presentes e isso nota-se no detalhe que as suas humildes palavras nos contam.
Confesso que sou uma pessoa que lê tudo o que pode sobre a Segunda Guerra Mundial, poucos temas me despertam uma atenção tão grande, talvez nenhum. É como tal óbvio que acabaria por ler este livro. O Pianista consegue dar uma visão de Varsóvia que é rara, tanto em livros como em documentários, e a diferença está no facto de Szpilman ter estado lá. Ele não viveu longe e lançou um livro por ter estudado o tema. Não, ele lançou este livro porque viveu, sentiu, viu as atrocidades que o Ser Humano é capaz de fazer a outro, e por isso este livro é tão bom. De todos os livros que já li sobre esta época este é provavelmente o que melhor retrata o interior da capital de Polónia, talvez o país que mais sofreu com a guerra, isto se conseguirmos quantificar o sofrimento.
 Esta história dos seis anos de ocupação Nazi na em Varsóvia está repleta de descrições fortes, de momentos de enorme desespero, de medo e angústia… e por incrível que pareça, nas palavras do seu autor falta o ódio. Falta a necessidade de vingança. Como pode um homem que viu tanta atrocidade, tanta injustiça, tanta morte de idosos, mulheres, crianças, homens, apenas porque (por exemplo) o soldado alemão passou e decidiu matá-los, não mostrar ódio nas suas palavras? Talvez a resposta seja Wilm Hosenfeld…
Enquanto a história avança percebemos que Szpilman sobrevive por um enorme conjunto de momentos de sorte. A juntar a essa ínfima probabilidade temos a ajuda de outras pessoas, que arriscam a vida para auxiliar judeus e vemos, quase com um sorriso nos lábios, que este homem vive porque no meio da guerra há bondade em algumas pessoas, pessoas que arriscam tudo para ajudar, para lutar de alguma forma contra o que se passa, que defendem a integridade. Quantos de nós faríamos tal feito quando tudo está ameaçado e nada é certo? Szpilman não é um herói, não é um super-homem dotado de uma superior capacidade para sobreviver, é apenas um homem que perdeu tudo. Quantos continuariam a lutar quando não houvesse mais nada para além da capacidade de respirar? Szpilman continua e este livro mostra-nos como aquilo que antes era impensável, deixa de ser quando a sobrevivência grita. Não há limites para se sobreviver. Comemos tudo, bebemos tudo.
À sua volta há mortes a cada minuto, à sua volta há dezenas de corpos que as pessoas já não notam, são banais. Há sua volta apenas se vê o desespero e a incompreensão das pessoas que não vêem como estão a ser exterminados. Há sua volta estão os alemães a quem foi dada a liberdade de fazerem qualquer coisa apenas porque um homem lhes disse que eram de uma raça superior. Uma ideia, uns discursos e umas pessoas acreditaram, outras simplesmente receberam liberdade para fazer impunemente o que queriam.
No fim há um herói, Wilm Hosenfeld, o capitão Nazi que ajuda Szpilman e sente vergonha por ser alemão, uma personagem fascinante e pela qual sentimos uma enorme e angustiante sensação de injustiça que excede a crescente sensação de ódio e revolta que sentimos ao ver o que aquelas pessoas viveram.
Poderia estar aqui o dia todo a escrever sobre este livro, e nunca as minhas palavras poderiam ter qualquer valor quando comparadas às deste livro. Um livro único, um dos melhores sobre esta época, um livro simplesmente obrigatório que ninguém deve perder (quer gostem do tema, quer não), tal como O Diário de Anne Frank ou A Lista de Schindler.

 Aproveito ainda para explicar que o filme que adaptou este livro está a um nível altíssimo e consegue captar o que torna este livro muito bom, mas há algo que falta. Lembro-me agora de cinco ou seis situações que o filme não nos mostra e que torna o livro melhor, falta toda a solidão que o autor sente, mas acima de tudo, falta o diário do Capitão Nazi e essa é a grande diferença.
A título de curiosidade devo ainda dizer que este livro foi publicado após o fim da guerra e imediatamente as autoridades polacas proibiram a sua venda pois mostrava algumas verdades que não eram convenientes para aquela fase pós-guerra, entre elas o facto de Hosenfeld ser alemão, decidindo-se que passaria a “ser” Austríaco.

8 comentários:

  1. Tenho este livro na minha lista de livros "a comprar" à muito tempo principalmente pelo filme...mas depois desta crítica talvez tenha que subir a sua prioridade na lista!

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  2. Há anos que estou para comprar o filme, nem sabia que havia em livro. Sendo assim tratarei de comprar antes o livro e ver se realmente é tão bom como dizes. Excelente opinião.

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  3. Adoro o filme de Roman Polanski! É simplesmente belíssimo! A atmosfera sombria da guerra está bem patente na cenografia do filme contrastando na perfeição com aquele final assombroso em Szpilman toca esplendorosamente! Adrien Brody também está perfeito!

    O livro nunca li. Nem sequer sabia que havia uma tradução em português. Mais um para a wishlist.

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  4. Sou uma grande fã do teu blog! adoro as tuas opiniões e principalmente as tuas escolhas literárias! continua assim a convencer-me a comprar livros. Parabéns.
    Em relação a este livro, também não sabia que existia. Vou ver se o compro.

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  5. Mais um para a lista de desejos depois desta opinião.

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  6. Digo o mesmo! excelente crítica, excelente livro certamente. Irei adquirir. Gostei mesmo muito do que escreveu aqui.

    Rui César

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  7. Gostei mesmo muito da sua opinião. Forte como o filme que adorei.

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  8. Acabei por comprar o livro depois de ler esta tua opinião. nem sabia que o livro existia.
    A tua crítica está excelente e ajudou-me a ler o livro e a tirar partido de tudo o que tinha para me dar. Adorei. Obrigado. Fizeste um excelente trabalho!

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