Autor: Robert A. Heinlein
Título original: A strange in a strange land
Sinopse: Valentine Michael Smith encontra na Terra uma realidade muito diferente da que experienciou em Marte. As crenças e os rituais sagrados que aprendeu em Marte em nada se assemelham aos que encontra na Terra. A própria existência de Valentine torna-o alvo de uma intriga política.
Neste 2.º volume de Um Estranho numa Terra Estranha, Robert A. Heinlein continua a apresentar-nos a história de Valentine e do seu processo de integração numa cultura marcada pela anarquia, partilha, amor livre e vida comunitária. Este clássico da ficção científica ainda hoje nos leva a questionar as nossas aspirações mais profundas e continua a despertar sentimentos fortes – por vezes contraditórios – nos leitores.
Neste segundo volume continuamos a história de Valentine. Sendo este o segundo e último livro, o enredo começa num bom ritmo, muito graças ao facto de as personagens já estarem devidamente exploradas, cabendo agora à narrativa desenvolver-se e aprofundar alguns detalhes no mundo que fazem a diferença em todo o enredo.
Valentine é, à sua maneira, um personagem fascinante, incrivelmente bem criado, levando-nos a explorar pontos de vista únicos e que encaixam bastante bem neste mundo criado. A originalidade de alguns momentos é realmente a grande diferença entre este livros e outros, porque nenhum outro explorou de forma tão simples e cortante alguns dos temas aqui aprofundados.
Com uma escrita simples mas direta, o autor leva o leitor a entrar numa montanha russa de momentos marcantes, decisões complicadas e questões que aprofundam a própria natureza humana, a forma como as sociedades estão estruturadas e os condicionalismos que fomos criando nas nossas sociedades, quer a nível pessoal, social, político ou religioso. E é nesta poderosa mistura que o livro se torna na obra prima que é, porque nos leva a questionar tudo, até a forma como olhamos para nós enquanto espécie dominante num planeta e enquanto comunidade. Que caminho estamos a seguir? O que poderia ser diferente? Até que ponto o caminho que percorremos está perto ou longe de ser o ideal?
E é assim, num bom ritmo e com uma poderosa crítica política e social que o autor nos agarra, nos faz pensar de forma vertiginosa, como se sentíssemos as suas palavras mesmo na nossa cabeça, prontas para plantar uma ideia, uma questão, e a partir daí começamos a pensar. É, no fim de tudo, um obra de ficção, mas que se torna aterradora pela forma crua como se aproxima da realidade e a explora indiretamente.
Sendo um livro claramente superior à grande maioria que explora estes temas, o que temos aqui é uma obra prima que durante anos foi aplaudido pela sua originalidade e capaz de levar o leitor a pensar. Tudo o resto que aqui não mencionei, como outras personagens, diálogos, ou até o final, são também de grande qualidade, mas o que o torna único é a sua visão singular do que somos enquanto espécie. Um livro intemporal que é muito mais do que um livro de ficção científica. É um livro para qualquer leitor.
Luís Pinto